Parecia que ainda ontem ele estava ali com ele, entre os lençóis finos da cama, em uma manhã fresca de verão.

Mas fazia mais de dois meses que ele não estava ali. E ele sentia falta de tudo. Absolutamente tudo. Do cheiro, do gosto dele, da forma como ele colocava as mãos na cintura quando ficava nervoso, do castanho de seus olhos e das covinhas que se formavam quando ele sorria. Sorria para si.

O passado o perturbava e, de certa forma, havia se tornado o seu único consolo. Ele não podia deixar de acreditar que tudo ainda voltaria a ser como já fora antes. E assim, entre pílulas e mais pílulas de Vicodin, ele não podia parar de pensar no ontem. Pensar em Wilson.

Mesmo que a culpa fosse toda dele. Mesmo que tivesse cometido todos os erros do mundo e todas as idiotices que ainda não havia cometido em seus anos com Wilson. Mesmo que ele já tivesse machucado o moreno vezes sem conta e ainda continuasse a machucá-lo. Ele nunca deixaria de achar que o moreno pudesse voltar para si. Porque seu futuro nunca seria real se ele não estivesse ao seu lado.

House precisava do moreno. Precisava desesperada e verdadeiramente. Porque sem Wilson, House se afundava em si mesmo. Se deixando levar pela vida miserável que o perseguia desde seus tempos de criança, quando seu pai ainda o assustava e o repreendia por ser quem era.

O grisalho se perdia em sua própria tristeza mórbida e se autodestruía com bebidas e narcóticos, lícitos ou ilícitos. Se deixava perder pelo torpor que era estar fora da realidade, acordando em lugares que desconhecia e com pessoas que nunca havia visto antes.

Wilson era o único que podia salvar House dele mesmo. Que tinha forças de aguentar toda aquela personalidade horrível e que tinha paciência para reerguê-lo do chão frio. Ele que ficara enquanto todas elas haviam ido. Porque ele não podia voltar?

Nada estava certo sem o moreno. Tudo parecia fora do lugar e uma parte de House parecia ter simplesmente desaparecido, sua melhor parte. A parte que pertencia ao seu único amor.

E não, House não podia deixar de esperar o passado se fazendo futuro mais uma vez.