House se viu chutando sua mesa com uma força desnecessária. Esfregou a testa de forma irritada e deixou o corpo cair na cadeira confortável. Abriu as gavetas de maneira apressada, os dedos vasculhando a procura de um pote alaranjado muito conhecido. Engoliu dois comprimidos de Vicodin de uma só vez, os sentindo entalar nas paredes de sua garganta, mas suspirando deliciado com o gosto amargo em sua língua.

"Você é só um viciado com uma vida miserável", House se lembrou. Foram essas as palavras usadas por Wilson para descrevê-lo. Belas palavras, o grisalho pensou de forma cínica. E mesmo que elas houvessem atingido algum ponto de seu corpo de forma violenta, elas eram verdadeiras. House nunca fora melhor do aquelas palavras, não depois do infarto em sua perna.

Discutir com Wilson não era nenhuma novidade. Anos de opiniões, personalidades e conceitos éticos completamente diferentes resultaram em um histórico infindável de discussões entre os dois. Mas nunca se tornava mais fácil se ver gritando com o moreno. Nunca era fácil ter de se afastar. Ver ele se afastar.

Coçou a nuca sem muita paciência com a mesma. Estava apenas cansado daquilo tudo. Era mais fácil ser só amigo de Wilson. Não havia necessidade de ser cuidadoso com as palavras, não havia uma responsabilidade emocional entre eles. Claro que todas as brigas que tiveram antes de serem namorados lhe doíam, mas agora ele era obrigado a reconhecer essa dor. Era obrigado a reconhecer que sabia o motivo de se sentir daquela forma. E aquilo parecia fazer doer ainda mais.

Sempre soube que aquilo não daria certo.

Wilson tinha aquela necessidade quase fisiológica de querer ter House, ou qualquer pessoa por quem estivesse apaixonado, completamente para si. Ele queria quebrar todas as barreiras, derrubar todas as paredes, tal qual uma bola de demolição. Queria entrar completamente no peito e na alma de quem quer que fosse. Era intenso, confuso e assustador - ao menos para House.

House se sentia sufocado. Não estava pronto pra deixar ninguém entrar daquela forma. Não sabia se um dia estaria pronto para aquilo. Foram anos construindo aquelas mesmas paredes, engrandecendo seus muros, colocando placas de "Mantenha distância". O que protegia atrás dessas barreiras era frágil demais pra se manter vulnerável. Seu coração já era quebrado o suficiente.

Esse havia sido o foco principal das últimas discussões sérias que tiveram. Wilson sentia que House não lhe dava espaço em seu peito. Sentia que ele estava se fechando cada vez mais e o grisalho sabia como era importante pra ele ter retorno em seus relacionamentos. Se fosse assim tão simples.

Wilson sempre seria a pessoa que mais o entendia no mundo. Quem mais o conhecia e sabia seus segredos. Todas as besteiras que ele já fizera e dissera. House confiava cegamente em Wilson, para quase todas as coisas.

Sentimentos são coisas frágeis que se quebram com tal facilidade como porcelana. House sabia disso e não era simples pra ele deixar que qualquer outra pessoa os tocasse, mesmo Wilson.

Por isso brigaram e, por isso, decidiram que talvez fosse melhor se as coisas apenas voltassem a ser como antes. Antes de se apaixonarem, antes de tentarem ficar juntos e antes que eles se quebrassem de forma mutua. Antes de toda aquela guerra.

Não sabia como as coisas seriam a partir daquele momento. Sabia, apenas, que nunca, nem se quer por um momento, deixaria de querê-lo de volta pra si. E sabia que Wilson se sentiria exatamente da mesma forma. Sempre. Essa era a sua única certeza: que ambos continuariam se amando durante o restante de suas vidas. E House esperava que aquilo fosse o suficiente, mesmo estando separados.