House simplesmente parecia não entender que Wilson não o queria mais em sua vida.

Fazia algum tempo que o moreno tinha deixado, definitivamente, o hospital. Se mudara. Procurara um outro emprego. Entrara até mesmo para um grupo de apoio. Enfim, estava finalmente seguindo em frente.

House não parecia estar fazendo a mesma coisa. Definitivamente não era daquela forma que se seguia em frente. E Wilson realmente não esperava por aquilo.

Deveria ser 15h00 quando escutou alguém batendo na porta do apartamento. O dia estava particularmente claro e o moreno tinha alguns planos para o dia. Foi em direção a porta esperando qualquer outra pessoa. Talvez Cameron, ou Cuddy, havia falado muito com ambas durante aquele período. Mas foi House quem encontrou do outro lado. A mesma barba mal feita, os mesmos olhos azuis e a mesma expressão triste.

"Preciso de uma epifania" ele dissera, sem mais nem menos, assim que Wilson abriu a porta. Fora de repente, mas o menor entendera exatamente o que House queria dizer. Eles tinham aquela coisa, parecia que Wilson tinha um tipo de dispositivo que ativava as melhores ideias do grisalho. Era óbvio que ele tinha um novo caso. Já haviam feito isso muitas e muitas vezes, mas não agora.

Wilson recusara falar com o outro. Não queria saber de nada que se relacionasse com House. Queria distancia, a maior possível. Sugerira outro oncologista, ele não era o único no hospital, no final das contas. "Mas preciso de você", a contra gosto, fora isso que Wilson registrara da frase do grisalho. Mas não dissera nada, apenas o olhara.

"O seu jeito de pensar é negligente, indisciplinado e nada linear, mas complementa o meu, me faz enxergar coisas que..." Wilson não o deixara continuar. Não queria escutar aquilo, não queria escutar o óbvio. Mal sabia o que queria escutar de House, e não sabia se suportaria descobrir.

Tentara fechar a porta. Quebrar aquela ligação que o universo insistia em manter. Mas House a segurou, fitando Wilson como que tentando ler a sua alma. O moreno sabia que não suportaria e baixou os olhos ante aquele azul intenso.

"Como você está?" ele perguntara com a voz rouca, e Wilson implorou. Implorou pra que o grisalho parasse, para que não fizesse aquilo, para que o deixasse esquecer. Deus, como ele queria esquecer.

"Saindo com a Cameron? Falando com a Cuddy, Foreman, menos comigo?" House praticamente o acusou. E Wilson se perguntou como ele poderia saber de todas essas coisas. E, com um olhar constrangido, O grisalho admitira que contratara um detetive particular para seguir Wilson.

Wilson ainda se lembraria, por muito tempo, como se sentiu dividido com a diversão de pensar em como aquilo era a cara dele, e com a raiva de ter a privacidade invadida por aquele homem.

"Se quer me esquecer fale comigo" ele dissera, mas Wilson simplesmente não podia. Sabia que seria levado por House se ficassem um pouco mais de tempo juntos.

Fechou a porta pouco tempo depois, depois de fazer um discurso sobre seguir em frente e deixar o passado para trás, deixar House para trás.

E agora ele estava ali, as costas contra a porta fechada, enquanto ouvia os passos de House, juntamente com a bengala, se afastando devagar.

Deixou o corpo escorregar até o chão e cobriu o rosto com uma das mãos. Quase se deixara levar dessa vez. Pela voz dele, os olhos, o rosto. Tudo. House tinha total controle sobre Wilson. Sempre tivera.

Não podia se importar com as coisas ditas pelo grisalho. E quase se obrigou a lembrar de quão manipulador ele podia ser, mas suspirou quando notou que pensar assim não adiantaria de nada.

Se quisesse mesmo tirar House de sua vida precisava ser mais forte do que aquilo. Precisava se manter o mais longe possível.

Suspirou uma segunda vez, enquanto levantava e, postando as mãos na cintura, torceu para que House não voltasse tão cedo.