Segunda-feira é o tipo de dia que deveria ser banido da semana, juntamente com o domingo, eles apenas serviam para te deixar desanimado e indescritivelmente estressado. E aquela não era uma segunda-feira diferente.

Ainda era 14h17min e House não aguentava mais ficar no hospital. Tivera uma manhã horrível, sua perna doía com uma insistência quase absurda, fora mordido por uma criança birrenta na clínica e perdera o capítulo do dia de Prescription Passion, logo o que Samanta recuperava a memória e se lembrava do amor que tinha por Chris.

Para fechar sua segunda-feira miserável com chave de ouro: a paciente que tratara a três semanas e meia havia morrido naquela manhã. Ao menos descobrira o que ela tinha. Um simples envenenamento por chumbo, mas já era tarde demais. Ela havia morrido sem que pudessem fazer alguma coisa. O que o deixava perturbado era não ter percebido isso antes.

Como pudera deixar todos aqueles sintomas óbvios passarem despercebidos? Anemia, dor abdominal, vômito, dor de cabeça, podia ser qualquer coisa, mas a mudança de personalidade, aquilo deveria ser claro - ao menos pra si.

E assim, ficara estressado o restante da manhã. Dera, até mesmo, uma resposta particularmente áspera à Masters. Não que nunca houvesse feito isso antes, mas a culpa não fora da ruiva. Ele é quem fora o idiota.

Precisava urgentemente de algo para se acalmar. E House sabia muito bem o que, e onde, encontraria o que precisava.

Saiu para a área aberta de sua sala e sentiu o sol morno na pele. Piscou algumas vezes por causa da luminosidade e mancou até o muro a esquerda, ali a sacada da sala de Wilson se punha ao lado da sua. Passou as pernas pelo muro e logo estava caminhando até a porta de vidro que dava para sala do moreno.

Sem ao menos bater, entrou no lugar. Wilson estava escrevendo algo em algumas fichas. Os olhos concentrados no que fazia, um sanduíche mordido sobre a mesa e o cabelo castanho caído levemente sobre a testa.

–Hey, Jimmy - House sonorizou enquanto abria a porta. - Ocupado?

–Na verdade sim - disse sem elevar os olhos para House. - O que quer?

–Nada de mais - deu de ombros. - Só quero ficar por aqui.

House caminhou até a mesa do moreno. Os dedos finos envolvendo o sanduíche do amigo. Levou o pão até a boca e o mordeu com vontade e, ainda com o lanche em suas mãos, rumou até o sofá da sala, jogando o corpo no tecido macio.

Wilson suspirou levemente com a atitude e esfregou a mão no rosto de forma impaciente, encostando as costas na cadeira.

–Está se escondendo da Cuddy? - perguntou, enfim fitando o amigo.

–Não - disse enquanto mastigava. - Nada do tipo.

–Evitando um novo caso?

–Também não, sem casos no momento.

–Quer apenas encher o meu saco? - perguntou de forma sarcástica.

–Claro que não! - exclamou de forma teatralmente ofendida. - Você sabe que nunca faria uma coisa dessas.

–O que quer, então?

–Só ficar aqui, com o meu amigo - disse de forma inocente.

Wilson coçou a nuca de forma desconfortável, mas suspirou em resignação.

–Certo, certo, você pode ficar, mas fique quieto.

House imitou um zíper se fechando sobre os lábios muito finos, de forma irônica, num gesto de silencio.

Wilson rolou os olhos e voltou a escrever nas fichas de seus pacientes.

House encostou a cabeça contra o tecido morno do sofá, suspirando agradecido por ter um pouco de paz. O sol quente brilhava em seu rosto de forma leve, o silencio era quase absoluto na sala confortável, se não fosse pelo som acolhedor da caneta arranhando a folha de papel e a respiração calma de Wilson.

Aquilo era do que ele precisava. Wilson. Ele sempre tinha aquele efeito sobre si. Ele o acalmava. O mantinha na realidade. De qualquer jeito, com qualquer humor, com qualquer sorriso. Wilson era sempre sua maneira de poder ver as coisas como elas eram. Ele sempre precisaria dele.

Voltou os olhos azuis para o moreno. Sorriu ao fitar a expressão séria no rosto de Wilson, ele ficava lindo daquele jeito. Os olhos castanhos brilhavam como sempre, seu rosto estava corado pelo calor de Julho e a gravata estava meio frouxa em volta de seu pescoço. House não podia se conter com ele ali ao lado.

Levantou-se do sofá como um gato. Caminhou de forma lenta até a figura concentrada de Wilson, que nem ao menos notara toda aquela aproximação. Sorriu de canto e, num movimento rápido, envolveu a gravata azul do outro, a puxando em sua direção.

Puxou Wilson para si e capturou os lábios vermelhos em um beijo. Wilson se afastou por puro impulso, mas foi impedido por uma mão firme em sua nuca. House sentiu um par de mãos em seus ombros pouco depois, apertando a região com desejo.

Separaram-se tempo depois, com sorrisos nos lábios.

–Então era isso que queria? - Wilson questionou.

–Exatamente.

E era apenas disso que ele precisava. Apenas de Wilson.