Theor, na verdade, não se importava muito com sua sexualidade. Ele não tinha uma opinião formada sobre o assunto. Como parte da realeza e de um povo sem muita religiosidade, ele cresceu com uma base tranquila. Mulheres reproduziam, então homens automaticamente escolhiam mulheres, para continuar sua linhagem. Mas não raro viam casais de mesmo sexo pelo reino.

Era um reino sem preconceitos quanto a esse assunto.

Ao contrário de Mortir. Como sempre... O reino tradicionalista não concebia casais de mesmo sexo. Era frequente aqueles casais migrarem para outros locais. Os próprios elfos possuíam uma flexibilidade maior sobre o assunto. Mas eles tinham uma concepção diferente de relação. Uma única pessoa, para a vida inteira. A escolha tinha de ser feita com cuidado extremo, e o rei nunca tinha muita possibilidade de escolha.

Isso não surpreendia as várias tradições.

Mas Theor realmente não se importava com isso. Ele era super tranquilo e ele não tinha problemas em assumir que era gay. Ele gostava de garotos. Isso era óbvio, principalmente quando se conhecia a paixão doentia por seu próprio irmão.

Como Rain conhecia. Ele encarava o garoto com uma curiosidade crescente desde que descobrira sua paixonite. Nunca imaginara que aquele garoto, não, aquele guerreiro tinha uma preferência sexual tão contrária as suas crenças.

Apesar de ser um soldado e conviver com aquilo nos longas jornadas de batalhas, ele ainda preferia mulheres. Contava nos dedos as vezes que tivera de pedir uma “mão amiga” para algum colega de batalhão. Por vezes era a boca, mesmo. Mas, noramelmnte, Rain encontrava alguma puta perdida por ali.

Ele ainda encarava Theor com uma curiosidade natural. Certo, Thommem não era muito masculino, mas isso não fazia dele uma garota. Ainda tinha as feições um corpo sem curvas, apesar daquela cintura acentuada e das cochas roliças, e até mesmo a bunda.... ele desistia. O menino que considerava seu irmão mais novo atrairia olhares de qualquer homem convicto em sua sexualidade.

Se bem que ele só passara a reparar em Thommem depois de descobrir da paixão de Theor por ele, tentando entender o porquê daquele sentimento. Mas não era isso, tinha certeza. Não tinha nada a ver com beleza física, ou o mais velho dos gêmeos poderia se apaixonar por muitas pessoas, entre os soldados mesmo.

Era algo indefinido. Ele nunca chegava a uma conclusão, mesmo que pensasse muito.

–O que tanto olhas, Rain?

Encarou o garoto, escudeiro seu, e apontou para os gêmeos. Thommem segurava uma jarra com água, e conversava calmamente com o mais velho, que retirava sua armadura para limpar o suor de seu corpo. Ele viu quando o mais novo desviou os olhos, envergonhado, mas logo voltou a devorar o corpo de Theor.

O que ele podia dizer? Entendia muito bem de olhares luxuriosos em seus quase cinquenta anos de vida.

–O que achas da relação deles, Barto?

O garoto olhou por mais alguns segundos, antes de soltar um leve sorriso. Não tinha como não sorrir com aquela cena. Theor ameaçava jogar água no mais novo, que tentava desesperadamente fugir do irmão mais velho. Mas era mais. Só um idiota não perceberia a ligação entre eles.

–É, eles tem uma relação muito bonita.

Rain encarou-o boquiaberto. O garoto deu de ombros, parecendo levemente encabulado. Ele também não fora criado em Mortir. Barto era um garoto nascido em Nau, criado em Am e que fora treinar no reino de Rhomas. Era possível que ele possuísse ideias contraditórias as tradições do local, apesar de guardá-las bem para si mesmo.

–Tens razão. Cinquenta voltas ao redor do campo por teres saído de seu treinamento sem permissão.

O garoto reclamou, mas obedeceu. Ele voltou a olhar os gêmeos, que agoram somente trocavam palavras enquanto se afastavam.

Theor nunca escondia sua preferência sexual. Isso era algo que surpreendia alguém criado nas tradições em Mortir. Mas era, possivelmente, o que fazia do garoto tão especial. Sua certeza em seus ideais e a sua dedicação ao seu amor.