Miguel e Davi escrita por Lola Vésper


Capítulo 28
Capítulo 28 – Wicked Game – 14/04


Notas iniciais do capítulo

Quase no final! Vou conseguir, gente!



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Davi acabara de sair do banho e esfregava a toalha nos cabelos para secá-los. Deixou-os do jeito que estavam quando acabou, jogando a toalha no ombro e indo em direção ao celular, usar apenas uma calça jeans.

Sorriu enquanto discava um número. Número esse que já decorara. Não pela quantidade de vezes que já ligara para ele, mas sim pelas que o discara e não tivera coragem de apertar “ligar”.

Alô? – a voz de Miguel veio do outro lado.

Davi não respondeu de imediato. Seu sorriso se intensificou.

– Oi, mermão! – ele respondeu animado. – Vai fazer alguma coisa hoje?

Ah… – Miguel levou um tempo para responder, mas, quando a voz veio, parecia carregada de riso. – Tenho um encontro com meus livros e mais tarde com a minha cama. Me desculpe.

Eu tava pensando em alguma coisa mais emocionante – o garoto disse, andando pelo quarto e procurando uma blusa. – Que tal uma balada comigo?

Eu adoraria… – Miguel continuou, parecendo chateado – Mas realmente não posso. Tenho que estudar e amanhã tenho aula cedo. Que tal sair pra almoçar amanhã?

Davi suspirou.

– Certeza que não pode ir mesmo? – insistiu uma última vez.

Sinto muito.

– Ah, então tudo bem. A gente sai pra almoçar amanhã então, mas nem tente me enrolar! Vou cobrar, ok?

Miguel riu do outro lado da linha.

Sinta-se a vontade. Te ligo pra gente combinar certinho depois. Tenho mesmo que estudar agora…

Ok, senhor engenheiro – Davi riu alto. – Só não deixa nenhum prédio cair.

Talvez eu deixe algum cair na sua cabeça. – a voz vinha em tom de brincadeira.

Davi riu mais alto ainda.

Te amo. – Miguel disse. – Até depois, então. Ah, e boa noite.

Boa noite…

E Davi teria dito mais alguma coisa, porém Miguel desligou logo depois disso.

Ele bloqueou o celular enquanto se sentava na cama. Vestia agora uma blusa, de que adianta se Miguel não podia sair?

Algumas vezes odiava como Miguel era todo certinho.

Ficou algum tempo sentado sem fazer nada. Pensou em várias coisas ao mesmo tempo e em nada. Por fim, levantou-se, decidido. Não era problema seu se Miguel pretendia passar a noite estudando. Davi iria se divertir.

**It's strange what desire make foolish people do/ I never dreamed that I'd meet somebody like you **

Davi estava dançando sozinho, como já tinha feito tantas vezes. Não tinha intenção nenhuma na balada que não se divertir um pouco, tomar algumas doses e dançar. Normalmente estaria na caçada, mas agora tinha Miguel… E mesmo que ele estivesse em casa, não podia simplesmente esquecer-se de sua existência. E, depois, se fizesse alguma coisa errada, não tinha certeza se poderia voltar a encará-lo normalmente.

A música tocava alta, então Davi não percebeu quando três homens aproximaram-se dele pelas costas. Apenas quando um deles tocou seu ombro que se virou e percebeu quem era.

– Cris! Jorge! Bola! – Davi os cumprimentou, abraçando a todos, apertando suas mãos, sorrindo.

Os três também pareciam felizes em encontrá-lo.

Eles haviam estudado juntos no ensino fundamental, antes de Davi mudar de escola. Tinha se encontrado depois, é claro, mas fazia algum tempo que não se reunião. Cris ainda tinha o mesmo nariz avantajado e os cabelos cacheados, Jorge fizera uma tatuagem no braço da qual ele não lembrava e tinha cabeça raspada (devia ter sido duro para ele passar na faculdade. Davi recordava o quando ele amava o cabelo), e Bola já tinha a barriga que lhe dera o apelido e não parecia em nada o garoto rechonchudo que Davi um dia conhecera…

– Nossa, que bom ver vocês aqui, irmãos! Vocês sumiram – Davi falou. – Tudo bem com vocês?

– Sim. – Bola respondeu sorrindo, os braços cruzados. – Mas não fomos nós que sumimos! Você que não apareceu mais! Continuamos a sair com a turma!

– Sério? Que legal! – Davi falou.

– Sim! – Cris continuou – A Mari, o Jonas e a Paty também estão aí!

– Vou lá dizer “oi” depois! – o de cabelos arrepiados disse.

Na verdade, os quatro gritavam para serem ouvidos. Algumas vezes tinham que repetir a mesma cosia várias vezes. Mas Davi estava genuinamente feliz em rever os amigos e estava tão animado com isso, que se esqueceu que o “conhecido da irmã” que vira no cinema quando não quisera beijar Miguel quase um mês antes fora Jorge. E, foi só quando ele começou a falar que entendeu que mesmo querendo muito, não conseguira esconder.

– Irmão – garoto agora careca se manifestou. – Você virou mesmo viado?

O sorriso no rosto de Davi se desfez no exato momento em que ouviu isso. Certo, sabia que Jorge nunca tivera papas na língua, mas não esperava uma pergunta assim tão direta. Cris olhou feio para o amigo e Bola lhe deu uma cotovelada. Mas Jorge apenas olhou para eles como quem queria dizer “falei alguma coisa errada?”. Jorge era assim mesmo, e Davi não podia culpá-lo, mas sentiu algo estranho quando ele falou aquilo.

– Não tenho nada contra viados – Jorge se defendeu. – Só queria saber se era verdade que o Davi tinha virado viado! Eu vi ele com outro cara no cinema.

Cris sussurrou alguma coisa para Jorge, enquanto Bola pedia desculpas. Mas o estrago já tinha sido feito. Por algum motivo, aquilo afeitou Davi e ele tinha meio chateado o resto da noite, mas tentou esconder. Falou que tudo bem, mas não confirmou nem desmentiu o que Jorge dissera. Ao invés disso, perguntou onde Mari, Jonas e Paty estavam.

– Ah! – Cris falou, colocando a mão nas costa de Davi, sorrindo – Vamos lá falar com eles!

E Davi seguiu os amigos.

**I never dreamed that I'd lose somebody like you**

Mari continuava loira e tímida como sempre, Jonas usava um óculos diferente daquele seu redondo e Patrícia era tão linda e provocante como quando Davi ainda namorava com ela.

O que mais chateou Davi, na verdade, foi que em pontos diferentes da noite, cada um dos amigos tratou do mesmo assunto:

– Ai, moço, você ficou muito bonito, hein? Eu tenho um amigo viado também, vou apresentar vocês dois… – Mari disse, solta como ela só ficava quando bebia algumas

– Ei, não liga pro que o Jorge disse… – Bola falou – Mas é verdade mesmo?

– Quer uma bebida? – Jonas perguntou, entregando-lhe um copo – Sabe, se ninguém tivesse me dito, eu nunca teria suspeitado… Você nem parece viado, mermão!

– Ei, quando a gente se beijava, você ficava imaginando que eu era um menino? – Patrícia perguntou, jogando o cabelo para o lado. – Se algum dia não quiser mais saber de garotos… Mas, sério, como é que você se sentia?

– Sabe, ninguém liga pro fato de você ser viado, fica tranquilo!

Mas, não era o que parecia. Cris estava errado. Eles ligavam sim. Podia ser que não achassem ruim, mas Davi se sentia como um animal em uma jaula no zoológico, exótico e divertido, o qual todas as crianças queriam ver.

Em alguns momentos tudo o que Davi tinha em mente era Miguel. Amava o outro e como podia não amar, mas…

A gota final, contudo, veio quando Jorge foi falar com ele.

– Ei, mermão, quem era aquele outro cara com você naquele dia do cinema? Era viado também?

– Eu não sou viado – Davi respondeu, agora muito irritado e plenamente arrependido de não ter ficado em casa.

– Como é? – ele perguntou, mas obviamente estava bêbado já.

– Eu não sou viado.

– Ei, não se ofenda… Mas, sabe, todo cara que fica com outro cara é viado.

Foi quando alguma força mais forte possuiu Davi. Ele não soube explicar o que aconteceu até que já tivesse feito, mas viu Patrícia a sua frente e agiu. Ela dançava com a mão nos cabelos castanhos e tinha a boca levemente contraída. Seus lábios sempre tinham sido tentadores para Davi. E foi para eles que avançou.

Segurou a cintura da menina, sem dar-lhe tempo para escapar do aperto. E beijou-a. No começo ela pareceu assustada, mas depois correspondeu, colocando a mão em sua nuca e puxando-o mais para perto.

– Eu sentia tesão quando te beijava. E ainda sinto – Davi disse, respondendo a pergunta que ela fizera antes, entre um beijo e outro.

Mas era mentira. Sentia-se enojado na verdade. Não com nojo de Patrícia, mas nojo de si mesmo por ter chegado tão baixo.

Seus amigos, surpresos, não reagiram no começo, mas depois começaram a aplaudir.

Davi se odiou enquanto ainda beijava os lábios de Patrícia.

E só conseguia pensar em Miguel…


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Notas finais do capítulo

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