As coisas tinham ficado um pouco confusas desde que Davi e Miguel brigaram no cinema depois do segundo ter se recusado a beijá-lo, mas no final o abraçara e falara que o amava. No momento, Miguel achou que as coisas tinham se resolvido, mas passara a noite inteira pensando naquilo. Teria agido mal pressionando Davi? Claro, ele tinha o tempo dele e devia respeitá-lo, mas… Talvez tivesse perdido a cabeça. Mandara uma mensagem para Davi assim que acordara. E, odiava admitir, mas Davi não era a pessoa mais rápida do mundo para responder mensagens.

Não o pressionou, entretanto. Fora para a faculdade chateado, esperando uma resposta e se confundira com contas básicas, até que admitiu para si mesmo que não sabia o que estava fazendo. Se fosse mesmo um engenheiro, muitas construções teriam caído naquele dia.

Voltou para casa para o almoço, comendo, junto com Bia, do jantar esquentado que ela prepara no dia anterior. A morena percebeu que alguma coisa estava errada com Miguel. Perguntou se estava tudo bem, mas, quando ele mentiu, não o pressionou.

– Se quiser conversa… – ela disse, simplesmente. – Se Davi fez alguma coisa… Se alguém te falou alguma coisa…

– Não é nada, sério. Só não dormi muito bem. Sério mesmo.

Ela apenas franzira a testa, sem insistir.

A resposta de Davi veio só depois do almoço, quando ele disse que estava tudo bem e pediu para que eles se encontrassem mais tarde para conversar.

Um pouco apavorado com a resposta do outro, Miguel respondeu imediatamente e perguntou onde queria encontrá-lo.

No final, ficou acordado que eles iriam até a praia, aproveitando a brisa gostosa que vinha do mar no pôr do sol.

Miguel se preparou para aquele momento, ensaiou falas, imaginou o que o outro ia falar. Nada disso valeu no final, quando os dois se encontram e a mente de Miguel virou um mingau, sem que conseguisse achar resposta para nada.

Em dado momento da conversa, sempre com aquele sorriso malicioso no rosto, Davi riu.

– Está engraçado hoje – falou. – Já disse que não precisa de preocupar sobre ontem, está tudo bem…

Mesmo assim, os dois não se tocavam. Era engraçado mesmo. Diziam que não havia nada errado, mas parecia que algo no ar dizia o contrário.

O sol começava a se pôr às costas dos garotos, que continuavam andando pela praia, sem dizer uma palavra agora. Miguel tentou dizer alguma coisa, tentou lembrar-se das falas que ensaiara. Não adiantava. Não conseguia se lembrar de nada.

Quando percebeu, estava falando sem que tivesse controle. E, mesmo ele, se surpreendia com cada palavra:

– Me desculpa – Começou, engolindo em seco – Me desculpa se te amo. Eu não… Sinto muito mesmo. Talvez não devesse ter acontecido, a gente se conhece há tão pouco tempo e se não está pronto para isso ainda… Não devia força-lo certo? Mas é que a ideia de te por perto, de te sentir comigo… Eu tremo toda a vez que estamos um do lado do outro, sendo um frio na barriga gostoso. Nunca me sentia assim com ninguém mais e é gostoso sentir isso, na verdade… Ah, me desculpa – falou, fechando os olhos longamente e descobrindo que não conseguia olhar nos olhos mel pingados de verde de Davi. – Eu sou um desajeitado…

Mas quando ele terminou de falar, o de cabelos arrepiados apenas o abraçou, afastando-o depois e sorrindo com tanta doçura que todos os medos de Miguel se desfizeram.

– Para com isso, seu bobo! – ele falou, jovial. – Sabe que te amo também. Está tudo bem. Eu te amo…

E Davi puxou Miguel mais para perto, que enterrou a cabeça em seu ombro, as palavras do outro lhe ecoando na cabeça.

Está tudo bem. Eu te amo.