Miguel e Davi escrita por Lola Vésper


Capítulo 19
Capítulo 19 – Bem que se quis – 06/08


Notas iniciais do capítulo

O maior capítulo que eu escrevi até agora kkkk Sinto muito pelos erros de gramática. Escrevi esse capítulo um pouco correndo...



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Era um dia normal. A não ser pelo fato de que Davi estava substituindo um colega no trabalho e chegara mais cedo no bar. Miguel disse que ele não podia fazer isso, roubaria os momentos que eles tinham juntos. Mas ganharia um dinheiro extra e, por algum motivo que não quis contar, ele disse que precisava economizar o quanto pudesse.

Mas Miguel não estava satisfeito. Foi só quando Davi sugeriu que ele ficasse o esperando no bar que sossegou, satisfeito em saber que entre o turno extra e o seu normal, Davi teria vinte minutos de descanso.

Vinte minutos para ficar com Miguel.

Miguel acabara de sair do sebo onde ele próprio trabalhava e estava sentado no balcão do bar, observando enquanto o namorado preparava bebidas e lanches para os clientes, admirando toda vez que ele precisava forçar o braço e podia ver seus músculos ali.

A tarde passou tranquila. Os dois trocaram algumas palavras sempre que Davi tinha um tempo, e Miguel saboreou um dos melhores sucos de morango que já tomara.

Tudo parecia estar correndo bem. Isso é, até que Davi avisou que ia tirar o uniforme e já voltava para eles ficarem juntos os vinte minutos de intervalo. Miguel concordou e os dois trocaram um selinho por sobre o balcão.

E aí que residia o problema. Miguel acreditava sinceramente que um dia não havia mais preconceito com os homossexuais, mas aquele não era um dia desses.

Assim que Davi foi para a cozinha, deixando Miguel sozinho, dois caras se aproximaram. Miguel olhou para eles para saber se os conhecia. Não conhecia. Teria sabido se conhecesse. Eram tipos altos e fortes, do que tipo que você não se esquece com facilidade.

No começo, achou que talvez não fosse com ele, e, apesar de incomodado, fingiu que não via os homens. Mas quando um deles começou a falar, entendeu do que se tratava:

– Ei, bicha! Aquele era seu namorado?

Miguel pensou em não responder. Deixar que falasse sozinhos e talvez fosse embora. Mas os dois estranhos eram insistentes. Começaram a fazer piadas e rir dele e Miguel finalmente disse:

– Sim – ele nem se deu ao trabalho de ficar de pé. – Ele é meu namorado.

Foi o que bastou. No próximo minuto, Miguel tinha sido empurrado de sua cadeira.

**E o que é que a vida fez da nossa vida?/O que é que a gente não faz por amor?**

Davi apenas ouviu a gritaria e soube do que se tratava. Trabalhando ali e servindo bebidas para várias pessoas, não seria a primeira briga que ele separaria. Porém foi a primeira que o deixou com raiva. Quando ele e um colega garçom corriam para ver o que acontecera, Davi percebeu o que acontecia, sentindo a fúria tomar conta do seu ser.

Puxou os dois homens para longe de Miguel. Gritou alguns palavrações e ameaçou.

– Ele é seu namorado? – perguntou um deles, debochando.

– Sim, ele é. – Davi gritou, a fúria tomando conta de si. – E se quiserem brigar com alguém, venham!

O colega de Davi postou-se ao lado dele. Assim, mesmo que houvesse uma briga, seria justa dessa vez.

Os estranhos não responderam.

– Vão se fuder! – Davi gritou. – Ficam pagando de machões, mas vamos ver o quanto vocês são machões depois de virem chupar meu pau! Vão se fuder, caralho!

Eles ainda trocaram uns dois ou três socos, depois de Davi ter ofendido os estranhos com suas últimas palavras, antes de um terceiro funcionário separá-los definitivamente, colocando os brutamontes para fora do bar.

Foi só então que Davi conseguiu correr para Miguel. Ele próprio tinha levado um soco perto do olho, mas não devia acontecer nada mais do que ficar um pouco inchado, nada que um gelo não resolvesse. Miguel é que estava pior.

– Ah, Deus! Olha o que aconteceu! – Davi falou seriamente preocupado, ajudando o namorado a ficar de pé.

Eles tinham acertado o rosto de Miguel repetidas vezes. Tipo um corte não profundo perto do olho, a boca e o nariz sangrando e alguns hematomas.

Ele ainda colocou a mão nas costelas enquanto se levantava. Levara vários chutes. Todo o corpo doía.

– Consegue andar? – Davi perguntou.

– Sim. – foi a resposta. – Relaxa. To bem.

Foi nesse momento que o dono apareceu. Alguém o avisara do que tinha acontecido e ele parecia preocupado. Perguntou se Miguel precisava de alguma ajuda. Quando ele recusou, o dono disse que Davi podia ir embora para cuidar disso, aconselhando-o a registrar um boletim de ocorrência na delegacia. Parecia sinceramente preocupado. E, apesar de Davi agradecer a preocupação, sabia que tinha pouco a ver com o bem-estar de Miguel e muito com o próprio bar. Ele não queria perder a popularidade ou ser processado.

Davi agradeceu mesmo assim, virando-se para Miguel.

– Vamos – continuou ainda preocupado. – Vai ficar tudo bem. Vou te levar pra casa.

E foi o que ele fez. Não havia nenhum ponto de ônibus muito perto e Davi precisou de algum esforço para conseguir conduzir o machucado Miguel, que lhe contava como tudo acontecera. Davi estava indignado sobre como ele não reagira.

– Você não é fraco, irmão! – ele reclamou. – Podia ter revidado…

Mas Miguel apenas fechou a cara, evitando os olhos do outro.

– Não valia a pena.

– Não valia? – Davi não entendia. Eles tinham batido em Miguel!

– Algumas pessoas não sabem o que estão fazendo…

**Bem que se quis/Depois de tudo ainda ser feliz**

Quando Davi abriu a porta do apartamento com força, Bia foi logo a socorro deles. Parecia preocupada, mas havia um toquinho de irritação em sua voz quando falou, ajudando Davi a amparar Miguel.

– De novo? – ela gritou. – Não acredito!

Eles colocaram Miguel no sofá e a menina correu pegar gelo para o olho inchado de Davi e um kit de primeiros socorros para Miguel. Quando ela já estava sentado, passado uma pomada estranha nos corte do amigo, Davi finalmente perguntou o que ela queria dizer com “de novo”?

– Ah! – ela suspirou revoltada. – Já é a terceira vez que ele apanha na rua! Será que as pessoas não aprenderem nunca? Não consigo ver o problema em vocês serem gays…

– A terceira vez? – Davi repetiu indignado.

– Ele não tinha te contado? – Bia continuou, ainda usando o algodão pra cuida de Miguel e o impedindo de se dizer qualquer coisa. – O pior é que nem um B. O. ele não quer registrar…

– Não? – Davi dessa vez olhou para Miguel, se acreditar.

– Ah. – ele se manifestou pela primeira vez. – Está tudo bem. Não se preocupe com isso…

– Miguel, não seja ridículo! Não podem ficar te agredindo assim!
– Sério, Davi, tá tudo bem – ele tentou argumentar. Queria dizer que não queria causar problemas. Queria dizer que preferia não ir até uma delegacia onde eles ririam dele.

Contudo Davi não deixou. Avisou que dessa vez eles registrariam o boletim de ocorrência. Se Miguel não quisesse, Davi o faria. As coisas não podiam ficar assim.

**Mas tanto faz,/ Já me esqueci de te esquecer**

Miguel e Davi tinham ido até uma delegacia, contar o que acontecera. Davi era da opinião que os agressores deviam ser presos, mas logo percebeu que nada aconteceria de verdade.

– Talvez seja melhor vocês não se beijarem de novo em público… – um dos policiais disse.

Os olhos de Miguel ardiam em lágrimas cada vez que ouvia um dos dois policiais fazendo piadas sobre isso e Davi reclamando e criticando, irado. As coisas não podiam ficar assim.

E, desta vez, Davi fechou a cara com mais veemência.

– Eu e meu namorado viemos aqui registrar uma agressão. Mas parece que vamos ter registrar duas – ele falou, naquela voz que não estava aberta a questionamentos.

As piadas e insinuações discretas pararam, mas as lágrimas continuaram nos olhos de Miguel. Odiava tudo aquilo. O pior era que cada vez que algo do tipo acontecia, ele pensava na mãe, para pior ainda mais a situação.

Eles saíram da delegacia uma hora mais tarde, e Davi tinha um dos braços sobre os ombros de Miguel, protetoramente.

– Tá tudo bem – ele repetia, – Vai ficar tudo bem.

Mas não era verdade. E Miguel sabia disso. Não lhe importava que tivessem feito um B. O., as marcas em seu corpo e mesmo as que não podiam ser vista ficaria ali.

Só queria ir para casa.

** Me abraça devagar/ Me beija e me faz esquecer **

Davi perguntou se Bia se importava em tê-lo no apartamento deles durante aquela noite. A menina sorrira com malícia e respondeu que seria um prazer tê-lo ali. Davi achou que era melhor ignorá-la e ficou feliz em ter recebido um colchão para colocar ao lado da cama de Miguel. Precisava ficar perto do namorado depois do que acontecera. Precisava ter certeza de que tudo ficaria bem.

Era uma terrível lembrança ver o rosto machucado de Miguel. Imaginou que teria sido pior se não tivesse chegado logo.

– Davi? – Miguel chamou no meio da noite, depois mesmo das luzes estarem apagadas. – Sobre hoje…

– Tá tudo bem. – ele falou, não querendo lembrar-se do que acontecera. Tinham feito um B. O. e se visse os agressores na rua normalmente os mataria. O resto não importava. Não queria ficar com raiva de novo.

Miguel remexeu desconfortável na cama, virando-se em direção a Davi.

– Você teria achado melhor se eu tivesse batido também? Ou invés de só apanhar?

Davi sorriu um sorriso triste. Entendeu o que o outro queria dizer. Teria gostado mais se Miguel não tivesse sido tão fraco?

– Te amo de qualquer jeito, Miguel – foi a resposta que deu e, ficando de joelhos para olhar nos olhos do outro, disse: – E acho que mesmo com todos os hematomas e os cortes, você é lindo.

Foi a vez de o outro sorrir.

– Obrigado.

E Davi colocou a mão no rosto de Miguel e o beijou devagar. Não importava o que tinha acontecido. Não importava que o outro tivesse quase quebrado o nariz, tivesse hematomas cobrindo todo o rosto ou um corte feio perto do olho. Amava Miguel e era tudo o que importava.

Naquela noite, o colchão no chão foi esquecido. Os dois se espremeram na cama de Miguel, os braços de Davi envolta dele. Tudo ficaria bem. Eles esqueceriam o que tinha acontecido.

Tudo o que importava era que se amavam e não era gente como aqueles homens no bar que os separariam.


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Notas finais do capítulo

Sim, eu sei. Um pouco triste. Mas é realmente revoltante quando essas coisas acontecem e eu precisava falar sobre isso...
Comentários? *-*



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