Os últimos dias tinham andado corridos, mas um sempre achava tempo para o outro. E, naquele dia em particular, Davi sentiu que precisava fazer uma coisa um pouco mais especial para Miguel. Afinal, tinha que lhe contar alguma coisa muito importante. Ou pelo menos fora o que lhe dissera.

Pediu que o encontrasse no Cristo Redentor. Disse que parecia o lugar certo para começar grandes coisas.

Miguel não tinha certeza se gostava de como as coisas estavam acontecendo.

Mas, agora, esperando onde tinha combinado, Miguel percebeu que Davi tinha razão em uma coisa: a vista era mesmo de tirar o fôlego.

Ele sentiu o toque e o arrepio no pescoço quase ao mesmo tempo. Virou-se para encontrar os olhos mel pingados de verde que tanto conhecia. Sorriu para ele.

– Fico feliz que tenha podido vir. – ele disse.

– Sempre arranjo tempo pra você – Foi a resposta de Miguel, que estava começando a se tornar cada vez mais repetida.

Eles trocaram um selinho rápido. Davi falou alguma coisa sobre ter se atrasado por causa da faculdade. Mas Miguel não ligou. Nunca ligava de verdade. Algumas vezes ficava um pouco chateado pelas poucas vezes em que se viam, mas na maioria das vezes ele sabia que era por um bem maior e não ligava.

Afinal, se podia dizer que Davi era seu e ele era de Davi, o que mais poderia importar?

Os dois ainda trocaram palavras sem significado, apenas jogando papo-fora. Mas, ao mesmo tempo, Miguel percebeu o nervosismo do namorado. E, como poderia ser diferente? Ele tinha dito que precisava falar uma coisa importante, mas eles ainda não tinham tocado no assunto.

Por algumas vezes, Miguel temeu que Davi fosse lhe dizer que tinham acabado, desta vez definitivamente. Mas não era o caso. A realidade estava bem longe disso e logo ele saberia o que o outro sentia.

Davi não tinha certeza se podia falar o que queria. Hesitou várias vezes, imaginando se era o momento certo. Por fim, e percebendo que logo teria que ir para o trabalho, ele percebeu que tinha que fazer. Seria falar ou perder a oportunidade.

– Miguel? – ele chamou.

O outro olhou para ele, um pouco distraído, ainda admirado com a beleza da paisagem e o esplendor escondido da cidade. O lugar era lindo. E o dia colaborava. O céu estava completamente azul e era possível ouvir um pássaro ou outros às vezes. Os turistas no Cristo não eram muitos e não atrapalhavam como teriam feito durante a temporada. Tanto Miguel quanto Davi agradeciam por isso.

– Eu preciso te dizer uma coisa. É muito importante.

– Bom, já deu pra perceber – Miguel falou, um pouco preocupado e ao mesmo tempo divertido. – Tá todo nervoso…

– É sério – o outro disse, mas havia riso também em suas palavras. – Não brinque.

– Pode falar me falar o que quiser. Sabe disso, Davi. Não precisa ficar nervoso! – E Miguel colocou a mão sobre a de Davi, encorajando-o.

Davi sorriu para o outro.

– Bom… – falou, hesitando pela última vez – Acho que tem que ser agora. – Ele suspirou. – Miguel, quer namorar comigo?

Foi a vez de Miguel hesitar. Foi pego de surpresa. Não podia imaginar que era isso que Davi queria falar com ele. Já tinham se beijado várias vezes, estavam juntos e não podiam negar, mas entendia o que Davi queria dizer. Queria dizer tornar a coisa oficial. Tão oficial que agora o de cabelos arrepiados pegara alianças no bolso.

– Alianças de compromisso – explicou, sorrindo seu sorriso malicioso. – Pra todo mundo saber que você é meu homem.

Não é um namoro. A gente ficou algumas vezes, sim, mas não é nada tão sério. Davi é mais do que um amigo, menos que um namorado. As explicações que ele já dera para as mais diversas pessoas voltavam a sua mente. E, de repente imaginou como elas seriam diferentes dali para frente.

– Quero dizer, somos jovens. Mas eu quero ser feliz e isso quer dizer amar você. Não que uma aliança vá me fazer te amar mais… – Davi disse, tentando se justificar. – Mas enquanto mais sério estivermos, melhor vai ser.

Miguel sorria para ele enquanto aceitava a aliança. Claro, era apenas um namoro, e ele tinha só dezessete anos, mas podia estar em uma relação estável, não podia?

Com as alianças de prata já em seus respectivos dedos, os dois ainda conversaram um pouco antes de Davi ter que sair correndo de novo. Estavam juntos, eram felizes, mas a correria do dia-a-dia sempre existiria e não havia nada que pudessem fazer.

Mas Miguel sentiu os passos mais leves enquanto voltava para casa e pensava no namorado…