Miguel e Davi escrita por Lola Vésper


Capítulo 15
Capítulo 15 – Oceano – 01/04




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Amanhecia. Miguel passara por mais uma daquelas suas terríveis noites de insônia. E, finalmente, o sono apareceu. Mas agora já era tarde. O sol nascia timidamente, espreguiçando-se devagar e começando a banhar a terra com seus raios. O prazer da areia entre seus dedos do pé era proporcionado por ter os chinelos em mãos. A areia, o mar, a praia.

O amor.

Era engraçado como todas essas coisas estavam começando a se misturar na mente de Miguel.

De repente ele percebeu que dia era. E era tão adequado. Primeiro de abril, o dia da mentira.

Eu odeio o Davi – confidenciou às ondas, as únicas que o ouviam.

Levara um toco na noite anterior. Alugara um filme e convidara Davi para assistir com ele, mas, no final, fora Bia que lhe fizera companhia. Se não podiam se beijar no cinema, que fosse no apartamento então, mas mesmo esse prazer Davi lhe negara.

Odiava noites mal dormidas e às vezes se assustava com a frequência em que elas apareciam. Cada vez mais exigindo de suas forças, cada vez mais querendo se impor em sua vida.

Ele olhou para a mão. O relógio indicava que eram pouco mais das quatro da manhã. O som do mar o mantinha calmo.

Um dia sentiria falta da vida praiana, disse para si mesmo.

Um dia.

Não precisava ser logo.

E Davi podia responder suas mensagens. Sabia que provavelmente era muito tarde (ou cedo), mas mandara a primeira ainda na noite anterior e não recebera qualquer retorno.

O céu não parecia bonito naquele dia. Mesmo que o sol começasse a nascer, tinha dificuldades em tornar da noite dia, as nuvens escuras o bloqueando. Choveria? Miguel esperava que sim, algumas vezes precisava de um pouco de chuva para limpar o tempo ruim e os problemas.

Inalou o ar da praia, sentindo o sal entrando em seus pulmões e o lembrando de Davi. Não queria pensar em Davi. Era a última coisa que queria. Com aqueles cabelos arrepiados e com o cheiro da maré.

Então ele saiu da praia, jogando os chinelos no chão e os calçando, indo para seu apartamento e ouvindo seus próprios passos ecoando enquanto subia as escadas do prédio.

Percebeu com um susto que esquecera as chaves. Torceu para que Bia tivesse se esquecido de trancar a porta da frente.

Felizmente ela tinha.

Suspirou aliviando enquanto entrava em casa, procurando fazer o mínimo de barulho possível. Não queria ter uma Bia zumbi vagando pela casa, amaldiçoando a todos e desejando a morte de Miguel. Não fazia muito tempo que eles tinham se mudado para lá, para morarem juntos e não podia se esquecer de que só estava ali a convite dela. Era melhor que não a fizesse se arrepender da decisão.

Sentou-se no sofá, pegando o celular ao mesmo tempo, checando pela milionésima vez que não recebera uma resposta. Onde Davi podia estar para nem mesmo olhar o celular?

Ou será que simplesmente não queria responder Miguel?

Dia das mentiras, pensou mais uma vez. Davi é um mentiroso. Adequado.

Deitou-se no sofá então, os olhos cada vez mais pesados. Não conseguiria dormir a noite inteira, mexendo-se na cama sem parar, mas agora que tinha pouco tempo para fazê-lo, o sono resolvera lhe perturbar.

Às vezes a vida simplesmente não era justa.

E, ele soube que essa era a verdade quando, quase adormecendo no sofá mesmo, seu bolso vibrou, assustando-o e acordando-o.

Seu coração bateu rapidamente, mesmo que tivesse se repreendido por isso, e, incapaz de controlar o próprio coração, ele simplesmente se amaldiçoou.

Não sei o que deu em mim! Me desculpa! Sério mesmo. Minha irmã trouxe umas bebidas para o meu quarto ontem a noite… Sabe o que quero dizer. Me desculpa! Espero que o filme tenha sido bom. Ainda te amo. Beijos.

Miguel sorrindo, sentindo todos os sentimentos ruins se desfazendo.

Tinha que ser amor. Ou Miguel não acolheria Davi toda a vez que ele voltava pedindo desculpas, como o oceano aceitava um rio que lhe desaguava.


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Notas finais do capítulo

Comentários? *-*



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