Algumas vezes Miguel tinha vontade de ficar na cama ao invés de ter que se levantar para ir à faculdade de Engenharia. Algumas vezes simplesmente não suportava nada do café da manhã que Bia fazia, sempre misturando coisas diferentes, e sentia falta do café da manhã tradicional na sua antiga casa, com a mãe e Celina. Às vezes odiava as pessoas no ônibus simplesmente por olharem para ele. Tinha vezes em que apenas o fato de caminhar até sua primeira classe era simplesmente uma tortura e ele andava com a cabeça baixa, evitando qualquer um.

Não importava o que Nando, um amigo seu que morava longe demais e que sempre tinha uma piada para fazer, dissesse. Odiava a segunda feira.

Seu consolo? Iria almoçar com Davi quando saísse dali e talvez o de cabelos arrepiados e olhos pingados de verde pudesse lhe animar um pouco.

Só talvez.

O professor, um homem baixo com pintas na careca e um sorriso falso, entrou na classe, falando em uma voz desenfreada e Miguel se perguntou como alguém conseguia fazer aquilo em plena segunda-feira. Anotou tudo o que ouviu, mas não tinha certeza se ouvira certo. Isso não podia garantir. Bom, os certos ou errados na prova que viria em algum tempo diriam.

Suspirou, perguntando-se quando a aula terminaria. Mas, para quebrar a monotonia da segunda-feira, seu celular vibrou. Por um momento, achou que fosse Bia, avisando-lhe que esquecera alguma coisa ou o avisando sobre algo igualmente sem importância, mas não era. A mensagem viera de outra pessoa. Era uma mensagem de Davi e Miguel sorriu.

Qualquer coisa que ele lhe dissesse serviria para animar a segunda-feira miserável. Afinal, era Davi… Um mero “Bom-dia!” teria causado um arrepio na espinha de Miguel. Se viesse acompanhado de um “Eu te amo” talvez tivesse consertado o dia e tornado o mundo preso em uma bolha gigante e cor-de-rosa. Talvez Nando estivesse certo e segundas-feiras fossem os melhores dias da semana.

Mas não era sobre isso que a mensagem tratava. Ele deslizou o dedo pela tela do celular, apenas para ler um conteúdo que lhe era desconhecido. Não era a mensagem mais longa que Davi lhe enviara, mas com certeza era um das mais significativas.

Eu não tenho orgulho disso, se quer saber. Eu não queria ter feito nada disso, se quer saber. Mas aconteceu e eu não pude evitar. Ontem vc não quis sair comigo, mas eu fui mesmo assim. E encontrei uma pessoa legal. Eu já namorei com a Paty por um tempo e ela é mt legal. A gente se beijou. Eu preciso de um tempo para pensar, Miguel, me desculpa. Mas foi mt legal e eu não sei o que pensar. Me desculpe, mas acho que entendeu o que eu quero dizer.

Sim, Miguel entendeu. Entendeu, mas demorou a acreditar. As palavras de Davi não lhe fizera sentido por um tempo, e ele precisou reler tudo várias vezes antes de acreditar mesmo. Mandou uma mensagem de volta e foi imediatamente respondido:

Quero dizer que acabamos?

Obg por entender. Tchau.

Miguel não conseguiu ser tão rápido. Precisou respirar algumas vezes, sentindo as lágrimas virem aos olhos, ardendo. Um bolo se formara em sua garganta e ele quase não conseguia respirar.

Finalmente, os dedos escreveram uma última palavra. Tchau.

Eles se despediram com palavras, trocaram mensagens rápidas e significativas, mas não era assim que Miguel se sentia. Ele tentou engolir repetidas vezes, limpando as lágrimas dos olhos.

Davi não podia pelo menos ter lhe dito isso cara a cara? Assim poderia ter lhe batido várias vezes.

Miguel estava certo, e Nando errado. Segundas-feiras eram horríveis.