Tom & Mary - jornada musical escrita por IsaOli


Capítulo 6
Pra Sonhar


Notas iniciais do capítulo

6° capítulo, inspirado na música Pra sonhar - Marcelo Jeneci
Eu atrasei para escrever este, porque ontem fiquei pouco tempo em casa. Tentei colocar mais detalhes, adoro ler história com detalhes sobre roupas, lugares e objetos, não deu pra levar a música ao pé da letra pois não estamos nem na metade do desafio, por isso foi apenas uma história pra sonhar mesmo....



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O aniversário de Mary estava chegando, e por mais que Tom quisesse fazer algo especial, sabia que não deveria. Para sua alegria, Cora resolveu manifestar seus planos sobre isso e todo mundo estava animado, um pouco de agito não faria nada mal.

Mary pediu que ele lhe levasse a Ripon para comprar algo novo para vestir. —Sei que os homens não gostam muito disso, mas você me daria uma sincera opinião, caso eu precisasse?— ela pediu a ele, enquanto viajavam.

—Eu não acho que tenho o gosto muito refinado, mas vou fazer o meu melhor.— ele replicou.

Ripon não era como Londres, que sempre tinha vestidos parisienses da última moda, mas havia uma loja com uma vitrine muito bonita e era de tamanho tolerável, alguns modelos de vestidos dispostos na vitrine não deixavam nada a desejar. Mary procurava por um vestido moderno, mas os que a vendedora lhe mostrava não faziam muito seu estilo. Tom começou a andar, admirado, pela loja que esbanjava uma gama enorme de cores e brilhos. Ele se deparou com um vestido que parecia ser muito bonito, o tecido era de toque macio, e as franjas em um tom mais escuro faziam a cor mais clara e brilhante um tanto mais bonita. O tecido acetinado parecia dançar.

Mary já estava indo em direção a porta, com a ideia de que visitassem outras lojas, mas Tom a chamou:

—Mary, venha aqui... o que você acha desse?

Mary ergueu as duas sobrancelhas, um tanto ressabiada. De longe, ela não pareceu gostar, mas quando chegou mais perto e analisou, sua percepção começou a mudar. O tecido era de seda pura, num bege claro, quase nude. Não era no tom de pele dela que era tão clara quanto o arroz que Sra Patmore usava todas as manhãs para fazer o Kedgeree, estava mais para a cor da pele de Tom depois de um dia quente de verão. Ainda assim, era claro e delicado, e o brilho que ele teria sob as luzes dos lustres de cristais, o deixariam mais perfeito. Seria uma cor exótica para a noite. Mas Mary gostou mesmo foi da saia, toda em camadas, em cada camada o acabamento de franjas negras que de tão leves balançariam por qualquer movimento delicado; havia pregas nos lados, as franjas ornamentavam a lateral de todo a parte de cima e do cós, ficaria maravilhoso com um colar de contas negras. De repente soube que tinha encontrado seu vestido.

—Você me impressionou Tom! Parece que sabia exatamente o que eu estava procurando!— Mary foi até o fundo da loja experimentar e fazer os ajustes necessários, ficaria pronto em no máximo três dias, já que ela insistiu que tinha pressa.

 

******

 

O dia tão esperado chegou, Mary havia passado apenas  um pouco no berçário, pois tinha muita coisa a arrumar para o jantar, não deu tempo de Tom lhe dar seu presente.

Tom esperou por ela no saguão, queria entregar-lhe o presente antes de todos, estava já ficando impaciente. Como estava distraído, foi surpreendido pelo vulto de Mary descendo os primeiros degraus da escada e quando ele  a viu caminhando delicadamente, degrau por degrau, ficou paralisado. Suas mãos tremiam como se estivesse em meio a um terremoto, molhadas.

Foi assim que novamente ele se viu nas mãos dela. A cada movimento de quadril que ela fazia enquanto descia, as franjas balançavam suntuosamente, de modo que ela parecia estar dançando. Era extremamente sedutor, sua garganta secou e Tom começou a divagar.

Se não houvesse todos estes empecilhos, certamente Tom proporia casamento a ela, ali mesmo, ao pé da escada.

"Vamos nos casar amanhã ou no próximo domingo, talvez alguns se alegrem e talvez alguns chorem ao ver você de branco no altar, poderiam ser somente a lua e as estrelas nossas testemunhas; poderíamos viajar, eu você e as crianças, sem data pra voltar num navio em alto mar! Fazer desse sonho realidade, levantar pouco a pouco nosso mundo, nossa Jerusalém celestial. Se fosse simples essa montanha escalar, até chegar do outro lado, se eu tivesse certeza que ao chegar lá eu ouviria você dizer, 'largo tudo e aonde você quiser me levar, irei!' ah querida Mary, mil coisas eu também seria capaz de deixar, eu sei que há uma história pra contar"

Essas palavras tão belas e singelas, soaram quase como poesia, mas ficaram somente no vazio de seu coração partido. Talvez nunca seriam capazes de serem ditas. Com todos esses sentimentos e sentidos que ela lhe despertava, ecoando em sua mente, ele procurou algo para que pudesse se ancorar até que ela chegasse. Não queria que ela percebesse o quanto desestabilizava sua segurança.

Ela sorriu, esperando que ele dissesse algo. Ele poderia não saber, mas tudo aquilo havia sido feito pensando nele, e tão somente nele.

—Você está linda— Ele tentou economizar nas palavras, elas eram difíceis de serem ditas com tanta coisa sendo esmagada dentro dele. Mas para sua desgraça, seus olhos rendidos em pura comoção, eram capazes de dizer tudo.

—E eu devo aos seus bons olhos o agradecimento por estar tão bem vestida essa noite.

Ele assentiu. —E realmente está.— ele disse. —Mary, antes de irmos até a sala onde todos a esperam, eu gostaria de lhe dar uma coisa, não é nada muito esplendoroso, mas escolhi com todo o carinho que sinto por você. — Ele lhe deu uma caixinha.

Mary ficou surpresa, engoliu seco. Era uma pequena caixinha, deveria ser um broche ou um anel, foi o que ela pensou. Um sorriso invadiu seu rosto e por um momento um certo nervosismo tomou conta dela. E se o que era apenas um sonho, fosse se tornar realidade? E se fosse uma proposta de casamento, ela largaria tudo e se casaria com ele no domingo. Seria capaz de pegar as crianças e fugir com ele dali, sem data pra voltar. Pegariam um navio, sem rumo. Alguns talvez chorariam e outros, sorririam. Mas onde ele fosse, ela o seguiria. "Uma história pra sonhar", ela pensou, sonhadora. Mas  sabia que isso não passava de sonho, então desembrulhou o pequeno pacote sem mais delongas e grandes expectativas.

Tom remexia os dedos, com medo de que fosse simples demais; Era um anel, um anel que Mary não tiraria mais dos dedos, um discreto anel prateado, de ouro branco, com um pequeno diamante rodeado de marcassitas, coube perfeitamente em seu dedo. Seus olhos marejaram. Não era uma joia caríssima, mas era uma joia, ele tinha lhe dado um presente muito especial  e ela jamais se esqueceria disso.

—Oh Tom, você não precisava ter comprado um presente desses, não precisava gastar tanto comigo...— ela abaixou os olhos, tímida. Sabia que ele não gostava de gastanças fúteis.

—Eu espero que você saiba que não tirei dinheiro da propriedade para comprá-lo, foi com minhas economias, e foi comprado com todo carinho... planejei há muito tempo e espero que você não me tire o prazer de ter feito isso. Me lembrei que quando você convidou meu irmão para ficar em Downton, você brincou dizendo que gostava muito de diamantes, não é um diamante bruto como meu irmão, nem tão grande como os que você já tem, mas é um diamante lapidado, como eu. E esse é o meu agradecimento por você ter me ajudado a ser lapidado, pouco a pouco, até aqui.— Ele falou carinhosamente, colocando o anel em sua mão direita.

—Eu amei, realmente amei.... vai ser difícil tirá-lo agora, ainda mais sabendo de tudo isso. E Tom, eu quero que você saiba que tem direito de usar nosso dinheiro do jeito que lhe aprouver, confio plenamente em você, e se há alguém nessa casa que mereça usufruir dele, esse alguém é você que trabalha tanto para mantê-lo, tenho prometido para mim mesma que darei melhor valor ao seu trabalho, gastando-o de forma mais consciente— ela disse, se aproximando um pouco mais dele. —Muito obrigada. — e o surpreendeu com um abraço e um rápido beijo na bochecha.

Depois do abraço ter durado mais do que qualquer simples abraço de agradecimento, Tom se lembrou que todos deveriam estar os aguardando para o jantar.

—É melhor irmos.

Mary pediu um instante para que voltasse ao quarto para guardar o embrulho, ele disse que a esperaria ali.

Tão logo Mary subiu as escadas, uma figura apareceu por detrás de Tom.

—Eu não pude deixar de ouvir a conversa entre vocês. — Tony Gillingham apareceu. —Eu queria ver se Mary já estava descendo, quando ouvi ela dizer sobre economizar o dinheiro dela.

Tom não gostou muito da falta de discrição de Lord G.

—Sim, há alguns dias, tivemos uma conversa sobre isso, a época em que nós vivemos é bem diferente de alguns anos, devemos conduzir as coisas de modo mais realista se quisermos que George tenha ainda aquilo que é sua herança por direito.

Lord G. se aproximou um pouco mais de Tom, abaixando a voz para que mais ninguém pudesse escutar.

—Eu concordo com você, é um bom capataz Branson, mas seria terrivelmente triste para uma dama como Mary se ela se cassasse com um homem que não fosse capaz de dar a ela um futuro brilhante, tal como ela merece, não acha?

Tom se ofendeu, chamá-lo de capataz e de Branson, era rebaixá-lo a um servo,  sabia disso.

—Você deve me chamar de Tom enquanto estiver nesta casa, Tony. É assim que todos me chamam agora. E eu concordo com você, Mary merece um futuro brilhante, mas com alguém que a ame e não esteja interessado apenas em herdeiras afortunadas. Com licença, vou entrar, já que você pretende esperá-la.— Tom disse entrando na sala, atordoado pela conversa e deixando para trás um cavalheiro um tanto irritado.

Tudo isso não tinha passado apenas de uma história pra sonhar, pensou com tristeza. Ou talvez, que não devesse ser sonhada, mas sim esquecida. Concluiu, durante todo o jantar, enquanto assistia Mary tão linda e feliz, sentada ao lado de lorde G.


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