Tom & Mary - jornada musical escrita por IsaOli


Capítulo 3
Eu não consigo me lembrar de esquecer você


Notas iniciais do capítulo

dia 3, inspirado na música "Can't remember to forget you!" de Shakira, resolvi dar continuidade a história, espero que consiga ligar todas as músicas de uma forma legal



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Mary se lembrou da noite passada assim que acordou. —Meu Deus, o que nós fizemos!—Balbuciou, tocando lentamente os lábios sensíveis. Fechou os olhos, angustiada. Sabia que por mais que ele fosse tudo o que ela precisava e queria, aquilo era uma loucura. Chegou a pensar se deveria finalmente deixá-lo ir, sugerir isso a ele, mas a verdade é que ela queria segui-lo onde quer que fosse. Não suportaria viver sem Tom.

Então resolveu ficar um pouco no quarto, escrevendo bilhetes para si mesma, tentando processar tudo da maneira correta em sua mente. Seu pé já não doía e isso era um alívio. Seria constrangedor ter de explicar uma lesão.

Tom tinha ido visitar alguns fornecedores e achou por bem não tê-la encontrado logo pela manhã, afinal, eles dormiram abraçados no carro e somente quando o Sol apontava no horizonte, havia conseguido descer e consertar o carro, dirigindo rapidamente para Downton, com o intuito de chegar antes que qualquer pessoa da família acordasse e notasse a falta dos dois. Obviamente algum dos empregados que madrugavam poderia tê-los vistos, mas isso era o de menos para pensar agora, levando em consideração o quanto eles haviam avançado em um caminho tão perigoso.

Ainda em seu quarto, Mary pensou em todos os homens que já havia conhecido, abriu uma caixa guardada, cheia de cartas animadas de todos os jovens moços que conheceu durante bailes. Riu ao se lembrar de que ela já havia chamado Napier de Perseu e Matthew de Monstro Marinho. O que aconteceu com Pamuk, aquela experiência tão traumatizante. Estremeceu ligeiramente. E depois de tudo, haviam aqueles dois pretendentes que ainda não desistiram dela. "Que a batalha comece!" disse Blake alguns meses atrás. Ela pôs a mão na testa ao se lembrar de como sua mente estava confusa durante aquele período pós-luto em que ela sentiu uma vontade desesperada de viver novamente. Uma frase saltou a memória, algo que nem ela e nenhum de seus novos pretendentes tinham percebido. "Sempre julgando que somos somente os dois no ringue!" Blake havia exclamado depois do baile em Londres. Quem poderia imaginar que Tom sairia vitorioso em uma luta que ele nem sabia que estava disputando? Só havia uma pequena chama em seu coração naquele momento, a qual ela sempre havia nomeado de gratidão, por ter sido ele a fazê-la viver novamente. Mas essa chama foi aumentando de tamanho, até o ponto em que parecia consumir todo o seu coração.

Ele definitivamente era diferente de todos os homens que Mary conhecia, ele era doce e gentil. Não era como um cavalheiro da alta sociedade, mas era um dos mais decentes homens que conhecera. Não era do tipo passivo, ele tinha  sua mente feita sobre certos assuntos e não desistia fácil. Ele não desistira dela, havia mexido todos os pauzinhos possíveis para trazê-la de volta a vida, ignorou todos os conselhos do pai que queria manter Mary em seu estado eterno de luto, ele quis colocá-la no jogo e a pôs. Ensinou- a a jogar, a jogar muito bem, mas de forma justa, vendo parcerias onde só existia um possível negócio, era agora uma mulher empreendedora. Ele sempre a fazia sentir bem, era a alegria dela durante o trabalho, durante o almoço e o jantar, fazia as crianças rirem no berçário. Quando ele estava por perto ela estava sempre feliz, e ela nunca tinha percebido que era ele quem a fazia se sentir tão bem durante a rotina maçante de dias afins.

Talvez ele fosse o único homem na Terra capaz de lançar-lhe um olhar fulminante toda vez que ela dizia algo inapropriado e mesquinho. Apenas com os olhos ele era capaz de mostrar a Mary o quanto estava sendo mesquinha, principalmente com Edith. Ele não fez rodeios para dizer na sua cara que ela não estava se importando muito com George. Se estivessem em um conto de fadas, talvez ele seria a Bela e ela a Fera. Riu da quantidade absurda de pensamentos que não a levariam a lugar nenhum. Ela não estava tentando tirá-lo de sua mente? Havia se esquecido de tentar esquecê-lo. Teria que enfrentá-lo durante o almoço, na frente de toda a família e não poderia deixar transparecer todo seu anseio, todas as mudanças que sabia que ocorreria nela toda vez que o visse. Podia sentir ainda o sabor indescritível da saliva dele se fundindo com a dela, o toque macio dos lábios e a aspereza de uma barba suave que apontava. O calor dos seus braços a envolvendo, a suavidade dos dedos dele em contato com sua pele. Sabia que estava sendo seletiva com seus pensamentos e que poderia listar seus defeitos e diferenças descomunais que os colocava sempre em cada em bordas opostas de um abismo.

—Milady, o que aconteceu com seu vestido?— Anna disse levantando o vestido ainda úmido, que havia sido jogado desajeitadamente no chão.

—Anna, talvez você seja a única que um dia saberá, mas hoje eu ainda não saberia bem explicar, é uma longa história. — Mary olhou para Anna com um olhar que depois de mais de 10 anos de cumplicidade, era capaz de ser compreendido.

Anna serrou os lábios com as mãos e disse: —Não perguntarei mais nada, Milady! Fui eu quem desajeitadamente o estraguei.— e depois sorriu, deixando-a novamente sozinha depois de vesti-la e penteá-la.

Quando Mary desceu, Tom estava entrando, mas por sorte foi parado por Isis que foi correndo recebê-lo. —Robert vai ficar com ciúmes de você Tom, roubando a atenção de todas as meninas dele. — Disse Cora chegando para saudá-lo. 

Mary sorriu, não só para a família, mas também internamente. Se seu pai soubesse que isso era mais verdade do que todos poderiam imaginar, talvez ele teria um pequeno ataque do coração. Não que ele não gostasse de Tom, na verdade, ela concluiu, ele parecia ter um ligeiro medo do que Tom representava. Tom mudou tudo para seu pai, ele achou que seria engraçado ter um Irlandês revolucionário como chauffeur e nem percebeu a enrascada em que se meteu, na verdade percebeu, mas tarde demais. Tom havia conquistado o coração de sua filha mais nova, ganhou o coração de Cora, que decidiu estar ao lado dele quando havia dado todas as sugestões sobre as mudanças necessárias na propriedade, a confiança plena da condessa viúva. Também se tornou o gerente de Downton, tomando assim as decisões mais importantes, mexendo com os nervos de Robert mais uma vez. Então havia colocado Mary na jogada da propriedade quando Matthew partiu e se ele sequer cogitasse que a filha mais velha também teve seu coração totalmente conquistado... que Deus nunca permitisse que ele descobrisse que Isis no fundo também preferia Tom, isso seria o fim!

Ela não conseguia se lembrar de esquecê-lo... mais uma vez. Seu sorriso se desfez.

—E ontem, como foi?— Edith perguntou para Mary e Tom —Presumo que vocês demoraram mais do que era esperado, não é mesmo? Não vi nenhum dos dois, nem depois do jantar.

Os dois congelaram, Mary olhou para Tom, mortificada pelo que ele poderia dizer. Ela havia pensado em tanta coisa, menos em uma desculpa aceitável para dar a família caso precisasse. Os dois voltaram em silêncio durante a madrugada anterior, o máximo que ele havia feito tinha sido segurar brevemente suas mãos, levando-as aos lábios, dizendo mais uma vez que a amava.

—Quase tudo bem, o carro quebrou no meio do caminho, Mary machucou o pé e choveu, tivemos de esperar a chuva passar e—

Mary o interrompeu —E como Tom sabe cuidar de um carro como ninguém, logo estávamos na estrada, mas chegamos tarde e não havia motivo para incomodar a ninguém.— A resposta foi o bastante, Tom olhou para ela confuso, mas sorriu, agradecido. Se sentiu aliviado por não ter sido o único a falar.

Mais tarde, eles se encontraram no berçário e como de costume, a babá os deixou a sós com as crianças.

—Tia Mary, olha o que eu desenhei pra você!— Sybbie correu para pegar um de seus desenhos que mais pareciam rabiscos, enquanto George brincava com o trem, eufórico, exigindo toda atenção de Tom.

Tom olhou para ela, os dois ainda estavam em silêncio sobre tudo, mas o seu olhar fazia com que a memória do beijo da noite passada fosse a única coisa a pensar. Seria maravilhoso se pudesse se recostar novamente em seu peito, se pudesse fazer isso todas as noites. Ela deveria ter deixado Tom partir, a vida seria mais fácil para ele e Sybbie lá na America, longe dela. Ela estava agindo estupidamente, talvez isso estragaria tudo. "Mas, bom Deus" ela pensou enquanto olhava para ele, "Ele é uma parte de mim agora, uma parte tão grande de mim".

As crianças estavam agitadas, logo a atenção dos dois precisou ser canalizada nelas, e o jantar foi tomado por acontecimentos sobre o hospital, que Isobel contava toda animada, o que os fez agradecer. Era muito bom que não fizessem mais perguntas sobre o dia anterior, mas não tinham encontrado nenhum momento do dia para falarem.

Mary foi para seu quarto, só que não conseguia se lembrar de esquecê-lo, nem por um minuto sequer do dia. Nem no silencio da noite escura, novamente chuvosa e fria. Nem por mil sons do tic-tac do relógio. Ela havia dormido em seus braços na noite passada, e a cama parecia muito vazia. Se havia sido um erro, ela queria repetir os erros de ontem à noite. Estava sendo imprudente, inconsequente. Não era o tipo de comportamento que esperavam dela.

Mas foi decididamente para o quarto de Tom, abrindo a porta com cuidado, caminhando delicadamente pelo quarto escuro, pousando na cama, ao lado dele, enquanto ouvia o farfalhar das mantas, o toque suave das mãos dele a reconhecendo no escuro, o suspiro audível de um atormentado.

—Mary, o que está fazendo? O que estamos fazendo? Você está se arriscando demais!— Ele sussurrou desesperado —Está arriscando seu futuro, sua reputação. Não conseguiria lidar com seu sofrimento e isso não pode acabar bem. Você sabe que não.— Tom passou carinhosamente os dedos pelos cabelos dela, tudo estava escuro e no mais profundo silêncio, Downton já havia adormecido.

—Ontem você disse que poderíamos pensar nisso depois, hoje sou eu quem lhe peço isso. Se fosse preciso, eu daria meu último centavo para poder te abraçar esta noite, porque eu não consigo me lembrar de te esquecer, eu sei que eu deveria deixar você ir, que você deveria partir, mas nesse momento, seria capaz de matar para mantê-lo aqui comigo!— ao ouvir ela dizer isso, ele sorriu. Ela não podia ver, mas simplesmente sabia que ele estava sorrindo. Quando eles haviam começado a se conhecer tão bem? - ela pensou.

Então Tom a abraçou o mais forte que pôde, e finalmente, depois de tocá-la, depois de lutar consigo mesmo, ele se abateu sobre ela e procurou desesperadamente seus lábios, afogando-se em um beijo perfeitamente doce e poderoso, fazendo-os muito conscientes de cada partícula de resistência se esvaindo. Tudo parecia perfeito, mas eles sabiam que não seria perfeito para sempre.


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Notas finais do capítulo

Se meus capítulos estiverem muito longos, por favor me avisem, não quero que a história fique cansativa, espero que estejam gostando!!!



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