Robert chegou de Londres e pediu que todos estivessem presentes no jantar, o que fez com quem sabia da história ficasse um pouco preocupado.

"Eu pedi que toda a família estivesse reunida aqui pois tenho algo muito importante para contar"- Robert disse se levantando da mesa e batendo com a colher, na taça; "Eu não contei a ninguém, exceto Cora, que fui diagnosticado com uma espécie de anemia incurável" Nesse momento Tom e Mary abaixaram a cabeça e todo o resto, inclusive os criados ficaram chocados. Violet pôs a mão no coração. Robert continuou: "E essa semana recebi uma ligação do médico, pedindo que eu fosse a Londres com urgência" Todos estavam tristes, já esperando o pior. "O doutor se trancou comigo em sua sala e parecia muito nervoso; Não era para menos. Tudo o que ele sabia dizer era 'A culpa é do laboratório' passava a mão na testa e dizia 'eu dou o diagnóstico de acordo com os resultados dos exames' e quando eu pedi que ele falasse logo de uma vez, ele soltou a notícia que eu menos esperava: Trocaram os exames nos laboratórios; Aquele sangue ralo era de algum outro pobre coitado do qual não me interessei em perguntar! Eu não estou doente! Eu estou saudável! Disse que as duas últimas amostras que ele tirou estavam perfeitamente normais e então, quando pediu que o laboratório investigasse, descobriram que as primeiras amostras foram trocadas, porque por coincidência nós dois fizemos os primeiros exames nos mesmos dias. Eu não vou morrer! E porque resolvi contar isso á vocês? Porque eu percebi que a vida é curta e passa diante de nós num estalo de dedos! Eu quero aproveitar melhor as coisas do jeito que elas são. Veja Mary, eu estava desesperado que ela se casasse com Tony e agora estou feliz que ela não fez isso. Ás vezes a vida sai de um modo completamente diferente do que nós queremos ou imaginamos, mas talvez, era o jeito certo de sair; Por isso, proponho um brinde!" Ele estava agora só sorrisos. Cora levantou e o abraçou. Carson abanava com o guardanapo o rosto da Condessa viúva e por um longo período Mary e Tom olharam um para o outro, como se a chama da esperança tivesse renascido instantaneamente dentro de ambos os corações.

Mary se levantou "Um brinde as coisas boas da vida que ás vezes acontecem por acidente!" todos sorriram e brindaram. Voltaram ao jantar; "Porque você não consultou Dr. Clarkson, Robert?" Isobel perguntou. "Eu sabia que ele iria te contar se alguma coisa estivesse errada comigo e eu não queria que ninguém soubesse"

Quando eles foram para a biblioteca tomar um café que sempre é servido depois do jantar, Mary se aproximou de Tom que estava com os pensamentos distantes, enquanto brincava com Isis. "Qual é o problema?" - ela perguntou. "Qual é o problema? Não sei, talvez seja o fato de que eu te amo e que eu não consigo parar de pensar nisso!" - Tom respondeu com um ar sereno e feliz.

"Tom, eu não sei muito sobre como é lutar contra o mundo por um amor. Mas esse amor tem me feito querer voltar a encarar-me no espelho. Eu acho que agora nós podemos ir em frente e lutar. Vamos avançar, e o mundo virá atrás.... todo mundo está a procura de amor, porque nós não podemos?"

"Você tem certeza que quer isso? Pular um pouco mais alto? Isso pode se transformar numa bola de neve!" Ele disse a ela.

"Temos que aproveitar esse momento onde papai está refletindo sobre a vida e as coisas que acontecem estranhamente nela! Venha, chegue mais perto de mim, vamos juntos, se acomode dentro do meu amor e encare isso comigo." Ela disse sussurrando para Tom. Violet estava já há algum tempo percebendo o que estava acontecendo e foi ter com os dois. "Eu não sou de dizer essas coisas, mas hoje eu sinto que preciso: Eu quero que vocês sejam felizes e eu vou estar ao lado de vocês se precisarem. Vocês podem achar que eu não sei de nada, mas eu sei; E eu lhes dou a minha benção!" E então ela saiu, deixando os dois supresos por descobrirem ter o apoio da avó de Mary. Ele estendeu a mão para ela, ela a segurou com força; Os dois caminharam até o meio da sala. "Tom e eu também queremos falar uma coisa para toda a família." Mary anunciou fazendo com que todos parassem de tagarelar e prestassem atenção nos dois de mãos dadas. "Mas o que é isso?" Robert disse confuso. "Deixe eles falarem e aprenda a ouvir!" Violet segurou o braço do filho.

"Nós nos amamos, papai! Nos apaixonamos acidentalmente. Lutamos em vão por muito tempo contra esse amor, porque nós sabíamos que as pessoas não concordariam com isso; Eu sei que ele é meu cunhado, viúvo da minha irmã. Eu sei que o senhor não aprova e foi por esse motivo que nós dissemos 'adeus' um para o outro diversas vezes, mas nunca conseguimos fazer esse amor morrer. Nós sabíamos que o senhor estava doente, e sabíamos que o senhor devia dinheiro para Tony e foi por isso que Tony me chantageou e eu concordei em me casar com ele. Você vê, papai? Eu estava disposta a passar a minha vida infeliz ao lado de um homem horrível apenas para não ver o senhor sofrer. Mas agora nós sabemos que o senhor não está doente, e o senhor mesmo disse que a vida ás vezes faz as coisas de um jeito diferente do que a gente queria, mas do jeito certo. Nós não queríamos nos apaixonar, mas nos apaixonamos acidentalmente." Mary disse tudo de uma vez, num discurso claro e convicto.

"Mas vocês são cunhados! Pelo amor de Deus!" Robert gritou do outro lado da sala. "Mas eles são viúvos e a Lei da Inglaterra promulgada pelo Rei dá á eles esse direito, quem somos nós para querer impedir?" Cora disse tomando a frente. "Vocês estão sempre tão felizes juntos, e o que eu mais quero é ver vocês felizes! Eu tenho certeza que Sybil e Matthew estariam felizes por vocês!" Cora continuou olhando para os dois. "Eu acho que eles iriam pensar que isso é muito estranho!" Robert disse. Isobel interviu "Eu discordo! Matthew era meu filho e ninguém o conhecia melhor do que eu! Tudo o que ele sempre quis era a felicidade de Mary, ele a amava mais do que tudo. E ele amava Tom e o conhecia, sabia que ele era um homem descente! E Tom cuida do filho dele como se fosse seu próprio, Matthew não poderia estar mais satisfeito no Céu!"

"Eu tenho certeza que Sybil também está feliz! Porque agora ela sabe que mais pessoas nessa casa conseguiram ver o valor de Tom! E ela amava Mary, como ela não estaria feliz em ver os dois felizes?" Edith entrou na conversa.

"Robert, Mary estava disposta a ser infeliz só para te ver feliz, você vê o sacrifício que ela iria fazer por você? Ela disse adeus ao homem que ela amava e iria passar o resto da vida ao lado de um que não a faria feliz, para que seus últimos dias de vida fossem em paz e felicidade... será que você não pode ser agora feliz por ela? Ou pelo menos permitir que ela possa encontrar a felicidade?" Violet disse apertando os braços do filho.

"Eu não quero ver minha filha infeliz... eu só não esperava uma coisa dessas." Robert disse se sentando ainda atônito.

"Eu não tive a intenção de fazer isso, e quero que você saiba; Mas eu simplesmente não consegui escapar disso eu a amo e isso é mais forte do que eu, Mary tem sido sempre minha amiga, me dando suporte, me dando um sentido para a vida seguir em frente. O fato de nós nos apaixonarmos foi um acidente do destino. Eu nunca tive a intenção de te colocar contra as suas filhas, Robert; Saiba que eu o amo muito e não gostaria que isso te fizesse sofrer. Eu prometo que meu amor é puro e sincero, que eu irei cuidar dela, que farei sempre o meu melhor por ela, por George e por Sybbie. Eu tentei ignorar esse sentimento, mas foi em vão. Eles são minha família. Eu tenho estado dia e noite com eles há anos e não poderia suportar viver longe deles. Eu prometo que vou dedicar minha vida para fazê-los felizes. Eu prometo que farei o meu melhor, não só por eles, nem só por todos vocês, mas pela memória de Sybil e Matthew, eu prometo que farei o meu melhor e tudo o que eu estou te pedindo é que você nos dê sua benção. Eu não sou mais um jovem sonhador e espero que você saiba disso; Eu sou um homem certo de minhas convicções pronto para enfrentar qualquer adversidade. Tudo o que nós queremos é desfrutar de um pouco de felicidade, ao lado dos nossos filhos, ao lado de vocês todos" Tom disse enquanto segurava mais firme a mão dela que o olhava feliz.

Robert se levantou; "Você é sempre bom com discursos" ele disse dando um suspiro. Se aproximou dos dois enquanto todos os outros olhavam em silêncio.

"Eu te tenho como um filho, Tom! Um filho ás vezes rebelde, mas mesmo assim um filho que amo, e que tem me dado mais alegria do que tristeza. Talvez seja a vida de novo querendo me dar uma lição e dessa vez eu quero tirar boas notas. Pensando bem, Como eu nunca percebi antes? Vocês sempre juntos, sempre felizes. Vocês são uma família. Eu não posso ser egoísta ou bobo de negar; Você tem cuidado de tudo para mim, enquanto eu tenho sido um tolo desperdiçando a vida com futilidades. Você a faz feliz. Você tem trabalhado dia e noite para manter esse lugar de pé e meus antepassados seriam agradecidos por isso. Você é um homem de valor e eu confio em você! Eu agradeço Sybil por ter trazido você para nossas vidas. Me perdoe por ter sido cabeça dura. Eu dou agora e para sempre a minha benção á vocês dois!" Robert concluiu o discurso puxando Tom e Mary para um abraço. Todos na sala bateram palmas.

Cora sugeriu um brinde. "Ao dia mais feliz de Downton Abbey!"-ela propôs.

Tantos acidentes do destino para que isso acontecesse. Tantos acidentes....mas de algum modo o destino consertou a vida dos dois, colocando-os juntos. A esperança e a felicidade voltaram a brotar. Uma nova história seria agora escrita, e por mais incrível que isso parecesse, todos estavam felizes, com a sensação de que agora as coisas estavam se encaixando.

Acidentalmente no mesmo lugar, acidentalmente na mesma situação, acidentalmente sozinhos, acidentalmente juntos e finalmente, acidentalmente apaixonados.