–- Você está bem, Lavignia? -- Sam a havia pego de surpresa, chorando escondida no salão da sede. --Aconteceu alguma coisa entre você e Dean?

Ela secou as lágrimas imediatamente com a manga da blusa, ensaiando um sorriso:

–- Oh, não, não, Sam. Nós estamos bem. Eu só estava pensando no Lorenzo... Não queria estar... desse jeito... perto do Dean, porque ele carrega o peso do mundo nas costas e... enfim, ele acha que tudo é culpa dele.

–- Eu sei como é, e em relação às pessoas que ele ama, isso é um pouco mais grave... E sinto muito por seu irmão, de verdade.

As lágrimas voltaram a cair, sem que ela pudesse controlá-las:

–- Obrigada... Eu trocaria de lugar com ele feliz, sabe... Lorenzo era um menino incrível, ele teria feito algo melhor com a vida dele do que eu... E ele fez, de fato, acabou se sacrificando pra me salvar, ainda que isso sempre vai ser inaceitável para mim...

–- Isso mostra o quanto você cuidou bem dele. Tenho certeza de que ele está muito grato a você onde quer que esteja. E a maneira de retribuir isso é vivendo da melhor maneira que você conseguir -- a voz de Dean assustou ambos, fazendo com que Lavignia pulasse da cadeira, flagrada em algo proibido.

–- Alguém quer café? -- Ele parecia contrariado.

–- Não -- Sam disse. -- Eu só tinha vindo tomar um copo d'água e já vou voltar para a cama. Boa noite, gente.

Enquanto Sam saía, Dean sentou-se no lugar que ele ocupava, ao lado dela.

–- Eu sei mais do que qualquer pessoa o que é perder a sua família pouco a pouco, de forma injusta, e não sei como você tem convivido com isso sem me odiar ou sem odiar tudo à sua volta.

Ela sorriu, levantando-se e se sentando em seu colo:

–- Lorenzo sempre me disse que eu deveria ter um namorado; que eu deveria viver mais e não ser a educadora chatinha do 1o ano, mas a irmã que saía com ele nos passeios mais divertidos que ele sempre podia imaginar. Ainda assim não gostava de nenhum cara com quem eu saía, até aparecer você.

–- Se ele me conhecesse de verdade, não iria me querer por perto...

–- Mais cedo você me pediu para contar uma coisa constrangedora, e não aceitou a que eu disse, mas acho que eu tenho uma pra te contar -- ela sabia onde aquela conversa iria dar e não queria tomar aquele rumo.

Dean sorriu, aliviado por ela estar mudando de assunto, coisa que ela sempre fazia muito bem:

–- Qual?

–- Eu disse que não o tempo todo, mas eu tive, sim, uma quedinha por você desde o primeiro dia em que te vi lá na escola. Talvez bem mais que uma quedinha.

Quando te vi passar fiquei paralisado

Tremi até o chão como um terremoto no Japão

Um vento, um tufão

Uma batedeira sem botão

Foi assim, viu
Me vi na sua mão

Dean acariciou-lhe os braços, colocando-os em volta do seu pescoço:

–- Eu sabia! Sou irresistível!

–- Com certeza é, meu bem. Ainda mais quando você deixa essa máscara de lado e simplesmente é você sem sobrar ou faltar nada. Daí seu senso de justiça e sua capacidade de empatia não permitem que qualquer ser humano sofra sem que esse sofrimento passe antes você...

–- Você fala umas coisas estranhas às vezes, sabia? Isso é influência do sangue italiano?

Ela sorriu:

–- Não sei, pode ser que seja, os latinos não são muito emotivos? Mas tudo isso faz um sentido absurdo pra mim... Assim como todas as loucuras que tenho feito até agora para estar contigo...

Perdi a hora de voltar para o trabalho

Voltei pra casa e disse adeus pra tudo que eu conquistei

Mil coisas eu deixei

Só pra te falar

Largo tudo

–- Alguma hora eu sei que você vai se arrepender, e vai querer sua vida de volta. Estou preparado para isso, não se preocupe comigo quando chegar o momento, ok?

–- Não conte com isso, Dean Winchester.

Pra onde você quiser eu vou

Dean encostou seus lábios nos dela de leve:

–- Sendo sincero, prefiro não contar com isso mesmo, não.