Vivendo uma canção escrita por Dessa_Soliman


Capítulo 28
Wicked Game


Notas iniciais do capítulo

Baseado em Wicked Game, de Chris Isaak. Eu admito que prefiro a versão Gemma Hayes porque a voz dela é incrível .-.

Já sabem, itálico são frases da música reescritas para o contexto do cap.



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Hiccup sabia, ele sempre soube. Jack Frost era como o vento. Ele era livre, ia e vinha quando bem entendia. Ele não era alguém que ficava somente em um local.

E agora tentava reparar seu erro. Preferia ter apenas sexo com o outro do que não ter nada. Como ele podia concertar algo que ele sentia que era o certo? Ele queria dizer, ele não achava que tinha errado somente por ter se confessado.

Momentaneamente ele até mesmo chegou a sentir-se bem, por ter finalmente livrado-se do peso do sentimento. Mas agora, que Jack não dava noticias há alguns dias, ele estava preocupado. Preocupado, ansioso, nervoso. Ele não sabia direito como explicar como estava. Mas seu trabalho não conseguia focar sua atenção o suficiente e, a cada segundo, ele olhava seu celular, como se assim uma mensagem ou uma ligação iria aparecer do nada.

Ele lembrava-se que aquela relação entre eles começara ainda no ensino médio. Para ser mais exato, no final do terceiro ano. Tinha sido uma festa de pré-despedida. Os pais de um colega viajara e a casa ficara vazia. Ele não sabia definir o exato momento, mas em uma distração sua, quando tentava ajudar o amigo bêbado, este aproveitara para beijar-lhe.

Foi ai que rolou a primeira vez de ambos. E primeira vez de Hiccup. Todos sabiam que Jack Frost era uma pessoa atirada. Ele gostava de sair, de chamar atenção, de ter pessoas ao seu redor. Mas somente Hic conhecia o lado quieto do albino. Do amigo. Eles se conheciam desde a infância, era normal que os segredos do outro fossem contados para si e somente para si.

E ele gostava daquela confiança. Lembrava-se do desespero que sentira depois que o ato em si terminara. Ele não sabia como lidar com o amigo depois daquele dia, e o evitou por dias. Até que, do nada, ele brotou em seu quarto e Hiccup lembrava-se de, mais uma vez, terem transado.

Desde a primeira vez, até os dias de hoje, Hiccup e Jack tinham sexos casuais constantes. Também sabia definir quando fora o momento que percebera estar apaixonado pelo melhor amigo. Fora em uma festa da universidade. Jack cursava Publicidade e Propaganda, enquanto o outro preferira Artes Visuais. Mesmo assim, o encontro dos dois era constante. Durante a festa, vira o amigo pegar-se com uma outra garota, e lembrava de ter se afastado para não ter que continuar a encarar a cena.

O ciúmes que aquela memória despertava era o suficiente para Hic saber que estava apaixonado por Jack. Envolvido romanticamente com seu caso. Com um sexo casual. Para Hiccup, aqueles momentos eram muito mais que um encontro carnal.

Mas ele descobrira que Jack não pensava da mesma forma que ele. Ele deixara isso bem claro ao se afastar, afirmando que aquilo era coisa da cabeça de Hiccup. Tinha entendido o recado antes mesmo da porta de seu apartamento bater com força.

Agora ele estava sentado, o braço escondendo seu rosto e seu pescoço apoiado contra o encosto de seu sofá.

Não, ele não queria se apaixonar por Jack Frost.

...

Jack sempre encontrara calor nos braços das outras pessoas. Ele gostava de ser venerado, tocado e admirado. Ele sabia que quem estava com ele acabava encantado com sua desenvoltura, na cama ou fora dela, sexualmente ou não falando. Tinha um talento para encantar as pessoas. Atrai-las, na verdade.

Mas ele sempre voltava para os braços de Hiccup. Ele sempre voltava porque o amigo sabia como tocar-lhe com um carinho e uma delicadeza que ninguém mais sabia. E se lembrar que o outro era magricela, tímido e passivo no início da relação de ambos.

Hiccup se tornara uma caixinha de surpresa com o passar do tempo. Não pensou que ele fosse começar a crescer daquela forma. Não pensou que ele ia se tornar ainda mais sexy aos seus olhos. Quase não acreditou quando seu tesão pelo melhor amigo tornou-se amor.

Mas ele não sabia lidar com amor. Ele sabia lidar com sexo.

Entendia do prazer. Sabia dar prazer e amava recebê-lo de volta. Gostava de ver quando sua companhia tentava satisfazê-lo depois de ter magnificamente entrado no êxtase mais maravilhoso de sua vida. Jack não era modesto. Tinha certeza que era bom na cama e às vezes se perguntava porque ainda não fazia aquilo por dinheiro.

Ele fazia tão bem, poderia cobrar seus serviços, afinal de contas.

Mas nunca fizera em respeito a Hiccup. Sabia que se o moreno descobrisse, a relação de ambos nunca mais seria a mesma. O outro tinha plena certeza que era um eterno insatisfeito, mas começar a prostituir-se seria o fim da amizade ainda existente de ambos.

E do sexo mais maravilhoso que tinha.

Não que Jack valorizasse apenas isso. Como ele não sabia expressar sentimentos, ele sentia a necessidade de fazer através do prazer carnal. Ele gostava de ouvir os gemidos roucos de Hiccup, ou ainda quando o outro mordia os lábios daquela forma gostosa, quando estava tendo uma sensação mais intensa. Gostava de sentir o suor do outro pingar sobre seu corpo durante as estocadas, de sentir a boca e a língua contra sua pele, indiferente de qual parte do corpo fosse.

Amava ser beijado.

O outro tinha um beijo doce, carinhoso. Mesmo seus beijos cheios de luxúria possuíam um quê de respeito que Jack não sentia em nenhuma outra pessoa. E ele já transara com vários. Muitas vezes, nem ele mesmo sabia definir o que sentia com Hiccup.

Era muito mais que sexo, e ele sempre soubera disso.

Mas, no momento que seu melhor amigo afirmou que estava apaixonado por si, ele não soube exatamente o que fazer. Hiccup merecia alguém melhor. Alguém que não se dava a qualquer um e que tinha um histórico mais apreciado em transas que em notas.

Jack nunca pensou que conheceria alguém como Hiccup, quando começou com aquela vida para suprir sentimentos - que não encontraria no sexo, mas que supririam o vazio momentaneamente - , mas agora ele nunca pensou que perderia alguém como o outro.

E em sua caminhada noturna, sob a chuva forte e os raios que caíam, ele viu-se em frente ao prédio de Hic. Era mais de uma semana que não visitava o outro. E não somente para sexo, para apenas conversarem, botarem o assunto em dia, jogarem videogame, terem um momento entre amigos. Era mais de uma semana desde que batera a porta do apartamento, berrando que Hiccup estava louco.

Ele sentia-se tão arrependido, mas não conseguira evitar as palavras para proteger seus próprios sentimentos.

Apertou o número do apartamento de Hic e esperou. Era passada das duas da manhã e ele ainda estava fora. Não era o momento para fazer uma visita. Não era a ocasião.

Sentiu que iria chorar e pensou em desistir, mas foi então que ouviu a voz sonolenta do outro. Ele ainda tinha aquela sensação dos olhos umedecidos, mas não pôde deixar o sorriso de lado enquanto se abraçava mais, sentindo o frio atrofiar seus ossos.

— Eu estou encharcado, amigão, será que poderia abrir pra eu entrar? — Ele sabia que estava sendo sacana, mas ele não conseguia agir de outra forma. Ele não sabia agir de outra forma.

— Jack? — Era voz de surpresa. Ele ouviu a porta ser destrancada e não precisou dizer mais nada. Apenas entrou, molhando a entrada e as escadas enquanto subia, ouvindo o barulho de seu tênis molhado.

E Hiccup já lhe esperava na porta, uma toalha em mãos. Como uma mãe, ele obrigou que tirasse os tênis e as meias e ajudou que secasse o rosto e as orelhas. E então o silêncio impregnou-se entre eles, e nenhum dos dois sabia como quebrá-lo. Era constrangedor.

— Eu... — Ele encarou os verdes de Hic e notou que as olheiras estavam maiores. O outro quase não tinha aquelas marcas. Era invejável. Costumava dormir como uma rocha. Aquele gato idiota que afirmasse aquilo. Normalmente era Jack que tinha de levantar-se de manhã para alimentar o bichano, porque o dono não conseguia nem abrir os olhos. — Desculpe.

— Você precisa de um banho. Vou procurar roupas e deixá-las no banheiro para você. — E ele assim o fez. Jack entrou no banheiro sem dizer nada e abriu a água quente, agradecendo o choque térmico que recebera. Dentro de minutos seu corpo já não sentia mais a dureza do frio e relaxara, além do físico, sua mente agitada.

Quando saiu, Hiccup tinha posto uma camisa sua e um calção para que dormisse. Abriu a porta do banheiro, ainda secando os cabelos, e encontrou o amigo preparando um colchão na sala.

Ok, ele merecia isso.

Mas ele não deixou por assim. Puxou Hiccup pelo pescoço e beijou-o. Diferente das outras vezes, ele queria passar o que sentia para o amigo.

Ele estava há uma semana sem sexo. Abstinência de Hiccup e de qualquer outra pessoa, porque sempre que alguém tentava algo com ele, lembrava-se do melhor amigo.

Nem mesmo bêbado conseguira esquecer sua paixão, e ela nunca fora-lhe tão destruidora desde que o outro se declarara. Porque agora ele sabia que o sentimento era mútuo, e que não deveria perder a única oportunidade que tinha de ter Hiccup somente para si.

Ele era apaixonado... Não, ele amava Hiccup como nunca amaria ninguém e se ele tinha o outro, daria um jeito de conter seu fogo. Nem que tivesse que voltar a academia e gastar seus hormônios em esportes. Isso que Jack era um preguiçoso de primeira.

— Eu te amo, Hiccup. Fui um idiota e não posso te perder. Então, por favor, me desculpa. — Sabia que sua voz estava mais rouca que o normal. Também sabia que tinha aquela afobação adolescente.

E então sentiu o abraço estreitar-se e voltaram a beijarem-se.

Jack podia dizer que não era o namorado mais fiel do mundo. Quando ele e Hiccup brigavam, normalmente gostava de descontar transando com outra pessoa. Mas assim que voltava pra casa e via o moreno com alguma surpresa, como chocolate-quente, ou um filme para eles, começava a chorar e pedir que ele o perdoasse.

Uma vez Hiccup soltara que ele não se importava muito de Jack transando com outros, porque era ele quem tinha os verdadeiros sentimentos do albino.

Jack tinha o melhor namorado do mundo e tentava ao máximo compensar seus erros sendo um bom namorado fora da cama. Porque na cama ele sabia que era um ótimo amante. Ele só estava aprendendo a amar fora dela. Sem sexo. Com carinhos e atitudes.

E somente Hiccup tinha isso dele.


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Notas finais do capítulo

Nem acredito que está terminando. Então, eu não tinha muita noção do que escrever e com todos os trabalhos que tenho para essa semana estou fazendo na rapidinha mesmo.
To quase como um Jack, mas além de qualquer um quero de qualquer forma u.u
Tá, não, esqueçam isso. O sono tá me drogando já -.-
Enfim, até amanhã pra quem acompanha sá'bodega e tenham uma boa noite.



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