Vivendo uma canção escrita por Dessa_Soliman


Capítulo 27
Mudaram as estações.


Notas iniciais do capítulo

Ei, Cássia, sua linda tesuda, me joga na parede e me chama de lagartixa :3
Eu adoro ela, mesmo, mesmo. Adoro do tipo, ter um tesão enorme por ela. Enfim, baseado em Por enquanto, cantado pela linda Cássia Eller, mas que foi composta pelo ainda mais maravilhoso Renato Russo.
Já expressei meu amor por ele no cap 10, mas não posso deixá-lo de fazer aqui também.
Renato, te amo
OBS: As frases em itálico são da música, reescritas ou literais.



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Jack sentiu aquele vento gostoso anunciar o início de uma nova estação. Não somente uma nova estação, para ele aquela estação específica tinha um sentido completamente diferente. Ele amava a primavera como poucas pessoas sabiam amar. A beleza, o clima ameno, as folhas, as flores... Ele adorava aquela estação mais que qualquer um.

E ele amava mais ainda por saber que ELE viria.

Correu para a clareira próxima de sua casa, atravessando o curto caminho entre as árvores do bosque, e continuou sentindo o vento contra sua pele. Ele estava empolgado. Era quase uma semana desde que a primavera começara e ele ainda não o vira.

Ele tinha aquele sentimento gostoso e aquela sensação que o deixava arrepiado e com um sorriso idiota no rosto. Seus pés descalços tocavam a terra constantemente úmida, mas não gelada. Era uma característica. O sol batia gostosamente e o frio já não conseguia fazer-se sentir.

Poucas mudanças, mas ele sabia precisá-las como ninguém.

Seu sorriso somente aumentou quando viu o garoto pular nas árvores que já começavam a ganhar cor e vida. As poucas folhas já começavam a mostrar-se assim como as flores começavam a brotar, para logo desabrocharem. Era como se a presença dele acordasse a vida, avisando que o inverno acabara realmente.

— Hiccup. — Jack berrou, acenando. Na bolsa lateral trouxera um pouco de comida e um livro de mitologia de dragões. Seu amigo amava aquele tipo de estórias.

E ele voou para a sua frente e o abraçou.

— Jack, desculpe a demora. O outono precisou de um pouco de ajuda esse ano. Ela está se tornando uma velha rabugenta, aquela garota. — Jack não pôde deixar de rir. — Você cresceu. — Hiccup ficou parado ao seu lado e constataram que estavam do mesmo tamanho.

— Logo vou ser maior que você. — Tinha um sorriso vitorioso no rosto enquanto o amigo fazia uma espécie de beiço. Mas logo estavam brincando entre as árvores e esqueceram-se completamente do tempo.

...

Hiccup não conseguiu demorar naquele ano. Ele teve que chegar com pontualidade. Jack estava envelhecendo e, como experiência própria, o outro logo deixaria de acreditar nele.

Ele não podia perder aqueles últimos momentos com o amigo.

E não ficava triste. Era um processo que todos os poucos que acreditavam nos espíritos passavam. Chegava até mesmo a ser belo. Hiccup só não gostava muito da morte que acompanhava o passar do tempo.

Mas com Jack era diferente. Ele gostava muito do garoto de cabelos castanhos e olhos chocolates. Doce este que experimentara pela primeira vez em companhia do outro. Ele não só gostava do menino maior, ele tinha uma espécie de um carinho especial. As crianças acreditavam com mais facilidade, sim, mas ele não lidava somente com elas. Especificamente falando, ele tinha contato com todo e qualquer tipo de pessoa que cuidava da terra, das flores, da vida vegetal em si. Era sua característica. Ele protegia aquele tipo específico de pessoas.

E Jack sempre estivera entre eles. Jackson tinha uma paixão por flores desde pequeno, e ensinara essa paixão para a irmã mais nova. Devia ser coisa de família, porque a mãe deles também dividia esse amor. Além disso, o pai era agricultor e, vez ou outra, quase sempre, o primogênito ajudava-o.

Ele se tornara um garoto dedicado, e muito brincalhão, também. Não havia um segundo em que Jack não estava aprontando uma por sua pequena vila, junto com as demais crianças. Ele era encantador.

Isso fez Hic parar em uma árvore e ficar encarando o moreno brincar com as crianças. Ele fazia uma série de movimentos engraçados enquanto contava uma lenda local qualquer. Não pôde deixar de rir e sua risada chamou a atenção do outro, que virou-se rapidamente e sorriu.

O espírito atrapalhado sentiu suas bochechas esquentarem, e acenou timidamente para o adolescente que terminou rapidamente sua estória e começou a se afatar do grupo de crianças.

...

— Hic? — Jack entrou na clareira em que os dois sempre se encontravam. O espírito estava sentado próximo ao lago, com sua habitual coroa de flores na cabeça. Era o único lugar que via margaridas pequeninas e coloridas. Seus pulsos tinham uma espécie de pulseira com gavinhas, que Hic contara-lhe que era de onde tirava seus poderes. Sem o contato com um elemento da natureza ele não podia invocar seus dons.

— Jack. — Ele continuou sentado, mas virou a cabeça para trás, sorrindo. Estava tudo bem, afinal de contas.

...

— Hic, você tem que ir, não? — Jack o olhava de uma forma que quase fazia o espírito querer ficar. Ele voltou a pousar no chão. O garoto estava maior que ele, já. Aquilo era um pouco constrangedor, na verdade.

— Desculpe, Jack. Já sinto a presença de verão, não posso me demorar mais. Além disso, tenho que levar a vida para outros lugares, lembra? — Ele ouviu a risada de Jack, então o garoto o abraçou. Fazia um tempo que eles evitavam contato. Algo a ver com a puberdade do garoto humano. Abraçou-o, inspirando o cheiro do outro e sentindo lágrimas nos olhos.

Quinze era, normalmente, a idade limite.

— Vamos nos ver no próximo ano, certo? — O sussurro arrepiou-o completamente, e o aperto em seu peito quase esmagou-o.

— Vou. — Não era uma mentira, ele iria ver Jack. Agora, se o humano ia vê-lo, isso era uma completa incógnita. Ele tinha que segurar seus sentimentos e não preocupar o outro.

O outro tinha que crescer, tinha de tornar-se uma pessoa normal. Era saudável ter um “amigo imaginário”, mas não era normal tê-lo a vida inteira. Ele sabia que o outro deveria esquecê-lo com o passar dos anos. Apesar de ainda existir a crença, ela já não era mais infantil e possuía limitações.

Quinze era a idade limite.

— Só... Eu te amo, ok? — Jack segurou seu rosto e juntou seus lábios. Aquilo sempre, repetindo, sempre deixava Hic sem ação. Não era uma coisa habitual, mas deixava-o ansiando por mais, com sensações que não sentia em nenhum outro momento.

E dessa vez retribuiu, porque queria substituir o aperto no peito por uma ótima lembrança.

Sentiria saudades.

...

As estações mudaram novamente. Era algo normal, nada realmente tinha mudado. Hiccup sentia isso. Ele era a primavera, afinal de contas. O espírito da natureza. Ele sabia o tempo das estações em cada canto do planeta, mesmo que elas variassem de ano para ano. Às vezes, sua presença era requisitada em vários lugares ao mesmo tempo. Não raramente, na verdade. E ele ia.

Ele obedecia porque ele amava fazer o que fazia.

Mas, assim que chegou a clareira que ele e Jack se encontravam, ele soube que alguma coisa aconteceu. Algo estava diferente. Estava tudo tão, diferente.

Ele voou diretamente para a vila. O vento lhe sussurrou que ele não deveria ir este ano, que deveria somente fazer seu trabalho e partir.

Mas ele não podia ignorar aquele aperto no peito e aquela sensação errada. Não era isso que ele sentia sempre que visitava aquela vila. Ele sentia-se bem, alegre, altruísta... quase podia sentir que seu ser impregnava-se somente com coisas boas.

Aquilo era... medo. E ele não gostava de sentir medo, como a maioria das pessoas.

E ele logo soube o que aconteceu. Jack morrera. O lago da clareira deles, que sempre congelava no inverno, quebrara e ele caíra ao salvar a irmã, mas perdera a vida no processo.

Ele ainda chegou a acreditar que Jack ia viver muito. Mesmo que o esquecesse. Quase iria viver para sempre. Ele só se esqueceu que o pra sempre sempre acaba.

...

Fazia um tempo que ele sabia da existência do novo espírito do inverno. Eles só se desencontravam, nada demais. Isso não significava nada para ele, quase nunca tivera contato com o antigo espírito, também.

Aliás, antigo espírito esse que renunciou o cargo depois de eras. Nunca imaginou que o Homem da Lua fosse permitir que alguém desistisse. Mas ok, não seria ele a reclamar das decisões de alguém que sabia o que fazia.

Ele tinha plena fé no Homem da Lua.

Mas, naquele ano, de alguma forma calculou errado o momento de chegar e então um vento frio pegou-o desprevenido, forçando-o a segurar-se em um galho de árvore. Ele estava assustado como um ratinho e negou-se a desgrudar-se do ser que despertava sob seu toque, querendo passar-lhe conforto.

Então ele ouviu uma risada que imediatamente reconheceu. Levantou a cabeça e encarou o espírito do inverno, que estava tão próximo a ele. Os incrivelmente azuis e cabelos platinados. Onde antes eram ambos castanhos.

Era lindo. De uma forma que somente Jack poderia ser.

— Desculpe. Eu tinha que te conhecer depois de tanto ouvir falar no famoso Hiccup. Sou Jack Frost, o novo espírito do inverno há alguns.... invernos.

Ele não o reconhecia.

E novamente mudaram as estações e alguma coisa aconteceu.

Hiccup ia conquistá-lo novamente. Eles tinham a eternidade, de qualquer forma. O que importava é que ele ainda poderia ver Jack.

Mesmo agora ele tendo poderes que normalmente o congelavam.


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Notas finais do capítulo

Ei, eu quis inverter um pouco a coisa. Achei legal trabalhar com a ideia do Hic sendo um espírito.
Só não podia separar os dois porque, apesar de a música ser triste, eu sinto algo de esperança, de novo começo.
E eles são o meu casal favorito. É o clichê romântico açucarado que rola nessa porra, nada de melancolia agonizante u.u
Enfim, até amanhã.



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