Vivendo uma canção escrita por Dessa_Soliman


Capítulo 24
Imbranato


Notas iniciais do capítulo

Mesmo que eu não saiba realmente o que essa palavra significa, confiarei nas traduções e deduzirei que é atrapalhado. Foi a característica que foquei no Hic, se me permitem dizer, logo de cara mesmo.
Então, baseado na música de Tiziano Ferro, Imbranato.
E eu só conhecia o refrão dela, e continuo gostando somente do refrão...
24/09/2014



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Oi... Como estás? — Ele teria se batido, em uma situação normal. Ok, não era natural estar flertando com outra pessoa, mas tinha que começar daquela forma inútil? Sabia que estava corado e pior, sabia que o outro achava graça. Viu Jack levantar-se do banco em que estava sentado e ficar a sua frente.

— Ei. — Ele tirou a mecha do cabelo que ficou em frente aos seus olhos e conseguiu ver que o outro tinha aquele sorriso que sempre deixava Hiccup com as pernas bambas. — Estou bem. Ainda bem que veio, já estava ficando preocupado. — Podia dizer que desde sempre sentia aquele carinho que parecia exalar do outro. — Vamos? — Ainda estava um pouco surpreso, na verdade, com o convite súbito de uma volta ao parque, quase às sete da noite.

Era algo meio clichê e um tanto idiota, mas que deixava Hiccup flutuando, como se aquele fosse seu paraíso. Eles caminhavam enquanto conversavam banalidades, em um ritmo muito lento para que o tempo parecesse mais longo entre eles. Vez ou outra paravam para ir a algum brinquedo.

Ah, Hiccup não deixou explícito, não é? Estavam em um parque de diversão, que fora esperado por meses pelos habitantes da cidade.

E Jack Frost o convidara para ir em um encontro para aquele local. Até sentia borboletas no estômago toda vez que seus olhares se demoravam mais, ou que o outro sorria para ele. Às vezes um toque acidental quase o fazia desmaiar, e quando segurou-se no outro, ao passarem pela casa dos horrores, quase morreu e nem foi pelo medo daquilo tudo.

— Jack, poderia pegar algo para eu comer? — Agora estava sentado em um banco qualquer. O outro somente assentiu, sorrindo antes de sair correndo. Ele não queria dizer que estava com sua perna doendo. Às vezes a prótese machucava mais do que o normal, como naquele dia.

Suspirou. Fechou os olhos por alguns segundos enquanto massageava logo abaixo do joelho, sentindo o local em que a perna terminava e sua prótese começava. Ele já estava acostumado, na verdade, mas ainda tinha medo que as pessoas vissem. Não que fosse um segredo, ele só sentia vergonha.

Devia ser normal em um adolescente, certo?

— Devia ter me dito que estava com dor. — O outro deixou um cachorro-quente em seu colo e se ajoelhou a sua frente, na brita mesmo, e tentou levantar sua calça.

Arregalou os olhos e se curvou, pegando as mãos do outro e as afastando. A descarga súbita de adrenalina chegou a deixá-lo tonto, enquanto tentava raciocinar com clareza o que daria como desculpa. Ele não tinha desculpas. Ele só... Não queria que o outro visse. Era muito errado? Ele tinha vergonha que Jack não gostasse mais dele por aquilo, ou que voltasse a tratá-lo como um garoto incapacitado. Ele não o era.

— Não precisa, mesmo. Está melhor, já. — Não pôde deixar de ver que os olhos castanhos do outro encaravam-no intensamente. Ficou envergonhado com o momento, afastando as mãos e levando-as ao alimento em seu colo, que já ameaçava sujar suas roupas.

— Do que sente vergonha, Hic? — Jack ainda estava ajoelhado a sua frente. Ele era maior e com um cabelo castanho mais escuro que o seu. Os dele próprio puxavam mais para o ruivo. Ele deu de ombros, desviando o olhar enquanto mordia o cachorro-quente, tentando distrair-se. Sentiu as mãos do outro massagearem atrás de seus joelhos, e logo Jack se inclinava para cima. — Está tudo bem, vou respeitá-lo. — E então ele beijou seus lábios.

Ei... Aquilo não era bem respeitá-lo, mas Hiccup não podia reclamar. Ele engoliu o que tinha na boca e se afastou, com vergonha por Jack tê-lo beijado enquanto comia e em meio a todas aquelas pessoas.

E ele pôde ouvir a risada gostosa de Jack.

Ele era tão atrapalhado.

...

Jack começara a cuidar de Hiccup por culpa. Era culpa dele o acidente que comera meia perna do outro. Era um dia chuvoso, e ele não conseguiu vê-lo atravessar a rua. Nunca se sentira tão horrível na vida.

Mas, quando foi visitar o menino no hospital, assim que ficara sabendo que ele acordara, viu somente um garoto feliz, que tentava responder as perguntas sem parecer abalado.

E ele não o odiou. Ele aceitou suas desculpas e ainda deixou que chorasse sobre seu colo. Como diabos alguém poderia aceitar algo com tanta facilidade? E depois daquela fase inicial de desespero, acabou criando aquele elo com o menino.

Um elo tão forte que ele não demorou muito a reconhecer, apesar da intensidade que o pegara. E Valka, a mãe de Hiccup, fora a primeira a saber. E a dar um soco bem dado em sua cara, antes de abraçá-lo e incentivá-lo.

Quem diabos incentiva um homem a tentar sair com seu filho?

Mas só tivera realmente uma atitude quando o outro já podia andar normalmente com sua prótese. Passara-se muito desde que desobrira seu sentimento. E o outro aceitou. Com um sorriso envergonhado que Jack achou ainda mais lindo que os outros.

E não existia mais a culpa, apesar de às vezes, pouquíssimas de fato, o sentimento ainda o pegar desprevenido. Era exatamente quando o outro mostrava sua vergonha perante a perna falsa na frente dele.

Um quadro que, lentamente, ele tentava mudar.

...

Era só mais um dia normal entre eles. Jack fazia palhaçadas enquanto caminhava e Hic tentava parecer o adulto sensato. Ele falhava completamente, mas pelo menos tentava.

Foi quando ele parou subitamente, tendo a certeza de algo que ele já sabia, só demorara para reparar.

— Jack. — O outro parou, virando-se para ele, seu semblante tornando-se preocupado. — Eu te amo.

— Uou. — Viu-o coçar a nuca, totalmente despreparado para aquele momento. Quase não sentiu o medo de ser rejeitado, porque seu nervosismo era mutio maior. E então estava rindo, o que contribuiu para a cara de tacho do outro.

— Desculpe. Estamos juntos há mais de dois meses e eu demorei tudo isso para ver que eu te amo. Desculpe. — Jack também sorriu, aproximando-se dele e o abraçando, roubando um beijo logo em seguida.

— Idiota, não é assim que se fala. Você tem que berrar. Dessa forma: EU TE AMO, HICCUP HADDOCK. — Hiccup olhou ao redor, tentando encontrar um local para se esconder. Jack berrara. Berrara em frente a praça mais movimentada da cidade. Próximo ao shopping. Com pessoas que conheciam seus pais. Com crianças. Ele simplesmente berrara. — Tente, é libertador. — E se afastou, dando espaço para o outro. De tanta vergonha, ele simplesmente negou com a cabeça, achando aquela ideia absurda. — Eu vou insistir até que você o faça. Ou não vou aceitar sua declaração. — Viu ele cruzar os braços, ainda com aquele sorriso maldito no rosto.

— Você é insuportável. — E, ao invés de ficar brabo, o outro simplesmente riu. Descaradamente. E ainda falou que sabia, como se fosse a coisa mais normal do mundo. E aquele sorriso... Ele faria tudo por aquele sorriso. — EU TE AMO, JACK FROST. — E os dois se beijaram ali mesmo, em meio a todas as pessoas que viram a declaração de ambos.

Meia atrapalhada, como eles.

...

— Vamos, vamos, vamos. Sente-se. Sei que já está com dor. — Jack obrigou Hiccup a sentar-se, estendendo seu casaco para que o outro não se sujasse na grama meio úmida. Ainda tentando reclamar, mas sentou-se de bom grado, sentindo o alivio imediato.

A pressão que aquela trilha fazia sobre sua prótese quase arrancava o que sobrara de sua perna fora.

Jack ajoelhou-se a sua frente, e como daquela vez no parque, ele começou a levantar a calça de seu abrigo. E nem mesmo tentou pará-lo, tendo visto a repreenda nos olhos do outro. Simplesmente suspirou, olhando para uma árvore qualquer a sua frente enquanto sentia a calça ser dobrada próximo as suas coxas.

Teve de baixar o olhar quando sentiu as mãos de Jack acariciarem seu joelho em uma leve massagem.

— Não precisa fazer isso, Jack.

— Tudo bem. Será que tirar ela vai aliviar? — Hiccup rolou os olhos para aquela preocupação desnecessária.

— Nem tente. Se tirar eu não a ponho mais. — O que era verdade. O outro subiu um pouco em seu colo e beijou-o, com um sorriso enorme.

— Eu posso carregá-lo, qualquer coisa.

Nunca levantou-se tão rápido em sua vida, com o rosto extremamente vermelho. E não somente de vergonha, como de raiva também.

Quem Jack pensava que era, uma garota? Ele ia mostrar a garota depois. Mesmo que ele soubesse que ia ficar por baixo naquela relação.

Acabou somente corado de vergonha enquanto ignorava veemente a risada de seu namorado.


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Notas finais do capítulo

Yeah, clichês. Clichês são a alma do negócio. Se você quer melancolia, definitivamente não venha falar comigo.
Essa foi meio difícil de escrever, mas porque eu não conseguia encontrar um elo, apesar de já tê-la praticamente pronta.
Então, até amanhã e uma boa noite a todos, que eu já estou até dormindo aqui.
Beijos



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