Vivendo uma canção escrita por Dessa_Soliman
Notas iniciais do capítulo
Desde já devo expressar meu amor por Renato.
Renato, eu te amo.
Enfim, décimo dia do desafio. Capítulo baseado na música Hoje à noite não tem luar, cantada por Legião Urbana, mas originalmente da banda Menudo.
10/09/2014
–Banguela, fica. – Hiccup escapou de seu dragão, fazendo movimentos calmos para que ele permanecesse dentro de casa. O bichano abanou a calda e abaixou sua cabeça, quase tocando-a ao chão. – Não, Banguela, não vamos brincar.
–Hic, vamos? – Hiccup sorriu, assentindo. Ele caminhou até a janela e ouviu o rosnar do dragão preto. Voltou-se para ele e ergueu o dedo.
–Não, Banguela. Seja um bom menino. Eu volto logo. Se aprontar alguma coisa, vou te obrigar a comer enguias. – O dragão encolheu-se um pouco, retornando de cabeça baixa para sua cama em fogo. Hiccup jogou um peixe para ele, sorrindo, enquanto estendia sua mão e sentia o toque tão frio do amigo.
Deuses, ele ainda podia ver o espírito do inverno.
Jack puxou-o para cima, voando com Hiccup. Como sempre, o moreno jogou seus braços ao redor do pescoço do guardião. Mas ele já não era uma criança. Ele era um guerreiro, um Viking, alto e forte. Ele não era mais o menino franzino e desastrado de antes.
Ele era Hiccup, aquele que unificou Vikings e dragões. Aquele que viajava todos os dias, fugia, na verdade, atrás de lugares novos. Ele deixara de ser uma criança há tempos, mas ainda via Jack.
–Ei, para aonde vamos? – Jack tinha uma mão ao redor da cintura de Hic, mantendo-o estável. O moreno podia ver que o outro estava mais empolgado que o normal.
E ele não sabia o que dizer sobre aquilo. E sobre as sensações que sempre tinha perto dele. Sentimentos que nem mesmo Astrid, sua garota, conseguia despertar.
–Não estrague a surpresa, Hic. – Hiccup sorriu. Ele sentia-se confortável perto de Jack, sempre sentira-se. Seus olhos se encontraram por alguns segundos, e ele continuou sorrindo enquanto via o outro afastar o olhar, as bochechas levemente vermelhas.
Antigamente, quem corava com aqueles olhares era Hiccup, hoje ele fazia Jack corar. O guardião murmurou alguma coisa que não conseguiu ouvir, e aproximou-se, ingenuamente, tentando compreender.
–Hãn? – Ok, era mais difícil que o imaginado entender Jack, às vezes.
–Eu disse: Você tem que parar de crescer. – Hiccup riu com vontade, segurando-se em Jack. Ele estava ainda mais corado, mas ainda tinha aquele sorriso calmo. Era uma característica do platinado. Talvez fosse isso que deixava o Viking tão bem.
–Prometo fazer o possível. – Jack manteve um voo estável por mais alguns minutos, até diminuir a velocidade e descer calmamente. Logo estavam tocando a areia de uma praia calma, sob a lua cheia. As areias nunca estiveram tão brancas fazendo contraste com a água quase translucidamente anormal e Hiccup começou a sentir calor naquele clima. Mesmo que Berk sempre fosse fria. – Jack, sério, a praia de Berk? – Nunca achara aquele local tão belo, desde aquele dia. Aquele único dia.
–Falta de criatividade. – Jack enfiou a mão esquerda no bolso do moletom, segurando o cajado com certa força com a outra, enquanto disfarçava um dar de ombros.
Ele tinha pouco tempo.
Hiccup notou a apatia do outro, virando-se para ele com preocupação. O lugar perdera seu encanto. Jack era tudo que lhe importava e, se algo estivesse acontecendo, ele precisava saber. Ele podia ajudar. Agora ele podia.
–Aconteceu algo, Jack? – Hiccup aproximou-se do outro.
Jack encolheu-se. Ele vira Hiccup crescer. O garoto fora o primeiro a acreditar nele, a vê-lo, tocá-lo, tratá-lo como igual. E, agora, ele deixara de ser um garoto. Era um homem, um Viking conhecido e respeitado.
Ele crescera tanto nos últimos tempos que Jack ainda não conseguia acreditar que Hic ainda o via. E ele sentia a dor antecipada do que deveria acontecer.
Encarou a lua cheia, o rosto se contorcendo em uma careta de dor. Ele tinha de fazer. Por Hic.
–Hic, você... – Jack hesitou. Como ele podia começar? – Se lembra aquela noite nessa praia, logo depois do acidente? – Hic assentiu. Estranhamente ele não estava envergonhado como normalmente ficaria. O guardião sentiu ainda mais dor por ter que continuar. Ele crescera, tinha de fazer isso. – Poderia... – Ele quase travou, sentindo algo que não sentia há tempos. Lágrimas. Vontade de chorar. – Poderia me beijar de novo, por favor?
Hiccup não pensou duas vezes ao abraçar Jack e encostar seus lábios, ambos aproveitando o momento. Se dessa maneira pudesse ajudar Jack, ele não ia importar-se de beijá-lo para sempre. O frio contrastou com o quente e ambos estremeceram. O guardião permitiu-se chorar, ao afastar-se, e continuou a encarar Hic, que tinha os braços ao lado do corpo e os olhos fechados.
O Viking abriu os olhos verdes, olhando ao redor com confusão. Jack afastou-se alguns passos, botando a mão em frente aos olhos, permitindo-se chorar. Ele caiu de joelhos quando Hic fez sua típica pose confusa. Mão esquerda na cintura, direita coçando a cabeça e os olhos encarando o chão.
Ele vestia sua nova armadura, mas não estava acompanhado de Banguela. Que porra fazia na praia?
Caminhou para a frente, em direção a trilha, e nem mesmo sentiu o frio ao passar direto por Jack. O guardião sentiu aquele vazio novamente, aquela surpresa ao ser transpassado por algo físico como se nem existisse, e curvou-se ainda mais, berrando.
Ninguém o ouviria mesmo.
O Homem da Lua o avisara. Era o momento, era hora de Hiccup esquecê-lo e seguir com sua vida. Era hora de Jack continuar sendo um guardião e deixar Hiccup crescer.
Levantou-se, assim que o sol começou a nascer, e caminhou sem rumo pela ilha. Aquele lugar inteiro lembrava-lhe Hiccup, mas ele não conseguia simplesmente abandoná-lo. Parou em cima de uma cabana e ajoelhou-se, sem vontade de ver nem ouvir. Mas ele viu, e ouviu. Ele viu Hiccup rir com Astrid e beijá-la, tranquilamente, contando de como fora estranho acordar na praia.
Riu levemente, sem humor nenhum e levantou-se, sentindo a brisa puxá-lo para longe.
E deixou-se ir.
Como um imortal poderia morrer?
...
Jack demorou anos para ter sua resposta. Ele não sabia dizer quanto tempo, mas ali estava ele, sentindo-se no fim da linha. Um imortal morria quando ele deixava de acreditar em si mesmo. Era essa a resposta que procurava há tanto tempo. Talvez nem fosse anos, fosse dias, mas ele perdera a capacidade de tempo e espaço desde o momento que Hiccup morrera. Não, ele perdera a forma de distinguir o tempo e o espaço ainda quando Hiccup o esquecera.
Daquela forma brutal.
Daquele jeito que somente o Homem da Lua mesmo para fazer.
Ele encarou novamente a lua ironicamente brilhante. Talvez fosse uma mensagem. Não sabia. Nunca iria saber.
...
–Hm, Jack. Jamie está chorando. – Jack virou-se de lado, completamente grogue.
Ele sempre tivera aquele sonho. O garoto de cabelos platinados sofrendo pelo amor não correspondido, ou algo do gênero, de alguém exatamente igual a Hic. Ele chegara a conclusão, agora que tinha 25 anos, que era o medo de que seu único amor nunca fosse lhe corresponder.
Bem, não que fosse verdade, ele e Hic estavam juntos há sete anos. Mas a incerteza ainda o pegava desprevenido. Ainda mais em noites de lua cheia.
Ele não conseguia entender seu pavor e seu encanto por aquela lua.
Levantou-se, beijando os cabelos castanhos do amado, e caminhou para o quarto ao lado, andando até o berço onde a criança estava. Ela mexia os bracinhos de forma desgovernada. Seu sobrinho tinha quase um ano e meio e ainda acordava de madrugada por causa da fome. Jack amava aquele menino.
Ainda mais por ele ser tão parecido com a mãe, que, infelizmente, morrera há quase seis meses. Ele ainda não superava a perda da irmã e do cunhado, mas fazia de tudo para substituí-los e ser um bom tio para Jamie. Tio/pai... Ele às vezes não sabia como pensar.
–Ei, garotão, venha cá. – Pegou o menino no colo e caminhou com ele até a cozinha, não reparando nas figuras que se encontravam no ambiente. – Vou ter que te contar uma história para dormir de novo, né? O que você quer, o velho Norte ou o rabugento Coelhão? – Eles ainda ouviram o garoto murmurar com a criança, antes de se esgueirarem para fora da janela e sentarem-se sobre o telhado.
–Você acha que ele lembra de nós, Norte? – Fada perguntou, daquela forma meia ansiosa e meia tristonha que às vezes usava para falar de Jack. O velho passou a mão pela barba e depois riu, segurando a pança.
–Claro que o garoto se lembra. Ele ainda tem espírito de um guardião. – Coelhão estava atrás deles, um leve sorriso.
–Ele merece. Sabe, o Homem da Lua sabia o que estava fazendo quando deu uma segunda chance a Jack. Agora ele é feliz com aquele humano.
Os três concordaram, silenciosamente, enquanto encaravam a lua cheia que brilhava enormemente, mesmo na cidade, iluminando a cozinha de um garoto alto de cabelos castanhos escuros e olhos castanhos, juntamente com um bebê quase igual ao mais velho. Além de iluminar um quarto, com um menino de cabelos quase ruivos e de sardas espalhadas pelo corpo, que sorria mesmo dormindo.
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Ah, sim, eu usei Banguela dessa vez, porque era bem clara a voz do Hiccup chamando por ele. Como assisti o filme várias vezes em português, eu gostei do nome do dragão assim *-*
Ah, espero que não esteja muito confusa. Eu não consegui terminar de forma triste.
Até amanhã.
OBS: Renato, eu te amo ç.ç