Não consigo deixar de te amar. escrita por Natalie


Capítulo 8
Fancy.


Notas iniciais do capítulo

Eu te amei por milhares de anos, e eu vou te amar por mais mil.



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O encontro com Axel não fizera bem algum para Carol; por vezes ela se imaginava perguntando a ele sobre Daryl, sentindo que deixara escapar a oportunidade.

Todavia, as coisas na universidade estavam indo muito bem; a jovem era uma das primeiras da turma. De acordo com seu professor mais querido, Ed, ela seria uma excelente enfermeira no futuro próximo — o que a alegrava imensamente.

Gareth não conversara mais com Carol desde a última discussão de ambos, e Carol desejou que tudo continuasse assim; não que ela quisesse o mal do garoto, mas ela se sentia desconfortável ao seu lado.

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O emprego ao qual Daryl Dixon aceitara estava indo bem — pelo menos nas primeiras semanas — considerando os anteriores; os colegas do local eram bastante toleráveis, e o caipira ponderava a possibilidade de aceitar o trabalho permanentemente.

Operar máquinas e carregar caixas para lá e para cá não era nada extraordinário, mas o homem não acreditava que poderia achar algo melhor para se sustentar.

Descartara totalmente a possibilidade de procurar Axel para o velho ramo dos vícios e apostas; aquela fora a causa do término de seu casamento, e ele duvidava que poderia um dia voltar a praticar o ato.

...

— Mas que merda, Dixon! Presta atenção! — Um dos grandes homens que ajudavam Daryl a operar as novas máquinas o repreendera, irritado.

Daryl havia içado a caixa errada para o caminhão de entregas.

— Mas que porra! — O caipira grita ao perceber o erro.

Dentro de três semanas naquele emprego, não era a primeira vez que ele cometia deslizes; muitos dos trabalhadores lhe lançavam olhares carrancudos pelo trabalho que Daryl desempenhava.

O supervisor da empresa, Brian Blake, toma poder da situação e chama o caipira para uma conversa em particular no escritório principal; o ambiente é imaculadamente bem arrumado e limpo, com paredes absolutamente brancas e piso de azulejos igualmente brancos.

— Senhor Dixon, eu... Ou melhor, nós, da companhia de serviços não estamos muito... satisfeitos com o trabalho que você anda realizando... — O senhor Blake começa mansamente, temendo uma possível reação violenta de Daryl.

— Nós dois sabemos que você não precisa de rodeios, eu sou perfeitamente capaz de entender o que se passa por aqui. — O Dixon rosna.

Brian fica surpreso pela resposta do mais jovem, e se demora para responder.

Com seu terno elegante, chega muito próximo de Daryl, e profere suas calmas e ameaçadoras palavras:

— Visto que você já sabe o que se passa por aqui, sugiro que passe a prestar mais atenção no que faz aqui dentro, senhor Dixon, ou serei obrigado a tomar medidas drásticas.

Um silêncio brutal despenca sobre a sala.

— Está dispensado por hoje. Saia para esfriar a cabeça. — Brian lhe diz, amistosamente, como se as últimas palavras não houvessem existido. — O vejo amanhã.

Daryl Dixon nada responde, apenas retira-se da sala do chefe, revolto.

...

Ora essa... o que ele acha que eu sou? Louco?

O Dixon estava bastante encabulado com a sentença de ‘sair para esfriar a cabeça’ que o chefe lhe dará.

Ao sair do departamento onde trabalhava com uma série de olhares questionadores sobre si, Daryl decidira não voltar para casa por enquanto; em vez disso sairia para caminhar pela cidade, sem hora para voltar.

...

Ao passear pelos arredores do parque de diversões que viera visitar a cidade, ele evita passar pelas avenidas movimentadas, prefererindo cortar caminho por entre as vielas e becos, a fim de realmente ‘esfriar a cabeça’ contrariando sua raiva existente pelo termo.

Após algumas voltas, o caipira acaba por ver um homem sentado sob uma velha caixa de papelão e nota que a figura lhe parece muito familiar.

— Joseph? Joseph, é você mesmo? — Daryl chama, chocado.

Joseph era uma das poucas pessoas no mundo — ou a única — que o Dixon podia chamar de velho amigo; o conhecera por incrível que pareça em uma de suas jogadas com Axel, na qual o mesmo perdera trinta mil dólares para o velho Joseph.

Tinha ar de superioridade e sabedoria, e após falir nas apostas e perder seu filho e sua mulher, fora o que mais aconselhara Daryl a sair daquele mundo, depois de Carol. Desde sua própria separação, o velho havia sumido de vista.

— Dylan? Dylan Dixon? — O velho o chama.

— Sou eu, seu velho palerma! Daryl Dixon! — Daryl sorri e se aproxima, sentando no forro de caixas de papelão para fazer companhia ao mais velho.

Os dois trocam um abraço companheiro, ao qual Carol chamaria de ‘abraço de homem’ que sempre os fazia rir nos velhos tempos.

— Caramba, velho. Quanto tempo! — O caipira lhe dá um soco fraco no ombro, brincalhão e subitamente contente.

— Tem razão, Dylan. — O velho o provoca, chamando Daryl pelo nome trocado na vez que se conheceram. — Como vão as coisas? Tudo certo com a Carol?

O sorriso some dos lábios do Dixon.

O maldito assunto delicado; Joseph ainda não sabia. Como contar?

A cerimônia de casamento de Carol e Daryl não tivera a presença do velho, porém, ele, mais do que qualquer outra pessoa de fora, sabia de tudo que incomodava o ex casal, pois sua doce Carol também confiava nele.

Se tivessem se conhecido fora daquele mundo perverso, Joseph seria o padrinho de casamento de Carol e Daryl, sem sombra de dúvidas.

— Não sei dela, Joseph. — Ele murmura, encarando o chão.

— Como assim você não sabe dela? O que houve? O que você aprontou? — O mais velho pergunta, agitado e preocupado.

— Ela me deixou... — O caipira diz, muito baixo. — Por causa das apostas...

— Não acredito!

Daryl mantém os olhos ainda no chão, sem coragem suficiente para encarar os olhos chocados de seu velho amigo.

Os dois ficam em silêncio durante o que parece ser um longo tempo, cada qual preso em seus próprios pensamentos.

Lembranças dos dias festivos e perigosos dos jogos de mesa — o dinheiro à disposição, mulheres, homens bêbados e as constantes canções altas tocando, tal como a conveniente Fancy, de Iggy Azalea, cantada em karaokês pelas vadias que habitavam o lugar — maltratavam a cabeça de ambos.

Incapaz de viajar muito mais por entre as ridículas lembranças, Daryl preferiu refletir sobre o reencontro com o velho companheiro.

O velho Joseph...

Que andava pelas ruas, vagarosamente, sem ninguém saber quem é realmente.

Joseph, triste e humilde, possuía a alma de um homem sofrido e cheio de traumas, que se perdera no mundo dos vícios e agora se via sem sua mulher e seu filho.

Assim como eu...

A poeira e o tempo não lhe envelheceram, seu rosto era sereno e parcialmente livre de rugas.

Daryl se encontrava inacreditavelmente emocionado por dentro; achara alguém que conhecia e entendia sobre sua vida.

Finalmente um amigo.

— À quanto tempo? — Joseph lhe pergunta.

— Parei de contar realmente, depois do quarto mês. — Daryl responde, finalmente o olhando nos olhos.

O velho reflete por um instante.

— Onde está trabalhando? — Joseph decide mudar de assunto.

— Operador de máquinas, mas não tem sido fácil...

Os dois conversam e mal se dão conta do tempo que está a correr, e logo, já é noite.

— Foi muito bom rever você. — O mais velho diz, por entre o ‘abraço de homem’.

— Você tá morando na rua? — Daryl lhe pergunta.

— Não exatamente. Há um lugar onde passo a noite e recebo comida, todos os dias. É como um refúgio de mendigos dementes. — Ele dá uma sonora gargalhada.

O Dixon não entende onde há graça nas palavras do velho, e fica encabulado.

— A casa ficou para mim. — Ele simplesmente diz.

— E daí?

— Ora essa. Venha morar lá em casa. Você não merece essa vida, Joseph...

— Ouça, eu também fiquei com minha casa. Emma se mudou para bem longe, antes de bater a porta e dizer que nunca mais queria me ver. — O velho diz, sem se abalar. — Não há necessidade de me chamar para morar com você, só porque está tão solitário.

— Não é por isso que eu... — O caipira se manifesta, mas é interrompido.

— Siga com sua vida, Daryl. Não se preocupe comigo.

O mais jovem assente e marcha para longe do amigo, recomeçando sua jornada de volta para casa.

— Dylan?

O caipira se vira, à alguns metros de distância.

— O quê?

— Por que você não foi atrás dela?

Com um suspiro doloroso de saudade e decepção, Daryl lhe responde, cabisbaixo:

— Eu mandei dezenas de cartas. Fui à casa da mãe dela, mas recebi a notícia de que ela já encontrou outro macho.

— E quem lhe disse isso?

— Janine. — Daryl responde.

Como se isso fosse fazer diferença.

— E como pode ter certeza que ela diria a verdade à você?

O Dixon pensa por um momento.

Não há nenhuma garantia. E se...?

— Simplesmente não sei. — Daryl sussurra.

Joseph balança a cabeça negativamente.

— Se ela realmente arrumou outro macho, como ela poderia ter lido suas cartas? Foram endereçadas à casa da víbora, não foram? — Ele sorri. — Você nem sabe que se ela sabe que você sente a falta dela. Vá atrás de Carol, Dylan.

— Não sei onde ela está!

— Dê tempo ao tempo. Se realmente foram feitos para ficarem juntos, o destino há de unir vocês novamente.


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Notas finais do capítulo

Aaaaaaaaaah. ♥ Chorei ao escrever esse maldito capítulo. Espero que tenham gostado.
Amem o Joseph, porque ele é um velho muito phoda, hahaha. HAUHAUAH. Amo vocês! Até amanhã!