Alvo Potter e o Jardim Maravilhoso escrita por Yomika


Capítulo 5
O Quinquilhares


Notas iniciais do capítulo

※ No capítulo anterior… Alvo acompanha Tiago para um antiquário, a mando de sua mãe, para buscar o presente de aniversário de casamento de seu pai, Harry Potter. Tiago tentou testar um logro do tio Jorge, porém ele não funcionou. Agora eles finalmente chegam na misteriosa loja de antiguidades mágicas Quinquilhares...


※ CrazyGirl, obrigado por comentar o capítulo anterior!

※ Espero que gostem desse capítulo!



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Música tema: Antiquário Quinquilhares

 

Tiago, que já tinha visitado o local anteriormente com o seu pai para vender velharias desagradáveis dos antigos donos do número 12 do largo Grimmauld, não esboçou nenhuma reação digna de nota.

 

Alvo, por sua vez, fez “Uau...”. Ele não conseguia registrar todos os objetos que se acotovelavam entre as estantes que ocupavam, no mínimo, três metros.

Pedras azuladas que brilhavam sob o clima escurecido e fantasmagórico do local dividiam espaço na estante com cálices prateados e dourados, adornados de pedrinhas de várias cores; lâmpadas prateadas esculpidas de detalhes tomavam todo um andar da estante, enquanto escudos de pantáculos de madeira amontoavam-se ao lado. Adagas, espadas e elmos pomposos, com escritas rúnicas estranhas descansavam em outro andar; incensários, velas de formas de sapos e lagartos ficavam ao lado de almofarizes e pilões.

Vários sinos, de todos os tamanhos e caldeirões ocupavam a partes mais altas da estante. Livros lacrados com trincas robustas estavam na área mais profunda do antiquário; refletindo eles, espelhos grandes descansavam apoiados nos móveis. Bolas de cristais se acumulavam mais rentes ao chão. Manequins de pano que vestiam túnicas com cíngulos ficavam ao lado de um longo balcão de cedro no fundo da loja, onde o vendedor deveria ficar. Porém, não havia nenhuma pessoa, apenas uma porta cheia de penduricalhos. Em cima do balcão havia uma estátua de mão com anéis, esferas nacaras, relógios de metal, ampulhetas e uma coruja empalhada: e no pescoço, uma placa dizia “Sr. Fauntleroy Gorgento”. Outros objetos, Alvo observou hipnotizado, apinhavam a parede: cheia de chifres de unicórnios e plumagens coloridas em vasilhas; vidraria com objetos indefinidos mergulhados se acumulavam também.

Forrando a parede adjacente, pendentes, quadros vazios de cenários bucólicos um tanto macabros e xilogravuras medonhas. Cajados diversos com amuletos em suas pontas ficavam mergulhados em um canto no fundo da loja. Pendurado no teto, chapéus estranhos, morcegos empalhados e estrelinhas cintilantes enfeitavam (na verdade eram fadinhas presas em esferas de vidro). E mais e mais estantes faziam fila... O menino observava maravilhado uma réplica do sistema solar com todos os corpos celestes quando ouviu uma voz rouca e agudinha.

— Oh... Sim... Poderá lhe ser útil esse ano, pequeno Potter.

O garoto quase cuspiu o coração com o susto. Tiago, apareceu de trás de uma estante de patuás, curioso. O velho Thatcher era uma criaturinha menor que Alvo, magrelíssimo e enrugado, porém com orelhas realmente impressionantes de enormes, com pelinhos brancos saindo. Ele fitava o garoto com o par de olhos lilases enormes e globosos. Alvo não teve dúvida de que Thatcher era um Elfo doméstico, assim como o que costumava viver em sua casa, o Monstro. Morreu de velhice a uns cinco anos. Mas, diferente de monstro, que usava trapos e fazia escândalo para não receber roupa alguma, Thatcher vestia uma bata azul aristocrática, com uma estola dourada.

O velho elfo Thatcher Ofereceu a mão ossuda e pequenina para o Alvo e balançou-a efusivamente em um cumprimento exagerado. Depois, notou Tiago parado ao lado de uma estante e foi até o menino, com passinhos rápidos e elegantes.

— Que agrado... Felicito-me por vê-lo novamente, outro Potter.

Tiago mostrou-se um tanto ofendido por ser chamado de outro. Não era sempre que não era bajulado por ser o primogênito, Alvo podia imaginar. Mas o velho elfo não prestou atenção e voltou-se para o mais novo:

— E você, pequeno Potter, tão parecido, tão idêntico ao pai. Olhos de esmeralda... Mas digam-me — o velho fez um gesto amplo, deixando claro que agora incluía Tiago na conversa — Que o trazem em minha pobre loja... Hum?

— Minha mãe (sim... Ginevra Potter, continue, sim, sim) mandou buscar o presente do papai (Oh, sim, Harry Potter, sim...).

Alvo ficou calado. Thatcher subiu numa cadeira cheia de livros que o mantinha na altura que uma pessoa mais alta ficaria ao ficar atrás de um balcão. Tiago tomou a frente, se posicionando mais próximo.

— ... E então?

— Então? — o velho franziu a testa para Tiago, depois estalou os dedos de maneira desconexamente jovial — Ah sim. Sim, sim, está nos fundos, claro. Vou buscar — e foi-se, desaparecendo atrás da porta. Alvo e Tiago puderam dar uma espiadinha antes dele fechar a porta: Havia outra sala com ainda mais estantes no outro compartimento. Quão grande seria aquele lugar? Definitivamente o Elfo estava sendo irônico ao referir-se ao estabelecimento como uma “pobre loja”.

Ambos resolveram dar mais uma olhadinha nas estantes enquanto o velho ia pegar o produto. Alvo tocou numa lâmpada prateada, mas tirou a mão como se tivesse se queimado quando notou que imediatamente uma fumaça esverdeada ameaçou sair da boca do objeto. No entanto, antes de examinar melhor o espelho que reluzia misteriosamente, ouviu o trinco da porta bater três vezes. Os garotos notaram que uma cabeça do que parecia um boneco de vodu que estava pendurada no teto próximo a porta flutuou para olhar por um olho mágico. Então a porta se abriu sozinha.

Tinha o tamanho de Alvo, mas com absoluta certeza, no mínimo, o triplo da idade. O barrete castanho cobria parte do cabelo ruivíssimo ondulado preso para trás de orelhas pontudas. A Barba - que não era tão longa, mas cacheada e sedosa - foi o que mais chamou atenção de Alvo. Era uma bela barba. O baixinho se aproximou passando uma imagem um tanto misteriosa ao pôr a capa de pelo castanho sobre um terno carmim. Ele fitou Alvo com aqueles olhos negros quase sem esclera, depois encarou Tiago, abrindo um sorriso cheio de dentes.

— Prof. Ravus? — Tiago parecia intrigado. O homem fez uma reverência tirando o barrete.

— Potter... Como está?

Depois o professor foi esperar pelo elfo no balcão...

— Esse aí é o Aleph Ravus — Tiago murmurou ao pé do ouvido do irmão — Professor de Transfiguração em Hogwarts... Esquisito. O que está fazendo aqui...?

Alvo concordou rápido, tentando fazer Tiago parar de falar, pois o homem lançou um olhar enviesado por trás das costas. O garoto calou-se e alguns longos minutos incômodos se estenderam, até que a porta se abriu e o elfo escalou novamente a cadeira e encarapitou-se em cima dos livros, segurando uma caixinha.

— Ora, ora, ora... Senhor Ravus! — esganiçou-se o Elfo quando o viu, empurrando a coruja para subir na mesa e fazer contato visual com o homem — o que o traz a minha singela loja?

Ravus lançou o mesmo olhar enviesado para os garotos e meramente falou:

— Ah, Tatcher, atenda primeiramente os garotinhos. — a voz estava cheia de significação.

— Bom, então, sim, com toda certeza... São dos Potter. Conhece?

O homenzinho fez que sim, com um sorriso comedido, afastando-se do balcão para deixar o velho e os garotos conversarem, enquanto ele mesmo desaparecia entre as estantes, sem muito esforço.

— Aqui está — o velho mostrou a caixinha. Tiago pagou-lhe com alguns sicles e poucos galeões — Muito obrigado — saudou o elfo — agora se vocês me dão licença... — Ravus reapareceu e foi conduzido por Tatcher para o interior da loja pela porta atrás do balcão. Quando os garotos estavam a sós...

— Estranho ... — Tiago coçou o queixo — Não querem ser ouvidos, com certeza...

E estalou os dedos como se tivesse recebido uma repentina inspiração. Foi até a parede adjacente à bancada, onde os cajados estavam apoiados, agachou-se, deu duas batidas com o punho e encostou o ouvido. Olhou para Alvo.

— E aí, Al?

— Aí o que? — retrucou o menino, sem entender.

— Vamos dar uma espiadinha, que tal?

Alvo lançou um olhar indignado para o irmão.

— Quer me pôr em confusão com um professor antes mesmo de entrar na escola?

— Então fica aí, bebezão (não-sou-bebê!) ... Então vem logo. Sempre quis saber o que esse cara faz fora de Hogwarts. Ele é muito esquisito, sempre sorrindo... Mas se sorriso fosse símbolo de sinceridade, os Luduans viveriam sorrindo...

Tiago aproximou-se da parede e deu umas batidelas, identificando um ponto oco. Alvo bufou. “Não se metam em confusão” a voz da mãe ecoava na sua cabeça. Sentiu-se um tanto culpado, mas a curiosidade assolava-o. Além de tudo, Alvo encarou o irmão desacreditado. Como ele pretendia atravessar uma parede sólida? Já ia perguntar isso quando o irmão afastou-se da parede, revelando uma portinha baixa no lugar onde estava.

— Como você... Você não pode fazer magia fora de...

“Shhh” fez Tiago, abrindo a porta silenciosamente e atravessou-a engatinhando. Alvo ficou de quatro e o seguiu, notando a forma peculiar maçaneta da porta: uma serpente de prata. Era comum encontrar maçanetas em forma de cobra na sua casa, isso por que eles haviam herdado dos muy antigos Black, família que tinha uma relação especial com a casa da Sonserina. Mas aquela maçaneta tinha esmeralda no lugar dos olhos e exalava um tipo de sensação engraçada... Mas Alvo logo se interessou no que estava atrás da porta com a maçaneta.

Viu-se em um lugar mais escuro que o primeiro compartimento da loja. Tudo estava cheio de poeira, teia de aranha e mofo. Os garotos estavam escondidos atrás de umas das muitas estantes velhas. Alvo notou que a que estava bem na sua frente guardava objetos arrepiantes.

Um crânio que parecia ser humano emborcado, como se fosse algum tipo de tigela macabra. Cutelos enferrujados, cordas para enforcamento, bonecos de pano feíssimos e mal costurados. Outros vidros cheios de líquido verde florescente guardavam nitidamente globos oculares de todas as cores, dentes afiados, até cabeças vivas; Tudo ali era obviamente ilegal. Alvo sentiu que não estavam fazendo algo muito inteligente invadindo os fundos da loja de um velho que guardasse esse tipo de coisa.

Tiago deu com o punho no cocuruto de Alvo para fazer o menino se situar e segui-lo. Ainda engatinhando, os dois foram até o canto da estante. Os dois colocaram parte da cabeça discretamente para fora do corredor entre as estantes. Não havia ninguém no fundo. De repente ouviram passos do outro lado da estante que estavam e puderam concluir que os homens estavam separados dos garotos pela estante imediatamente à frente deles. Alvo apurou a audição.

Alguma novidade da sociedade, Aleph?” Disse a voz agudinha e rouca do elfo.

“Sim” respondeu o outro “Deve ter ouvido os boatos”.

“O roubo?” Thatcher indagou, parecendo mais interessado “Sim, sim, sim, como não?”

“Penso... Acho que o nosso pequeno tesouro não está mais seguro”

“Discordo, Aleph...Acho que está perfeitamente seguro aqui, com o meu senhor Gorgento e a mim para proteger. Nem eles, nem o Ministério desconfiariam.”.

“Thaty, não cabe a você decidir isso. O senhor Gorgento a qualquer momento pode...” Ravus deixou sua voz morrer, recuperando-se para explicar. Não há muitas garantias que este local será tão impenetrável quanto é agora.”

“Exceto a minha garantia.” encrespou-se o elfo.

“De qualquer maneira…” Ravus continuou como se Thatcher não tivesse dito nada. “Os outros membros decidiram levar para os a morada dos duendes.”

“Gringotes? Não me faça rir... Lá, com certeza descobrirão que temos... O ministério vai descobrir...”

“Não, não me refiro à Gringotes quando cito os duendes. Falo da sede central. É a decisão do conselho, Thatcher.”

Um silêncio estendeu-se por um instante... Tiago levantou-se para pôr o ouvido na estante, sedento de curiosidade.

“Eles decidiram ou você decidiu?” falou baixinho, com a voz desconfiada... “Se o senhor Gorgento estivesse aqui, iria dizer que é um absurdo... É como guardar a chave e a fechadura juntas…”

“Mas ele não é mais capaz de decidir, não é?”

Mas eu ainda estou aqui e representarei a decisão de meu estimado mestre”. A voz fininha do elfo era gelada e aguda como uma navalha. “Não, Ravus... Acho que você está apenas querendo ganhar tempo antes que associem você ao incidente do...”

Mas os irmãos nunca ficaram sabendo o que Aleph Ravus fez, pois antes do elfo Thatcher continuar, a bombinha de Dragão escapuliu do bolso de Tiago. No momento que tocou o chão, ela foi acionada, explodindo ruidosamente. Com o impacto, Alvo e Tiago bateram na estante, que estatelou-se em cima da segunda, onde os dois homens estavam, que caiu e derrubou a seguinte, num efeito dominó.

Vários vidros se partiram e muitos globos oculares saíram girando pelo chão. Dentaduras desembestaram como ratinhos mordendo pelo chão. Um livro que tinha um rosto ossudo na capa caiu, soltando um grito ensurdecedor, que uniu-se a zoeira do fogo de artifício em forma de um dragão púrpura que sobrevoava pela sala.

“O que houve, o que é isso? ” Os garotos puderam ouvir a voz do velho vindo dos escombros. Ravus lutava contra uma nuvem de dentaduras que o mordiam sem dó.

Corre! — exclamou Tiago entredentes e não precisou repetir. Engatinharam se empurrando pela portinha e saíram apressadamente para o primeiro compartimento da loja. Tiago ficou para trás um pouco, até reencontrar o irmão e os dois saírem juntos correndo para fora da loja como se não houvesse amanhã.

Os garotos não acreditavam nas suas sortes. Arfando, esgotados, só pararam de correr quando consideraram-se distante o bastante da ruela de Quinquilhares.

— Estranho demais, Al... — comentou Tiago, enquanto atravessava uma encruzilhada, desviando de trouxas ocupadíssimo em suas rotinas — Prof. Ravus o Elfo Thatcher, juntos... E aquele papo... O que será que estão escondendo?

“Olha por onde anda!” Disse irritado um homem engravatado quando Alvo deu de encontro com ele na dobrada de uma esquina.

— ... Dá a até para se pensar que estão fazendo alguma coisa proibida... Presta atenção! — continuou o menino, puxando o irmão para impedi-lo de se acidentar com uma mulher que equilibrava nos braços três sacolas de compras pesadas.

O trânsito estava realmente a pino e as pessoas agora se amontoavam pelas esquinas, bem mais lotadas às sete da manhã. Alvo seguiu o irmão distraidamente: seu pensamento viajava no recente acontecimento e ponderavam as colocações de Tiago...

Então aquele era um professor de Hogwarts? Parecia uma figura realmente respeitável. A primeira impressão de Ravus é de que o homenzinho guardava inúmeros segredos. Tinha certeza que o professor realmente estava incomodado com a presença dos irmãos no dado momento e imaginou se aquilo interferiria na maneira em que o professor trataria Alvo durante as aulas. Se sentiu ligeiramente preocupado. A última coisa que o menino gostaria é de causar má impressão. Diferente de Tiago — um encrenqueiro irremediável, Alvo se sentia feliz em ser considerado um bom menino. Nunca causara problemas para os pais. Isso tinha seus lados bons e os ruins.

Contudo, além dos problemas com o futuro professor, também tinha o tal roubo. Que roubo? E o que estariam escondendo no Antiquário que deveria ser movido para a tal “Sede central”. Que sociedade? O menino estava moído de curiosidade. Algo grandioso estava sendo arquitetado nos bastidores de Quinquilhares... Ele daria tudo para saber mais...

Quando Alvo e Tiago voltaram para casa, ouviram uma voz familiar vindo do andar de baixo.

— ... Ter me chamado! Eu faria tudo desde o início e estaria tudo bem, mas...

— Eu queria fazer sozinha...

— ... Orgulhosa como é.... Harry não iria desconfiar que não foi você, filha...

— Claro que iria. Se estiver gostoso, vai saber que não fui eu.

— Bobagem...

— Vovó? — Alvo disparou descendo para cozinha e encontrou ao lado da mãe, uma mulher grisalha simpática e rechonchuda, que agora sorria radiante, abrindo os braços.

— Alvo, querido! Venha cá com a vovó...! — a senhora Weasley apertou o menino entre os braços — Tiago! — e também o abraçou e em seguida colocou as mãos no rosto do garoto para fita-lo, desconfiada — Não andou se metendo em confusões, hein? Hum, ótimo... Por que demoraram tanto?

— Elfo Tatcher ficou puxando papo... — disse Tiago sem corar. Alvo tomou o cuidado de não olhar para a mãe. Os garotos sentaram na mesa para comer o cereal que não tinham terminado no café.

— É, é bem o feitio dele... — A senhora weasley concordou distraidamente: olhou o pernil carbonizado com repugnância antes de jogá-lo no lixo — Se formos considerar o seu dono. O velho Fauntleroy era uma verdadeira matraca... Encontraram com ele? Não, claro que não... Orgulhoso como é, não iria se mostrar da forma que está... Mal consegue andar depois daquele trágico acidente... E manda o Elfo cuidar da loja... — então começou separar alguns peitos de peru e ordenar com a varinha para a faca cortar alguns legumes.

— Trouxeram o relógio? — perguntou Gina, dirigindo-se especificadamente à Tiago. O menino concordou e entregou uma caixinha de madeira bem talhada para a mãe — Obrigada, filho...

— Tenho certeza que Harry vai simplesmente amar o presente... — disse uma senhora Weasley cheia de pompa e orgulho.

— Sim, eu sei que você tinha dado o relógio... Ele gostou muito.

— E na época me custou muito caro, veja bem... — Molly interrompeu a fatiação dos peitos de peru para olhar a caixinha contendo o tal relógio, mirando-o carinhosamente — Naquele tempo eu queria demonstrar que ele fazia parte da família, afinal, o pobrezinho nunca teve pais... E é tradição dar um relógio a um bruxo que completa a maior idade... Nossa, isso parece ter acontecido a tanto tempo atrás, que tenho a impressão de que foi em uma outra vida... — a senhora mirou o teto, saudosa e um tanto tristonha... Depois retornou ao presente: - Foi uma boa ideia consertar o relógio, já que ele oficialmente faz parte da nossa família... Falando nisso, onde está ele? Onde está Harry?

— Trabalhando... Teve que responder um chamado urgente no Ministério hoje cedo... — explicou Gina.

— Isso é um absurdo! — disse a senhora Weasley indignada — Ele estaria de férias, justo hoje! Não lhe dão um descanso sequer?

— Ele é o Chefe dos aurores, mamãe... Tem suas responsabilidades — mas o tom de voz de Gina sugeria que a mulher estava um tanto melancólica.

— Posso compreender. Ele tem suas responsabilidades... Mas hoje...

Gina concordou apenas, sem fazer nenhum comentário, as lamúrias e reclamações da avó Weasley. Mas deixou cair trigo demais na mistura da torta. Corrigiu nervosamente o erro com um baque da varinha e começou a refazer a massa. A senhora Weasley talvez tenha notado, por que deixou a faca trabalhando sozinha no corte dos legumes e peitos de peru e começou a ajudar a filha com a torta.

— Eu sou realmente uma tragédia na cozinha...

— Acho que não têm nada a ver com habilidade culinária, minha filha... — disse Molly, perspicaz — Acho que você está distraída demais... Aconteceu alguma coisa?

Gina negou, sorrindo, como que tranquilizando a mãe. Agora Alvo e Tiago assistiam a conversa comendo bolachas, como quem assiste um programa interessantíssimo de TV.

— Estou bem, só um pouco ansiosa para hoje... E vocês dois, já arrumaram as malas?

— ... Malas...? — quis saber Alvo.

— Sim, eu disse ontem que iríamos passar um tempo n’A Toca...

— O.K! Vou aprontar já-já! — e desembestou pela escada, pulando os degraus de três em três — Eu tinha esquecido! Que a gente ia dormir n’A Toca — Falou para si mesmo. Alvo estava excitadíssimo. Adorava ir para a casa dos avós. Os primos todos reunidos, seria algo divertido e o distrairia da tortura que era esperar por Hogwarts. Alvo chegou no quarto, calculou a roupa necessária para uma semana (provavelmente iremos de lá para o Beco Diagonal fazer compras!), então adicionou mais algumas meias que lhe eram da sorte. Depois que acabou de aprontar as malas, deitou-se, pensando em voz alta. Alvo tinha o costume estranho de falar sozinho.

— O professor queria pegar alguma coisa e levar para um lugar — ponderou — Mas se tiverem fazendo alguma coisa proibida mesmo? Só que eu não vou me meter. Aposto que encontraram a bombinha e já dá pra saber que eu e Tiago andamos bisbilhotando... Isso é péssimo. Mal entrei na escola e já estou com problemas... Culpa do Tiago, claro, de quem mais seria?

Alvo levantou-se e ficou andando para um lado e para o outro, pensando...

— Papai saiu cedo, mas hoje ele estava de folga. Eu ouvi ele falando ontem mesmo... Por que saiu? E a mamãe está muito estranha. Tá na cara que tá escondendo alguma coisa...

—E pode ter certeza que está — alguém disse. Alvo se virou depressa. Sabia de onde vinha a voz.

— Como assim? — o menino dirigiu-se à moldura sem pintura que descansava na parede de seu quarto. Era raro ela falar com o menino. Muito raro mesmo. Na maioria das vezes ela só ria, asmática, ou reclamava com muxoxos, achando ridículas as atribulações ditas em voz alta pelo menino. Alvo subiu na cama, para ficar mais próximo do quadro — Ei!

— Vi seu pai no Ministério hoje muito cedo — Decidiu responder a voz de homem velho, parecendo irritadiça — Não parecia nada tranquilo. Aliás, todos estão muito peculiarmente inquietos. Diga-me, garoto, sabe de algo? Algo está acontecendo no Ministério da Magia ou com seu Pai, Harry Potter?

Alvo abriu a boca para falar, mas depois pensou melhor e disse:

— Quem é você?

— Diga-me o que sabe — retrucou a voz, ríspida.

— Primeiro me diz quem é você, aí eu digo o que eu sei — sentenciou o garoto.

A voz bufou, dizendo pra si algo como “...Petulante...”. E, após algum tempo...

— Finneus Niggelius Black — disse, contrariado — tetravô do padrinho de seu pai, Sirius Black. Fui diretor de Hogwarts em vida — falou tudo isso numa carreira só — Agora me Diga o que sabe.

O menino pensou um pouco. Finneus Black, claro... Lembrava do nome na tapeçaria da árvore genealógica dos Black... Então Alvo poderia considerar que tinha um parente que fora diretor de Hogwarts? Isso era muito legal.

— Er... Senhor Black — dirigiu-se com educada cautela ao quadro — O que eu sei... Er... — tentou buscar na lembrança a conversa que espionara.

— Sim? — forçou Finneus, impaciente.

— O professor Ravus — que encontrei hoje de manhã — falou sobre... Um roubo, é, isso, ele falou sobre um Roubo... — Alvo decididamente não iria denunciar o professor, pois não tinha provas o suficiente e seria insensato acusar sem saber: se estivesse errado, o professor iria desconfiar que ele que o denunciou. Resolveu que era informação suficiente, então continuou — E minha mãe está misteriosa ... Só.. É... É só isso que eu sei.... Senhor.

— Roubo, hm? — a voz da moldura tinha um tom intrigado — naturalmente Sharcklebolt quer abafar o caso, o que me leva a crer que algum protegido dele está envolvido... Quem sabe até... — e parecendo ter notado que ainda continuava falando na presença de Alvo, parou abruptamente. Depois disse com uma certa arrogância — Então é isso. Se souber de mais alguma coisa, me diga. De outro modo, não me importune. Passar bem.

A voz calou-se e a moldura ficou novamente silenciosa, como sempre tinha sido. Alvo estava agora sozinho em seu quarto, roído de curiosidade para saber mais sobre o tal roubo, sobre seu parente diretor, sobre seu futuro professor, sobre o que a mãe estaria escondendo e o que o pai estava fazendo...


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Notas finais do capítulo

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