Alvo Potter e o Jardim Maravilhoso escrita por Yomika


Capítulo 20
Na cabana do tio Rúbeo


Notas iniciais do capítulo

※ No capítulo anterior…A primeira aula de Defesa contra as artes das Trevas apresentará Vogelweide, professor que já foi auror que parece ter alguma ligação com Gorgento e seu elfo que sumiu, pela conversa que ouvira dele com Ravus. Alvo o viu na Travessa do Tranco enquanto espionava Ravus na loja dos Ugarte. Quem o salvou do albino amedrontador foi Adhara, a pofessora de feitiços que tem alguma ligação com Integra. Será que Vigelweide perseguirá Alvo por seus intrometimentos? ※

※ Primeiramente MUITO BRIGADO, ELLAPHIN PELA RECOMENDAÇÃO! Suas palavras me deram mais foça para continuar a história! Muito obirgado mesmo, fiquei super feliz. E obrigado por comentar primeiro também, Ella! Quero agradecer também a BiaSonserina, minha querida leitora e apoiadora que comentou no capítulo passado ♥ Orbigado também pelo comentário, Randy! Incrível saber que você acompanha a história a muito tempo, assim como a Lianna! Obrigado pelo aviso também, Laimon! Vocês são demais!

※ Espero que gostem desse capítulo, pois veremos uma cena bem nostálgica! ※



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Todos olhavam para Alvo. A resposta “Marca negra” dada pelo filho de Harry Potter deixou todos curiosos, esperando que ele revelasse alguma coisa.

Como ele sabia? Tinha lido num livro nas férias. Tinha guardado a informação devido aos acontecimentos no Juperus, pois releu sobre o bruxo das trevas que seu pai enfrentou alguns dias depois do trágico incêndio. Sentia que precisavar saber sobre isso de alguma maneira, pois seu pai não gostava muito de comentar.

— Precisamente, senhor Potter. Seu pai a conhece muito bem, não? E o senhor poderia nos dizer o que esse símbolo significa?

— É a marca dele. — disse um Alvo tímido.

— Incorreto. Não é, era. E não é ele. — Vogelweide sorriu da própria ironia. —Alguém conhece o nome?

Ninguém levantou a mão.

— Tom Marvollo Riddle. Mas ele utilizava o seguinte nome-símbolo: Voldemort — Quase o dobro das crianças deixaram escapar sustos incontidos quando ouviram aquele nome. — Sabem me dizer por que Tom Marvollo Riddle gostava de ser chamado de Voldemort, e não Tom?

Novamente silêncio.

Medo. Há vários Tom’s, mas apenas um Voldemort. Ele fez história com seus feitos até hoje os bruxos temem esse nome-símbolo. Os seus pais fizeram vocês o temerem e respeitarem o nome. Você-sabe-quem. É como muitos se referem a Voldemort.

“Temer é sensato. Um mecanismo de defesa de todo ser-humano. Mas fugir, ignorar e fingir que não existe, isto não é medo, é covardia. Espero que vocês entendam muito bem a diferença. Há muitos anos atrás o Ministério da Magia temeu tanto esse nome que acabou fugindo, ignorando e fingindo que ele não existia. Eles permitiram Voldemort ressurgir.

“Hoje os tempos são diferentes. Voldemort está morto. Temos a paz. Então eu lhes pergunto: para que estudamos Defesa Contra as Artes das Trevas?

“Nós não devemos cometer o mesmo erro dos antepassados. Não devemos fugir, ignorar e fingir que o Mal não existe. Com a morte do bruxo Voldemort, adquirimos a falsa sensação de que tudo está seguro, que o Mal acabou. Mas o mal nunca dorme. Devemos estar sempre preparados. Não podemos fugir, ignorar ou fingir que estamos a salvos. A ignorância nos torna mais vulneráveis. Nunca se esqueçam disso. Durante os seus sete anos de Hogwarts, eu os ensinarei a temer, respeitar e conhecer as Trevas, para aprender a enfrentá-la. E só se enfrenta o escuro...” O professor balançou a varinha e ela brilhou. Em seguida ele disse “Expecto Patronum!”

A luz azulada brilhou mais forte e da ponta da varinha uma coruja composta por pura energia luminosa emanou. Ela saiu voando pela sala até explodir em um globo ofuscante que se expandiu por todo o espaço, dissipando tão rápido quanto surgira.

— Só se pode enfrentar o escuro com Luz.

Os alunos olhavam hipnotizados para Vogelweide. Ele apontou a varinha e uma manivela girou, mostrando uma nova imagem que dizia “Magia negra e o esconjuro”, juntamente com a imagem de um sapo com a boca cheia de alfinetes.

— A mais simples forma de magia baixa é o esconjuro. Ele se relaciona com a associação de uma imagem a um fim específico, como por exemplo o baixo Voodu e os Bruxedos. O esconjuro é erroneamente identificado como sinonímia de Artes das Trevas. Na verdade há uma confusão semântica entre “Trevas” e “Negra”, palavras que carregam significados próprios e muito distintos entre si. Alguém conseguiria me responder qual o povo é matriarca da Magia Negra?

— Egípcios — respondeu Escórpio.

— Certo, Senhor Malfoy. Hã... Potter e Malfoy, os senhores, talvez, estejam esperando pontos por suas respostas corretas. Mas eu acredito que vocês saberiam tudo isso se lessem o primeiro capítulo do Manual de Garilaka. Logo, é uma obrigação vocês saberem, então não vejo por que atribuir pontos às suas respostas. Eu perguntarei algo, esperarei alguém responder. Se ninguém se voluntariar, eu apontarei para um aluno e se este não responder, a casa deste aluno perderá pontos... SILÊNCIO.

Os alunos pararam suas reclamações imediatamente.

— Os bruxos Egípcios da antiguidade consideravam a cor negra como símbolo da fertilidade, pois os solos negros eram mais férteis e os desertos vermelhos validavam a morte. O uso de Esconjurações para a proteção das tumbas dos faraós...

Os alunos findaram por perceber que aquele professor era dez vezes pior que Ravus. Ninguém brincava com Vogelweide. A sala escura e fechada, com um único foco de luz sendo retroprojetor a refletir de leve na pele de porcelana e nos olhos vermelhos de Kaleb fazia-o dez vezes mais assustador é muito mais fantasma que o professor Binns. Até o fim da aula, todos os Sonserinos (até Alvo) deram graças a Deus pelo Escórpio ser inteligente. Já os alunos da Lufa-Lufa perderam trinta pontos ao todo.

O professor reabriu as cortinas. As janelas estavam cheias de gotinhas de chuva. Todos os alunos já se retiravam, quando...

— Potter. Venha aqui comigo.

Alvo fechou os olhos, pressentindo uma tragédia. O menino estava já com a mochila nas costas, tão perto da liberdade... Mas teve que ir de encontro com o Professor sentado atrás da mesa de mogno, fitando-o profundamente com aquele olhar vermelho sinistro.

— Sim, professor... — disse um Alvo incapaz de olhar nos olhos do homem. Nesse momento, viu o jornal aberto na página a qual, no canto inferior, tinha a matéria intitulada “DERROTADO PELA DOENÇA, MORRE FAUNTLEROY GORGENTO”.

— Está comigo, Potter? — disse Vogelweide. Ele havia acompanhado o olhar do menino, notando que ele estava vendo o jornal.

— S-Sim, Professor — gaguejou Alvo, numa miserável tentativa de disfarçar, piorando o nervosismo. Vogelweide sorriu.

— Tenho o visto repetidamente em situações que, posso estar enganado, assemelham-se a espionagem... (Alvo engoliu a seco). Ah, Potter... São tempos perigosos, os tempos dos inícios, entende? É nessa época em que os desaparecimentos acontecem. Primeiro Thatcher, depois, quem saberemos? Sugiro tomar mais cuidado. Em Hogwarts não temos Harry Potter para protege-lo sempre...

O garoto teve uma vontade imensa e inexplicável, então cedeu e olhou para aqueles olhos vermelhos, brilhosos e frios, os lábios em linha reta numa expressão igualmente gelada. Alvo balançou a cabeça fazendo que “sim” e retirou-se da sala o mais rápido que pôde. Estava ofegando. Alguma coisa naquele professor o deixava muito nervoso. Ele não era para brincadeira, definitivamente não.

 

Os dias passavam lentamente. As nuvens foram se tornando cada vez mais cinzentas e densas e já começavam a descarregar pelas manhãs e tardes, mas as verdadeiras tempestades aconteciam a noite. Alvo estava alheio a elas. As noites no salão comunal da Sonserina eram enfeitadas pelo fundo do lago, intacto a toda e qualquer variação temporal do mundo acima.

Com o passar do tempo o garoto se sentia exatamente assim. Ele estava em um mundo à parte dos demais. Rosa e Dominique, bem como Molly e Roxanne foram notando que Alvo não queria conversar com eles e resolveram parar de tentar. Até porque era difícil encontrá-lo. Ele tomava o café da manhã mais cedo que todos e ficava no parapeito da passarela, espiando o lago.

Durante as aulas ele ficava muito calado. Tentava fingir não ouvir quando Rosa e Escórpio se digladiavam nas aulas de feitiços. Nos horários de História da Magia ele gostava de pensar no café da manhã de amanhã, se teria bacon ou fariam panqueca de baunilha. Depois das aulas ele gostava de ir até a torre do relógio, o único caminho que o menino havia decorado. Era apassivador observar a chuva sob o vidro do relógio, vendo os alunos passarem pelos corredores cobertos do pátio cheio de estátuas de javalis. Mais à frente do horizonte, a grama dos vales e as árvores iam sendo banhadas pelas águas torrenciais. O garoto se sentia indubitavelmente solitário. Era um preço que tinha de pagar por ser diferente de todos os membros da família e também de todos os outros Sonserinos. Talvez se Alvo fosse simplesmente irônico e cruel como Escórpio, ou bravo e intimidador como Isobel, encontrasse um lar entre as cobras... Mas ele era burro, covarde e sem talento, como Tiago dizia. A fama era a única coisa que fazia alguns alunos puxarem papo com ele.

Na primeira sexta pela manhã, novamente foi desperto pelo conde. O gato tinha dado uma arranhada no nariz de Alvo, o menino acordou urrando de dor. Patrichio consolou Alvo, dizendo que da última vez que o gato tinha feito isso, dera graças a deus que tinha os olhos fechados, se não poderia ter tido a órbita arrancada.

Nelson dissera que o gato era incapaz de matar uma mosca, talvez apenas machucá-la ao ponto de impedi-la de voar, mas matar não. Era um doce de gato, dizia o menino enquanto acariciava a pele mole do bicho, deitado na cama com preguiça de levantar para o novo dia... Um novo novo dia...

Depois do café da manhã, Alvo avistou um barquinho a navegar pelo lago. Era Hagrid, jogando comida para a lula gigante... Alvo acabara de se lembrar de que tinha prometido ir sexta à tarde, já que não tinha aula. Mas ele prometera ir com Rosa, além disso, será que Hagrid ia... Será que ele também...

A primeira aula de poções foi nas masmorras. O Lorcan levou eles pelo conhecido caminho até o segundo bloco, descendo as escadarias até encontrar as masmorras, com aquelas paredes rústicas e mal iluminadas. Dessa vez eles tinham a companhia dos Grifinórios. Alvo ouviu Lionel comentar em alto e bom tom:

— Olha que tipo de buraco essas serpentes se enfiam!

Alvo gostaria de mostrar o salão comunal para o babaca, mas manteve-se calado. Apesar de tudo, era de conhecimento geral a luxuosidade do salão comunal da Sonserina.

Porém os garotos seguiram um caminho diferente do salão comunal. Caminharam por um corredor úmido e frio. No caminho, encontraram madame Brendon, a zeladora. A bruxa baixinha, gorda e enrugada ainda usava aqueles óculos escuros e o lenço cinza cobrindo aquele cabelo desgrenhado. Ele impressionou-se de encontrar uma pessoa aparentemente menos simpática que o Professor Vogelweide. O pior era não saber para onde ela estava olhando.

Finalmente chegaram em uma sala larga, com teto baixo, onde se ministrava Poções. Haviam vários armários tomados por vidrarias com os conteúdos mais coloridos e estranhos que se poderia encontrar. Globos oculares, órgãos internos de ratos, dentes e pós de raspados das substâncias mais abomináveis que alguém poderia sonhar. A sala tinha janelas que davam ainda para fora, iluminando vagamente a sala. Ou seja, eles não haviam descido tão profundamente quando o salão comunal. Porém, a única paisagem era o espelho do lago, castigado por um chuvisco revoltoso.

Várias mesas alongadas guardavam quatro lugares cada. Alvo se acomodou juntamente a Dorian, Tabatha e Patrichio. Alvo lutou para não olhar para a mesa de trás, onde Rosa sentava-se com Dominique, Lionel e Reggie. Descansou o caldeirão em cima do forninho portátil e notou que cada espaço da mesa tinha lugares específicos para picar, cortar, pilar, como um laboratório de poções particular.

O professor chegou minutos depois que todos os alunos estavam acomodados.

— Não tenho mais idade para descer até aqui... — resmungava baixinho o muito velho Slugorn. E então notou a classe — Ora, ora, bom dia!

“Bom dia” a turma respondeu meio desparelhada. O professor sentou-se atrás de sua mesa longa e suspirou algo como “um dia essas escadas me matam...

O professor Slugorn era assim como o menino imaginara: um velhinho animado que gostava muito de bajulações, sendo bem direto. No início, ele puxou o saco de Alvo até o menino ficar pimentão. Escórpio não parava de rir. Sabia o porquê disso. Escórpio riu ainda mais quando Slugorn percebeu a tragédia que Alvo era. Não sabia nada de poções e ainda esquentara demais sua poção de curar furúnculos. Pareciam que alguém tinha quebrado dez ovos podres no caldeirão do Potter. Slugorn quando passou para dar uma olhada afastou a cara imediatamente, dando um sorriso meio amarelo.

— Vá tentando, meu rapaz... Seu pai era um péssimo preparador de poções no primeiro ano, mas no sexto ele se tornou um gênio, assim como sua avó. Tenha fé! Está no seu sangue a habilidade, só precisa, hã... — balançou a varinha para dispersar o fedor — um pouco mais de empenho.

Slugorn quase desmaiou de prazer ao ver a poção de Escórpio. Nem Rosa fora tão bem quanto ele. Nelson até fora rasoável. Quando Slugorn descobriu que o pai de Nelson era Drielson Derwent, comentou para toda a sala:

“Ah, grande amigo meu, o seu pai! Os Derwent vêm de uma enorme linhagem de Curandeiros. Dilys Derwent incuslive foi diretora de Hogwarts e do St. Mungus, assim como seu pai é. Soube que ele está fazendo um ótimo trabalho como cabeça do Hospital! E eu lembro de sua mãe, Elisia Derwent... Uma das mais geniais estudiosas de alquimia aplicada à medicina que eu já conheci. Aprendiz do velho Fauntleroy, que esteja em paz, quer dizer, os dois...Er... Sim? Onde eu estava?”

Após o horário duplo de poções, Alvo sentiu-se pior ainda. Rosa disputando com Escórpio, humilhando-o ainda mais... Ele sabia que era burro, não precisava de lembretes.

No fim da aula, o professor Slugorn chamou Alvo e Escórpio em particular. O garoto já sabia do que se tratava.

— Alvo, meu rapaz! Que bom vê-lo aqui. Como está indo? Gostando? Aposto que sim... E o senhor Malfoy, divertindo-se? Bem, tenho um assunto meio desagradável para tratar com vocês. Sou o diretor da Sonserina, portando sou seu responsável. Soube que vocês receberam detenções por causa do incidente no lago. Aleph me informou que já conversou com vocês. Agora já devem ser mais amigos, já que dividem a mesma casa...

— Claro... — disse um Escórpio irônico.

Alvo quase vomitou para aquela falsidade. Escórpio lhe lançou aquele olhar de víbora sob os óculos dourados arredondados.

— Excelente! Maravilhoso! Bem... No fim de semana, sábado, pela noite, acredito que estarão livres. Vocês ajudarão ao professor Longbotton a reenvasar algumas plantas no Jardim dele. Então é só isso! Não se esqueçam de pedir um pedacinho de Visgo-do-diabo para Neville. Meu estoque acabou e penso que ele não irá se negar. Até mais, rapazes!

Alvo e Escórpio se entreolharam antes de ir embora. Não sabia no que o menino pensava, mas Alvo só repetia uma coisa na cabeça: “Vou ter que ficar jogando estrume de dragão com o Escórpio do lado. Estou ferrado”.

— ALVO! Dessa vez você não foge.

Quando o menino ia cruzando a porta, alguém puxou seu braço com muita violência.

— Está tudo bem aí? — perguntou o professor que observava tudo de longe, com uma cara preocupada.

— Tudo ótimo — respondeu Rosa, que ainda agarrava o braço do primo. Dominique agora pegou o outro, virando-o para trás, quase que entortando o braço do garoto. Lionel comentou rindo-se “É hoje que o Potter apanha...”. Reggie riu alto. Isobel virou-se para fitar Alvo. Depois foi-se embora, conversando com um Escórpio particularmente animado.

— Tem certeza? — perguntou Slugorn. Estava decididamente assustado.

— Tá O.K... — tranquilizou Alvo.

— Vem com a gente — disse Dominique enquanto puxava o primo. Rosa também não o largara.

Na subida da escada, o garoto se desvencilhou.

— TÁ BOM, TÁ BOM, EU NÃO VOU FUGIR. Pode fazer o favor de me largar?

O menino massageou os pulsos, que estavam com uma marca vermelha do aperto de Rosa. Estalou o outro braço quase torcido.

— Vamos na cabana do tio Rúbeo — disse Rosa, impassível.

— Precisavam me puxar assim?

— Precisava. Você ia fugir e nem ia aparecer lá. Uma falta de consideração.

— Como se o tio quisesse ver a minha cara...

Os garotos atravessaram o castelo até o pátio da torre do relógio. Não estava chovendo, por milagre. Dominique ainda dizia:

— Não sei de onde tirou essa ideia de que ninguém quer te ver... Que babaquice.

Alvo nada respondeu.

— Calma, Domi — disse Rosa. — Ele vai falar. O tio Rúbeo disse que quer ter uma conversinha pessoal com o nosso querido primo fujão...

Eles cruzaram a ponte de madeira e chegaram ao círculo de pedras, no caminho para o corujal. Mas ao invés de subirem morro acima, desceram por um vale ladeado por pinheiros até avistarem de longe uma plantação de abóboras, com um espantalho coberto de corvos. Lá estava uma cabana bem acabada.

Dominique bateu algumas vezes.

A porta se abriu e aquele velho homem realmente enorme, de cabelos desgrenhados e grisalhos, com quase apenas os olhos negros de besouro, disse:

— Então aí está, hem? Vamos, entrem.

Hagrid estava sério. Pediu para todos se acomodarem na mesa. A cabana estava cheia de cacarecos como pelos de bichos, chifres, sacas de ração e coisas do tipo. Um cachorro pardo enorme com manchas brancas que mais parecia um lobo, foi cheirar Alvo. Ele o focou com aqueles olhos azuis o menino e depois sentou-se na porteira da casa, como que montando guarda para ele não fugir. Hagrid tirou a chaleira do fogo e deu uma xícara de chá para cada garoto.

— Então. — disse o gigante, com uma cara repreensora. — por acaso o senhor tem bosta de dragão no lugar dos miolos, Alvo?

O menino não respondeu nem encarou Hagrid. As primas estavam em silêncio.

— Por que ficou fugindo da gente, Al? — forçou Dominique, que sentara com a cadeira do lado avesso, apoiando os braços no espaldar. Alvo falou alguma coisa bem baixinho.

— Que disse? — perguntou Hagrid.

Eu não queria que tivessem pena de mim. — repetiu o garoto que estava muito sem graça.

— Pena de você? Ora, Al... Que tolice. Por que teríamos pena de você?

Eu fui pra Sonserina.

— Idaí? — disse Rosa.

— Eu sei como vocês me olham! — finalmente Alvo se abriu. Parecia que estava querendo dizer isso a séculos e alguém roubou sua voz — Eu sei o que todo mundo pensa! Coitadinho, é da Sonserina... Eu sei que sou a piada da vez!

— Ai que imbecil... — disse Dominique.

— É, eu sei que ainda por cima sou burro... — emburrou-se Alvo.

— Para de se fazer de vítima, ô demência! — explodiu Dominique. — Aqui ninguém se importa se você é da Sonserina ou sei lá o que!

— Mas nas férias vocês disseram que iam azarar os Sonserinos!

— Você é nosso primo! — disse Rosa — tio Rúbeo, diz pra ele!

— Pelas barbas de Merlim, Alvo... Não acredito que você pensou que suas primas iriam te odiar só por que você entrou para a Sonserina.

— Sei que vão! — Alvo estava a ponto de chorar mas segurou as pontas tão bem que parecia estar mais raivoso que nunca.

— Ora, quanta bobagem. Elas são sua família! Família nunca abandona a gente! Nunca, Al!

— Diz isso pro Tiago... — resmungou o menino.

— Ora, mas foi ele mesmo que mandou elas falarem comigo! Tiago sabe que você não ia querer falar com ele. Está se sentindo muito mal por ter mexido com você nas férias. Está indo muito mal nos treinos por que acha que magoou o irmão e não sabe como pedir desculpas!

Alvo se calou.

— Não importa se você ficou na Sonserina. Você ainda é o Al. É um Potter. É família. Você não pode ficar se excluindo assim.

— Eu tenho muita vergonha! — disse um Alvo triste. — Eu sou o único que foi pra Sonserina de toda a família! Acha que eu me sinto legal com isso?

— Por isso mesmo que deveria ter falado com suas primas. Elas gostam de você, querem o seu bem. Ficar sozinho não ajuda em nada...

— Eu sei que ninguém gosta da Sonserina... — disse Alvo cabisbaixo.

— É verdade que alguns sonserinos são moleques muito difíceis de lidar, mas tem muitas exceções. Lorcan é um garoto muito divertido que sempre me ajuda nas minhas aulas! Tem muito talento com Criaturas mágicas, assim como o pai. Royster, Amanda, Pietro... Tenho tantos bons alunos Sonserinos... A casa leva uma fama muito injusta às vezes. Veja só o Snape… Veja só o que ele fez por nós e pelo seu pai!

Alvo imediatamente levantou a cabeça para fitar Hagrid.

— Snape? Você diz o Severo Snape, do meu nome?

— Sim... O Snape foi um grande homem. Incompreendido, desacreditado... Sacrificou-se por todos nós, foi odiado até o fim da vida, para salvar o seu pai. Um verdadeiro herói. E era diretor da Sonserina. Dumbledore sempre acreditou nele.

— O que o papai achava do Snape?

— Acho melhor que você pergunte isso para ele, hem? É uma longa história.

Alvo concordou. Estava esperando a volta da carta do pai faz muitos dias e nada. E então... Será que ele...

— Rúbeo? — começou Alvo — qual é o máximo de tempo que demora o correio coruja?

— Hmm — pensou o velho grandalhão, tomando um gole de chá — dependendo da distância e do lugar. Para Londres, no máximo uns cinco dias. Mas nesses tempos chuvosos, talvez até mais... Por que, Al? Algum problema com o Lude?

— Faz dois dias que eu não vejo ele. E não enviei carta alguma. Pensei que talvez o papai...

— O Lude está sumido? — perguntou o velho, com um tom preocupado. — Err.. Não, deve estar tudo bem como ele, quer dizer, não...

— Por que não estaria? — perguntou Rosa, parecendo intrigada.

— Nada — Hagrid forçou um sorriso — vou dar uma olhada para você. Trate agora de tomar jeito e parar de pensar em disparates como “meus primos me odeiam” ... Que baboseira...

— Está vendo, Al? Foi tudo besteira sua — disse Dominique, dando um tapa na cabeça do primo.

— Me desculpem...

Hagrid levantou-se e abraçou Alvo.

— Nunca mais faça essas coisas.

O menino sentou-se de volta, massageando as costelas que tinham sido praticamente esmagadas pelo abraço poderoso do tio.

— Estou feliz que vocês tenham vindo me visitar. Tiago não está podendo vir utlimamente. Muito treino. Quer substituir o Ted como apanhador da Grifinória. Veja bem, Ted Tonks era um gênio. O time realmente vai sentir falta dele.

— Tiago também é muito bom — disse Alvo — Aliás, ele é bom praticamente em tudo.

— Ah, vamos, Al, você deve ser bom em alguma coisa. Não sente facilidade em nenhuma matéria?

— Assim que eu perceber eu aviso... — Alvo riu da própria tragédia.

— Ontem à tarde você respondeu uma pergunta do Professor Vogelweide — Observou Rosa.

— Ele perguntou quais cargo do Ministério da Magia têm poder próprio. Se eu não soubesse que era o do meu pai, tava na hora de me matar...

— Vogelweide ficou até impressionado. — disse uma Dominique animada, que acariciava os pelos do cachorrão — Qual o nome dele?

— É Uivo — respondeu Hagrid — ele é bem quieto. Quer dizer que você está se dando bem com o Kaleb, hem?

Ele me odeia — Esclareceu Alvo.

— Quanta bobagem... Por que odiaria? — Mas Alvo notou que Hagrid desviou o olhar.

— Sei que odeia. Se alguém não responder, a pergunta sempre vem pra mim! Já perdi quarenta pontos para a Sonserina. Ele está conseguindo fazer os Sonserinos me odiarem. Ele e Escórpio.

— Escórpio é um idiota. — disse uma Rosa irada.

— Tio Rúbeo, o senhor conhece o Professor Vogelweide? Fala mais dele... — disse Alvo, partindo para o plano de acumular o máximo de conhecimento sobre os suspeitos do roubo.

— Hem? Por que querem saber dele? Estou sentindo cheiro de intrometidinhos — Hagrid semicerrou os olhos para Alvo, Rosa e Dominique.

— Por favor, Rúbeo. É pecado querer saber um pouco sobre os nossos professores?

— Está bem. O professor Vogelweide ministra Defesa contra as Artes das Trevas faz uns quatro anos. — começou o velho tio, desconfiado. — sempre foi muito bem conceituado. Rígido, é verdade, mas ninguém pode dizer que saiu daqui sem aprender a se defender. Foi auror, sabe? Ele tem experiência.

— Porque ele deixou o cargo para ensinar em Hogwarts? — perguntou Dominique.

— Hmm, foi uma longa história.

— Conta Rúbeo. Temos a tarde inteirinha — disse Rosa, já preparada para ouvir.

— Não é coisa para crianças!

Dominique fez uma cara emburrada, mas Hagrid não cedeu. Nem quando Alvo fez a carinha de filhote de cachorro abandonado que tanto dava certo com seu pai quando queria culpar o Tiago de alguma coisa que ele fez.

— Tudo bem. — deu-se por vencida Rosa. — Que tal a Integra? Integra Waldorf não é professora da gente!

— Essa sim é uma mulher horrorosa! É cruel e antipática, é o que é!

— Soube que ela anda perseguindo os aurores mais do que nunca — Rosa informou com um jeito sombrio.

— Como você sabe? — perguntou Alvo.

— Saiu uma matéria anteontem no Profeta.

— Droga, esqueci de ler!

— Sim. Ela não mede esforços, quando quer interferir nos aurores, a Waldorf — explicou Hagrid — Uma mulher terrível que vive espalhando as amarguras do passado. Harry tem um calo com a Waldorf desde... Bem, ela não o deixa em paz.

— Por que? — quis saber Alvo — Por que ela quer tanto fazer mal ao meu pai?

— É uma história longa e complicada — esquivou-se o velho.

— Sei... — Rosa o fitou. Hagrid moveu-se, incômodo.

— O jornal também falou da morte de um tal Flaunteroy Gorgento... — acrescentou Dominique.

Alvo mordeu os lábios. Será que ele podia contar na frente de todos o que tinha ouvido o professor Vogelweide falar para o Ravus? Sobre sua suspeita em cima de ambos, sem falar na acusação sobre o Elfo Thatcher? Alvo preferiu esperar e ter Rosa a sós. Pelo visto, Hagrid era surdo a qualquer acusação em cima de Vogelweide, que dirá sobre Ravus. O garoto preferiu apenas perguntar:

— Ele não era o dono do Antiquário que fica perto de casa?

— Sim, sim. O Senhor Gorgento tinha aquela loja por anos a fim. — disse Hagrid — Mas era também um dos mais antigos figurões do Departamento de Mistérios. Começou a ficar adoentado a uns quatro anos... Doença mágica, sabe? Acho que teve algo a ver com as pesquisas que ele andava fazendo. Não se deve mexer muito com o Tempo, preste atenção no que digo, garotos! Tinha mais de cento e cinquenta, só que era muito vigoroso. E depois, de repente, começou a envelhecer muito rápido. Em meio ano já precisava de muletas, com um já não saia de casa. Dois anos ele libertou o Elfo e ficou sozinho, recebendo atendimentos médicos particulares de ninguém menos que Drielson Derwent. Fauntleroy era muito rico, mas a doença era incurável. Não é nenhuma surpresa ele morrer. Uma pena, era um homem muito inteligente. Contribuiu muito para a ciência da bruxindade. Não me pergunte com o que, não conheço quase nada dessas coisas que esses sabichões pesquisam...

— Ah, sim! — exclamou Rosa — isso me lembra as exceções às Leis de Gamp!

— Leis de o que? — perguntou Dominique.

— No trem eu disse que ia pesquisar sobre aquele papo de bruxos voarem. É simplesmente impossível, sem varinha, afinal, é um feitiço tão complexo que nenhum bruxo conseguiu controlar esse dom por completo

— Não, não, não, está enganada, Rosa — disse Hagrid — Há muito tempo, eu e Harry enfrentamos você-sabem-quem em uma batalha aérea...

— A batalha dos sete Potters, eu sei — completou Rosa — li em um livro que fala da segunda guerra bruxa da Inglaterra.

— Mas os livros não contam o que eu e Harry vimos ao vivo! Você-sabe-quem voava em forma de fumaça negra para matar o seu pai! Sobrevivemos por um milagre...

— Bem, então o Mago Branco também deve conhecer esse tipo de feitiço. — arriscou Rosa.

— Ele disse que não costumava usar artes das trevas — lembrou-se Alvo. — E ele não estava usando varinha.

— Pode ter sido um blefe. E você não viu direito…

— Eu sei o que vi! — Insistiu Alvo.

— Não estou entendendo nada... Mago branco? — perguntou um Hagrid intrigado.

— É uma história longa e complicada — Alvo riu-se irônico.

— Ah, é assim, é?

— Talvez não seja, se nos responder uma curiosidade — barganhou Rosa. — O que são Luduans e Nefilantes?

Hagrid cuspiu o chá e engasgou-se. Ninguém tentou bater em suas costas para ajudá-lo. Estava claro que ninguém às alcançaria. Contudo, os três primos perguntaram se estava tudo bem.

— Sim, só me engasguei sem querer. Por que querem saber deles?

— Vi no Jornal que o Nefilante foi roubado, e no Juperus o Luduan. — esclareceu Alvo — e queria saber o que são.

— E ninguém melhor do que o professor de Trato de Criaturas mágicas para responder. Não acha, Domi?

A prima concordou.

— Vejam bem... Não são europeus. Chineses. Os dois bichos são da China. Não tenho tantas informações sobre eles.

— Vamos Rúbeo... Só diga o que você sabe! Por favor — Alvo usou aquela carinha de gato pidão novamente. Dessa vez deu certo.

— Tudo bem… — o velho tio se acomodou, bufando para a intromissão dos garotos. — Os luduans foram importados do Ministério chinês há muito tempo atrás. São substituintes para os dementadores, mas não que sejam eles que protegem Azkaban agora. É uma ordem de Aurores que faz isso. Joxer Paracampus, um amigo do seu pai, é que comanda a regência da defesa da prisão. Não, os luduans são da jurisdição dos Inomináveis, controlados pela Integra. Digamos que fazem parte do esquadrão de inteligência do Ministério. Eles literalmente caçam os criminosos. São como detetives profissionais, hem?

— E como eles fazem isso? — quis saber uma Dominique curiosíssima.

Hagrid engoliu a seco.

— São seres muito, er... Eu poderia dizer obstinados. Eles têm seus métodos de saber das coisas, podem ter certeza disso. Mas as vezes, podem estar enganados, não sei, er... Bem, fiquem sabendo que são criaturas bem terríveis quando querem ser. Os Nefilantes são criaturas mágicas raríssimas, bichos grandes, um tanto incompreendidos. Mas não fazem mal a ninguém. Quer dizer, claro que eles sabem se defender...

Os primos curvaram as sobrancelhas para aquela explicação tão rasa. Mas resolveram deixar para lá.

Os garotos passaram muito mais tempo conversando uma centena de coisas. Foi só quando o Uivar latiu para uma coruja que havia pousado a janela da cabana que Hagrid notou que havia passado tempo demais.

— Está tarde! — exclamou — já passou da hora! vocês não deveriam estar fora do castelo, depois que escurecer! Madame Brandon vai suspender os três! Irão perder pontos, e só deus sabe o quanto eu quero que a Grifinória ganhe esse ano. Slugorn está se torando prepotente e a Sonse... — então Hagrid olhou para Alvo e deu um sorriso meio sem graça — Bem, quer dizer, todos têm chances de ganhar... Vão logo!

Os garotos subiram a colina e alcançaram a ponte. O céu já estava começando a escurecer. As corujas voavam e Alvo podia jurar que viu no fundo do horizonte um raio cair, apesar dele estar mais limpo do que nos últimos dias.

— Bem, vocês podem me amarrar na ponte e avisar à zeladora. Eu perderia ainda mais pontos e a Grifinória ia ganhar vantagem na taça das casas... — disse Alvo.

— Para de ser imbecil, Al. Nós nunca faríamos isso com você. Ferrar com nosso primo só pra ganhar vantagem pra Grifinória? Pif, você acha que nós somos o que?

— Foi só uma brincadeira! — disse Alvo. Então os três primos finalmente conseguiram atravessar o pátio pavimentado e entrar no prédio da Torre do Relógio. Alvo estava um pouco cabisbaixo, no entanto.

Uuurfa... Sem detenções — disse Domi, pulando.

— Para mim, seria outra detenção... — o garoto contou para as primas sobre a sua detenção de sábado.

— Nem foi tão ruim assim, cara — disse Dominique.

— Você não tá entendendo Domi. A detenção não é ruim, mas o Malfoy lá vai transformar tudo num pesadelo...

— Ele não se atreveria — ponderou Rosa. — não na frente do tio Neville. O Malfoy sabe que o professor e seu pai são amigos. Não é burro de fazer alguma coisa na frente dele e ganhar uma detenção extra. Ou pior: perder todos os pontos que ele conseguiu esses dias — essa última frase foi dita com muito rancor.

Alvo não estava tão convencido disso, mas concordou. Não podia negar que isso o tranquilizava um pouco.

O castelo ainda estava cheio de alunos quando a noite já havia caído por completo. Os três agora atravessavam os corredores de teto baixo e abobado até chegarem no antro circular onde tinha a estátua de um frade em cima de uma meia lua de escadas.

— Estou cansada. Acho que já vou para o salão comunal — disse Dominique.

— Eu já terminei. Acho que eu vou dar uma passada na biblioteca. Alvo, você não disse que queria dar uma olhada lá comigo?

Alvo não lembrava de ter dito isso, mas assentiu.

Os dois garotos seguiram pelo mesmo caminho que faziam para a sala de Feitiços, porém subiram os lances de escadas que ficavam no corredor, antes do banheiro da Murta.

A biblioteca era um lugar amplo que beirava o último corredor entapetado do Quarto andar. Estava bastante silenciosa: pontuais alunos encontravam-se sentados nas mesas anexas às dezenas de estantes altas de mogno. Totalmente tomadas de livros das mais variadas qualidades, seguiam em uma organização a criar quase que paredões na sala.

Lá no fundo, via-se que a Biblioteca seguia em um outro compartimento também amplo, mas era separado do primeiro por cordas, além do que não havia muita iluminação no local. Na metade do caminho, havia uma mesa longa. Sentado nela, um velho de barba branca que fazia uma ponta trançada no queixo, vestindo um colete amarelo sobre o qual pendia uma gola em babado, segurava seu óculos Lornhons a ler um livro largo e grosso com aparência de Atlas.

— Boa noite, senhor Hibram — cumprimentou Rosa. O velho apenas assentiu sorrindo, depois voltou à sua leitura. Os primos foram para o mais fundo possível da Biblioteca e sentaram-se em uma mesa ligada a uma estante.

— Ele é mudo. Mas é muito legal. Sempre sorri para mim...

— Por que não vamos para aquele lado? Está mais silencioso — perguntou Alvo, ao observar que Mallone Hirase dormia numa das mesas mais a frente.

— É a sessão reservada. Os livros de lá são mais barra pesada. Só pedindo permissão para um professor que você pode ler qualquer livro de lá. Só pode entrar ali com autorização. Além disso, o Hirase sempre dorme ali e não mexe com ninguém. Aliás, ele é o primeiro a entrar na biblioteca e o último a sair. Nunca pego ele acordado, então... Tranquilo. Vou pegar uns livros que eu queria te mostrar — e a menina desapareceu pelas estantes.

Alvo achava Mallone um garoto estranho. Parece que ele só vivia para dormir! Nunca estava animado, parecia sempre cansado. Será que ele tinha alguma doença ou coisa assim. O garoto era da Corvinal e, segundo Rosa, vivia na biblioteca. Mas só dormindo! Como ele pretendia aprender assim? Achava que bastava assentar a cabeça no livro que as informações iam passando por osmose?

Se bem que Alvo não podia falar nada. Tinha feito as lições na pressa, sempre levando notas baixas na correção. Parecia que nada daquilo estava realmente entrando na cabeça dele. E estar na biblioteca com Rosa o fazia se sentir ainda mais culpado.

Rosa chegou equilibrando uma pilha pesada de livros. Respirou fundo, jogou os livros na mesa com um baque estrondoso e sentou-se exausta. Disse, ainda ofegante:

— Antes da gente começar a procurar, eu quero te falar uma coisa que não pude falar desde o trem. Se lembra da minha visão sobre o seu pai no meio do fogo? Você se lembra do feitiço que seu pai usou para apagar o bicho de fogo?

Alvo buscou na memória e...

— Sim. Foi um tal de Abaffiato maxima...

— Eu sabia! — exclamou a menina — foi o que eu vi na minha visão. A gente pensou que a visão tinha se realizado quando a menina Waldorf queimou o Olivaras. Mas não. Aquela visão falava de quando seu pai enfrentou o bicho de fogo. Ele usava Abaffiato máxima, não Ignis exumai, como a gente pensou.

Alvo concordou. Realmente, era verdade.

— Além disso — continuou a prima — eu tive outra visão. — ela olhou para o primo com uma cara meio amarelada. Alvo preocupou-se.

— E como foi? Com quem era?

— Seu irmão. O Tiago.

— E o que acontecia com ele?

— Bem... Uma luz muito forte aparecia, como um relâmpago, e acertava a sua vassoura...

— Minha nossa, Rosa! Tem certeza disso? E o que acontecia? Ele se machucava, ele se machucava muito?

— Não sei... A visão acabava antes. Ele estava em um jogo de quadribol, isso eu tenho certeza. Tinha outras pessoas voando perto dele, com as vestes verdes. Acho que era Grifinória contra Sonserina.

— Rosa, a gente tem que falar com ele, impedir que ele jogue, sei lá!

— Tá louco? Tiago nunca iria acreditar! E mesmo assim, ele nunca deixaria de jogar. Não, a gente tem que dar um outro jeito de manter ele seguro durante esse jogo.

— Vou falar com o tio Neville. Dizer que, não sei, pra ele ver o jogo e ficar prestando atenção no Tiago...

— Mas calma, Al. Ainda falta muito para a temporada começar. Ainda nem selecionaram o novo apanhador para substituir o Ted… Além disso, todas as vassouras possuem mecanismo anti-raio. Nada grave vai acontecer, exceto talvez que a Sonserina ganhe.  — A menina disse “brincadeira” imediatamente após Alvo ficar amuado. — Tá, foco. Aqui tem uns livros sobre criaturas mágicas. Vamos ver se a gente acha sobre os Luduans ou Nefilantes.

— Mas o Rúbeo...

— O Rúbeo sabia muito mais e não quis falar pra gente. Vamo encontrar por nós mesmos. Você não quer ajudar o seu pai a descobrir quem é o ladrão?

— Falando em ladrão... — Alvo contou para Rosa sobre a revelação de Vogelweide para Ravus e sobre a ameaça indireta para Alvo que o albino tinha feito.

— Ele sabe que você andou espionando esse tempo todo. Cuidado, Al. Esse cara me soa perigoso. Depois da última aula dele, sei que não é alguém que brinca em serviço. Você tem que dar um tempo na onda de detetive, porque se ele te pegar de novo. Mas tudo bem. Você começa a procurar nesses cinco aqui e eu me encarrego dos seis que sobraram.

Os dois procuraram por muito tempo até acharem alguma coisa. E foi Alvo que achou.

— AQUI! — gritou o menino. Mallone nem se mexeu, mas alguns alunos espicharam a cabeça pelo corredor para ver quem havia gritado. — ops, desculpe. Aqui, ó... Luduans.

— Me dá aqui. Vamos ver... Página 382 — e a menina começou a ler:

O Luduan, é uma criatura mágica Chinesa que é capaz de detectar e seguir rastros, não importa a distância que o rastreado esteja. Na dinastia de Quing, o imperador Chinês Qianlong utilizava esses seres para melhor governar seus súditos. Um Luduan, acima de tudo odeia a mentira e é capaz de sentir quando alguém está escondendo algo. Portadores de um senso de justiça incomparável, os Luduans apenas falam a verdade, mesmo que seus mestres ordenem o contrário. Essas criaturas são conhecidas por serem incorruptíveis e nunca falharem. Possuem duas formas, uma humanoide, a qual eles assemelham-se a fadas do tempo (ver página 431), diferindo dessas por não possuírem olhos e serem bem maiores. A segunda forma é a de besta, sendo comparável a um Tigre lupino, porém sendo azul e muito maior e feroz, usando esta transformação para caçar seus alvos. Os Luduans são considerados a reencarnação da verdade e aparecem nos lugares onde seus serviços são requisitados: desvendando mistérios, revelando segredos e trabalhando para capturar criminosos.”

— Se eles são assim, tão perfeitos, como podem estar acusando a mim e ao meu pai? — disse Alvo.

— Acho que alguém encontrou alguma brecha nas habilidades dele e está usando ela para se safar da acusação e de quebra fazer todo mundo seguir pistas erradas. Mas como? Essa explicação tá bem ralinha, nem fala a maneira que eles rastreiam nem nada.

— O.K. Vamos continuar a procurar. Ainda falta achar os Nefilantes.

— Não, Al.

— Por que?

— São quase oito horas. A biblioteca vai fechar daqui a pouco. É melhor a gente ir para os nossos salões comunais. Hoje é sexta, sabe... O toque de recolher bate um pouco mais cedo.

O garoto concordou. Ambos seguiram seus caminhos. Despediram-se ao pé da grande escadaria, onde Rosa fez o garoto prometer que se encontrariam amanhã, às nove horas, na biblioteca para acharem mais coisas sobre os Luduans e o Nefilante.

Assim que a prima subiu as grandes escadarias Alvo percebeu uma coisa: Estava ferrado!

A única maneira de ir para o salão comunal da Sonserina que o menino sabia era saindo do castelo e pegando a passarela até o outro prédio. Como ele iria para lá, se era proibido sair da escola depois de escurecer? E não tinha uma viva alma para lhe ajudar, já que estava já tarde e todos deviam estar em seus respectivos salões comunais…

Ele tinha que dar um jeito, ou perderia mais pontos e Escórpio o mataria!


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Notas finais do capítulo

※ Obrigado por ler! ※
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※ Até o próximo e YO! ※