Alvo Potter e o Jardim Maravilhoso escrita por Yomika


Capítulo 2
A bruxa


Notas iniciais do capítulo

※ No capítulo anterior… Isobel vive reclamando da rotina chata do orfanato Yellowgrape, porém certo dia ela vê algo deveras misterioso: uma coruja entregando uma carta. O conteúdo fala sobre sua adoção por uma mulher com um passado obscuro. Será ela perigosa? O que ela quer com uma orfã problemática?


※ Agradecimentos a Anna Elly por acompanhar a história por tanto tempo e comentar o capítulo passado!

※ Espero que gostem desse capítulo!



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Isobel tentou forçar a porta.

 

Tomou distância e deu de contra a ela, na esperança de abri-la com o estrondo, mas apenas obteve um lindo roxo no braço direito. Olhava para um lado e para o outro, esperando alguém aparecer a qualquer momento abrindo a porta... Observou pela janelinha do quarto, uma queda de quatro andares seca... Já faziam 10 minutos que a Waldorf estava dentro do Orfanato...

Tu-Tu-Tum

O som veio da porta. A menina congelou. Em seguida:

— Isobel, Isobel, jogue as suas tranças para mim... Opa, seu cabelo é de capacete, engano meu...

Georgina ria com vontade do lado de fora do quarto. Só faltava essa... Georgina viria para caçoar dela no momento. Afinal, não era ela que seria adotada por...

Naquele momento o coração de Isobel deu um saltinho. Claro! Era isso!

— Georgina? – A garota começou a falar com tom de despreocupada dúvida - Por que você não está lá embaixo? Não quer conhecer sua nova mãe?

“Que?” Pôde-se perceber pela voz vindo do outro lado da porta que a garota fora totalmente surpreendida “O que quer dizer? Do que tá falando?”. Isobel continuou da maneira mais displicente possível, rindo-se com desdenho.

— Não acredito... A Senhorita Harrison não contou? Tc-tc-tc-tc.... Pensei que você fosse a queridinha dela...

— Desembucha Isobel! – Georgina cuspiu.

A menina riu maliciosamente.

— Sabe o que eu achei no escritório da senhorita Harrison no dia do alarme falso? Não? Uma carta. E sabe o que estava escrito na carta? Tão desinformada? – a garota deixou um silêncio teatral pairar um pouco para dar mais um pouco de suspense, assim continuou - Tem uma mulher que está conversando com a senhorita Harrison agora. É a Integra Waldorf, acho que você se lembra dela... – Isobel deliciou-se com o silêncio que Georgina prolongava, até responder baixinho “Idaí se eu lembro?”, então continuou – Ah, sim, claro que se lembra! Então, Georgina, meus parabéns, ela agora é a sua nova mamãe!

Georgina não conteve um gritinho agudo. A rival comemorou em silêncio: ela estava mordendo a isca direitinho!

— Vo-você está mentindo! – a menina acusou-a, porém sem muita convicção na voz.

— Não, eu não estou! A senhorita Harrison prometeu a melhor garota do orfanato. Quem será? Quem será Georgina que a senhorita Harrison considera a melhor garota do orfanato?

“Você, é claro! Comportadinha, obediente, sempre disposta a puxar o saco dos adultos! Eu não estou mentindo, Georgina! Acredita em mim, faz uma coisa inteligente pelo menos uma vez! O caso é que eu não vou deixar essa maluca se acostumar a pegar crianças e levar pro além! Eu vou te ajudar, Georgina... Dessa vez, vou te ajudar a fugir da Waldorf! Eu sei onde se esconder; onde ninguém vai te achar até a maluca desistir”

Georgina ficou em silêncio, provavelmente em um dilema terrível. Ouviu-se, então, uma voz vinda das escadas amplas do primeiro andar:

— GEORGINA, DESÇA AQUI! – era a senhorita Harrison. Provavelmente iria pedir para Georgina trazer a inimiga para o térreo...

Isobel ouviu a menina correr pelo corredor e descer as escadas. “Não, não, não vai embora!” ... Mas, ao que parece, não tinha sido bastante convincente... Chutou a cama, zangada. Depois sentou-se, sentindo-se deprimida... A última esperança foi-se tão rápida quanto veio...

Minutinhos depois, no entanto, ouviu um estalo metálico de destrave e porta do quarto do castigo escancarou-se. Georgina, que parecia completamente aterrorizada, disse com uma voz fraca e falha:

— Me ajuda!

Georgina seguia a garota de perto. As duas desceram rapidamente as escadas, até chegarem ao primeiro andar, quando se esconderam atrás de um vaso enorme com plantas no último segundo antes de serem vistas por uma senhorita Harrison bufando. Esperaram a mulher dobrar o corredor e subir o lance de escada para saírem de trás do vaso e continuarem no corredor. A porta do escritório estava entreaberta. Era quase certeza que a dita Waldorf estaria ali, esperando Isobel ser trazida.

Ambas foram até o fim do corredor, onde havia uma portinha embutida à parede. Georgina pegou o molho de chaves e destrancou-a. Havia uma escada que descia até a escuridão...

O porão do Orfanato não estava totalmente recuperado do alagamento. O cheiro mofento e molhado impregnava todo o local. Uma fraquinha luz improvisada revelava o caminho para as meninas que desciam as escadas cuidadosamente. Algumas caixas ainda estavam empilhadas longe do foco das goteiras vindo do banheiro do térreo. Estantes com entulhos se estendiam por ali e acolá, mas Isobel foi até a lareira monstro, abriu a portinhola, separando as metades do rosto entalhado no metal. Georgina, que observava de longe, desconfiada, descruzou os braços e, como que com relutância, acompanhou a outra.

As duas entraram com folga na lareira. O local cheirava a mofo, metal enferrujado, cinzas e poeira. Alguns insetos caminhavam por ali, mas elas não ligaram.

— Quanto tempo a gente fica aqui?— sussurrou uma Georgina impaciente, depois de alguns minutos.

— Até amanhã, se precisar!

A outra soltou um muxoxo e depois disso não falaram mais nada, só esperaram.

Não demorou muito, porém, para Isobel sentir alguma coisa estranha. Era como se o ar de dentro da lareira ficasse imediatamente pesado. Sem sobreaviso, então, uma luz verde e forte impregnou todo o lugar. Georgina soltou um grito.

Tomada pelo susto, Isobel nem esperou para ver o que era. Pisou na portinhola e pulou para fora da lareira. Mas Georgina não fora rápida o suficiente. A outra viu chamas verdes altas e furiosas irromperem da lareira, quase que a atingindo. Porém ela não sentiu calor algum. As chamas logo em seguida desapareceram com a mesma urgência que surgiram, contudo Georgina não estava mais lá. Havia desaparecido.

Isobel engatinhou até tomar uma distância segura da lareira. Ficou ali, respirando forte, com a adrenalina circulando nas veias. Estava estupefata, olhando para a lareira com a portinhola escancarada, com jeito de inocente e silenciosa. Parecia que não tinha acontecido nada. Mas Isobel estava só. Para onde fora Georgina?

No entanto a menina não teve tempo para ficar mais impressionada. A porta do porão abriu-se e a senhorita Harrison apareceu, ao pé da escada, encarando Isobel, com as mãos na cintura.

— Então era aqui que você estava? Venha cá. E sem mais gracinhas!

A garota dirigiu-se ao seu trágico destino, ainda atordoada pelo desaparecimento de Georgina. Mas ninguém poderia dizer que ela não lutou bravamente. Quando chegou ao escritório, a senhorita Harrison abriu a porta e fez um gesto para a menina entrar, mas não a acompanhou. Ouviu a porta fechar atrás de si. A primeira coisa que viu no escritório a fez soltar uma exclamação: Georgina estava sentada na cadeira fofa em frente a mesa do escritório. Não estava com jeito de quem desaparecera em meio às chamas, mas estava aparentemente desacordada.

Waldorf, que estava de costas, observando a lareira aristocrática apagada, virou-se com a cadeira para fitar a garota longamente, com aqueles olhos negros faiscantes, observando a menina com comedida curiosidade.

— Você – Começou a mulher, com a voz aveludada e um tom naturalmente nobre – é Isobel – não era uma pergunta.

A menina não esboçou querer falar nada. Ficou ali, parada, fitando a mulher, sem piscar. Deveria ser corajosa diante dela. Constatou que ela poderia trabalhar para alguma empresa funerária, pois sua moda exalava uma sensação deprimente de enterro. Ambas continuaram se encarando, até que a Waldorf resolveu falar novamente.

— Me chamo Integra Waldorf – A mulher demorou para desistir de ter a mão apertada pela menina: recolheu a mão estendida e continuou com a cara plácida – pretendo...

— Eu sei o que você veio fazer aqui, mas não estou interessada. Obrigada— Isobel interrompeu-a, topetuda. Talvez, se a mulher a detestasse, seria mais fácil desistir da ideia de adoção.

Waldorf levantou as sombrancelhas, demonstrando leve surpresa. Isobel voltou sua atenção para Georgina, que babava em profundo sono.

— O que aconteceu com ela? Como ela veio parar aqui? – quis saber a menina, deixando claro o tom de malcriação.

— Ela está bem. Foi trazida por engano... O fogo flu era pra você, naturalmente.

A menina pensou que talvez tivesse escutado mal. Ela foi trazida? Ela queria dizer que a menina foi transportada pelas lareiras?

— Isobel, vim aqui para adotá-la. Quer queira ou não, pode demorar um pouco, mas sairemos com certeza daqui juntas.

— Vai me jogar na lareira?

— Se necessário...

— Eu não... Quem é a senhora? Eu não vou ir pra lugar nenhum! – e antes que a mulher tentasse abrir a boca, Isobel disparou em acusações.

“Eu vi a coruja, eu sei da sua história, das outras meninas adotadas! Eu sei de tudo! Não saio daqui, nem arrastada! Esquisita, é o que é! Vai embora e me deixa em paz!”

A Waldorf deu um sorrisinho mínimo.

— Esquisita? Eu? E você, Isobel, é o que? É capaz de se dizer normal?

E a encarou ainda com trejeito de riso.

“Você é não pertence a esse orfanato, Isobel, como as outras garotas que eu adotei não pertenciam. Você é diferente...Peculiar.

“Isobel, você é uma bruxa”

— Bruxa é você, sua palhaçona! – cuspiu a garota – uma doida varrida que cismou com a minha cara! Volte lá para o seu enterro, sei lá o que esteve fazendo com essa roupa horrível...

A menina virou-se irritada para sair daquele escritório agora mesmo. Bruxa? Tenha dó!

Mas a porta não abria. Estava trancada. Forçou, forçou, forçou, mas nada. Nem a maçaneta girava.

— Não vai sair antes que eu fale tudo o que quero falar – sentenciou a Waldorf com uma expressão gelada.

“Socorro, Socorro!” Isobel começou a gritar enquanto continuava a forçar inutilmente a maçaneta dura.

— Ninguém vai lhe escutar, Isobel, esqueça. Eu me certifiquei que a nossa conversa iria ser particular. Lancei um feitiço Imperturbável na porta...

A menina começou a se desesperar. Feitiço? E se ela fosse alguma maníaca? Tentou forçar um pouco mais, até finalmente desistir.

— Abre isso e me deixa sair daqui! – disse a menina, acrescentando, porém: – Por favor?

— Antes vamos terminar a conversa de onde paramos – A mulher a fitou com os olhos negros focados – como eu dizia, você é uma bruxa.

Isobel pensou duas vezes antes de falar alguma coisa. A mulher era louca e perigosa, não deveria ser contrariada. Preferiu voltar à estratégia do silêncio.

— Ainda não acredita? – a mulher indagou, presunçosa. – Diga-me, nunca fez algo acontecer, algo naturalmente impossível? Nunca sentiu calafrio antes de coisas inexplicáveis acontecerem?

Isobel a fitou com desconfiança. Ela realmente queria convencer a menina disso? Se ela já havia feito algo estranho?

— Diga-me sobre o dia em que você fez crescer nessa menina (apontou para Georgina) uma coleção de furúnculos, quando desejou que isso acontecesse? – Isobel foi pega desprevenida. Como ela poderia saber disso? A mulher continuou – ou quando você fez as lentes dos óculos do seu professor sumirem diante de todos os alunos na sala de aula? Quando você caiu de dois andares sem se machucar na noite em que enviei a carta pela coruja? Ou há dois dias atrás, você fez os todos os canos do banheiro despejassem água nessa garota, por que estava irritada?

Isobel começou a prestar atenção na mulher. Algo muito dentro de si dizia que talvez ela pudesse estar certa. A menina sempre esteve tão imersa em tédio, pensando em coisas fabulosas e misteriosas, que talvez não pudesse notar que tudo estava debaixo de seu nariz. Mas não era possível. Magia, bruxaria. Isso realmente existia? Não podia ser, tinha algo de estranho.

Música tema: a magia é real

A mulher poderia ter adivinhado os pensamentos de Isobel. Ela puxou das vestes um tipo de vareta de madeira. Empunhou-a, como um maestro e riscou os ares com sua ponta. As luzes começaram a tremeluzir, piscando loucamente, num efeito medonho. A janela do Escritório abriu-se de supetão e uma lufada de vento irrompeu a sala, derrubando papéis, fazendo as estantes tremerem e arrastando a cadeira com Isobel e tudo para alguns centímetros atrás.

Parecia que uma pequena tempestade havia se instalado no escritório. Isobel se segurava na cadeira, morrendo de medo. Uma voz profunda e fantasmagórica surgiu: era o quadro do fundador do Orfanato, dizendo: “Minha criança, Isobel... Tola... Não sabe de nada... Não entende nada” ... E a estatuetazinha de um anjo que servia de peso para alguns papéis começou a andar pela mesa, também dizendo “Tola... Não entende...”... As bonequinhas de porcelana atingidas pelo vento também juntavam-se ao coro “Não sabe de nada...”. A menina estava apavorada com a demonstração de poder da feiticeira.

— Você é como a mim. É uma bruxa. Um dia você poderá fazer isso — A mulher balançou novamente a varinha e a janela fechou-se e tudo o mais voltou ao normal – e outras coisas mais úteis. Só precisa de uma varinha e muito estudo.

A menina estava sem palavras. Fitava a mulher com um olhar apalermado. Pegou o braço e beliscou-se. Não era um sonho.

— E então? Ainda me acha louca?

A garota ainda estava em estupor. Olhou para a mulher, desacreditada de que tudo aquilo estivesse acontecendo. Finalmente conseguiu formar palavras.

— Eu... Como? Por que eu sou assim?

— Algo a ver com seus pais, mas ainda teremos tempo para conversar sobre eles.

A garota concordou fracamente. Nunca fora muito interessada sobre seus pais, mas agora as coisas haviam mudado completamente. Pensou em insistir sobre o assunto, porém ponderou e achou melhor deixar para outro momento.

“Você virá morar comigo. Terá tudo do bom e do melhor, não precisará se preocupar com despesas. Eu já lhe inscrevi na Escola dos bruxos Ingleses, onde você aprenderá a controlar o seu dom. A única coisa que lhe peço em troca é a gratidão em forma de sigilo, fidelidade e aproveitamento escolar. Então, o que me diz?”

Isobel concordou apenas.

— Ótimo. Todos os trâmites legais da adoção estão em dia. Você é a partir de agora minha 'protegida'. Não precisa trazer roupas, suas novas a aguardam em minha residência. Mas se quiser pegar algo seu que esteja no orfanato, vá agora, pois estou esperando uma visita e não quero me atrasar.

Por um segundo a garota ficou parada.

— Não. Vamos embora.

Talvez alguém pudesse dizer que Isobel estivesse naquele pequeno momento pensando sobre o que o Orfanato de Yellowgrape significou para ela. Ou estivesse se perguntando se havia esquecido algo além de roupas. Mas aquele lugar... Aquelas pessoas... Nada daquilo significava alguma coisa para Isobel. Nada dali pertenceu de verdade à ela.. Exceto a única coisa que tinha, sempre tivera e sempre teria: a si própria."

Waldorf a fitou no fundo dos olhos, depois concordou, apontando a vara de madeira para a porta, da qual ouviu-se um ruído de destrave metálico. Ambas se foram e nenhuma olhou para trás quando deixaram a rua na Limusine escura à riscar a noite.


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Notas finais do capítulo

※ Obrigado por ler!
※ Se puderem dar uma força pra história, comentem e favoritem!
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※ Até o próximo e YO!