Alvo Potter e o Jardim Maravilhoso escrita por Yomika


Capítulo 14
Primeiro de Setembro


Notas iniciais do capítulo

※ No capítulo anterior… A batalha mortal entre Harry, Rony, Joxer e o Feiticeiro misterioso serviu para mostrar que o mundo bruxo não está em paz e que há algo terrível a espreita do mundo mágico.
Integra Waldorf e seus seguidores inomináveis aparecem após a luta estar controlada, junto com as curiosas criaturas denominadas Luduans. A discussão entre os Inomináveis e o Aurores se torna encalorada quando Aalvo é acusado pelos bichos de ser cúmplice no roubo, enquanto Isobel, perdida, só observa. Agora o filho de Harry está na mira da intragável Chefa do Departamento de Mistérios... ※

※ Agradecimentos à BiaSonserina, que comentou, como sempre primeiro! Obrigado, Bia ♥ E obrigadão à LaimonNada, que comentou simplesmente TODOS OS CAPÍTULOS. Querida, você é 10! Brigadão pelo apoio! ※

※ Espero que gostem desse capítulo! ※

AGORA É HOGWARTS!



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— Ai... Ai!

— Calma, Al, eu só toquei no seu tornozelo.

— Mas tá doendo.

— Eu vou pegar um pouco de gel de tentáculos de Murtisco. Vai aliviar da dor.

Gina Potter atravessou a porta do quarto de Alvo, o local estava fracamente iluminado pela luz da manhã. O garoto estava só, deitado em sua cama, com um cobertor amarelo, deixando à mostra o pé direito machucado. Tinha alguns arranhões leves e umas queimaduras inocentes, que nem sabia como tinha conseguido. O menino tentava se lembrar de tudo o que acontecera na noite passada, mas tudo foi tão intenso, rápido e caótico... De forma a tudo embaralhar-se em uma tempestade de fogo, gritaria e desespero.

O garoto pensava na acusação dos Luduans. Era surreal. Como ele podia ter sido responsável por alguma coisa? Isso deveria ser alguma armação, algum engano. Só podia ser... Mas, a conversa com Harry na noite anterior o deixara mais calmo. Dentre as centenas de coisas que Harry disse para Alvo, uma delas foi:

"Alvo, mantenha-se forte diante das mentiras. A verdade sempre vem à tona no final. Você é o meu filho. Tenho orgulho de você".

Alvo pegou o livro que estava lendo na madrugada anterior, a fim de distrair-se quando acordara por volta das quatro, assustado, pensando ainda estar no meio do incêndio trágico do Juperus. O garoto lia “Quadribol através dos séculos”. Mas esta manhã, sentia-se um tanto rabugento. Por isso que, após ler umas três páginas, jogou o livro para o lado da cama.

— Provavelmente eu vou cair da vassoura na primeira aula...

— Se cair, você põe a culpa na Cleansweep 11 que a escola disponibiliza para os alunos aprenderem. — Tiago disse, entrando no quarto e sentando ao lado do irmão — quando você chega nas nuvens, elas começam a tremer... Sério.

Os garotos ficaram em silêncio. Alvo sorriu de leve com a piada do irmão. Tiago de repente ficou muito sério.

Desculpa.

— Ãhm? Pelo que?

— Eu devia estar te protegendo. Papai me pediu pra não deixar você fora de vista. E eu deixei você se perder. Me desculpa, mano.

O garotinho foi pego de surpresa. Ficou olhando estupefato para o irmão. Quando recuperou-se, Alvo disse:

— Não Ti, não precisa pedir desculpa. Papai sabe que não foi sua culpa. Eu contei pra ele ontem tudo o que aconteceu. Não foi culpa sua.

Tiago levantou-se, pegou o livro de quadribol, deu uma folheada, mas não se conteve.

— O que eu não entendo é como você não encontrou a gente. Todo mundo ficou te procurando o tempo todo.

Alvo contou para o irmão sobre a explosão inadvertida que rasgou a lona e o fato da multidão ter arrastado o garoto na pressa de sair da tenda em chamas.

— Quando a explosão aconteceu, a gente se separou. Papai mandou eu te trazer, enquanto ele parava as pessoas que estavam pisoteando os feridos no chão. Você não faz ideia quanto sangue tinha lá. Provavelmente você ia desmaiar.

“Eu procurei você pelos arredores, mas não te encontrei. Gritei muito, mas tinha mais gente gritando também. A gente até voltou pra dentro da tenda do circo, pra ver se você estava lá, mas nada. Aí a gente saiu pelos carrinhos, talvez você estivesse escondido em algum deles, foi aí que a tenda explodiu e aquele bichão de fogo apareceu. O papai entrou em desespero. Pensamos que talvez você pudesse estar nos escombros. Sério, eu nunca vi o papai daquele jeito antes. Ele moveu pilhas enormes de pau e pano, procurando por você. A gente falou que você não ficaria dentro da tenda, que sairia de lá, ia procurar ajuda. Então o papai acionou o esquadrão de aurores para fazer a busca. Ele pediu pra tia Fleur e a mamãe tirar a gente da linha de fogo, por que o bicho queria acertar as pessoas com bolas de fogo. Mamãe queria ajudar o papai, mas, o Tio Rony e o tio Gui prometeram não parar até te encontrar. Ela levou a gente pela floresta enquanto o bichão estava destruindo o circo. Entramos na lareira da caverna quando ouvimos um estrondo enorme”

Alvo pensou um pouco.

— Essa hora ele tinha destruído a entrada do circo. Eu e a Isobel tínhamos acabado de entrar na floresta...

— Pera, quem é Isobel? — quis saber Tiago. Mas antes de Alvo responder, ele continuou, risonho: — Ah, ah, já sei. A sua namoradinha...

— Ela não é minha namorada — Alvo disse sério.

— Uhuhu... Tá, então o que a sua ‘não-namorada’ estava fazendo lá com você?

— Ela... — o garoto fitou o chão por um segundo, fungou um pouco com o nariz cheio de coriza por alergia à fuligem do incêndio e disse: — ela me ajudou a sair de lá a salvo. Eu tinha torcido o tornozelo. Não sei porque, mas ela...

Tiago comprimiu os lábios para um riso não escapar. Alvo fitava o vazio em silêncio...

Mas os pensamentos do garoto foram interrompidos pelo farfalhar das asas de uma coruja branca por completa que acabara de invadir o quarto do garoto.

— Lude!

A coruja de Alvo havia voltado à noite. Alvo dera uma missão para ela. E lá estava o Lude...

Ele pousou na cama, ao lado de Alvo, fitando-o com aqueles olhos avermelhados, profundos e focados. O garoto acariciou os peninhas da cabeça, mas Lude nem se moveu. Apenas esticou a perninha, mostrando o que segurava: um jornal.

— Você pediu “O Profeta” dessa manhã? Por quê? — Tiago puxou o jornal da mão de Alvo (“Ei, me devolve isso!”).

O irmão começou a ler a primeira meio curioso, depois, com o passar da leitura, ia ficando mais sério, depois abismado e por fim transtornado. Ele jogou o jornal para Alvo.

— Lê essa porcaria aí.

Acima do título, via-se uma foto movimentada do fogo na tenda do circo que explodia em mil pedacinhos.

 

PÂNICO E CAOS NO CIRCO BRUXO

O que parecia ser uma linda tarde crepuscular, seguida pelo esplendoroso espetáculo do Juperus (o famoso circo) se tornou uma noite de pesadelo para todos as famílias bruxas que presenciaram o trágico e misterioso incêndio que deixou dezessete feridos e treze vítimas fatais, escreve Rita Skeeter, a correspondente especial de O Profeta Diário.

O circo Marvelous Yuperus fez ontem o seu primeiro show para a bruxindade da Grã-Bretanha. Liderado pelo ilusionista chinês Yu Jun (muito conhecido por ser alvo de retaliação por Mazoologistas como Rolf Scamander), o festival prometia ser o evento perfeito para os pais levarem seus filhos nos últimos dias de férias antes do começo do ano letivo em Hogwarts. Tudo parecia correr bem, até que — no auge da apresentação — a tragédia tomou conta do picadeiro.

“A fênix começou a bater asas e tudo ao redor começou a pegar fogo. De início pensávamos que fazia parte do espetáculo” declarou Ravena Throuberguntz, uma obliviadora do ministério que levara seu filho Lionel para o show “Mas depois que percebemos que se tratava de um incêndio de verdade”. A Senhorita Throuberguntz…

 

— Não, Al — disse Tiago, quando percebeu que o irmão lia a notícia errada. — A próxima.

Alvo viu a segunda notícia. A foto também era destaque. Mostrava o seu pai do lado direito de frente a mulher a qual chamaram de Madame Waldorf. Atrás de Harry, os aurores apontavam as varinhas para o grupo vestidos de azul (que deveriam ser os Inomináveis, segundo o título mais a frente), que retribuíam com o levantar de varinhas diretamente apontadas para os subordinados do pai de Alvo.

 

AURORES E INOMINÁVEIS SE ESTRANHAM APÓS O INCIDENTE EM JUPERUS

Escrito pela correspondente de fofocas de O Profeta Diário, Adelaide Junarwink

Para os leitores de O Profeta Diário, não é nenhuma novidade a relação "pouco amigável" entre Harry Potter (o atual Chefe dos aurores e conhecido “Herói da bruxindade”) e Integra Waldorf (a reservada Chefa do Departamento de Mistérios e Magicientista do Hospital Sta. Mungus). Mas após capturarmos a foto anexa à notícia, tirada após o controle do caótico e suspeito incêndio no circo Juperos, percebemos que estamos prestes a presenciar uma verdadeira guerra intra-ministerial, protagonizada pelos Aurores e os Inomináveis.

O clima pesado entre Integra e Harry vem se arrastando desde semanas antes, quando a Magicientista instaurou um inquérito contra “O Eleito”. Não temos informações sobre a natureza deste, tampouco. Ao fazermos perguntas ao auror Garyl Osgood, conhecido amigo de Harry Potter, apenas obtivemos uma resposta seca e dura: “Vão cuidar de suas vidas” (Veja mais sobre o Auror na página 12: Osgood e o mercado de ervas oníricas: estaria o auror envolvido com o comércio de fumos proibidos?).

Entrementes, sabemos que Quin Sharklebolt (Ministro da Magia) e Harry têm uma forte relação de amizade desde a antiga Armada (Saiba de todos os detalhes lendo a Biografia "Armada de Dumbledore: O Lado Negro dos Soldados Dispensados", escrita pela nossa genial editora sênior de O Profeta Diário, Rita Skeeter). Talvez seja essa a razão de estarmos encontrando tantas barreiras para chegar a fundo do misterioso inquérito. Madame Waldorf não foi encontrada para esclarecer a situação, tampouco (quando a viúva de Seth Waldorf resolver dar atenção à Imprensa, poderemos confirmar chuva de granizo no deserto do Saara).

Ademais todas as desinformações, no fim da noite de ontem, pós solução do trágico incêndio, encontramos Harry Potter (acompanhado pelo seu filho Alvo, 11 anos) com seus subordinados, discutindo calorosamente com Integra Waldorf e sua assessoria fiel de Inomináveis. Tudo indica que o motivo da discussão é o filho de Harry Potter. Pudemos ouvir com exclusividade a Inominável Chefa pedir o garoto para uma sessão de interrogatórios com os Luduans. A recusa do Pai tornou tenso o que já tinha tudo para desandar.

Tanto os subordinados de Integra e de Harry se recusam a falar sobre o ocorrido. No entanto, o verdadeiro responsável pelo incêndio criminoso ainda não foi encontrado. É muito provável que o Ministro continue a tentar proteger o herói Potter de toda e qualquer forma de exposição midiática, no entanto, não resta dúvida de que há algo grande acontecendo a envolver as duas organizações mais poderosas do Ministério da Magia: Aurores e Inomináveis. Diante de uma tragédia terrível, com tantos mortos e feridos, é certo o Ministério continuar a esconder tantas informações da comunidade bruxa? O que será mais importante: proteger os caprichos paternos de Harry Potter ou dar uma chance de justiça às famílias que perderam pais e filhos em um incidente deveras misterioso?

 

Alvo baixou o jornal lentamente. É verdade. Em segredo, o garoto sempre quis sair nos jornais. Mas não assim. A mulher estava pintando o garoto quase como culpado da impunidade do ladrão. A louca não sabia os perigos que ele tinha passado para sobreviver. Não tinha conhecimento do heroísmo do seu pai... Era uma burra. Uma retardada, uma idiota...

Alvo não podia negar, no entanto, que tremeu na base a saber que toda a bruxindade estava lendo aquilo sobre ele. Lendo que o garoto fora chamado à interrogatório e negou-se. Deveria estar sendo visto como um covarde. Tentou respirar fundo e manter-se calmo diante às difamações. É como o pai dizia. Manter-se forte diante às mentiras.

— Esses imbecis não deixam o papai em paz! Um bando de corvos que não têm mais o que fazer... — exclamou Tiago irritadiço — Mas Al... O que essa mulher quis dizer com “pedir o garoto para uma sessão de interrogatórios?” — quis saber, pegando o jornal de Alvo novamente.

Nessa hora a mãe dos garotos entrou, trazendo um pote com um conteúdo gosmento-arroxeado. Quando a mãe abriu o pote e o cheiro de bolor azedo invadiu todos os cantos, Tiago deixou o quarto tampando o nariz.

Gina passou o gel estranho nas feridas do menino. O estranho é que, apesar de fedorento, trazia uma sensação de formigamento gostosa. Aliviava mesmo.

— Você não sabe como ficamos preocupados... Por um momento eu e seu pai pensamos...

A mulher calou-se, tocou no rosto intrigado do garotinho, depois virou o rosto, passando as mãos nos olhos. Alvo ficou calado.

— Prometa tomar cuidado amanhã. Não se meta em situações perigosas, não saia da Escola, ouça sempre o seu monitor, o diretor de sua casa e a Professora Mcgonagall. Você promete Alvo?

O garotinho pensou num segundo no plano de seguir os professores suspeitos, Aleph e Vogelweide... Sentiu-se muito culpado quando fez que "sim" com a cabeça e depois a mãe o abraçou, sorrindo.

Seu pai não viria para casa hoje. E o garoto nem queria imaginar o porquê...

 

Na manhã seguinte, Alvo levantou-se da cama com um salto. Parecia que não tinha dormido um segundo, pois demorara a cair no sono com as preocupações de sua sublime aparição no Profeta Diário e também com outras novas, o que provavelmente causou o pesadelo de hoje.

Alvo lembrava do sonho em partes. Tinha uma serpente enorme, toda malhada. Ela conversava com Alvo. Perguntava se o garoto não queria ir para a Sonserina. Mas Alvo dizia que não, que era óbvio que ele queria ir para a Grifinória. No entanto isso irritara a cobra. Ela de repente se tornou um enorme tigre azulado, com aqueles chifres... Os olhos puxados, amarelos e ferozes. O Bicho rosnava para Alvo, dizendo.

“Nos devolva.”

Sentado na cama, totalmente acordado. Ficou parado um tempinho, meditando sobre o sonho e então respirou fundo. Abriu a cortina, deixando escapar pela janela um sol morno e fraco e dourado, que logo invadiu todo o quarto. O garoto foi para o calendário e puxou uma página, revelando os dizeres “1º SETEMBRO”.

Sentia-se atordoado. Sentou-se novamente na cama e ficou fitando o calendário. Seu estômago moveu-se incômodo e o coração deu um saltinho desobediente. Ele olhou para um malão totalmente pronto, em cima dele uma gaiola a qual Lude a pouco dormia, agora reclamava com os olhos semicerrados à luz inconveniente.

— É hoje.

A porta se escancarou e Tiago entrou de supetão.

— Bom dia, bebezão!

— Ah, não Tiago... Não tem outra pessoa para perturbar? Vai mexer no piano da Lily, acordar o papai... — E Alvo pegou o corbertor e cobriu-se novamente. Tiago puxou, revelando a cara do irmão.

— Ah, mas só você é o meu bebezão, o meu irmão querido que...

— ... Não sou bebê... — Alvo puxou o cobertor, cobrindo novamente a cara.

— ...é Sonserino de corpo e alma!

Alvo descobriu o cobertor, revelando uma cara irritada.

— Eu não quero... Eu não vou pra Sonserina!

Tiago, apesar do momento de proximidade que tiveram há pouco tempo, voltara a chateação de sempre: insinuar (quer dizer, afirmar) que Alvo iria ser selecionado para a Sonserina. Alvo pensou que ele iria se esquecer com o passar do mês, mas a gozação voltou com toda a força ontem quando Tiago veio a cama de Alvo quando o garoto cometeu o desengano de acreditar que o irmão estaria bondoso, empático com o trauma recente do irmão. Talvez pudesse dar algumas dicas sobre como se dar bem na escola... Como se enganara.

Tiago, bufão irremediável, passou o início da noite falando sobre monstros de Hogwarts, sobre as aulas dificílimas e sobre a casa que Alvo iria: Sonserina, o lugar onde mais se concentravam bruxos das trevas por metro quadrado. Parecia muito engraçado para Tiago imaginar o filho do chefe dos aurores indo para a casa dos vilões. Irônico até.

Mas Alvo não achava nenhum pouco divertido. Se entrasse nessa Casa, somado com as suspeitas do Profeta Diário, provavelmente ele ia ser confirmado como o próximo Lorde das Trevas. Seria pedir muito só entrar em Hogwarts, assim, com o pé direito?

— Presta atenção, Severo...

Não me chama disso! — começou o garoto, bufando, ao tirar todo o cobertor e sair da cama para sentar-se na escrivaninha.

— Tá, tá... Olha, Alvinho. Entrar na Sonserina não significa ser um bruxo das trevas. Só acho que, sei lá, algo me diz que combina com você, maninho. Você não é um Grifinório... Só pode ser Sonserino. Cheio das chatices, cheio de nhênhênhêns...

— Quer dar o fora do meu quarto?

— Uhuhu... Calminha aí, amigão. Só quero que você não esqueça. — o garoto pegou a esfera do chão — de levar o seu lembrol. — Tiago jogou a bola para o irmão, que a aparou. Ela se tornou vermelha, indicando que Alvo tinha esquecido algo — Melhor se lembrar logo. A gente tem que sair daqui muito antes das onze.

Tiago saiu do quarto, fechando a porta com um baque seco.

Alvo pegou o lembrol, agitou um pouco. Forçou a cabeça, tentando lembrar do que tinha se esquecido... Então recordou-se. Pegou a varinha de baixo do travesseiro, poliu-a mais uma vez com um tecido liso e separou-a para a viagem. Sentou-se novamente na cama e fitou a coruja.

— Lude, você acha que eu vou para a sonserina?

A coruja branca meramente piscou para o garoto. Depois olhou para janela, demonstrando claramente o desejo de ver o fim daquele feixe de luz que lhe caía bem no olho esquerdo. Alvo suspirou, sentindo saudade da prima Rosa e fechou a cortina do quarto. Já eram quase dez horas... Deveria se arrumar para o Expresso. Escolheu sua camisa azul-quadriculada favorita, aprontou-se com cuidado. Deu uma última olhada no jornal amassado, com a foto do pai com os aurores e Integra com os inomináveis... Engoliu a seco. O garoto pegou a gaiola numa mão começou a puxar o malão de rodinhas.

Harry viu o filho descendo as escadas e sorriu para o garoto. Alvo pensou em contar para o pai que vira a reportagem, mas, o que faria? Pensou melhor e resolveu não contar nada. Não ia fazer que a notícia ganhasse asas. Afinal, Alvo não tinha roubado nada. Isso não fazia sentido. Como ele poderia ter pego alguma coisa, ter sido culpado de algum incêndio? Ele não tinha culpa de nada. A reportagem era só uma confabulação retardada daquela repórter ridícula…

 

O sol do outono já estava mais forte e nítido, escapando pelas nuvens fofas e pintadas de dourado. Era um primeiro de setembro realmente revigorante. Harry tinha pegado um carro especial com os Aurores para levar os filhos para a estação. Eles colocaram tudo no malão e partiram. Lily olhava tudo passar com a cara pregada na janela direita do banco de trás. Parecia fascinada com a cidade trouxa e o trânsito caótico. Alvo estava sentado no meio, tentava olhar pra fora também, mas Tiago empatava o lado esquerda, onde os arranha-céus impressionantes iam passando.

— Eu estava pensando, Al, que vai ser bom você entrar para a Sonserina. Assim, pode me passar o nome de cada babaca, pra eu saber aqueles que eu vou azarar de ante-mão. Sério, isso vai poupar muita pesquisa, busca, tempo...

Alvo revirou os olhos. Respirou fundo e disse, no tom mais calmo que pôde.

— Pede pra outra pessoa. Eu vou ser da Grifinória.

Tiago riu-se e depois tossiu algo que parecia soar como “Até parece”.

— Sim, eu posso ser da Grifinória. O papai foi, a mamãe foi, você foi. Por que eu não seria?

— Me conta de novo como uma menininha te carregou por todo incêndio?

O meu tornozelo estava machucado! — gritou Alvo.

— Êpa, êpa, para de gritar, Alvo — disse Harry do volante. — Não quero briga. Já basta a noite passada... Já gritou demais.

Os garotos se calaram um pouco. Alvo estava visivelmente contrariado por Tiago ter saído como vítima. Queria falar, explicar, mas não valia a pena. Quando Alvo chegasse em Hogwarts e entrasse para a Grifinória, Tiago ia ver só... Mas... Será... E se...?

Após um tempinho de viagem, os Potter saíram do carro. Os pais de Alvo empurravam os carrinhos, atravessando a rua em direção a um grande prédio alaranjado um tanto encardido, coberto por janelinhas. As torrinhas pontudas intervalavam-se com a marquise do prédio. A torre maior tinha um relógio. Eram dez e meia, Alvo reparou.

Ao sacolejar dos carrinhos cheios, as corujas Pepp e Lude piaram indignadas com a falta de cuidado, quando as gaiolas ameaçaram despencar horizontalizadas na subida um tanto íngreme até a entrada da Estação King’s Cross.

Lily, desde quando saíra de casa, mostrara-se notavelmente emburrada. Mas só quando realmente entraram no interior da Estação apinhada de trouxas que a garotinha revelou em alto e bom tom o motivo do seu descontentamento.

— Eu queria muito ir pra Hogwarts, que nem o Al e o Ti... — disse chorosa.

— Não vai demorar muito — tentou apassivar a menininha. — e você também irá.

— Dois anos! — reclamou Lily — Quero ir agora!

— Calma, maninha — disse Tiago. Os pais passavam pela plataforma três e agora pela quatro... — Você, o Louizinho e o Huguinho vão juntos. Não tem pra que apressar as coisas. Se lembra do nosso trato? — Tiago piscou. A garotinha, apesar de um tanto amuada, sorriu-lhe de volta e sentou em cima do carrinho que a mãe empurrava, aproveitando a carona, com um olhar aventureiro.

Os trouxas desciam de seus trens, carregando suas malas de rodinhas, de mão... Mulheres com a aparência excepcionalmente normal e homens apressados sair dali o quanto antes. O guarda dava informações para uma velha senhora, quando Tiago recomeçou.

— E aí, Al. — disse risonho, acompanhando o irmão lado a lado — Quando você entrar na Sonserina, tem que prometer que vai me dizer como é o salão comunal... Eu sempre quis saber se tem cabeças de Elfos domésticos, igual tinha lá em casa...

Alvo olhou emburrado para o irmão.

— Eu não vou ser Sonserino...

— Você não tem como saber, maninho, até na hora da verdade. Fala aí, eu sei que você quer ir pra Sonserina. Enjoadinho como é, só pode querer ser de lá. Não fica com vergonha não — Tiago deu dois tapinhas no ombro de Alvo. — fala pra mim. Quer ir pra Sonserina, que eu sei...

Não quero ir! — Alvo perdeu as estribeiras — Não quero ir para Sonserina!

Gina, que já estava começando a perder a paciência, pediu para o filho mais velho:

— Tiago, dá um tempo!

— Eu só disse que ele talvez fosse. Não vejo problema nisso — Tiago sorriu zombeteiro para a cara emburrada do irmão — Ele talvez vá para Sonse...

Contudo, o mais velho não completou a frase. O olhar de sua mãe fora o suficiente para calá-lo.

 

Os cinco Potter se aproximaram da barreira. Lily saltou da carona do carrinho e esperou, ansiosa. Tiago apanhou o carrinho que Gina carregava e, não antes de lançar um olhar de arrogância enviesada, saiu correndo em direção da barreira entre as plataformas nove e dez. Um momento Tiago estava e no outro não estava. Os trouxas pareciam nem ter prestado atenção. A mulher mais à frente continuava a falar no telefone: “Eu disse para ele trazer o remédio, mas ele é teimoso, nunca me escuta...”.

Alvo olhou para a barreira onde Tiago havia desaparecido e fitou o chão por um instante.

Ele teria que enfrentar Hogwarts sozinho. Tiago não ia facilitar. Ele sempre estava tentando fazer Alvo ser mais forte, então era certeza que não ia ter um apoio efetivo do irmão. Ele tinha tanta coisa na cabeça, tantos medos, tantas ansiedades. E se ele não aprendesse direito? E se ele fosse realmente um burro? E se ele fosse para a Sonserina, de fato? Tentou afastar esse pensamento da cabeça, mas outro veio à tona.

Ele não tinha falado nada ao pai sobre os futuros professores, Ravus e Vogelweide. Alvo tinha dito para si mesmo que iria investigar sobre o possível envolvimento deles com o primeiro roubo. Agora, com um segundo roubo e ele mesmo sendo acusado por aqueles bichos que chamavam de Luduan... Era essencial descobrir. Era uma tarefa complicada, que envolvia a coragem e a inteligência que o garoto não tinha... Isso somado a notícia que saíra no Jornal de maior circulação dos bruxos. Será que ele sobreviveria à Hogwarts?

Então lembrou-se do que o pai tinha dito no dia que iam fazer as compras no beco:

“Então, Al, não se preocupe... Pode contar comigo para desabafar, por que hoje eu vou garantir que você seja muito feliz.”

— Vocês... Vão escrever para mim, não vão?

Gina sorriu-lhe, acariciando o rosto pálido de Alvo, olhando-o no fundo dos olhos verdes do garotinho:

— Todo dia, se você quiser.

— Todo dia não — replicou Alvo. Ele não queria parecer tão desesperado por atenção, tão fraco. Não era assim, que queria parecer ao pai até por que... — O Tiago diz que a maioria dos alunos recebe carta de casa mais ou menos uma vez por mês. — disse, por fim.

Gina olhou para a barreira onde Tiago tinha desaparecido, parecendo indignada.

— Escrevemos para Tiago três vezes por semana no ano passado!

— E você não acredite em tudo que ele lhe disse sobre Hogwarts. — acrescentou o pai de Alvo, rindo-se para sua esposa — Ele gosta de brincar, o seu irmão.

— Agora, vamos? — perguntou Harry, colocando as mãos frias do garoto na comanda do carrinho. Harry, adivinhando a hesitação do filho, apertou nos ombros do garoto, e segurando-os firmemente acrescentou: — Juntos.

Alvo concordou e empurrou o carrinho, ganhando velocidade. Ele e o pai estavam muito próximos da barreira, iam colidir... Alvo fechou os olhos, fez uma careta, sentiu um frio na barriga, preparou-se para espatifar-se... Mas aquela colisão nunca aconteceu.

Alvo e Harry saíram pela plataforma nove e três quartos. Logo atrás, a mãe e a irmã mais nova.

Havia uma fumaça de vapor densa e clara fugindo do cano metálico de escapamento da Locomotiva vermelha. O Letreiro de cima informava: Expresso de Hogwarts, 11 horas. Alvo sorriu e falou baixinho.

— Finalmente...


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Notas finais do capítulo

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