Alvo Potter e o Jardim Maravilhoso escrita por Yomika


Capítulo 1
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Notas iniciais do capítulo

※ Essa foi a primeira fanfic que escrevi! Tenho muito carinho por ela e espero que gostem!

※ Os capítulos iniciais tem como foco a Isobel, uma das quatro protagonistas. Alvo aparecerá logo, logo! Fiquem tranquilos ;)

※ Quem comenta primeiro ganha estrelinha ★

※ Por enquanto é só isso. Boa leitura!



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Música tema: Misteriosa noite estrelada

Talvez fosse a milionésima vez que a senhorita Harrinson avisava: nada de sair pelo jardim na madrugada. Mas Isobel não podia evitar. Tudo parecia ser mais fascinante durante a noite.

No entanto, desta vez a garota pensou que talvez a senhorita Harrinson poderia estar realmente chateada de ter que repetir isso. Por que mandar a menina ficar uma semana no quarto do castigo, saindo somente para as aulas da manhã, comendo sozinha, sem poder ver ninguém, se mostrou uma atitude de alguém que está um pouco além do desapontamento. Mas Isobel achava que valera a pena. O que tinha acontecido aquela noite no jardim foi algo inacreditavelmente mágico.

A vida no Orfanado de Yellowgrape era muito monótona para o gosto da menina. Nada de impressionante, misterioso, nada de interessante acontecia. Na maioria das vezes, ela tinha que dar um empurrãozinho. Causar um pouco de caos nas aulas do antipático professor Campbell, ao deixar fracamente colado o apoio de braço da cadeira, a fim de fazê-lo dar de queixo na mesa, era um começo. Descolar o primeiro degrau de baixo para cima da escadinha do porão era um divertimento não tão perigoso, mas valia a pena ver alguns empregados xingando lá debaixo. Trocar a senha do computador pessoal da assistente social Selena Harrison era também divertido, contanto que ninguém pudesse provar sua ligação com o delito.

Mas nada disso era algo realmente impressionante, misterioso, interessante. A verdade era que Isobel vivia em um eterno tédio. Sonhava acordada com guinadas em seu destino, mudanças bruscas, eventos formidáveis, mas nada acontecia. Profetizou para si que iria viver na mesma por toda sua vida. Pensar nisso era de fato deprimente. Com 11 anos de idade, ela estava prestes a desistir da espera por algo que nunca viria. Começou a aceitar o fato de que o mundo era isso: enfadonhamente normal. As costumeiras brincadeiras começavam a ficar repetitivas. Entre as outras crianças do orfanato, Isobel perdia-se na rotina fiel do lugar.

As seis da manhã, Constance vinha ao quarto das meninas que ficava no terceiro andar. Batia palma três vezes, o que era suficiente para acordá-las. As que continuassem na cama ficavam sem o desjejum, que acontecia por volta das sete, quando todas as crianças estavam totalmente arrumadas. Havia cinco mesas enormes, suficiente para acomodar os setenta e oito órfãos que viviam em Yellowgrape, o qual era também generoso em tamanho.

Era uma mansão majestosa e aristocrática de quatro andares, que fora a casa de membros da alta sociedade­ de 1938. Fora transformada em orfanato em 11 de setembro 1948, doada pelo último guardião da casa. Adaptações na estrutura foram feitas para torná-la um lar para muitas crianças sem pais da Inglaterra.

Depois do café, havia a aula, que acontecia em um prédio anexo a mansão, que não era de todo mal. De lá, almoço na sala de ocasiões. A comida era boa, mas dependia de qual funcionário era responsável por ela. Os mais ensolarados procuravam agradar às crianças, preparando pernis assados, bolinhos recheados e molhos sob macarrões suculentos. Outros dias eles tinham um pedaço de bife magro, um pouco de grãos e - quem sabe - saladas para acompanhar.

Isobel costumava dividir os funcionários em novos e os de sempre, e podia acertar em cheio suas características. Os novos eram só de passagem, como professores (excluindo o antipático professor Campbell) e funcionários da limpeza, que só viam as crianças de vez em quando. Eles tentavam ser simpáticos e atenciosos... Assim, as crianças os adoravam. Os de sempre, que persistiam no trabalho de assistência social no orfanato, invariavelmente iam se tornando ásperos e distantes. A exceção da Senhorita Harrinson, que não teve um período de distanciamento: desde quando Isobel se entende por gente, a mulher era uma bruaca intragável.

Após o almoço e o dever de casa, que findavam por volta das quatro horas da tarde, as crianças estariam livres para atividades recreativas, na teoria. Acontece que a senhorita Harrison parecia odiar a confusão que aprontavam no jardim, no salão, nos quartos, nos corredores, enfim, em qualquer parte. Preferia ver as crianças mais separadas possível, de preferência gastando a tarde inteira na biblioteca. Se não, delegava funções aos órfãos, como ajudantes de copeiros, arrumadeiros, faxineiros. E - dependendo do seu humor - pedia para eles desentulharem o porão, lugar considerado assombrado.

Isobel era a mais perseguida. Anos de endiabramento renderam-lhe um lugar especial no coração da senhorita Harrison. A menina era seguida pelo orfanato como se a todo momento planejasse traquinagens e toda vez que o diretor Julius aparecia no Orfanato, ela ganhava meia hora de sermão por parte do velhote barbudo. E sempre a sua despedida, nunca notava que a menina havia enchido sua calça social de cola.

E a garota não ganhava apenas a inimizade dos funcionários. Era sabido que Isobel tinha um faro para atrair encrencas para si e os que estavam ao seu redor. A maioria das crianças respeitavam-lhe por ter coragem de responder ao Professor de língua inglesa, o senhor Campbell, quando o carrasco tinha inspiração de humilhar a “falta de educação” da menina. Mas acima do respeito, as crianças temiam ser incriminadas pelos delitos que ela cometia, mantendo uma distância segura de Isobel. Havia poucas exceções para isso: Charlotte e Georgina.

Charlotte era o que se poderia chamar de melhor amiga da garota, mas parecia mais um serviçal. Fazia tudo o que ela mandava e, na maioria das vezes, sofrendo as consequências das insubordinações da menina. Charlotte era muito covarde e naturalmente encontrava em Isobel a proteção do pior: Georgina.

Georgina era mais velha: tinha treze anos. Demonstrava o mesmo dom da rival, somado a um especial gosto pela crueldade àqueles que não podiam se defender. Ela não tinha peito para enfrentar os adultos, mas os via como aliados para derrotar sua arqui-inimiga do orfanato. Isobel e Georgina se odiavam de uma maneira tão intensa que se podiam ver faíscas saindo de uma troca de olhar entre elas. A mocoronga humilhava a maioria das crianças do orfanato e tinha três escravas, assim como Isobel tinha Charlotte, diferindo desta não ser tão burra e tamanhuda quanto as três.

O privilégio de Georgina entre os funcionários era a arma mais forte que a garota possuía, podendo chantagear a vontade quando queria comer o lanche da tarde duas ou quatro vezes. Era de se admirar como ela mantinha-se magricela. Isobel muitas vezes a chamava de “fuinha loira subnutrida”, enquanto Georgina a tratava carinhosamente como “cabelo de capacete”, em referência aos lisos e curtos cabelos de Isobel, ainda por cima negros, como que contrastando com o loiro aguado a rival.

Água e óleo, as duas trocavam alfinetas sempre que possível. Aprontavam armadilhas uma para a outra, afim de matar o tempo e tédio. E foi assim que Isobel acabou com uma semana no quarto do castigo: fora previamente vista saindo do dormitório por uma Georgina vitoriosa.

O quarto do castigo era um lugar filosófico. Ficava no quarto andar, lugar quase não utilizado, somente para atividades extra escolares como dança, teatro canto, coisa que atualmente rara por falta de interesse do diretor Julius. A última porta do andar era reforçada e guardava um aposento pequenininho encaixado em uma janela no telhado da mansão. Vazio, branco, a filosofia vinha da capacidade de fazer o delinquente que o ocupava “meditar” sobre o seu feito. Isobel estava realmente pensando muito durante a segunda noite no quarto isolado, mas não era bem na sua desobediência de ter saído as quatro horas da madrugada para ver o céu estrelado entre as árvores e arbustos do jardim anterior à mansão. Ela não conseguia parar de pensar como que uma coruja é capaz de fazer papel de carteiro.

Naquela fatídica noite, a menina sentia-se mais entediada do que o normal. Resolvera então sair para ver o tal astro. O noticiário da manhã havia previsto a passagem de um cometa próximo a terra, que poderia ser visto daquela região da Inglaterra.

— Não Izzie, por favor, eu não ligo pra esse cometa. Não me ponha em encrencas! – choramingava Charlote na tarde do fatídico dia.

“E ela que perderia o show” Isobel pensou consigo mesma. A covardona fora se deitar, pedindo mais uma vez para que ela não fosse, adivinhando que ela iria se encrencar. Mas a menina não deu atenção. Estava tudo preparado. Constance, que era responsável da noite de sono das meninas, roncava com sibilos profundos na cama velada do quarto. De vez em quando falava, sabido que ela era sonâmbula. Eram dez para as quatro da madrugada quando a delinquente fez uma corda de lençol e desceu pela janela do segundo andar, que previamente destrancara. A descida foi difícil, chegou até a cair, mas não se machucou, por causa do gramado fofo.

Chegando ao jardim, Isobel deitou-se no gramado confortável e observou atentamente o céu. Estava salpicado de brilhinhos, do modo que a menina gostava... Ela adorava estrelas. No entanto... Nada de cometa. Continuou olhando por um bom tempo, um tanto impaciente, até ouvir um barulho peculiar. Levantou-se para ver melhor a origem do som.

Encarapitada na portela da mureta do Orfanato, uma coruja morena estava com a cabeça virada para trás para fitar a garota com aqueles olhões cor de âmbar. E tinha no bico uma carta. Ela continuou a encarar Isobel, como se desafiasse a garota a fazer alguma coisa. Mas como a garota estava imóvel, espantada com a cena, a coruja agarrou a portinhola da caixa de correspondência com maestria, abrindo-a e deixando a carta lá. Ela lançou um último olhar expressivo para Isobel para depois bater as asas e desaparecer no horizonte.

A menina estava estupefata. Olhava para direção que a coruja tinha ido, de queixo caído, com cara de palerma. Correu para a caixa de correspondências e retirou rapidamente a carta.

Harrison

Orfanato Yellowgrape

Rua Ortance 12

A parte da frente da carta estava selada por um tipo de cera vermelha. Isobel começou a descascar a cera.

— Rum-rum— alguém tossiu poucos centímetros atrás da garota. Ela pulou alguns centímetros do chão e virou se de supetão.

— O que a madame faz – disse a mulher, com a voz agudinha, lenta e letal – fora da cama às quatro da manhã?

Isobel sentiu-se engolindo três pedras de gelo de uma vez. Cruzou as mãos para trás das costas e ficou fitando a mulher baixinha e magrela. Vestida ainda de pijama, toda descabelada, parecia uma vassoura depenada e cansada. Nada do que dissesse iria ajudar, então escolheu fazer-se de desentendida. Fez a melhor cara de educada surpresa que pode, retribuindo o carão da mulher.

— Vamos? – disse a Senhorita Harrison estendendo as mãos. A menina apenas concordou com o convite e foi andando. Mas a mulher não se moveu – Não, não-não, não, não. Eu quero a carta. Aqui, na minha mão.

A garota mordeu os lábios, ainda com as mãos atrás das costas, segurando firmemente aquela carta. “Não piore as coisas para você...”. De contragosto, ela deu a carta, que foi puxada de sua mão com rapidez. Leu-a e fitou a menina, desconfiada.

— Onde conseguiu isso? – inqueriu, ríspida, com aquela voz de bode velho que havia engolido um litro de gás hélio.

— No lugar onde se põe as cartas – respondeu Isobel, displicente. A mulher irou-se por um segundo com a malcriação. Depois passou o olhar da portela a menina, da menina à portela.

— Quem colocou isso? – parecia desconfiadíssima. A menina pensou na reação da mulher se ela contasse a verdade e engoliu o riso.

— Eu... Já estava lá quando eu vi.

A senhorita Harrison ainda passou um scanner com os olhos na garota. Olhou para carta, para a menina novamente crispou os lábios.

— Me acompanhe até o quarto andar, senhorita Isobel.

Os dias foram passando no quarto do castigo, mas a menina continuava encucada com a cena da coruja que abria a caixa de correspondências e deixava uma carta. Aquilo era algo muito misterioso. Sozinha, perguntava-se se já tinha ouvido falar de treinamento de corujas, ou algo parecido. O professor de história pode ter citado sobre pombos correios, mas nem chegavam perto daquela coruja. Ela parecia saber que estava pagando de carteira. E o jeito com que ela a fitou... Causava arrepios.

Não era mais tão comum o envio de cartas, nesses tempos. A maioria das pessoas recebiam suas contas por internet. A maior parte do correio era de encomendas a distância. E ainda tinha o fato de o destinatário ser a Senhorita Harrison. Isso tudo era muito confuso. Isobel estava definhando de curiosidade para saber o conteúdo da carta.

No segundo dia do castigo, ela encontrou-se com Charlotte na hora do intervalo. As crianças faziam zoeira, correndo para lá e para cá, no pequeno parquinho. As duas estavam sentadas em um banquinho a beira do gramado, distante do resto.

— Muito estranho mesmo – concordou Charlotte pela centésima vez, pegando os cachos loiros e enrolando-os distraidamente.

— A coruja olhou para mim, como se soubesse o que estava fazendo! Charlotte, eu vou ver o que está escrito nessa carta nem que seja a última coisa que eu faça na minha vida!

Charlotte revirou os olhos, cansada de repetir:

— E vai ser mesmo a última! Nem saiu de uma enrascada e já está se metendo em outra! Se a senhorita Harrison te pegar de novo...

— Só preciso arranjar um jeito de pegar a chave do escritório daquela espiga de milho comida. Deve ter um jeito... – Isobel continuou como se nem ouvisse a Charlotte, com um “Q” obsessivo na voz – Eu preciso saber o que está escrito naquela carta! E você vai me ajudar, Charlotte.

— Não, Isobel a gente vai se ferrar! – guinchou Charlotte, desesperada – Não tem como, esquece essa carta!

Mas ela estava fora do ar novamente. Repetia em voz alta “Só preciso saber onde ela guarda a chave...”

— Eu só acho – começou uma voz conhecida atrás, rindo-se – que deveriam por uma placa no quarto do castigo com o seu nome.

As três gorduchas atrás de Georgina riram gostosamente até se entalarem com o ar do nariz e fazerem um sonoro ronco de sucção.

— E eu só acho isso – Isobel fez um gesto obsceno com as mãos.

— Você é um brucutu mesmo, não é? Ninguém nunca vai te adotar. O que tem em você eles adotam no canil...

— Izzie, não, para! – gritou Charlotte, entrando em pânico quando a empurrou as três gordas e pegou Georgina pelo cabelo, enquanto a menina gritava “Ai, ai, ai, ai, ai!!”

— Eu só não te deixo toda roxa – Isobel falou entre os dentes – por que roxo não combina com esse seu loiro aguado. Agora chispa! – as meninas dispararam, georgina na dianteira, dizendo algo como “se arrepender disso” e “der sua saidinha de novo”, mas estavam longe para ela discernir ao certo o que diziam.

— Izzie, você é louca! Bater na queridinha número um da senhorita Harrison?

— O que é um pum pra quem tá no sanitário? – respondeu, aborrecida – e ela precisava apanhar mais, por ter saído para me bisbilhotar naquela noite!

Isobel ganhou de presente mais duas noites no quarto do castigo por machucar as garotas indefesas no parquinho. Mas Georgina ainda teria sua vez. Agora tinha que pôr em prática o plano para descobrir o conteúdo da misteriosa carta. Durante os dias seguintes, no intervalo das aulas, a menina havia finalmente convencido Charlotte a ajudá-la.

— Isso parece loucura, já consigo sentir tudo dando errado e...

— Para, para, para Charlotte! Tudo vai dar certo – sentenciou Isobel – É só fazer o que eu disse, sem mancada, que vai tudo estar nos trilhos...

— Mas pode ser outro dia? – Entoou Charlotte em tom de quem implora - Acho que ainda não estou preparada...

— Não! Tem que ser hoje. A Harrinson não vai estar tanto na minha cola até eu sair do quarto e praticamente ninguém sabe que você existe nesse orfanato... – Isobel deu tapinhas carinhosos nas costas de Charlotte – Tá tudo perfeitinho.

Isso por que amanhã o diretor Julius viria ao orfanato, ela ouvira a professora Guilda falar nervosamente a uma professora igualmente fofoqueira. Não haveria outra chance. Depois do intervalo, se desse tudo certo - “E vai dar” – poderia finalmente saber o conteúdo daquela misteriosa carta.

— Como eu disse anteriormente, esse foi o período em que as primeiras civilizações se desenvolveram. O termo “Neo” de Neolítico vem do latim... – Dizia a professora Dayse no horário de história após o intervalo.

Charlotte, que estava sentada na fileira de trás, parecia inquieta. Isobel, mais à frente o possível, por sua vez, tufava as bochechas como que impedindo que algo saísse dela. Inclinava-se para frente com um impulso e voltava para trás com as bochechas cheias novamente, numa inconfundível ânsia de vômito.

— Você está bem, Isobel? – questionou com um tom preocupado a professora, quando a menina deu ares de engasgar-se.

— Sinto-me mal ... Péssima ...— respondeu a garota, com a voz tremula e baixinha. Massageava a barriga, olhando para a professora com um olhar desfocado.

— Se acalme, vamos a enfermaria, já já. Venha comigo – a professora guiou nos ombros da menina que andava em passinhos, gemendo e fazendo frequentes ameaças de golfos. Antes das duas saírem da sala, Isobel lançou um olhar significativo para Charlotte, que concordou nervosamente com a cabeça num movimento rápido para que ninguém mais o notasse.

A garota estava sentada em uma maca na enfermaria do orfanato, com jeito de quem melhorara enquanto Constance procurava um remédio para enjoo em uma malinha branca que tirara de um armário repleto de material de enfermagem. “Mesmo que pareça boa, garantia sempre é plena...” repetia para si mesma. Mas assim que a mulher disse “Encontrei!”, um escandaloso alarme de incêndio ecoou pelo lugar. Vinha do prédio onde a escola ficava.

— O que? Era só o que faltava! Rápido, atrás de mim, menina! – falou a velha enquanto disparava da enfermaria sem olhar para trás, confiando que a garota, sabendo o que fazer, estaria em seu encalço.

Se o alarme de incêndio disparasse, era procedimento padrão evacuar o Orfanato e a Escola até que a fonte do fogo fosse identificado. Mas Isobel deixou-se ficar para trás quando Constance se juntou ao resto da multidão reunida no jardim. No fim, apenas a garota estava dentro do Orfanato. Precisava agir rapidamente até que descobrissem que toda a confusão era proveniente de um alarme falso.

Correu diretamente para o térreo, onde ficava o escritório da Senhorita Harrinson, que tinha deixado a porta aberta com a urgência da situação. O lugar era espaçoso. Quase toda parede estava ocupada por estantes apinhadas de livros, excetuando um canto onde uma lareira chique se destacava. Havia uma mesa retangular de mogno cheia de papéis, alguns segurados por uma estatuetinha de um anjo. Um livro de aparência chata apoiava-se em cima de outros papéis e um notebook jazia ali, ainda aberto. Isobel sentou-se na poltrona alta e fofa atrás da mesa e começou a abrir as gavetas e vasculha-las com pressa.

Clipes, carimbos, canetas, papeladas, pen-drivers, um objeto roliço em uma caixa, metade de uma barra de cereal, entre outras coisas estranhas... As três gavetinhas foram totalmente reviradas, mas nada de carta.

Olhou para a porta, imaginando-a se abrir a qualquer momento com a cara de vassoura velha da senhorita Harrison. Se ela a pegasse ali, com absoluta certeza iria “se ferrar”, como charlote tinha visto nas estrelas. Nervosamente procurou outro lugar onde a carta poderia estar, já começando a entrar em desespero.

A mesa estava lotada de papéis, mas nenhum deles era a carta. Procurou por baixo deles e nada. Próximo ao livro, no entanto, notou um resto de cera vermelha. Seus olhos brilharam e ela foi direto ao livro, balançando as folhas pela capa. Um envelope amarelado caiu em cima da mesa. Isobel tinha um sorriso lunático estampado no rosto. Ele já estava aberto, com um pouco de cera grudada na abertura do envelope. Dentro dele a carta. Senhorita Harrison poderia chegar a qualquer momento, por isso leu-a com urgência:



Prezada srta. Selena Harrison,

Confirmo que a visita ao orfanato para tratar da adoção de Isobel Cibelle Rogers acontecerá no nesta quarta-feira (9 de Agosto). Todos os trâmites legais estão em ordem.

Grata,

Integra Scarlett Waldorf

Isobel piscou três vezes. Isso era algo realmente Intrigante. Isso era realmente inesperado. Baqueada com a surpresa, ela ficou sentada ali. Adotada? Ela?

Voltou a si notando que passara do ponto. Teria que sair dali agora mesmo se não quisesse ser vista. A menina guardou a carta dentro do envelope e a devolveu ao livro, saiu desembestada do escritório, batendo a porta de qualquer jeito. Ela correu pelo corredor, era só subir as escadas de volta para a enfermaria. Dobrou ao corredor da esquerda e então...

— BUM

Com a distração do planejamento, o encontrão que deu com a senhorita Harrison que acabava de abrir a porta foi tão violento que fez no mínimo uns doze ou treze alunos que eram liderados pela mulher despencarem, num efeito dominó. A assistente Selena ficou lutando para se levantar do meio da dúzia de garotada.

— Eu avisei que...

— TÁ, TÁ, TÁ, TÁ – berrou Isobel, ajoelhada em frente a um sanitário, escovando-o com mal humor assassino.

Charlotte resmungava baixinho do box a direita.

— Todos os banheiros por uma semana...

E a fúria da senhorita Harrison havia – além disso - garantido uma semana no quarto do castigo para ambas.

“Isso não era nada demais. Isso já aconteceu várias vezes. Como se eu nunca tivesse recebido um castigo” falou uma voz sensata, mas visivelmente furiosa. Mas seus pensamentos viajavam – felizmente – não para conteúdo da privada, mas no da carta.

Ela ia ser adotada. Ela? Isobel, a garota problema, ia ser levada por alguém? Mas o detalhe que era mais estranho era o fato da tal Integra mandar uma coruja entregar a carta. A garota sempre desejou secretamente ser arrebatada do orfanato, alguma coisa misteriosa, estranha, intrigante. E estava acontecendo no exato momento.

No entanto, ela não podia negar que estava receosa. Quem era Integra Scarlett Waldorf? A mulher não podia dar mais bandeira de ser alguém estranho. Claro, por ter uma coruja como carteiro, além de querer adotar Isobel dentre todas as crianças do orfanato.

Pensava nessas coisas durante a limpeza no banheiro. Charlotte mantinha-se também calada, poucas vezes soltava muxoxos enquanto esfregava o chão de um banheiro, de outro, e de outro... Outro dia...

Certa vez uma presença tão desagradável quanto as inconveniências que relutavam descer com a descarga apareceu durante uma limpeza do banheiro do primeiro andar.

— Soube que você ganhou mais alguns dias no seu flat no quarto andar, Isobel! – disse Georgina, como se a parabenizasse em seu aniversário. Naturalmente, ouviu-se os risinhos de três gordinhas atrás de Georgina. – e ainda de brinde eles vieram com suíte! Deveria me agradecer, você e Charlotte.

— Soube que você continua sendo você, o que já é um grande descontentamento... – retorquiu a outra, saindo do box para mostrar a escovinha ainda suja, num gesto ameaça clara.

—A senhorita Harison me pediu para ver como andava a limpeza... Sabe, eu não esqueci daquela vez que você puxou o meu cabelo... – disse uma georgina sombria.

— Bom saber, e é pra não esquecer mesmo!

Georgina começou a se aproximar rodeando-a, como um lince busca a posição estratégica antes de dar o bote. As conhecidas faíscas saíram dos olhos das duas. Charlotte observava apreensiva pela fresta da porta de seu box.

Mas Georgina apenas dirigiu-se a um dos boxeis e fechou-o.

Um tempinho de silêncio se passou até se ouvir um estalo e a menina sair do box. Ela ia se dirigindo até a saída do banheiro, acompanhada das mocorongas, quando virou-se de repente.

— Ah – disse, com um tom de voz levemente surpreso – esqueci de dar a descarga, você faria isso por mim, Izzie? – continuou displicentemente.

Isobel realmente pensou em dar a descarga, mas com a cabeça de Georgina dentro do vaso. No entanto, Charlotte, prevendo a insubordinação da amiga, foi ao box para fazer a vontade de Georgina afim de não causar mais confusão para as duas. Mas Isobel não iria dar o gostinho de vitória, Georgina simplesmente não podia sair por cima de novo.

— Não Charlotte! - Ela foi atrás da menina, mas ela já apertara o botão de descarga.

No instante que que a válvula foi acionada, o cano do sanitário que subia até o teto do banheiro partiu-se com um estrondo. O vaso explodiu, regurgitando todo seu conteúdo em cima de Isobel e Charlotte, com jato forte que as ensopou da cabeça aos pés.

Georgina e as três escudeiras gargalharam alto e escandalosamente para toda a escola ouvir.

— Isso — disse a menina, com os olhos brilhando e um sorriso satisfeito, apontando para as meninas em situação deplorável – foi pelo puxão de cabelo – e virou-se para ir embora, com ares triunfantes.

Acontecera tudo muito rápido.

Uma explosão ainda maior que a primeira fez o chão do banheiro todo tremer. Todos os boxes tiveram portas escancaradas e os canos das respectivas privadas estouraram ao mesmo tempo, fazendo todos os vãos vomitarem uma lufada violentíssima de água complemente sujas. Os jatos em uníssono convergiram em cima de Georgina, empurrando a menina com a pressão para a parede. A menina parecia ter recentemente mergulhado em um lago imundo. Nem uma gota de água sequer respingou em Isobel. A garota respirava forte e Charlotte estava com a sobrancelha nas alturas e a bocarra aberta, numa expressão desacreditada.

Georgina era acudida pelas amigas que não foram atingidas. Quando voltou a si, constatou o estado de suas roupas: ensopadíssimas. Olhou longamente para inimiga, que não poderia estar mais impressionada com o que acabara de acontecer. Georgina tremeu da cabeça aos pés, respirou fundo e soltou um grito muito longo e estridente de pura ira.

Isobel e Charlotte arriscavam-se dizer que tinham alcançado o limite. Se alguém pedisse para contar, não conseguiriam afirmar quanto tempo ficaram em seu escritório ouvindo sermão. Elas haviam dado um prejuízo inigualável ao banheiro do térreo. Depois da água vazante de todos os canos quebrados, uma goteira instalou-se, alagando completamente o porão e ensopando as caixas e velharias que se instalavam ali por décadas. Os encanadores chegaram e controlaram um pouco a situação, mas disseram que todo o sistema de encanamento do banheiro deveria ser renovado, assim como os cabos e fios elétricos subterrâneos.

As garotas deveriam ter batido um recorde. Com o acumulo dos castigos, naturalmente, Isobel e Charlotte foram encontradas no mesmo dia trabalhando no porão. Subiam e desciam a escadinha, retirando os objetos das caixas molhadas e pondo eles amontoados no andar superior; secando o chão com rodos, tudo isso à luz de velas e da velha lareira monstro, que crepitava com sons assustadores ecoando pelo porão. O local estava sujíssimo, mofando, e cheio de teias de aranhas. Vez ou outra Charlotte tinha ataques histérico, dançando e dando tapas em si mesma quando imaginava ter algum inseto subindo pela garota.

Até Isobel, que se julgava corajosa, teve de admitir que aquele lugar não era nenhum pouco convidativo. As sombras que as estantes cheias de livros empoeirados dançavam ao fogo bruxuleante da Lareira monstro. A garota empurrava a água para longe de um jogo de tapetes com detalhes dourados que jaziam chochos apoiados em uma viga. Mas sua atenção vira e mexe voltada para a Lareira Monstro.

Era uma construção de tijolos enegrecidos intervalados de argamassa amarelada. Estavam abertas as duas portinholas de ferro. A metade da face em alto revelo desenhada no metal encarou de volta, com as sombras do fogo dando impressão de que seus olhos acabaram de piscar.

Mas o que as mantinham entretidas era a discussão em sussurros sobre os acontecimentos no banheiro. Isobel arriscou de maneira pouco convincente na versão de que a pressão do cano quebrado por Georgina fez todo o trabalho. Charlotte não conseguia ver outra explicação se não que a garota havia feito algum tipo de mágica. Isso por que os canos eram individuais, o que a Senhorita Harrison frisou ao informar os gastos alarmantes que teriam com cada cano, sendo únicos.

— E nem uma gota de água caiu em você!

A menina não falava mais nada. Ficava calada pensando na estranheza da situação. E se? Ela tinha que concordar que algo estranho aconteceu novamente, novamente ela não podia explicar. Algo como a coruja carteira, mas um pouco mais grave. Dessa vez talvez a coisa estranha tivesse vindo de dentro dela. Na hora do ocorrido ficara tão apalermada que se tornara presa fácil para todas as acusações desconexas de Georgina, alegando que tudo fora culpa de Isobel, sem, no entanto saber explicar bulhufas.

Somado com a situação da visita emergente da Integra Waldorf, poderia dizer que havia coisas estranhas demais acontecendo uma atrás da outra. A menina estava mirando sonhadoramente uma teia de aranha enquanto enxugava um chão sem um pingo de água, quando ouviu:

— Isobel!— Charlotte sussurrou urgente para a menina, acordando-a do transe – Vem aqui!

— Por que tá sussurrando? — Sussurrou Isobel, sem se tocar. Charlotte fez com a mão um sinal mudo de chamada, e a outra foi até o seu encontro: em um ponto mais fundo, atrás de uma estante poeirenta, onde a luz da vela não chegava.

— Consegue ouvir?

Charlotte olhava para o teto, com um ar teatral de mistério.

— E aí?

— Para de falar se não aí que não escuto nada!

Fez-se silêncio. Isobel concentrou-se até ouvir muito fracamente uma voz trespassando o piso de madeira.

“... Selena, então é confirmado?” uma voz grave entoou quase inaudível.

“Sim, a tal Waldorf virá” a segunda mais aguda respondeu. Isobel deveria ter ouvido mal.

Sentiu três batidelas em seu ombro esquerdo:

 É o diretor Julius e a senhorita Harrison — informou Charlotte ainda sussurrando.

— Ssshh. Me ajuda pegar a escadinha.

Ambas trouxeram uma escada de ferro portátil e a posicionaram próximo ao foco das vozes. Isobel subiu enquanto Charlotte mantinha a base firme. Apurou a audição, concentrando-se para não deixar escapar um piu.

“... Verdade. Muito estranha mesmo...” a voz do diretor soava mais clara.

“Mas a mulher não é um fantasma. Claro, tive que buscar a informação a fundo, veja bem. Mas ela não é um fantasma.”

“Do que se trata, Selena?”

Pode-se ouvir a risadinha enjoativa e aguda da mulher

“Rebeca, a assistente social me contou tudo, sabe. A tal Waldorf veio de uma família muito fechada. Moravam todos em Liverpool. Podres de ricos. Poderosos, os Licaster. Mas, veja só, ela não era filha de verdade deles. Adotada, sabe-se lá deus de onde... O caso é que o pai, mãe, avó também ... Aconteceu quando ela era pequena. Rebecca me mostrou a notícia de jornal. Ela tinha dezessete anos...”

“O que? O que aconteceu? Diga logo mulher!”

“Mortos” Senhorita Harrison respondeu, sem conseguir esconder a excitação fofoqueira “Sem sinal de arrombamento, sem sangue sem nada. A causa mortis é um mistério, resumindo. A menina foi encontrada dormindo... Os vizinhos ouviram gritos e chamaram a polícia, isso é o que o jornal disse. Mortinhos da silva. E não é só...” continuou a mulher quando o diretor soltou uma exclamação excitada curiosidade.

“A mulher se casou com um sujeito estranho e logo já era viúva! Mas sabe o que é mais estranho ainda...?” Harrison parou por uns segundinhos para deliciar-se do clima de mistério

“As meninas que ela adotou tempos atrás, consta no relatório da Rebecca. Sim, sim diretor, essa não é a primeira. Uns dez anos atrás, adotou uma menina de um orfanato de Londres. Quando a tal completou dezessete anos e nunca mais foi vista. E outra vez três anos atrás, adotou uma menina de novo. Aqui mesmo, em Kent, no orfanato Hibram, aquele de onde Georgina foi transferida... Sumiu do mapa. Veja só que coincidência...”

Fez-se novamente silêncio sepulcral. Isobel subia mais um degrau da escadinha para se aproximar. Escutava tudo hipnotizada.

“E dessa vez é aqui que ela vem pegar uma órfã? Ninguém para essa mulher?”

“Disseram que as órfãs já foram emancipadas. Dinheiro ajudou e muito, se você quer saber a minha opinião.”

Outro silêncio. Até que o diretor voltou a falar:

“Então é amanhã que a dita cuja vem...”

“Sim, sim. Pela noite, ela...”

A escada despencou. Charlotte, que tentava se aproximar para escutar melhor também esquecera de apoiar a base. Isobel espatifou-se em cima da garota e ambas foram para cima da escada. Por pouco não em cima do armário, que teria derrubado algumas dezenas de quilos de livros mofentos nas garotas.

A menina se levantou de supetão, xingando Charlotte e repondo rapidamente a escada na posição. Mas não conseguia ouvir mais nenhuma voz. Deveriam já ter saído.

Ou estavam descendo?

Charlotte Recolhia rapidamente os livros que haviam caído e escondia a escadinha. Isobel pensou que pudessem ter ouvido a queda. Por isso tratou de correr para o foco do alagamento e esfregar mais um pouco, ainda absorta, porém, em pensamentos.

Ela vinha amanhã. A mulher chamada Waldorf viria dias antes. Mas a menina definitivamente não estava preparada. Não estava preparada principalmente depois do que ouvira. A mulher – resumindo – era o arauto a morte!

Depois de um tempinho, descobrindo que ninguém descera, Charlotte importunou a Garota para contar o que havia ouvido da conversa no escritório. Isobel contou, vendo-se confirmar a cara de espanto e tragédia que esperava. Charlotte não parava de repetir:

— Você tem que arranjar um eito de dar o fora!

E nem precisava dizer. A mulher era excêntrica demais para os moldes de mãe que imaginava talvez um dia ter. Pegou-se imaginando a senhorita Harrison dizendo “Isobel, aquela pestinha? Sabe-se lá deus por onde rola essa garota... Fico agradecida com a tal Waldorf por ter levado ela daqui!”. Ela não ia se tornar mais um boato.

O pouco que sabia da mulher já era suficientemente bom para fazê-la querer distância. Ela era uma criança - no todo - realista, que sabia onde colocar o pé. Mas alguma coisa muito agudinha apitava “perigo” em sua mente cada vez que pensava sobre a situação. E ela simplesmente não conseguia ignorar essa incomoda sensação.

Isobel pensou as várias maneiras de fugir do quarto do castigo, uma mais improvável de se realizar do que a outra. O fato da visita se antecipar dois dias estragou com todas as chances dela. Ia acontecer no dia seguinte, sexta, no dia de aniversário do Orfanato... Logo não haveria aula, só eventos dos quais a menina estava obviamente excluída. Descartava a chance de fugir durante a aula, então. Charlotte estava no quarto do terceiro andar, cumprindo seu castigo. E mesmo que Isobel conseguisse ajuda para fugir, o que ia fazer? Ficar dias entocada em algum canto, esperando desistirem da ideia de adotá-la?

Pensou em dizer que não queria ir embora, mas do jeito que a senhorita Harrison falava, parecia ser fato consumado. E ela não iria perder o fator surpresa caso alguma oportunidade de dar no pé surgisse. Mas de uma coisa a garota tinha certeza: não iria se entregar à louca com tanta facilidade.

O dia foi passando rápido demais pro gosto da menina. O sol aparecia e desaparecia. A medida que novamente o céu foi se tornando avermelhado, com as luzes do sol deixando a janela com uma claridade fraca e oblíqua, Isobel ia entrando em um desespero silencioso.

Já era a noite do Sábado. E ainda estava sem nenhuma ideia para se livrar das garras da maluca que topou em querer adotá-la. Agora pensava em todos os momentos na mudança iminente, que tudo seria diferente. Mas fora isso que pediu, não foi? Ela secretamente desejava a certeza que nunca teve. Desejava um emprego, desejava sair dali e ganhar o mundo. Olhou para o céu recém noturno, que a cada segundo ia escurecendo. As nuvens estavam arroxeadas, no fundo do horizonte o rastro vermelho do sol ia se retirando lentamente...

Agora iria enfrentar um destino ainda mais incerto que o do Orfanato. Já conseguia até sentir saudade da rotina. Tinha medo do mar desconhecido que viria por aí, definitivamente não queria a tal Waldorf como mãe. Por que ela? Poderia ter chegado a maior idade, arrumado um emprego, viver por si só. Não precisava da mulher que vinha. Isobel nunca sentiu realmente falta de pais. Nunca quis saber por que fora deixada no orfanato. Só queria viver por si só... Nada disso estava no roteiro de coisas impressionantes, misteriosas, interessantes. Era apenas uma tragédia.

Mas algo a chamou de volta para si. As luzes mais a frente do jardim começaram a piscar alternadas em meio ao breu, ameaçando desligarem de vez. A rua ficou de repente muito silenciosa, tudo parado, ermo. Sem sobreaviso um carro surgiu de uma sombra. De onde ele viera? Não era possível dizer de qual sentido. Ela não o viu chegar por nenhum lado da rua da frente do Orfanato Yellowgrape. Era como se aquele longo carro negro com um jeito aristocrático tivesse brotado daquela sombra. Tinha os faróis desligados, mantendo uma certa discrição. Isobel prendeu a respiração. Ele poderia continuar, ele não ia...

Porém, limusine estranha parou bem à frente da portinhola do jardim, o mesmo lugar em que a coruja havia se encarapitado. Ficou ali por um instante, até que, sem aviso, a porta de trás do carro se abriu. As luzes que piscavam loucamente voltaram ao normal de súbito.

Os sapatos escarpam preto se puseram para fora do carro. A mulher jovem, esbelta e pálida que o calçava saiu. Ela era elegante, não se podia negar. Vestia um conjunto executivo negro. Do seu rosto pouco se via, pois o chapéu floppy negro cobria praticamente toda a face com as abas longas da peça. A porta do carro se fechou sem a mulher precisar tocá-la.

Isobel ouviu a campainha ecoar pela mansão, anunciada a chegada da visitante: Integra Waldorf estava ali.

Música tema: Integra Waldorf


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Notas finais do capítulo

※ Obrigado por ler!
※ Se puderem dar uma força pra história, comentem e favoritem!
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※ Até o próximo e YO!