Our love is like a song escrita por rosemary


Capítulo 6
Capítulo 6 - Pra Sonhar


Notas iniciais do capítulo

Mais um capítulo do desafio! Esse foi mais gostoso de escrever, estou felizinha com ele, eu acho HAHAH



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“O que era sonho se tornou realidade
De pouco em pouco a gente foi erguendo o nosso próprio trem
Nossa Jerusalém
Nosso mundo, nosso carrossel.”

Pra Sonhar – Marcelo Jeneci

~~

Nossa história de amor era clichê. Toda e qualquer descrição de nossa história era clichê.

Dois amigos de infância que, quando moravam numa cidade pequena, se apaixonaram um pelo outro, depois de algum tempo descobriram que seus sentimentos eram recíprocos, ficaram juntos apesar dos empecilhos, brigaram, voltaram, fizeram tudo o que tinham e não direito de fazerem juntos... Eventualmente passou.

Faculdade, trabalho, se mudar, continuar a vida. Era o normal, era o esperado. Eventualmente, por conta do afastamento natural, perder o pouco contato que tínhamos. Nossa história era clichê.

Nossos sonhos e ambições haviam ficado no passado junto com nossa história.

Por muito tempo eu raramente me lembrava dele. Por muito tempo eu raramente me lembrava de qualquer coisa. A vida adulta suga muito da gente. Ela suga muito da nossa força vital. Todo dia a mesma coisa, todo dia a mesma rotina, todo dia, todo dia, todo dia. Sem os altos e baixos da adolescência, só a mesma monotonia de sempre. Todo dia.

Aquele papo de gente que se reencontra anos depois e diz que nunca parou de pensar no outro, nem por um instante, é completamente mentira. Independente de se o amor que você sentia por tal pessoa acabou o não. A vida faz a gente relevar, faz a gente seguir em frente. Depois de alguns anos o nome Marco Bodt raramente vinha à tona em minha vida, então eu segui em frente.

Formei-me em História e fiz uma pós-graduação em História da Arte. Comecei a lecionar a matéria para crianças de oito anos em um colégio público de manhã e para adolescentes de quinze ou dezesseis em um particular no período da tarde. Eu gostava de lidar com aquele público então meu emprego não me desagradava, apesar da rotina. Os problemas eram a contas a pagar, o risco constante de perder meu emprego na segunda escola citada por conta de meu temperamento forte e minhas brigas com meu colega de trabalho, Eren Jaeger...

Em compensação eu tinha tardes de folga quando era conselho de classe. Geralmente nós tirávamos a tarde e nos reuníamos para falar sobre os alunos no período noturno.

Pode parecer algo besta, mas ter esses recessos fazia toda a diferença do mundo. Por essas e outras eu não conseguia ver-me trabalhando engomadinho em algum escritório, preso a normas muito rígidas em um cubículo sem graça, sem cor e sem perspectiva de crescimento pessoal.

Gostava de ir sempre ao mesmo café quando estava de folga e passar a tarde toda lá com meu caderno de desenhos e meus lápis, desenhando as pessoas e a vista de janela. Apesar de isso ter se tornado, de certo modo, repetitivo, não era assim que eu sentia a ação. Aquele lugar tinha o cheiro de casa. Cheiro de grama recém-cortada e de conforto e de chocolate quente e de brownies recém-saídos do forno e de mais alguma coisa.

Aquele lugar tinha um aroma familiar que me deixava extasiado. Aquele lugar tinha um aroma de lar.

Lá estava eu, sentado em frente à janela, bebericando um café puro e desenhando em meu caderninho quando o cheiro de lar ficou mais forte. Era cheiro de cacau. Definitivamente aquilo era cheiro de cacau. Respirei fundo para sentir melhor e tentar lembrar de onde reconhecia aquele aroma.

‘Jean?’ uma voz. Não, a voz. Virei para encarar quem me chamava. ‘Jean Kirschtein? É você mesmo?’

‘Marco?’ levantei em sobressalto para abraça-lo, mas achei melhor não o fazer porque poderia ser estranho. Estendi a mão e ele me cumprimentou apertando-a. ‘Cara, há quanto tempo!’

‘É! Uns doze anos, mais ou menos.’ suas sardas continuavam as mesmas. Seu sorriso continuava o mesmo. Seu cheiro continuava o mesmo... Eu havia passado muito tempo sem pensar naquele rosto, sem lembrar daquele rosto, mas agora que o via eu sabia exatamente cada detalhe que havia ou não mudado. Sorri de volta. ‘Nossa... Você mudou um pouco. Parece mais adulto, não sei.’

‘Obrigado. Sinto dizer, mas você continua a mesma coisa.’ sle assentiu, rindo comigo. ‘Senta aí, vamos trocar uma ideia. Não preciso ir embora até às seis da tarde e ainda são duas e pouco.’

‘Claro, claro. Eu to pensando em vir falar contigo pra saber se você era você mesmo faz umas semanas já, cara...’ Marco riu. Sentamos um ao lado do outro. Olhou meu caderno e fez menção de que queria vê-lo. Entreguei o objeto a ele. ‘Você tá desenhando ainda melhor do que antes...’ constatou enquanto folheava o que estava em suas mãos. ‘O que anda fazendo? Você acabou se formando em arquitetura mesmo?’

‘Não, eu desisti e fui fazer história. Eu dou aula agora. E você?’ ele arregalou os olhos um pouco, surpreso.

‘Eu continuei psicologia mesmo. Mudei pra cá há pouco tempo, até. Fez um ano e dois meses semana passada.’ entregou o objeto de volta para mim, nossas mãos relaram e ambos coraram um pouco. Logo rimos da situação. Era patético ficarmos daquele jeito dado tudo o que havíamos passado juntos e nossas idades atuais.

A verdade é que nosso motivo de término fora ridículo. Eu saí de nossa cidade no colegial e, desde então, paramos de conseguir lidar com a distância. A relação esfriou a ponto de nos falarmos uma vez por semana pelo Skype e só ficarmos nos encarando. O fim do namoro nunca foi verbalizado, nem ao menos uma vez. Só meio que acabou e ponto.

‘Mas e aí, como tá a vida?’ o que eu realmente queria saber era se ele estava compromissado. Como eu já disse: não havia passado doze anos pensando nele, mas isso não significava que o amor e a atração que eu tinha por ele haviam acabado.

‘Normal... E a sua?’ isso não respondia minha pergunta. Nem um pouco.

‘Também, mesma coisa. Quase não saio de casa por causa do trabalho. Às vezes tenho que me envolver em alguns projetos de pesquisa pra dar conta do aluguel e tal, mas tá tudo bem, no geral.’ sorri para ele. ‘Sinto um pouco de falta dos tempos de adolescente. Mesmo com todas as incertezas e os medos e os problemas...’ suspirei.

‘Sei como é. Eu também sinto um pouco. É que eu geralmente não tenho nem tempo de pensar nessas coisas, né. Acho que você deve estar na mesma que eu.’ assenti. ‘Mas... E aí, cara, quantos filhos?’ brincou.

‘Que isso, Marco! Nenhum.’ nós dois rimos. ‘A última vez que me relacionei com um ser humano foi há...’ fiz as contas nos dedos. ‘Caralho! Faz muito tempo. Quatro anos e meio!’ ele riu.

‘Como assim?! Você tá super bonito! Vai dizer que não conquista todos os gatinhos por aí?’

‘Gatinhos e gatinhas.’ o corrigi. Ele sorriu e assentiu. ‘É, na verdade não muito. Mas obrigado pelo elogio, Bodt. Você não está se saindo nada mal também.’ dei uma piscadela.

‘Eu sei. Minha última interação humana foi há três meses, então acho que estou bem conservado mesmo.’ brincou e corou um pouco. Marco tinha continuado sendo extremamente adorável.

Continuamos jogando conversa fora, contando um para o outro tudo o que havia se passado nos últimos doze anos. Muita coisa resumida, muitas palavras ficando no ar e não sendo propriamente pronunciadas, mas ainda nos entendíamos. Era quase exatamente como antigamente, mas mais intenso. Era mais intenso porque não éramos mais duas crianças apaixonadas. Éramos dois adultos. Com suas vidas prontas, com seus rumos tomados, suas mentalidades concretas.

Era mais intenso porque havia todo o sentimento que nunca morrera e mais uma saudade que, até então, nenhum de nós sabia que existia. Havia a culpa por ter esquecido um do outro – mesmo essa culpa não sendo mencionada em momento algum da conversa. Havia a atração física que permanecera durante todo o tempo.

Exatamente como um vinho: nosso amor havia melhorado com o passar dos anos.

E aquele amor estava acabando conosco da melhor forma possível naquele encontro inesperado. Ele havia voltado com tudo, como um grande terremoto, balançando todas as estruturas.

‘Puts, são quatro e quarenta. Eu preciso ir. Vou acabar me atrasando para um compromisso.’ ele disse depois de muita conversa acontecer, olhando a tela do celular. Levantou relutante, sem parar de me encarar um minuto sequer. Ficou algum tempo de pé, em silêncio.

‘Me passa seu telefone. Vamos nos ver de novo.’ tomei coragem de fazer o pedido que estava entalado em ambas as nossas gargantas. O sorriso que ele abriu me atingiu em cheio no coração. Ele anotou seu número em meu celular. ‘Te mando uma mensagem hoje de noite depois da minha reunião no colégio e a gente combina alguma coisa. Não podemos perder o contato de novo.’ Marco assentiu e me abraçou para se despedir.

Nossas interações já não estavam truncadas e difíceis. Tudo estava muito natural. Como se doze anos não houvessem passado. Como se fossemos os dois adolescentes de antigamente no corpo e na maturidade de dois homens adultos. Como se, como nos tempos antigos, ainda planejássemos fugir e nos casar escondido a lá Romeu e Julieta, mas sem toda a tragédia da história original.

Ele foi embora e me deixou refletindo, sentado no mesmo lugar. Percebi que eu não havia tocado mais em meu café desde que ele chegara lá. O aroma do líquido já frio sobrepunha, aos poucos, o de cacau. Tentei tomar o que sobrara, mesmo odiando café frio, porque não era de meu feitio desperdiçar as coisas.

Minha cabeça estava tomada pelo rosto que havia sumido de mim por tanto tempo.

Quando cheguei a meu apartamento depois da reunião fui direto tomar banho, depois de largar minhas coisas no quarto. Terminei o banho, comi um pão francês, escovei os dentes e me deitei na cama. Peguei meu celular e abri o contato recém-adicionado. As letas formavam o nome “Sardas”. Era como eu o chamava antes de termos começado a namorar. Sorri para mim mesmo ao ver a escolha que ele havia feito para seu nome de contato. Sem pensar muito cliquei no símbolo do telefone ao lado de seu número e aumentei meu sorriso quando ele atendeu.

‘Alô?’ perguntou uma voz tímida do outro lado. Ele ainda não gostava de falar ao telefone, ri baixinho. ‘Quem é? Jean?’

‘Como você sabe?’ perguntei sentando.

‘Sua risada te entregou.’ sua voz parecia muito mais tranquila e estava mais alta. ‘Não achei que você fosse realmente ligar...’

‘Claro que eu ia. Eu quem pedi seu telefone, Sardas.’ Sabia que ele não podia ver o quanto eu sorria, mas acho que minha voz estava tão feliz que entregava isso. Tinha a impressão de estar falando alguns tons acima do meu normal de tão animado que estava. Honestamente esperava que não estivesse, mas essa era minha sensação. ‘A gente tem que marcar agora alguma coisa. Se não a gente pode acabar esquecendo.’

‘Faz sentido.’ disse rindo. ‘Então me diz quando e onde que eu vou.’

‘Ah, não, você sabe que eu odeio tomar decisões!’ bufei. ‘De qualquer jeito eu só posso de fim de sexta à noite e fins de semana... Que tal essa sexta mesmo?’

‘Pode ser.’ a voz dele com certeza estava meio tom acima do normal. ‘Meu último atendimento é às seis, então...’ pensou por um tempo, fazendo alguns sons com a garganta. ‘Nove e meia, pode ser?’

‘Claro! Perfeito. Aonde você quer ir?’ perguntei e estranhei quando ele riu delicadamente do outro lado da linha. ‘O que foi?’

‘Você ainda fala igual a como falava antes.’ declarou baixinho. Eu sabia que ele estava corado. ‘De qualquer maneira... Tanto faz por mim, Jean...’ fez uma pausa e fez meu coração se derreter citando a nossa antiga música. ‘Pra onde você quiser eu vou.’


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Notas finais do capítulo

Bom, foi isso. Espero que vocês tenham gostado... Eu acho que esse foi o capítulo que eu mais gostei de escrever porque essa música é muito gostosinha de ouvir e não sei... HAHAHAH



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