"I do anything for that boy
I’d give my last dime to hold him tonight
I do anything for that boy"

I Can't Remember to Forget You - Shakira ft Rihanna

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A primeira vez foi sem querer. Estávamos conversando um dia que fui dormir em sua casa e quando ele foi virar para me olhar eu estava muito perto. Nunca conversamos sobre aquilo, especialmente porque ele namorava Mikasa.

Connie dizia para mim que havia acontecido de novo em uma festa. Eu não tinha memória alguma daquela festa, Jean muito menos. Depois de nosso amigo comentar comigo e eu dizer que não lembrava de nada o assunto morreu completamente. Claro, aquilo me assombrava e eu não conseguia parar de pensar se havia sido verdade. Até por causa da ocorrência anterior - que também não saia de minha mente.

Ele era um cuzão comigo. Eu sabia que ele não era homofóbico de fato, mas ele fazia diversas piadinhas com o assunto para mexer comigo. Para me provocar. Aquilo me deixava extremamente irado, mas tentava ignorar. Conseguia esquecer todas as provocações de brincadeira, mas nunca o primeiro acontecimento. Muito menos as frases que ele falava e soavam com um duplo sentido tão grande, mas com certeza, não significavam nada.

Já eu o amava. Eu seriamente amava Jean e havia decidido suprimir todos os indícios de sentimento que eu pudesse ter antes que eu estragasse nossa relação de amizade.

A segunda vez - ou terceira, se considerada a que Connie é a única pessoa que se lembra de ter acontecido - foi crítica.

Jean tinha acabado de terminar seu namoro e me ligou dizendo que queria sair para espairecer. Eramos melhores amigos desde que eu me lembre. E eu era apaixonado por ele desde que eu lembre. Não pude dizer não, ele soava como quem havia bebido, eu ficara preocupado. Fui de carro até sua casa e saímos para caminhar juntos.

Sempre que Jean me ligava no meio da noite por conta de alguma briga com Mikasa - sua ex namorada - acabávamos saindo para caminhar e chegávamos ao mesmo lugar. Era o ponto mais alto de um morrinho que tinha perto de sua casa, uma praça pequena, cuja iluminação era pouca e provinha de postes com lâmpadas de luz branca. Isso fazia o ambiente ter um ar mais misterioso de noite ou de madrugada. Um dos lados do morrinho era por onde subíamos e o outro era muito íngreme para qualquer pessoa subir ou descer por lá, por isso era protegido por uma cerca de metal baixa.

Sentamos em um dos vários bancos que haviam virados em direção ao lado oposto de de onde tínhamos vindo. A vista era bonita. Não tão urbana a ponto de ter grandes prédios, mas urbana. Algumas luzes de algumas casas ainda estavam acessas. Era uma sexta feira e não era tão tarde da noite. O restante dos pontos brilhantes eram os postes nas ruas. Ficamos um bom tempo em silêncio, até ele dar mais um gole da garrafa de vodka que havia trazido consigo. Fiz o mesmo quado me ofereceu. Eu geralmente não bebia, mas não estava no clima de aguentar Jean falando de Mikasa enquanto sóbrio.

'Foi tudo por causa de Jaeger.' se enrolou um pouco para pronunciar o sobrenome do garoto. 'Ela gosta dele. Eles são irmãos, Marco!' tive de desviar de seus movimentos expansivos para não ser acertado por seus braços ou mãos.

'Eles não são irmãos, Jean.' revirei os olhos e tomei outro gole. O líquido descia queimando minha garganta, junto com todas as palavras que eu optara por não dizer a ele.

'Foda-se.' arrastou a primeira letra um pouco e piscou duas vezes. 'São tipo isso. E esse nem é o problema.' ele levantou, o puxei de volta para o banco. 'O que que ele tem de melhor? Tipo: ele é um bosta, Marco.' cruzou os braços, irritado.

'Eren é um cara legal, Jean. Vocês são muito parecidos, na verdade. Talvez seja por isso que você tenha tanta raiva dele.' continuei bebendo.

'Até tu, Brutos?' Jean levantou e abriu os braços, gritando a frase para o ar. Aquilo me fez rir. 'Poooorra, Marco. Não me fode.'

Eu estava muito sóbrio para responder um "gostaria de faze-lo" naquele momento. Por isso bebi um pouco mais. Jean arrancou a garrafa de minha mão, o que derramou líquido em mim, além de me fazer babar um pouco.

'Já está bêbado, Bodt? Tá até derrubando as coisas.' ele riu, tomando um gole mais longo de vodka. Bufei um pouco irritado. Não era como se eu estivesse totalmente sóbrio, mas não estava nem perto do estado de Jean. Foi minha vez de tentar pegar a garrafa dele. 'Não, não. Você é criança ainda, não pode beber.' senti uma veia saltar de minha testa, cerrei os olhos. 'Nossa, que medo desse olhar. Tá bom, vem cá, vou te dar um pouco.' estendi a mão, mas Jean deu um tapa nela, a afastando e puxou meu rosto por meu queixo para mais perto dele. 'Deixa a boca bem aberta.' o obedeci, mas, mesmo assim, ele derrubou um pouco do conteúdo da garrafa fora de minha boca. 'Opa.'

Limpei meu rosto com a manga da blusa que eu estava usando. Jean ria de mim e da situação, não pude não sorrir. Ele parecia mais animado do que quando me ligara e aquilo me deixava satisfeito por estar conseguindo ajudar em alguma coisa. Ele me encarava intensamente, ainda de pé. Colocou a garrafa no chão e se inclinou para mais perto de mim. Me afastei e ele se aproximou.

'Não se mexe.' assenti e fiquei parado enquanto sentia sua respiração quente bem perto de mim. O cheiro de álcool em seu hálito me intoxicava, assim como a substância que eu havia 'Você também gosta mais do Eren do que de mim?' sua voz saiu fraca.

'Não tem ninguém no mundo que eu goste mais de do que de você.' É, eu, definitivamente, estava bêbado. Percebi o que havia dito e tentei corrigir. 'P-porque somos melhores amigos e tal, você sabe...' seus lábios tocaram minha bochecha levemente, o que me fez parar de falar.

'Eu contei pra Mikasa.' arqueei uma sobrancelha, mesmo ele não podendo ver minha expressão facial porque havia apoiado sua testa em meu ombro. 'Sobre as duas vezes.'

'Duas vezes?'

'Você realmente não lembra, né...' ele bateu a testa com força em meu ombro, gemi de dor. 'O Connie falou que você não lembrava, mas não sabia se era verdade... Enfim, eu contei pra ela. Aí ela ficou com o Jaeger e a gente acabou terminando.' comecei a acariciar suas costas. 'Eu amo ela, Marco!' aquilo me acertou em cheio. Senti meu coração apertar e as lágrimas começarem a vir, mas me segurei.

'Jean...' ele me cortou.

'Não, escuta.' se afastou para olhar em meus olhos de novo. Ficou em silêncio. Haviam lágrimas formadas nos cantos de seus olhos e sua boca estava aberta. 'Ah, foda-se.' murmurou como se pra si mesmo e colou nossos lábios. Eu o empurrei de primeira.

'Mas o quê?' quase berrei.

'Não, não, me escuta, sério!' ele falava enrolando as palavras. 'Merda... Eu tava falando... Tava falando que eu amo a Mikasa, né, era isso...' ele balançou a cabeça. Toda vez que eu tentava falar ele me impedia com um selinho. 'Mas e se na verdade eu amar outra pessoa? E se eu amar a Mikasa, mas amar você ainda mais? Porque somos melhores amigos e porque eu não consigo esquecer ou parar de pensar em nós dois. Porque... Eu não sei, Marco. Eu ando tentando dar dicas, falar coisas com duplo sentido e ver se você se manifesta, mas você nunca fala nada. Aí você me escuta falando dela e me escuta sempre e eu nunca falo de você, mas você continua aqui.' outro selinho. ‘Será que se a gente transar eu paro de bater uma pensando nisso?’ Jean Kirschtein, suave como sempre.

‘Não sei se é assim que funciona.’ mais um selinho.

‘A gente podia tentar.' um sorriso convencido em seu rosto. 'Nada me impede agora.' sua boca atacou meu pescoço, mordiscando levemente.

'Jean...' gemi seu nome baixinho. Ele gemeu também. 'Eu não devia amar você...' o garoto segurou meu rosto entre as mãos.

'Não mesmo. Você merece coisa melhor.' me beijou novamente. Dessa vez mandei tudo ao quinto dos infernos e retribuí.

Ele sentou em meu colo e ficamos trocando carícias no banco. Compartilhando o gosto de álcool e a sensação de precisar de alguém. Como se não houvesse mais nada no mundo além de nós dois. Mas havia. Me dei conta disso quando sua mão deslizou para dentro de minha calça e cueca.

'A gente não pode fazer isso aqui...' gemi entre as palavras sentindo seu toque. O vento estava gelado e eu o sentia muito mais já que minha blusa estava em algum lugar no chão. Ele assentiu e tirou a mão de lá.

'Então vamos pra casa.' nos vestimos e fomos. Acordei no dia seguinte e um desespero invadiu minha alma.

Fui para casa tentando não acordar Jean. Ficamos uma semana e meia sem nos olharmos e mais um bom tempo se nos falarmos. Mikasa veio falar comigo para dizer que havia terminado com Jean, que sabia de tudo e que ela não tinha nenhum ressentimento de mim. Connie tentou mediar uma conversa entre meu - talvez ex - melhor amigo e eu, mas falhou miseravelmente porque ao fazê-lo eu simplesmente me retirei do local. Jean provavelmente não estava afim de olhar para minha cara, eu estava só facilitando as coisas. A única interação que tivemos em semanas foi quando estávamos eu, ele, Connie e Ymir conversando sobre trechos de música que se encaixavam com nossas vidas atuais ele citou um olhando em meus olhos - fato que se alguém mais percebeu, decidiu não comentar sobre. Era algo do tipo "when you look at me the only memory is us kissing in the moonlight".

Alguns dias depois meu celular vibrou.

Jean: meu plano não deu certo

Jean: acabou de falhar

Jean: agora meu cérebro tem imagens ainda mais vivas pra usar como enredo das minhas punhetas

Jean: não quer vir aqui em casa qualquer dia pra tentar de novo?vai que dessa vez dá certo ;)

Sorri encarando a tela.

Marco: Se não der certo a gente tenta até dar.

Jean: já dei

Revirei os olhos e gargalhei. Jean Kirschtein era um idiota. E eu não conseguia esquecer ou não amar aquele idiota.