"Não mandarei cinzas de rosas
Nem penso em contar os nossos segredos"

À Sua Maneira - Capital Inicial

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Querido diário,

Não há muito o que dizer.

Acho que comecei esse diário sem muito propósito, na verdade...

Todos os dia anteriores a esse marcam uma história de amor. Hoje marca seu fim. Não foi um fim bom, finais geralmente não são. Eu devia saber que ia acabar, minha mãe sempre me dizia que tudo acabava, mas eu achava que era algum tipo de praga porque ela não gostava o fato de eu namorar outro homem. Minha mãe é um pouco conservadora, então...

Hoje Jean e eu terminamos... Porque ele vai se mudar pra Alemanha com seus pais e acha que não é possível continuar um relacionamento com essa distância. Eu tentei argumentar, usar amigos meus da internet como exemplo, mas ele foi irredutível. Então, assim que cheguei em casa, obviamente chorando, decidi reler esse diário. Buscar nele alguma coisa que me fizesse ter forças para insistir mais um pouco, buscar algum bom argumento contra a certeza que Jean tinha de que, mais cedo ou mais tarde, terminaríamos.

A frustração de perceber que nosso relacionamento sempre foi superficial foi muito mais pesada do que a dor do término de fato.

Lendo cada um dos meus relatórios de nossos encontros, desde o começo do namoro, percebi que não havia uma descrição se quer que se aprofundasse muito. Não havia momento algum em que eu mostrava realmente conhecer Jean e vice e versa. Cada dia desse diário é mais um capítulo de livros de amor adolescente. Cada capítulo da nossa história era muito vago, era muito vão, era muito clichê.

Tão clichê quanto ser uma adolescente apaixonado escrevendo em um diário. Talvez até mais clichê do que isso... Mais clichê do que eu.

Todas as nossas juras de amor eram vazias. Todas as minhas descrições de sentimentos e sensações pareciam inverossímeis, exatamente como uma história de amor mal escrita.

Hoje eu encerro esse diário. Provavelmente vou esconder isso no fundo do meu armário, pra só lembrar da existência desse objeto quando eu for rir com tudo o que está escrito nele... É um jeito de esconder nossa história e de enterra-la bem fundo, onde eu não alcance. Porque eu sei que se eu buscar essas lembranças eu posso acabar me magoando mais, me frustrando mais.

Entendo que tenha sido uma entrada muito curta nesse diário. Talvez uma das mais curtas. Mas não há muito o que falar. Não me parece certo, depois de perceber o quão idiota eu sou, passar linhas e mais linhas dizendo que amo Jean, que não quero que ele vá embora, que não sei o que vou fazer sem meu namorado. Não me parece razoável passar parágrafos e mais parágrafos repetindo as mesmas coisas sobre alguém que nunca terá consciência desse livrinho - se é que posso chama-lo assim.

Hoje nossa história acabou. Jean vai embora no começo da próxima semana. Ele pediu que eu não fosse me despedir dele porque seria muito difícil, eu aceitei. Eu vou sentir tanta falta dele...

Como sou patético...

Marco Bodt, 21/09/2014.