Our love is like a song escrita por rosemary


Capítulo 11
Capítulo 11 - Back To Black


Notas iniciais do capítulo

Mais um capítulo pra vocês do desafio das músicas!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/541475/chapter/11

"Me and my head high
And my tears dry
Get on without my guy"

Back To Black - Amy Winehouse

~~

Eclesiastes, capítulo três, versículo vinte e Gênesis, capítulo três, versículo dezenove - ignorando as diferentes versões por conta das traduções - são, respectivamente:

"To­dos vão para o mesmo lugar; vieram todos do pó, e ao pó todos retornarão" e "No suor do teu rosto comerás o teu pão, até que te tornes à terra; porque dela foste tomado; porquanto és pó e em pó te tornarás".

Veja bem, nunca fui alguém religioso, mas funerais são.

Ele não queria um, ele sempre disse que queria ser cremado sem cerimônia. E queria, também, que suas cinzas não fossem guardadas. Ele nunca viu razão no culto a um corpo morto. Ele também não era religioso. Mas, acima de tudo: ele não queria deixar nada para trás que pudesse fazer qualquer um dos vivos sofrer.

As pessoas tinham ideias muito erradas dele. Muitos o viam como um alguém idiota arrogante e egoísta, que não conseguia ver nada além de seu próprio umbigo. Outros como uma pessoa largada, que não se importava com nada e empurrava a vida com a barriga. Claro, não é possível culpar esses indivíduos, afinal, seu mau humor, sua teimosia e seu sarcasmo eram suas características mais aparentes.

Mas ele não era só isso. Ele era bom. Ele era justo. Ele era sentimental.

Não vou negar seus defeitos; não podemos faze-lo. Santifica-lo após sua morte não seria justo. São os defeitos que nos fazem humanos, são eles e nossos medos, nossas aflições, nossos problemas, que nos fazem tão bonitos. Ele sempre dizia isso.

A dor que sentimos ao perder alguém importante é indescritível. Cada um a sente de uma maneira e não há palavras bonitas que consigam contemplar uma explicação que não pareça vazia ou vã ou, até mesmo, forçada.

Não havia ninguém naquele cubículo, em volta daquela caixa de madeira, que não estivesse chorando. Nem nossos amigos, nem nossos professores. Nem Ymir, Reiner, Annie e Mikasa, que nunca demonstravam emoções fortes. Nem Eren, que não se dava bem com ele. Christa, Armin e Connie tiveram de sair para tomar um ar porque não aguentaram ver seu corpo esticado, pálido, de olhos fechados, vestindo seu terno de formatura, tão frio, tão apagado. Ninguém. Com exceção de mim.

Nem uma lágrima sequer.

Porque eu sabia que ele não gostaria de nos ver chorar por ele. Ele se sentiria mal, se sentiria culpado muito mais do que comovido. Então engoli meu choro. Assim como quando ele me contou sobre sua condição, assim como quando recebi o telefonema de sua mãe.

Seus pais estavam sentados em um canto, já não aguentando mais ver seu filho naquele estado.

Fiquei ao lado dele o velório inteiro. Acalentando nossos amigos, acalmando seus pais quando eles voltavam para olhar mais um pouco, acariciando seus cabelos levemente quando estávamos só os dois. Talvez a pior parte era que ele estava lindo, exatamente como o normal. Não havia uma deformação sequer em seu rosto. Era o rosto que eu vira tantas vezes deitado, ao meu lado, dormindo. Seu cenho não estava franzido, seus músculos faciais não estavam tensos.

Mas se, por ventura, alguém desabotoasse sua camisa, veria a cicatriz.

A gente nunca espera que um adolescente de dezessete anos, que nem ao menos terminou seu último ano de colegial, tenha qualquer problema de saúde grave. Ele não esperava isso, mas no segundo colegial ele descobriu que seu coração estava começando a falhar. Ele nunca me explicou direito, não queria me preocupar com isso. Então respeitei e nunca pedi.

Só sabia que seu coração havia começado a falhar e que ele estava na lista de transplante. Seu corpo rejeitara o órgão novo e os médicos não puderam fazer nada.

'Querido, você está aqui há muito tempo...' sua mãe se aproximou com um tom choroso, tocando minhas costas sutilmente. 'Se quiser dar uma volta, ir comer alguma coisa...' balancei a cabeça.

'Não precisa, obrigado. Estou bem.' sorri simpaticamente, ela fez o mesmo e assentiu.

'Você é um moço realmente bom...' voltou para seu lugar, para chorar mais no ombro do marido.

Continuei firme e forte até o fim.

Na hora de cremar o corpo todos os que haviam saído para acalmarem-se reapareceram. Abracei Connie, que chorava compulsivamente, chamando o nome de seu melhor amigo quase que aos berros.

Seus pais me deram suas cinzas para que eu realizasse o último desejo dele.

Subi com todos os nossos amigos no ponto mais alto da cidade: o topo do observatório. Lugar que ele adorava.

'Eu...' respirei fundo e virei de frente para o grupo. 'Eu queria dizer algumas palavras agora, se vocês deixarem.' houveram murmúrios de concordância. 'Jean Kirschtein...' levantei a urna que segurava em mãos. 'Não deve ser lembrado por esse momento.' minha voz falhou um pouco. Respirei fundo mais uma vez. 'Ele deve ser lembrado por cada vez que ajudou um amigo, mas também cada vez que atrapalhou a vida de outro. Cada vez que fez uma piada hilária, mas também cada vez que gritou com algum de nós. Cada vez que nos encorajou a enfrentar nossos problemas de frente, mas também cada vez que fugiu de seus próprios.' apertei mais forte o objeto em minha mão. 'Jean Kirschtein foi mais do que um amigo e mais do que uma pedra no sapato e mais do que um namorado.' mais uma falhada. 'Jean Kirschtein foi um ser humano. Vamos lembrar dele desse jeito.' eu tremia um pouco. Respirei fundo mais uma vez. 'Queria que cada um de vocês pegasse um punhado dessas cinzas e jogasse ao vento, lembrando de uma coisa ruim e uma boa que vocês passaram juntos... Porque ele era alguém que gostava dessas simbologias.'

As pessoas de lá acataram meu pedido.

Reiner acariciou a urna, sério, por um breve instante antes de pegar seu punhado. Mikasa ficou com a mão lá dentro por um segundo a mais do que o necessário e, ao soltar no vento o que tinha em mãos escondeu-se por trás de seu cachecol vermelho, tentando parar de chorar. Sasha sorriu tristemente para a urna e sussurrou que nunca havia chegado a cozinhar sua nova receita de torta para Jean - que adorava as receitas dela. Armin, Bertholdt e Christa pegaram as cinzas rapidamente, sem conseguir ficar muito tempo por perto sem desabar.

Eren pegou um pouco e disse "você foi muito cedo, cara de cavalo, vai fazer falta", sorrindo com pesar e derramando mais uma lágrima solitária. Ymir e Annie pegaram seus tantos e os seguraram perto de seus corações por um instante - a segunda fechara seus olhos e apertara as cinzas em sua mão direita - antes de joga-los ao vento.

Connie ficou parado em frente a mim, encarando a urna com o olhar vazio.

'Você sabia?' perguntou para mim sem desgrudar os olhos dela. Respondi que sim. 'Posso segurar um pouco? Só... Um pouco...' assenti e estendi o objeto a ele, que logo o segurou e o abraçou. Seu choro voltou com força e eu voltei a abraça-lo como havia feito vária vezes naquele dia. Ficamos parados por um bom tempo, até que ele se recuperasse o máximo que podia. Connie pegou seu punhado de cinzas após algum tempo e me devolveu a urna.

Era minha vez. Fui até perto da borda do prédio e joguei o resto das cinzas ao vento, sussurrando que o amava. E gritei. O mais alto que eu pude. Porque ele não estava mais ali. Minhas lágrimas não saíam, mas eu soluçava mesmo assim, sentindo aquele vazio indescritível dentro de mim, me consumindo de dentro para fora. Nossos amigo me abraçaram em grupo.

Jean havia voltado ao pó e eu entrado num luto que parecia eterno.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Eis que hoje eu não estou com a sensação de que vou virar um zumbi se não dormir cedo, portanto pude colocar um esforço maior no capítulo.
Espero que vocês tenham gostado, de verdade. Eu me esforcei aqui pra terminar de escrever e fazer algo minimamente decente HAHAH



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Our love is like a song" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.