Desci as escadas com dificuldade com a ajuda de Charlote e logo estava à frente do salão principal. Os guardas ali presentes logo abriram a porta após uma breve reverência. Avancei vagamente distraída com meus fios ruivos se destacando ao meu vestido creme recém-costurado no ateliê de Marlee. Andava pensando em cortar um pouco os meus cabelos, me parecia sensato e até saudável. Foi só quando levantei meu olhar que vi quem estava presente.

                - Nicoletta! – exclamei sorrindo abertamente. – Ou deve dizer, hum, rainha Nicoletta – disse piscando e me esforçando para fazer uma reverência.

                - Ah pare de bobagens – Nicoletta disse rindo se apreçando em me dar um dificultoso abraço. – Ah, que linda barriga! Aliás, você está mais linda que nunca – elogio-me.

                Com as ultimas várias informações que andavam tendo, nem me lembrava de que hoje era dia 27, dia em que a família italiana chegava. Estava tão feliz com Nicoletta que até me assustei quando vi Victor e Luca, em pé, me esperando pacientemente.

                - Oh, perdão. Majestade – disse reverenciando Victor. – Alteza – disse virando-me para Luca, que sorria gentilmente.

                Luca era a mistura perfeita de Nicoletta e Victor. Seus cabelos e traços fortes eram de seu pai, mas seu sorriso e olhar eram totalmente de Nicoletta. Ele era um principezinho muito simpático e sabia que herdaria merecidamente e sabiamente Itália.

                - Não é necessário esse tipo de formalidades, rainha – Victor declarou, mas devolvendo uma breve reverência.

                A porta se abriu atrás de mim e vi Maxon entrar com Amberly e Cameron ao seu alcanço. Meus bebezinhos estavam enormes. Amberly usava um vestido azul bebê que lhe caiu muito bem, junto com uma coroa de perolas que adorava. Cameron usava um terninho azul marinho e uma coroa de prata.

                - Bom dia, minha querida – sussurrou sorrindo torto.

                - Olá, meu majestoso esposo – sussurrei de volta e foi aí que percebi que tinha uma espécie de pó branco em seu nariz, que logo sugeri que fosse farinha.

                Aproximei-me de Maxon e passei a mão levemente em seu nariz e olhei desconfiada para as crianças que me olhavam de rabo de olho.

                A porta se abriu novamente e Silvia entrou perceptivelmente tentando se controlar. Fez duas reverências absurdamente perfeitas para as famílias reais e olhou para as crianças.

                - Se me permitem majestades, preciso continuar minha aula de boas maneiras com as nossas pequenas altezas – disse visivelmente brava.

                - Silvia, creio que não seja necessário nesse momento, mas logo mais os encaminharei à você – disse vendo pelo olhar periférico minhas crianças sorrindo.

                Era certeza que eles tinham aprontado alguma coisa. Basta saber o que era. Não estava tão brava quanto Silvia, mas não deixei de anotar mentalmente que mais tarde os repreenderia. Não era surpresa que crianças adoram aprontar, até porque se tratavam dos filhos de America Singer. Mas eles teriam de saber que quando temos visitas era preciso saber ter modos, ser gentil, educado e, o mais importante, não enlouquecer a Silvia.

                - Tudo bem, majestade. Com licença – disse nos reverenciando e saindo da sala, não sem antes enviar um olhar de repreensão para Amberly e Cameron.

                - Bom, vamos tomar nosso café da manhã – Maxon disse mudando o assunto assim que a porta foi fechada atrás de nós. – Novamente, sejam muito bem vindos e aproveitem a estadia à vontade – Maxon disse cordialmente os reverenciando.

                Sentamo-nos e conversamos durante o período que se estendeu o café da manhã. Hoje, especialmente, pedi que o cardápio fosse repleto de coisas de origem italiana, mas que não faltassem as delícias de Illéa. Então contamos com Bruschetta, que consistia em torrada, alho, pimenta, azeite e sal; Cornetto, mais conhecido como croassaint, que consistia em um pão doce geralmente com recheios de chocolate ou doce de leite; Chá; Café; Leite; Irresistíveis tortas de morango; entre outras delícias.

                ***

                Estávamos sentadas no jardim dividindo um chá, Nicoletta e eu. Conversávamos enquanto os mocinhos participavam de uma reunião com o conselho de Illéa para decidirem algumas reformas no país e aumentarem as fronteiras de parcerias com a Itália. Nicoletta preferiu participar de um chá comigo.

Era tarde. Sentia os bem fracos raios solares e observava as folhas das árvores secarem e caírem aos seus pés nos jardins mais próximos, indicando que o outono se aproximava cada vez mais.

— Esse jardim me dá uma paz inexplicável – Nicoletta comentou me fazendo sorrir.

— Na época da seleção de Maxon, costumávamos dizer que esse jardim era o nosso e aquele banco – apontei com o indicador – era o nosso por nos encontrarmos sempre nele.

— Ai, a história de vocês é tão linda. Entre trancos e barrancos, acertos e erros, vocês formam uma família tão feliz – comentou sonhadora.

Sorri abertamente e concordei com a cabeça. Orgulhava-me muito de minha família, mas me diga se não havia motivos de tanto? Um marido lindo, respeitoso, talentoso e honesto. Filhos bagunceiros, educados, gentis e amorosos. Era tudo o que eu havia pedido à Deus um dia. Uma família, acima de tudo, feliz!

— Você e Victor também tiveram uma história linda, que nunca me canso de escutar – disse suspirando sorrindo.

— Ah, um dia meus filhos se cansarão de escutá-la – Nicoletta declarou rindo e me olhou séria. – Preciso te contar uma coisa – completou sorrindo, embora fazendo suspense.

— Meu defeito é curiosidade, então fala logo – disse animada, rindo fraco.

— Hum, parece que Henrique vai ganhar um amiguinho em breve – Nicoletta disse sorrindo abertamente colocando a mão esquerda sobre o meu ventre e a direita sobre o seu.

— Ai, meu Deus. Não poderia escutar notícia melhor que essa hoje – disse lhe abraçando apertado. – Victor já sabe? – perguntei empolgada.

— Sim, na verdade foi ele quem desconfiou. Eu andava bastante cansada, tendo tonteiras estranhas e no último sábado tive bastantes enjoos, o que o levou a considerar essa hipótese e foi dito e feito – disse rindo, com os olhos brilhando de emoção.

***       

O almoço foi composto por todos os membros do conselho, incluindo August e Georgia, que haviam trazido Hugo para acompanhar as crianças e Luca. O almoço rendeu bastante assunto – nada de política – e comida boa.

À tarde dividi meu tempo no salão das mulheres com Georgia, Marlee e Nicoletta; brincando com as crianças no quarto de Cameron; passeando com Amberly; passando um tempo no escritório jogando papo fora com Maxon; praticando um pouco de violino e piano.

À noite, Maxon, eu e as crianças, aproveitamos a companhia de Marlee, Carter, Felipe, Georgia, August, Hugo, Nicoletta, Victor e Luca. Optei por pedir no jantar culinárias italianas. De entrada, havia pão caseiro e mussarela de búfala marinado em ervas. No primeiro prato havia massa artesanal com cogumelos. No segundo prato havia ossobuco com lâminas de abobrinhas grelhadas, que é uma receita tradicional italiana e é uma parte da “canela” bovina cortada em rodelas grossas. De sobremesa havia tiramisu.

Despedimo-nos de todos e, Maxon e eu, pusemos as crianças dormirem para logo seguirmos para nosso quarto, trocarmos as roupas e dormirmos tranquilamente.