Stay With Me escrita por Fenix


Capítulo 5
Afundando em meus próprios pensamentos




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Depois que assistimos vários filmes, já está quase na hora de fecharem o local por hoje. Decidimos não assistir o último e fomos para fora do festival, onde ficamos esperando meu pai chegar.

Ana olha impaciente para os lados procurando o carro dele, enquanto eu fico ao seu lado com as mãos no bolso da calça, olhando para o chão... Talvez estivesse pensando nele, mas minha mente no momento está vazia, um filme branco fica passando sem parar.

— Já está com a carteira, quando é que vai começar a dirigir? - Ana me desperta com a pergunta.

— O que?

— Você já tem carteira, não precisa o seu pai ficar vindo buscar a gente!

— Eu tento pegar o carro dele, mas eu não gosto muito dos pedais.

— Você é um chato, sabia? - Ela diz olhando de volta para o lado.

— Eu também te amo! - Respondo brincando.

As pessoas começam a sair do festival, o falatório é inevitável. Todos comentam sobre os filmes e falam dos que mais gostaram e os que mais choraram. Pra fala a verdade eu não chorei com nenhum, os únicos filmes que até hoje me fizeram chorar foram "Orações Para Bobby" e "A Culpa é das Estrelas", quem não chorar com eles é feito de pedra!

Fico olhando para todas aquelas pessoas que se preparam para atravessar a rua e pouco se importam para os olhares julgadores dos outros na rua, e penso "Como eu queria ser assim".

Quando o olhar de uma mulher do outro lado da rua se direciona a mim, eu fico paralisado, ela nega a cabeça me olhando, e aquilo me deixou realmente pra baixo, com uma sensação estranha. Abaixei minha cabeça e ignorei seus julgamentos. Eu não fiz nada para que ela suspeitasse de mim, só estou parado na calçada com uma amiga enquanto espero meu pai chegar para nos tirar daqui.

Ouço uma pessoa gargalhar e se aproximar de mim, de repente sinto-o bater contra minhas costas e dou um passo para frente.

— Ei.. - Digo virando-me, e não poderia ser outra pessoa, certo? Zac está em minha frente novamente, eu calo minha boca na mesma hora.

O jeito que eu disse o deixou meio desajeitado e envergonhado, eu me sinto mal por ele agora.

— Desculpa - Ele diz, do jeito mais doce que alguém poderia dizer.

— Isso é perseguição, eu to sentindo - Brinco com ele. Não imaginaria que essa fala idiota o faria dar uma pequena risada.

Ponho minha mão na nuca completamente sem jeito, o que eu poderia fazer agora? O normal seria continuar a conversa, mas eu não sou uma pessoa normal, preciso sair logo daqui antes que eu estrague mais a situação.

— Estão esperando alguém? - Zac pergunta .

— O pai dele! - Ana responde por mim, já que eu não conseguia pensar tão rápido.

Não sei o que está acontecendo comigo nesse exato momento, parece que eu quero muito que ele seja meu amigo, eu quero conhecê-lo melhor, mas eu não posso com isso, não posso ir contra tudo que eu evitei até agora e acabar com toda a minha vida.

Olho para o lado e vejo mais algumas pessoas olhando afastadas para mim, abaixo minha cabeça.

— Ah, temos mesmo que ir, me desculpa! Tchau Zac - Digo empurrando Ana para o lado e puxando-a para longe.

Depois de uns segundos andando rápido, antes de virar a esquina, eu olho para ele e vejo que ele ainda me observa.

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— Tchau Ana! - Digo sentado no banco da frente do carro do meu pai.

— Tchau Felipe, tchau tio! - Ela diz saindo do carro e fechando a porta.

— Até mais Ana! - Meu pai diz e sai com o carro.

Esse é o momento que eu fico quieto e ouvindo a música que toca no celular. Sinto que logo as coisas vão ficar complicadas, 1 km e meu pai ainda não disse uma palavra, isso me assusta.

— A Ana é legal, eu gosto dela - Ele diz de repente.

— É! - Respondo-o.

Eu aumento "Till The World Ends" que toca no celular, eu sei como essa conversa termina e não estou a fim de passar por isso hoje.

— Pensa em namorar ela não? - Ele pergunta.

Eu sabia! Ele nunca se cansa disso, é sempre a mesma coisa, já não aguento mais!

— Pai, ela é minha amiga, não penso nisso.

— E a Michele?

— Não pai! - Respondo mais frio.

— Você precisa namorar alguma garota, já tem 19 anos e está ai... Meu Deus, o que tem de errado com você?... Não parece nem que é meu filho, na sua idade eu já estava pegando mulher adoidado... Qual o seu problema?

Essa pergunta me força a olhar pela janela e fingir que eu não a ouvi.

— O aniversário da sua irmã está chegando, queria ver você namorando alguma garota para apresentar para o pessoal - Ele insiste em continuar com a conversa.

Olho para a pista que passa rápido pela porta, e imagino que se eu me jogasse agora eu poderia morrer? Só preciso de uma válvula de escape para essa conversa. Eu sei que eu não sou normal, eu sei que eu não sou o filho perfeito como você quer que eu seja, mas já não basta eu mesmo me torturar por isso, você não precisa fazer também!

— Não fica com raiva de mim... - Ele diz ao notar que eu não o respondo e nem o olho mais - Mas eu vou ficar falando isso até você aparecer com alguma garota!

— Hm... Não fico com raiva... Essa época já passou, eu não ligo mais - Respondo. Depois de ouvir o que eu disse era melhor ter ficado calado, eu não posso acreditar que disse isso para o meu próprio pai, que tipo de pessoa eu sou? Droga...

Ele ficou quieto, e permaneceu assim até que chegássemos em casa. Nem as músicas da Britney Spears me animava nesse momento.

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Sábado à noite, eu estava em casa vendo filme pelo laptop e usando fones de ouvido. Me deito de frente para porta, caso abrissem de repente eu poderia mudar a aba do filme sem que percebessem. Procuro me tranquilizar e achar uma saída ou uma ajuda nos filmes que eu vejo, sei que são apenas filmes, mas todos precisam de uma esperança mesmo quando acham que é o fim!

Dessa vez eu estou vendo "De Repente, Califórnia" em seu título original "Shelter", é o primeiro filme que vejo e não tem um final triste. Já estou quase no final quando meu celular toca, eu demoro um pouco para encontrá-lo na cama. É incrível a minha facilidade de perder as coisas na minha cama, parece que tem um buraco para Nárnia que todas as minhas coisas vão pra lá, e só minha mãe para encontrá-las de novo.

— Alô!

— Oi, Felipe...

— Oi Mi! - Dou pause no filme e sento direito na cama.

— Ta fazendo o que agora?

— Nada... Só assistindo um filme!

— Se arruma, vamos para uma festa.

— O que? Ta louca?... Agora?

— É! É ai perto da sua casa, não vamos demorar... Vamos, é sábado à noite, você precisa sair!

— Eu vou ver com meus pais e...

— Felipe é sábado à noite e você não é mais um adolescente, se arruma, eu vou passar ai em 20 minutos!

— Droga... Ta bem! - Eu desligo o celular com um sorriso e desligo o laptop.

Levanto da cama e abro meu armário, observo as minhas roupas e escolho sem demora.

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Desço a escada mexendo no celular lendo a mensagem de Michele avisando que já está na minha rua. Dirijo à porta quando encontro minha irmã, Aline, saindo da cozinha com um sanduíche e um copo com água nas mãos.

— Aonde você vai todo gato desse jeito? - Ela pergunta.

— Vou a uma festa com a Michele - Respondo.

— Nossa... Ta bonito! - Ela diz.

— Obrigado - Eu respondo com um sorriso.

— Boa festa! - Ela diz, e logo vai para sala.

— Qualquer coisa eu ligo pra cá, mas não devo voltar tarde.

— Ta bem!

Saio de casa e encontro Michele parada na calçada.

— Podemos ir! - Eu digo.

— Oiiii - Ela me abraça e sorridente e vamos juntos para festa.

Na verdade eu não queria sair hoje, preciso evitar as pessoas o máximo que eu conseguir. Sinto-me como uma bomba prestes a explodir, é meu dever reduzir o número de vitimas que eu vou causar depois que contar para todos... Eles vão me odiar por quem eu sou! Não sei se consigo suportar isso.

Assim que chegamos na festa, eu cumprimento algumas pessoas e me dirijo para a área da piscina, a vista é muito bela, posso ver o oceano e a lua que refletia sua luz na água. Talvez eu precisasse disso, um pouco de tempo comigo mesmo em um lugar tranquilo, onde eu posso pensar em nada e só aproveitar o momento. O vento que bate contra meu rosto é algo tão bom, que eu chego a dar um leve suspiro de alívio. Nesse instante eu me sinto bem, algo que eu não me sinto faz um bom tempo.

Fico admirando o oceano e ouvindo o barulho das ondas quebrando nas pedras por um pouco mais de uma hora, nesse momento já estou sentado na beira da piscina e olhando para frente.

— Ei, porque não está na festa? - Ouço Michele me perguntar enquanto se aproxima.

— Não estou muito no clima! - Respondo olhando para frente.

Ela senta ao meu lado, fica me olhando encarar o oceano e da um sorriso batendo com seu ombro em meu ombro, eu dou um leve sorriso de canto e desço meu olhar para o chão.

— Sai dessa menino, se anima! - Ela me diz.

— Você pode voltar para festa se quiser, eu estou bem aqui! - Digo. Eu não queria ser rude, não foi essa a minha intenção, mas noto que meu tom seco e sem emoção lhe deixou sem jeito.

— Ei, olha aquilo ali... - Michele diz olhando para trás e com um sorriso debochado no rosto.

Acompanho seu olhar e vejo uma menina rebolando encostada na porta, a sua mão que não segura a lata de cerveja, está bagunçando a parte superior do cabelo.

— Acho que alguém está tentando te seduzir! - Michele da uma risada.

— Desse jeito? Acho que não vai rolar - Falo e viro para frente.

— Está acontecendo alguma coisa? - Michele pergunta. Tenho certeza que ela não estava mais se aguentando, era óbvio que eu estava ficando diferente, mas ela tem essa necessidade de querer me ajudar.

Não entendo o motivo das pessoas se importarem tanto comigo, eu sou apenas um garoto comum do Rio de Janeiro tentando viver um dia de cada vez. Ás vezes eu penso que posso estar sendo dramático demais, e por isso eu poupo as pessoas dos meus problemas, porque elas não são obrigadas a ouvir toda essa baboseira...!

— Não! To de boa, de verdade... Só estou cansado... Vou indo para casa, boa festa! - Levanto, abraço-a e me afasto em seguida.

Esse ambiente já não está mais tão tranquilo, e daqui apouco tudo pode piorar, então eu só quero sair daqui agora e ir para minha casa, afinal eu disse que não voltaria tarde.

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Estou deitado na cama desde que acordei, meu apetite continua perdido em algum lugar, minha vontade de fazer alguma coisa parece fazê-lo companhia. Só quero ficar sozinho, no meu quarto, no meu mundo...!

O rosto de Zac aparece em minha memória algumas vezes, estaria mentindo se dissesse que eu não quero vê-lo novamente, depois de tudo que está acontecendo, tenho uma estranha sensação de estar sempre querendo conversar com alguém novo, mas eu tenho que me controlar, nem todos são confiáveis.

Eu me empolgo demais nas minhas novas amizades, há pouco tempo eu conheci um garoto pelo Tumblr, temos conversado muito e sobre muitas coisas... Ele também é Gay caso queiram saber! Eu sinto que com ele eu posso ser quem não posso perto dos meus amigos de infância, não por eu confiar mais nele do que nos outros, mas por ele me entender e sei que não irá me julgar.

Tenho ficado muito vulnerável nesses últimos dias e isso me irrita, eu odeio parecer uma pessoa fraca, eu não posso ser assim.

Minha mãe abre a porta de meu quarto para pegar o prato de comida que tinha levado para mim mais cedo, ela fica abismada por eu não ter comido nem duas garfadas, reclama algumas coisas e bate forte a porta.

Eu não tenho culpa por não sentir fome. Não acho que alguém poderia me entender agora... Sinto como se estivesse afundando em meus próprios pensamentos... Só queria que isso parasse, que essa dor fosse embora e me deixasse viver... Quero me arrastar para debaixo de uma pedra e dormir para sempre!


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