Stay With Me escrita por Fenix


Capítulo 34
Recomeço




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O mundo pode ser um lugar muito cruel, te testando sempre que possível. E se acha que vai melhorar depois de um tempo, está apenas se enganando, pois esse é o equilíbrio, não são os dias bons que mantém o meio termo, e sim a frequência com que eles ocorrem. O problema maior são as pessoas que vivem nesse mundo, aquelas que são tão infelizes com suas próprias vidas que precisam expressar de qualquer maneira o ódio por qualquer outra coisa... Infelizmente o ódio se torna virado para o diferente do "comum". O mundo é de fato um lugar cruel, então, por favor, seja sempre gentil, nunca sabemos pelo o que o outro está passando.

Quando li aquela carta de Zac, eu vi o efeito que a homofobia familiar causa na gente. Eu sei, porque eu vivo isso diariamente e posso dizer o quanto é difícil aguentar todos os comentários e todas as críticas que você acaba sendo obrigado a ouvir vindo de seus próprios Pais. Tantas vezes eu já pensei em acabar com tudo, em parar com essa dor de uma vez por todas e poder finalmente descansar. Mas por mais que eu quisesse fazer isso, vale muito mais apena continuar. Depois que perdi Zac, eu não sinto mais tanta dor... Meu coração já bateu tão forte que hoje já nem sente mais as novas feridas que as pessoas costumam fazer.

Na tarde de Terça-Feira, meu Pai tirou folga no trabalho para poder nos levar ao aeroporto mais tarde. Enquanto minha mãe terminava de arrumar sua mala, fico sentado no sofá da sala assistindo 'Pânico 4'. Meu Pai senta ao meu lado e fica mexendo no celular durante todo o filme, até chegar a hora de uma cena do longa, onde um jovem está sendo atacado pelo assassino e diz algo como "Não pode me matar, existem regras. Eu sou gay, eu sou gay... Sei lá, isso ajuda?" e então é morto pelo assassino. Foi a única cena que meu Pai sentiu prazer de parar o que estava fazendo e olhar para a televisão.

– Tem que matar mesmo, se é viado tinha que levar mais facada essa porra - Ele diz.

Olho de forma tão séria para ele que o deixa um pouco desconfortável. Eu não quero obrigá-lo a gostar de algo, mas ele precisa ao menos respeitar isso. Cada vez que ele diz tal coisa, me deixa com tanta raiva, que às vezes me sinto culpado por sentir vergonha de chamá-lo de Pai. Sempre imaginei a figura paterna aquela que seria o grande herói, aquele homem no qual a criança poderia se espelhar. E é tão ruim saber que eu não o vejo dessa forma... Não sei se estou errado por isso, afinal ele é meu Pai, mas a cada dia isso não passa de um posto que eu não posso mudar.

Eu sei que ele não vai mudar futuramente, esperar que isso aconteça é estupidez. Meu Pai foi educado assim, cresceu e viveu em uma época totalmente diferente de hoje em dia, sua opinião já está formada sobre isso. Talvez se ele apenas não os aceitasse, mas eu não vejo apenas a reprovação nele, eu vejo o ódio pelos homossexuais, eu vejo uma fúria sem igual. Sim, isso me assusta, muito para dizer a verdade. Eu tenho um Pai, até ele saber quem eu realmente sou... E então eu não sei... Eu me pergunto todos os dias se eu realmente pertenço a essa família, a esse mundo, porque a cada instante eu me sinto como um extraterrestre no meio dessa multidão. Eu não sei onde é o meu lugar. Eu acho que tenho que descobrir isso. É, eu sei que não tenho uma resposta fácil. Talvez eu só precise de tempo.

O dia passa e finalmente chegou a hora da grande viagem. Dou uma olhada em meu quarto e pego a prancha em cima da cama, a observo por um tempo em minhas mãos. Sonhei tanto por esse momento e mesmo assim não estou totalmente feliz se não tenho mais você aqui comigo. Coloco a prancha dentro da minha mochila e logo a coloco nas costas. Deus, se puder me ouvir agora, eu só lhe peço para eu esquecer tudo que aconteceu e poder ser feliz por pelo menos esses próximos quinze dias. Eu estou fazem a viagem que esperei a minha vida inteira, e queria poder aproveitá-la a todo o momento. Por favor, eu só lhe peço isso!

– Pipo, vamos! - Aline grita da sala.

Saio do meu quarto fechando a porta e correndo até ela.

– Minha mãe já está lá no carro colocando as malas - Ela diz, saindo comigo de casa.

Chegamos ao aeroporto bem a tempo do voo. Não tivemos dificuldade para achar nossos assentos e foi um tempo agradável até chegarmos em Houston, Texas. Durante o sobrevoo no mar, observo o breu da noite cercar o avião. Vejo o infinito pela pequena janela do avião da classe econômica. Meu medo dessa grande nave foi substituído pela saudade que me deu de você agora. Mesmo não estando mais ao meu lado, você ainda acalma meu coração, me ajuda a organizar meus pensamentos mais confusos e relevar até as brigas mais intensas.

Logo a lua fica visível para mim, e tudo que você disse a respeito dela volta a soar baixinho em meus ouvidos. O sono começa aos poucos e durmo observando aquela grande Lua solitária que brilhava naquela imensidão infinita.

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Esses últimos 15 dias em Orlando foram os melhores 15 dias que eu já tive em toda a minha vida. A alegria de estar na Disneyland é incomparável. Lá as pessoas são extremamente felizes, o ambiente é tão animador que você fica sem saber direito como reagir. Confesso que desde que cheguei em Houston há 15 dias, eu já estava novamente bem próximo da felicidade, pois viajar para o Estados Unidos foi tudo que sempre sonhei e não conseguia acreditar que isto estava realmente acontecendo.

Aquele frio na barriga ao ouvir todos falando inglês, ao conhecer sua cultura e sua culinária um tanto gordurosa. Jamais vou me esquecer desta viagem. Principalmente quando conheci o Mickey Mouse, no Magic Kingdom. Eu não parava de lembrar o que Zac havia me dito sobre ele e cheguei até da um sorriso ao lembrar de suas palavras. E então ele estava ali, o desenho que acompanhou todo o meu crescimento, o ícone dos melhores desenhos do mundo. Sei que é só uma pessoa fantasiada, mas a Disney te faz acreditar em tudo novamente, lá é onde todos os sonhos se tornam reais.

Meu sonho infelizmente chegou ao fim quando voltei para casa. Nós três estávamos muito animados em contar sobre os dias que passamos e mostrar todas as fotos e vídeos. Eu voltei para meu quarto, peguei meu celular e aí lembrei, no meio de tudo isso, como eu queria contar essa história para você, falar sobre cada detalhe, das comidas e dos micos que pagamos... E fiquei triste de novo. Sento na cama e retiro a prancha da mochila para colocá-la em seu devido lugar. A verdade é que a dor nunca sumiu, ela sempre esteve presente na minha vida, praticamente em todos os momentos, mas eu aprendi a conviver com ela. Eu tive que aprender, ou ela me destruiria.

Sabe quando escondem toda a bagunça sob o tapete? Então, a minha eu escondo sob um sorriso. Só espero algum dia me poder sentir inteiro de novo, poder amar novamente e sentir ser amado. Cada dia mais eu penso que continuarei sozinho. Isso nem sempre é carência, ás vezes é tristeza de viver uma vida sozinho, de não ter com quem compartilhar seus melhores momentos, com quem dividir um cinema a dois, com quem ter ao seu lado nos melhores e nos piores momentos. Estar sozinho não me assusta, mas o pensamento de se sentir solitário como eu faço agora, para o resto da minha vida, que me aterroriza.

Volto para sala após minha irmã me chamar. Desço a escada devagar e observo todos no sofá já prontos para verem as fotos na televisão. É engraçado, eu estou apagado por dentro, uma escuridão que vai se alastrando pelo coração a cada segundo, e todos a minha volta pensam que sou feliz, que estou feliz.

Enquanto conversávamos sobre as fotos que iam sendo mostradas, eu apenas tinha flashbacks de tudo que vivemos lá. Desejei tanto que aquela fosse a minha realidade. Após tantos dias ruins, eu finalmente estava me sentindo bem em algum lugar, como se eu sempre pertencesse ali. Não digo na Disney, mas em todo o estado Americano, é como eu sempre sonhei, e podia me sentir em casa pela primeira vez. A nostalgia já bate só de ficar olhando as fotos e aquela imensa vontade de chorar chega a tona, mas consigo contê-la.

Os dias tornam a se passar com mais rapidez e a cada um eu tento me recompor, reorganizo a bagunça que está a minha vida, a minha cabeça e meus sentimentos, se é que ainda os tenho. Respiro fundo antes de começar a arrumar meu quarto e deixo que a música de Sam Smith se torne minha trilha sonora agora. É impressionante o que podemos achar enquanto arrumamos o quarto, e ao meio de toda aquela bagunça eu consegui encontrar os tickets daquele parque de diversões que fui com Zac há meses. Dou um sorriso e sento no chão com os tickets em minha mão e a saudade em meu peito. Aquele dia foi tão bom, só de olhar para esses dois pequenos pedaços de papeis eu já podia ouvir os barulhos dos brinquedos do parque, aquele cheiro de pipoca com manteiga, e tudo mais.

Só continuo sendo forte. Tento não me preocupar. Essa angustia que sinto vai passar, a saudade vai ficar mais fraca a cada dia, e vou me conformar aos poucos. Eu sei que agora parece que o mundo conspira contra você, mas ele gira e em um giro desses tudo pode mudar. Então não desiste, sorria. Você é mais forte do que pensa e será mais feliz do que imagina. O medo a decepção, a tristeza, a raiva são só sentimentos, são só momentos e momentos chegam ao fim. Isso chegará também. Não tem como encontrar a felicidade sem ter passado pela tristeza. Pense nisso, não é hora de se deixar abalar.

Então volto finalmente a escrever, a fazer o que eu mais gostei de fazer em toda a minha vida. Estou enfim voltando para o meu mundo, que já fiquei muito tempo longe. Abri o word novamente. Selecionar as ideias que tenho para começar a escrever é tão bom, é como se você se encontrasse novamente, e eu sempre me acho no meio das minhas histórias. Mas mesmo ainda querendo escrever, algo não estava certo pra mim. Consigo desenvolver um capítulo inteiro, mas não tenho mais aquela sensação boa de poder escrever. Eu quero realmente fazer a diferença, de algum modo eu quero poder fazer algo com aquilo que eu amo. Como John Green, quero poder inspirar as pessoas algum dia, e esse sentimento sempre viveu em mim, mas agora eu cansei de pensar e quero poder fazer algo.

Quero poder ser lembrado mesmo depois da minha morte, quero ser conhecido e não quero só criar histórias aleatórias, quero mudar a vida das pessoas, quero lhes dar força, e mostrar que apesar de tudo parecer que está perdido, não está! Mas ainda não descobri como vou fazer isso, e continuo observando aquela mesma página do word em branco, que me encara todos os dias.

Já estamos próximos do Natal, e chegou aquele momento em que temos que arrumar a árvore de Natal, que eu particularmente adoro. Acordo cedo e já pego a árvore que fica guardada no armário durante todo o ano, esperando para sair sempre na mesma época. Minha Mãe pega os enfeites e enquanto ela dava início ao almoço, eu vou preparando sozinho a árvore de Natal. Não sei bem como explicar, mas essa é a parte do ano que todos estão felizes uns com outros. Não entendo porque algumas pessoas não gostam de Natal, é tão lindo e puro, tão diferente do nosso Carnaval que todos veneram.

– Mãe, cadê a estrela? - Pergunto procurando pelas caixas espalhadas ao redor da árvore já toda enfeitada.

– Ah, ta pelas caixas - Ela responde.

– Não está não!

– Então não sei, Felipe!

Volto para o quarto e vasculho as bolsas que haviam ali. Bom, encontro a estrela, mas ela já estão tão velhinha que nem brilha mais. Caminho até a cozinha com a estrela na mão.

– Nossa, Mãe, vai por isso na árvore?

– Não temos outra, meu filho!

– Eu posso ir ali à lojinha da esquina e comprar uma.

– E quanto ta?

– Não sei, me dá dinheiro e se tiver no valor eu compro.

– E desde quando você quer sair na rua? - Ela pergunta indo pra sala pegar o dinheiro na sua bolsa.

– É o milagre de Natal antecipado - Brinco.

– Toma, vai lá! - Minha Mãe entrega-me o dinheiro e saio de casa.

As casas já estão sendo enfeitadas na rua. Aqui no Brasil não temos neve, ao contrário temos um calor que às vezes é insuportável, mas um dia eu sei que terei meu Natal perfeito, com anjos de neve no chão, bonecos de neve feitos em frente a casa... Bem iguais aos filmes natalinos que costumo assistir. Apesar da vida real não ser como a dos filmes, poucas coisas podem se tornar realidade, e espero que isso seja uma delas.

Entro na loja e procuro pela estrela de Natal que ficaria perfeita na nossa árvore. Ouço dois garotos conversando ao fim do corredor, levo discretamente meu olhar a eles e os vejo com as mãos dadas enquanto escolhiam alguns enfeites de Natal. O que está de boné e de costas para mim, usando uma roupa despojada, segura uma cesta da loja com muitos outros enfeites dentro, e o que usava um short jeans acima do joelho e blusa quadriculada amarrada na cintura, parecia dar seus palpites sobre os tipos de anjos que levariam para a sua árvore de Natal.

Dou um sorriso de canto e fico feliz em saber que pelo menos alguém vai passar o Natal com aquele que o ama de verdade. O de boné olha pra mim e viro-me rapidamente para me afastar, mas como sou desastrado, o botão do meu casaco se prendeu na grade da gaveta onde estavam as estrelas, fazendo-a vir junto comigo. Não sei mais se corro ou se cavo um buraco para enfiar minha cabeça no chão.

Os dois garotos se aproximam para me ajudar, e momentos depois um dos atendentes da loja.

– Desculpa, foi sem querer, é que o meu casaco prendeu e eu.. - Digo agitado.

– Tudo bem, a gente viu que foi sem querer - Diz o atendente.

– Droga - Digo pegando as estrelas do chão.

– Você está bem? - Pergunta o rapaz de boné.

– Sim... Obrigado! - Digo ao levantar com a gaveta.

– Deixa que eu... Eu coloco no lugar - O atendente fala com certo medo de que eu faça outra besteira.

– Eu sei como é isso, também sou estabanado - O de boné comenta.

– Pois é... Então... Até mais! - Afasto-me sem graça.

Vivo com aquela esperança de achar que uma hora vai aparecer alguém, na fila da padaria ou do cinema e até mesmo nessas pequenas lojinhas do bairro, que vai mexer comigo e vai me fazer amar novamente.

Depois de tudo que passei, não sei se sou mais a pessoa certa para alguém. Eu não sou o tipo de pessoa que interessa os outros. Não tenho nada que chame atenção, apenas um coração ferido e quase sem esperança de encontrar uma nova pessoa que realmente se importe comigo. Preciso parar com essa mania boba de achar que tudo vai dar certo, que tudo vai ser perfeito, quando na verdade eu sempre me machuco no final. Convenhamos, ninguém olharia para um garoto que já enfrentou tanta coisa na vida e é tão bagunçado por dentro, mas também ainda espera que algo bom aconteça. Porque eu sou assim, posso estar no meu pior momento, mas meu interior sempre vai ter esperança de algo bom acontecer, e isso é o que eu mais odeio em mim.

Volto pra casa deixando a sacola e o troco em cima da mesa. Sem demora, levo a estrela até a árvore e devagar a coloco no topo. Imaginei isso tantas vezes, já pensei que no futuro eu tornaria isso uma tradição de família, onde todos iríamos por a estrela no topo da árvore juntos. Desço meu olhar tristonho e respiro fundo, pois isso talvez não aconteça!

O mundo tem sido um lugar cada vez mais frio e sem importância, como eu poderia pensar que no futuro distante poderia haver alguém tão doce a ponto de compartilhar isso comigo?

Dirijo-me para meu quarto e deito na cama. Observo o teto enquanto pensava sobre o casal que havia encontrado na loja. A solidão sempre foi a maior das minhas companheiras, e não acho que talvez isso mude. Parece que sigo em frente, mas quando olho para meus pés, sinto como se estivesse numa esteira. Ando tanto e não saio do lugar. Essa sensação de estar preso no mesmo lugar enquanto todos seus amigos estão começando a viver suas vidas, é o que vem acabando comigo. Quanto mais me sinto sozinho, mais sinto falta de Zac, e quanto mais sinto sua falta, mais entendo que ele nunca voltará, e a cadeia de emoções começa a acontecer.

No entanto, eu entendo... Você conhece alguém, se apaixona, e todas as outras pessoas perdem a graça. Você se afasta de todos aos poucos de forma inconsciente, porque encontrou ali tudo o que mais procurava, em um único ser humano. Mas o problema é exatamente esse. Tudo perde o sentido quando esse alguém fica distante. E ninguém sabe se isso vai durar uma noite, ou uma vida inteira. Tentamos aproveitar ao máximo cada momento, pegamos cada gesto para gravar em nossa memória, cada cheiro para que quando sentíssemos novamente pudéssemos reviver os momentos juntos. Sugamos até a última gota de amor... Até não sobrar mais nada. E quando o amor acaba... Meu amigo, essa é a pior parte!

A noite chega devagar, e apenas Aline viu que eu tinha montado a árvore de Natal e logo elogiou tudo que fiz. Ela comenta que Thales fará um churrasco amanhã na casa dele e convidou todos daqui. Não sou muito fã das festas que ele faz e muito menos dos convidados que por sinal eu não falo com nenhum, mas fazer o que?! Não posso ficar em casa, trancado no meu quarto. A vida acontece lá fora e eu preciso acompanhá-la. Não dá pra ficar parado aqui.

O dia passa e eu nunca fiquei tão feliz de ter chegado à madrugada. Aquele momento só seu. Geralmente é quando eu começo chorar. Eu vou para a cama todo dia com 5 livros e uma saudade imensa de você. Ao invés de estar por aí caçando qualquer mala na rua pra te esquecer ou para me esquecer. Porque eu não quero alguém por um minuto, quero alguém que fique ao meu lado, mas esse alguém não ficará no seu lugar, porque o primeiro amor a gente nunca esquece. E não me sinto fraco ou bobo ou perdendo meu tempo por causa disso. Mas hoje não é um desses dias. Aos poucos você vai aceitando melhor as coisas da vida, e substituímos expressões fatais como “não resistirei” por outras mais mansas, como “sei que vai passar”.

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E chegamos ao churrasco na casa de Thales. Coloco um sorriso em meu rosto e finjo estar realmente feliz por estar ali agora, e acredite, sou o mais convincente da festa.

– Olha, o garotão veio! - Diz o Pai de Thales. Nunca gravo seu nome, por isso prefiro chamá-lo de Senhor B., o que sei é que seu nome começa com a letra B.

– É, ele cansou de ficar enfurnado no quarto - Meu Pai o responde.

– Hoje vão chegar várias gatinhas, vamos apresentar a ele.

Dou um sorriso de canto e fico sério na mesma hora, desvio meu olhar para o meu copo de refrigerante em cima da mesa e respiro fundo. É, mais uma noite que era para ser tranquila, vai se tornar a mesma coisa que meus outros dias. Às vezes estamos no meio de centenas de pessoas, e a solidão aperta nosso coração pela falta de uma única pessoa.

– Hoje você vai pegar alguém, né? - Vinícius se aproxima puxando assunto.

– Sério? - Digo.

– Já chegou uma gatinha.

– Então seja feliz com ela.

– Não posso, tenho a sua irmã.

– Então para de encher o saco! - Respondo irritado. Não sou de responder assim, não sei o que houve comigo nessa hora, mas eu estava tão irritado e tão esgotado de todos me pressionando, que eu não consegui aguentar.

É tão estranho carregar uma vida inteira no corpo, e ninguém suspeitar dos traumas, das quedas, dos medos, dos choros. Simplesmente continuam lhe machucando sem se importarem, ou sem saberem. E você continua recebendo todos esses tiros que as pessoas dão, e ainda está ali, de pé, porque essa é a vida. É você se manter em pé até nas piores horas, porque se você cair, você nunca mais vai levantar!

Levanto-me da mesa e vou para a área da piscina. Local com poucas pessoas, a música não estava tão alta e a visão do mar era magnífica. Fico debruçado na parede e observando a paisagem em silêncio. Ao menos por fora, pois aqui dentro está como uma banda de rock soando bem no meu ouvido.

Sinto-me como a única pessoa no mundo que carrega tanta coisa nas costas. Sempre me senti tão amado por todos, tão amigo, e agora não sinto nada além de solidão. Parabéns para você, que tem um sonho. Que não desiste, apesar do que falam. Que não se abala, apesar do medo. Você sim é uma pessoa forte. Já eu... Eu não sei mais o que sou! Imagino demais, e acabo criando problemas que nunca existiram. Talvez seja isso que está atrapalhando minha vida. Esse é o meu maior defeito.

Meu Pai se aproxima ao meu lado e fica um tempo em silêncio esperando que eu começasse a falar, quando na verdade eu já queria é sair dali.

– Você está bem? - Ele pergunta.

– Agora se importa? - Pergunto.

– Vai querer brigar aqui no meio da festa? Eu só quero saber se ta acontecendo alguma coisa errada contigo.

– Não, Hélio, eu estou bem! - Inconscientemente o chamo pelo nome pela primeira vez. Noto apenas quando ele surpreende-se no olhar.

– Você é meu filho homem, me preocupo com você.

– Então me deixa quieto, não quero conversar - Respondo olhando para frente.

– Você precisa se aliviar... - Ele continuar a dizer. Reviro meus olhos respirando fundo - Não faz isso, fica parecendo uma... Um treco!

– Pra que você veio aqui mesmo?

– Tem várias meninas lá na festa e você aqui. Vem, o Vinícius disse que até te ajuda a falar com uma delas.

– Não, obrigado!

– Vem! - Ele segura meu braço.

– Não! - Puxo meu braço com tanta força que deixa a marca de seus dedos em meu punho.

– Depois nós vamos ter uma conversa muito séria - Ele sai dali irritado.

Meu coração está tão acelerado que mal consigo respirar direito. Minha cabeça parece estar girando, minhas pernas levemente dormentes e meus olhos começando a se encherem de lágrimas. Seco-as, não vou chorar mais. Cansei disso, há meses venho repetindo: Hoje não é o meu dia. E pelo menos uma vez eu quero que as coisas deem certo pra mim. Mas não posso mais aguentar o jeito que falam comigo. Cansei de pedir desculpas pelo jeito que ajo. Cansei de ouvir dos outros como devo fazer, viver, conversar e agir. Não vou me martirizar e tentar ser diferente pra fazer alguém se sentir melhor. Eu vou ser isso aqui mesmo, e que se dane a opinião alheia. Se eu tô feliz, tá tudo certo, não vou me incomodar com mais nada e nem ninguém. Não é egoísmo. Só descobri que, de tanto você pensar nos outros, acaba esquecendo de si.

Dizem que a gente tem o que precisa. Não o que a gente quer. Porque você vai ser feliz, mas antes a vida vai te ensinar a ser forte.

Saímos da festa já de madrugada e volto no carro com Aline, o que foi bom por um lado, ter emprestado o carro para Thales voltar pra casa no dia anterior, assim não preciso voltar com todos puxando assunto sobre a noite, e principalmente não preciso voltar com meu Pai. Apenas eu e Aline no carro, um momento tão bom e tão tranquilo... Que durou somente até a chegada no portão do condomínio. Meu Pai entrou no carro sentando-se no banco de trás.

– Ué, o que você ta fazendo aqui? - Aline pergunta.

– Ah, eu prefiro vir com vocês! - Ele diz, levemente enrolado, de forma que se você não o conhece acredita que está normal. No entanto eu sei quando meu Pai não está bem, nem mesmo após beber tanta cerveja. Ele está bêbado, e provavelmente já discutiu com minha Mãe no carro e por isso veio pra cá.

Respiro fundo e ligo o rádio do carro. Ficamos quietos durante uma boa parte da viagem para casa. Meu Pai puxou assunto com Aline sobre a festa e tratou-me como se eu não estivesse ali, não sei como poderia agradecê-lo por isso.

O engarrafamento era inevitável. Olho o mar que corria por debaixo da ponte e os cruzeiros que navegavam em direção à alto mar. Eles brilhavam naquela imensidão que já não era mais azul, está mais para um preto.

– E o emprego, Felipe, ainda está procurando? - Ele pergunta.

– Aham! - Respondo com meu olhar para o lado.

– Me manda seu currículo para eu mandar pra menina que trabalha comigo.

– Ta!

Ele fica quieto por um tempo, percebe que eu de fato não queria ficar conversando. Não sei, é de mim, às vezes só quero ficar em silêncio, pensando, ou só viver em paz comigo mesmo. Esses são momentos tão únicos, que eu deixo a tranquilidade tomar conta de mim.

– Aline, você sabe que tinha uma menina tava querendo conhecer o Felipe e ele nem foi falar com a garota? - Meu Pai comenta.

– Por quê? - Ela pergunta.

– Ele é um bobão mesmo - Ele acerta-me um soco no ombro. Não foi a intenção de socar-me forte, mas por estar alcoolizado, não tem noção de sua força. Na mesma hora eu senti uma dor razoavelmente forte. Trinco os dentes para não dizer nada e manter- me quieto.

– Ah, não custava nada ir lá falar com a garota, às vezes nem fosse rolar nada - Ela comenta.

– Eu não consigo entender seu irmão - Ele bate novamente em meu ombro.

– Ei, pode parar de me socar agora! - Digo irritado.

– Ih, que isso, Felipe? Vai ficar falando assim comigo agora? - Ele diz completamente nervoso - Porra, eu to brincando com você.

– Ta, mas não precisa ficar me batendo - Respondo, sem encará-lo um segundo se quer.

– Eu posso fazer o que eu quiser, eu sou seu Pai. Que merda, eu queria tanto um filho homem para poder brincar e ficar do meu lado, e você só sabe me colocar pra baixo, só sabe me esculachar!

Por um instante eu pensei que ele fosse chorar de tanta raiva que sentia agora. E pela primeira vez meu coração não se acelerou mais. Não senti medo, não fiquei com pena, apenas continuei olhando para onde estava e esperando que ele terminasse de falar.

– Eu não te entendo... Você nunca se importou com nada nessa merda de vida, você só sabe fazer aquelas historinhas ridículas que ninguém se importa, que ninguém lê, você acha que isso é futuro? Você nunca vai ganhar nada com isso. Eu to aqui, querendo te ajudar sempre, tentando ser o melhor Pai que posso, e você nunca me dá valor. Nunca pensou em fazer nada pra me agradar, você nunca quis me dá um pouco de orgulho...

– Não esquenta, deixa ele falar - Aline fala baixo para que somente eu pudesse ouvir.

– Você anda esquisitinho pra caralho. Cheio de "não me toque", porra...

– Você que está chato - Respondo.

– Felipe, para! - Aline diz - Deixa falar!

– Olha, eu vou te largar de mão, eu vou parar de me preocupar com você, garoto. Você vai se ferrar comigo. Eu estou sempre querendo o melhor pra você... Eu vou parar, eu tenho que parar de ser esse Pai tão bondoso que sou. Espera só! - Ele diz.

Não foi como se não tivesse dito nada. Sim, doeu, mas menos do que costumava doer. Talvez eu já esteja acostumado, ou só não ligue mais para a opinião dos outros. Só sei que fiquei bem, não escorreu lágrima por meu rosto, mantive-me calado até chegarmos em casa. Tranquei-me no quarto e por ali fiquei até a manhã do dia seguinte.

E então, antes que pudesse descansar minha cabeça no travesseiro, meus pensamentos gritam em minha mente e a saudade de você volta a tona. Não aguento mais conviver com isso dentro de mim. Não vou finalmente poder me acostumar com a ideia de não ter você se eu não desabafar de alguma forma. E o único jeito que tenho para fazer isso é ficar escrevendo. Mesmo que ninguém leia, mesmo que critiquem, mesmo que ninguém nem se quer saiba da minha existência, eu só preciso mostrar que ninguém está sozinho nesse mundo. Na verdade, não sou muito bom com as palavras. Sinto-me muito tímido e nervoso. Guardo tudo para pôr no papel, todos os meus sentimentos mais profundos e guardados. Pela primeira vez eu vou criar uma estória que não é apenas uma ficção, vou fazer algo que eu realmente possa me expressar.

Como você disse pra mim uma vez, Zac, nossa história precisa ser lida. Pego meu notebook e coloco-o em meu colo, observo a tela do Word em branco em minha frente e pela primeira vez em muito tempo, eu sei o que eu verdadeiramente quero escrever. Eu quero usar isso para poder passar uma mensagem, e não ser simplesmente mais uma estória que já criei. Tudo bem se não acreditar em tudo que eu escrevi, e eu não sinto necessidade de explicar, simplesmente porque o meu coração sabe o quanto foi real. Quando penso em você, não posso evitar um sorriso, sabendo que você me completou de alguma forma.

Quis voltar para onde tudo parou e tentar fazer de lá um novo começo. Um recomeço qualquer, mais bonito, diferente, sem os erros do passado. Mas percebi que inevitavelmente o tempo passa e as lágrimas secam e você começa a se reerguer devagar. Então, sem tentar fazer força, você olha o que restou depois de toda a tempestade. E começa uma nova história. Do zero.

As palavras e memórias se tornam meu combustível e deixam de ser aquilo que me matava lentamente todas as noites. Aos poucos o primeiro capítulo vai se formando bem diante de mim, e todo aquele peso que sentia em meu peito, aquelas correntes que apertavam meu coração, vão se soltando e sumindo devagar. Porque escrever é dizer aquilo que de outra forma não poderia ser dito.

Claro que eu tinha momentos de felicidade. Mas ninguém é feliz o tempo todo. Ser feliz não é uma característica estática, como ser loiro ou moreno. Eu posso estar feliz agora e no segundo seguinte não estar mais. Acho que nós mesmos encontramos a felicidade por nossa conta, do nosso próprio jeito. Apesar da dor que as pessoas nos causaram. Porque isso vai passar, sempre passa. Só que antes de passar maltrata. E, entenda, a pior dor é aquela que ninguém vê. Eu chorei. Chorei muitas vezes. Ainda choro, pra ser sincero. Mas eu sempre supero. É uma característica minha, eu sempre tento arranjar forças de algum lugar, pois eu sei como é se sentir no fundo do poço. Eu estive lá uma vez... Lá não é um bom lugar pra se estar! Acredito que quando uma pessoa chora sem motivo, é para aliviar todas as vezes que ela engoliu o choro e colocou um sorriso falso no rosto.

Um dia espero que alguém venha me abraçar tão forte que vai juntar todos os meus pedaços. Se algum dia eu encontrar uma nova pessoa, só quero que saiba que eu não vou te pedir nada. Não vou te cobrar aquilo que você não pode me dar. Mas uma coisa, eu exijo. Quando estiver comigo, seja todo você. Corpo e alma. Às vezes, mais alma. Às vezes, mais corpo. Mas, por favor, não me apareça pela metade. Não me venha com falsas promessas. Eu não me iludo com presentes caros. Não, eu não estou à venda. Eu não quero saber onde você mora. Desde que você saiba o caminho da minha casa. Eu não quero saber quanto você ganha. Quero saber se ganha o dia quando está comigo. Não se iluda comigo, eu não tenho nada demais pra oferecer além de sentimento. Para alguns é nada, para outros é tudo. E pra você, serve?

Eu acho que toda vez que amamos alguém é diferente. Você pode amar tantas pessoas durante sua vida, mas sempre que conhece alguém é como se nada ou ninguém pudesse se comparar com aquele sentimento. Posso amar infinitas vezes, mas Zac sempre será meu primeiro amor.

Saiba que o mundo quebrará seu coração em milhares de formas diferentes. Quando menos esperar, e não há como fugir. Acredite, eu já tentei. Fugir, fingir que nada vai acontecer não impede, só adia. Adiar a dor só a deixa pior. Ainda preciso de alguém, de alguém que goste de cada defeito, que ache que os defeitos são tão importantes, que precise deles, de mim, como um todo, ainda quero alguém que não ache minha risada estranha demais. Que me abrace e que me ame. Eu quero alguém que precise de mim. Eu quero alguém pra me amar como eu sou. Eu sou da geração do romantismo. Não finjo sentimentos, se eu amo, amo de corpo e alma. Não brinco com o coração das pessoas, pois sei o quanto dói uma decepção ou a perda de alguém que amamos. Não prometo algo em vão e nem digo um 'eu te amo' se não for verdadeiro. Esse sou eu, esse é o Felipe que poucos têm a chance de conhecer.

Sei que às vezes sumo sem avisar, mas entenda, leva tempo para me colocar no lugar, absorver tudo que tenho passado e ainda de tudo isso ter que tirar motivos para continuar.

Eu sei que um dia eu vou conseguir virar totalmente a página, vou conseguir seguir em frente e deixar as coisas tristes do passado para trás. Mas mesmo daqui a 50 anos eu ainda vou saber seu nome e vou me lembrar de todas as vezes que você me fez sorrir. Porque a vida segue. Mas o que foi bonito fica com toda a força. Mesmo que a gente tente apagar com outras coisas bonitas ou leves, certos momentos nem o tempo apaga. E a gente lembra. E já não dói mais. Mas dá saudade. Uma saudade que faz os olhos brilharem por alguns segundos e um sorriso escapar volta e meia, quando a cabeça insiste em trazer a tona, o que o coração vive tentando deixar pra trás.

Termino de escrever um texto na folha final do meu caderno da faculdade e respiro fundo. Obrigado, Zac, por me mostrar que eu posso fazer as coisas do meu jeito. Eu ainda não sei como eu poderia te agradecer após tudo isso.

– Felipe, seus amigos chegaram! - Minha Mãe diz abrindo a porta do meu quarto.

– Diz que já to descendo! - Digo com um sorriso de canto e volto minha atenção para a folha.

É isso, essa é a carta que podia mudar a minha vida um dia. Retiro a folha do caderno, a dobro e coloco dentro da minha gaveta, debaixo das blusas. E quando esse dia chegar... Seja o que Deus quiser. Seja o que o universo disser. Espero que as notícias sejam boas.

– Não esqueceu nada, certo? - Narayani pergunta em pé ao lado da porta da sala.

– Não - Digo com uma risada baixa - Mãe, estamos indo!

– Tudo bem, divirtam-se!

Caminhamos para a rua, onde Joe está esperando no carro com Carol e Ana.

– É bom fazer isso com você de novo - Ana diz com sorriso tão alegre que me fez sentir-me bem de novo.

– É... Vai ser bom me divertir um pouco! - Digo.

E voltamos para aquela praia que poucos conheciam, mas que já está começando a ser frequentada por alguns turistas e poucas pessoais locais. Estendemos as cangas na areia debaixo da sombra das árvores e observo todos tirarem as roupas e ficarem de trajes de banho.

– Você não vai pra água? -Carol pergunta.

– Vou, só... Vou daqui apouco - Respondo.

Eles caminham pra água e Narayani fica encarando.

– O que foi? - Pergunto.

– Você não veio pra ficar na areia, né?

– Eu vou pra água, eu juro.

– Felipe, se for por causa de ficar com vergonha de ficar sem camisa, você é bonito, só tem que parar de pensar assim...

– Não... Eu só quero ficar aqui um tempo... Quero aproveitar a vista. Eu vou entrar na água, só quero uns segundos aqui - Digo.

– Ta bem... - Ela agacha ao meu lado - Ei... - Olho para ela - Você vai encontrar uma pessoa certa, embora não exista a pessoa certa. Mas você vai encontrar a sua pessoa, e é ela que importa.

– Eu acho que eu já encontrei essa pessoa uma vez... - Digo respirando fundo.

– Não, você encontrou o início de uma grande história. Ele pode ter sido único pra você, e nada vai mudar isso, mas não quer dizer que você perdeu a sua chance de ser feliz.

– Eu sei, eu sei disso - Digo.

– Então vamos lá... Vou te esperar na água!

Ela abraça-me antes de correr em direção ao mar. Então eu finalmente me senti em casa dentro de mim. E hoje mais do que nunca, sinto que não devo nada para ninguém. A gente demora demais para se livrar de pesos e culpas. Mas um dia, finalmente, a gente acorda. E descobre que tem uma vida inteirinha pela frente. Você pode sonhar com o que você quiser. Vá para onde você queira ir. Seja o que você quer ser, porque você possui apenas uma vida e nela só temos uma chance de fazer aquilo que queremos. Tenha felicidade bastante para fazê-la doce. Dificuldades para fazê-la forte. Tristeza para fazê-la humana. E esperança suficiente para fazê-la feliz.

Aprendi que não importa onde você parou ou em que momento da vida você cansou. Recomeçar é dar uma nova chance a si mesmo. É renovar as esperanças. E eu pergunto: sofreu muito nesse período? Foi a dor do aprendizado. Chorou muito? Foi a limpeza da alma. Ficou com raiva das pessoas? Foi para perdoá-las. Acreditou que tudo estava perdido? Era o início da tua melhora.

É verdade que, um dia, todos vão te abandonar. Isso é uma certeza, mesmo que não por vontade própria, mas pelas garras da morte, te deixarão sozinho. E você vai ter que lidar com isso, seguindo em frente, procurando novos confortos. Tudo que restarão serão lembranças de pessoas que um dia estiveram do seu lado, seguraram a sua mão, limparam as suas lágrimas. As memórias ficam. Ficam, porque não foram feitas para serem substituídas. No seu coração, mesmo quando você olhar pro lado e não encontrar ninguém, uma voz vai sussurrar “confio em você”. Mesmo sem entender, você vai acreditar naquilo. Sem medo, sem dúvidas. Mesmo que as pessoas te abandonem, deixem de viver nesse mundo, no coração elas sempre viverão. Eu realmente acredito que, embora o amor possa ferir, ele também seja capaz de curar.

Uma vez eu disse que viver não tinha mais significado e teria que lutar muito por um momento de felicidade, mas na verdade eu estava enganado. Durante toda essa luta você faz suas conquistas, faz seus dias de glória. Para quando os dias ruins chegarem - e eles vão chegar - você vai se lembrar daqueles momentos bons e seguirá em frente. Porque simplesmente vale a pena!

Olho para o lado e avisto um grupo de amigo, assim como os meus. Entre eles, um casal de garotos que está sentado na areia. Todos conversam animados e um dos rapazes do grupo tinha até um violão. Fechei os olhos e meu coração enxergou você, naquele instante perdi o ar por alguns segundos e minha alma sorriu, antes mesmo que meus lábios pudessem demonstrar. Eu estava perdido em um mundo de estranhos, ninguém para confiar. Até que então você de repente apareceu e mandou embora todo o medo. Você me trouxe de volta à vida, me ajudou a entender que o amor é a resposta a tudo que eu sou. Você ensinou-me compartilhando sua vida, você me deu força quando estava fraco. Você me deu esperança quando a esperança estava perdida. Você abriu meus olhos quando eu não podia ver. Você foi e sempre será tudo pra mim.

Diga tudo o que você sempre quis, não tenha medo de quem você realmente é, porque, no final, temos um ao outro, e isso é pelo menos uma coisa pela qual vale a pena viver. Você deveria falar pras pessoas o quanto elas são importantes pra você. Não porque elas podem partir a qualquer momento, mas porque isso sim é uma coisa que vale a pena ser dita.

A verdade é que ninguém nunca esquece alguém completamente. Sempre tem memórias e lembranças que nos dão vontade de voltar no tempo, nem por um segundo que seja, só pra poder viver aquele momento mais uma vez. Vão se passar 5, 10, 50 anos. Então alguém vai falar o nome dele. E você ainda vai saber quem é. Suas manias. Dos risos. Mesmo que seja passado, você sempre vai sentir falta dele.

Eu não sei se algum dia alguém vai ler essa história, mas eu senti que eu deveria contá-la pra mostrar que se você estiver passando pela mesma coisa, ou por algo pior, quero que saiba que você é mais forte do que pensa, mas só se quiser ser. Você ainda vai chorar, ainda vai ter momentos em que vai achar que não consegue continuar. Mas você tem que acreditar que vai conseguir. Pois essa seria apenas mais uma história, se não tivesse tocado a alma.

Acredite, não adianta muito você se enfeitar todo pra uma pessoa gostar de você. Porque, se ela gostar, vai gostar de qualquer jeito, do jeito que você é mesmo, sem brilhos falsos. Alguém sempre vai ser mais bonito, alguém sempre será mais esperto, alguém sempre será mais jovem, mas eles jamais serão você. Não mude para que os outros passem a gostar de você. Seja você mesmo e as pessoas certas vão amar quem você é de verdade. Porque não se pode amar o que não se conhece.

Pela primeira vez, do fundo do meu coração, tenho um orgulho absurdo de ser quem eu sou. Não vou dizer que é fácil, e que nunca deu vontade de desistir, mas vale muito mais a pena continuar.

Um conselho, se você amar alguém, se gostar realmente da pessoa ou está começando agora, não perca seu tempo. Faça tudo que quiser fazer, surpreenda. Mostre a essa pessoa que você é especial e o quanto ela é especial pra você. Eu sei como é gostar de uma pessoa e não saber como agir, não saber o que deve ou não dizer e até mesmo se é a pessoa certa pra você. Isso é a pior coisa que pode acontecer, pois você nunca sabe se pode ir adiante ou se deve recuar, é um corredor escuro e você não sabe se já chegou ao fim ou não.

Levanto-me da areia e retiro a blusa ignorando toda a minha timidez. Respiro fundo e observo uma borboleta amarela pousar em cima do meu celular. Do um sorriso de canto e viro-me para a água, observo todos juntos conversando enquanto nadavam. É, eu espero que um dia as coisas dêem certo pra mim, eu só não quero ter que esperar muito tempo, porque nunca sabemos o dia de amanhã.

Caminho para a água e de repente a borboleta amarela cruza meu caminho. Pode parecer loucura, mas ela me acompanha até chegar à beira do mar. Dizem que as borboletas não conseguem ver suas próprias asas. Elas não conseguem ver o quanto são verdadeiramente lindas, mas todos os outros podem ver. As pessoas também são assim. Eu sou assim.

E são nesses fins que encontramos nossos meios pra recomeçar. E meu recomeço começa com poucas palavras, que se tornaram um capítulo inteiro e espero poder mostrar ao mundo algum dia. Dou um sorriso de canto olhando para a tela do notebook, pela primeira vez em muito tempo, eu criei algo que me fizesse sentir bem, que pudesse talvez, inspirar e aconselhar outras pessoas... Que talvez, pudesse fazer a diferença. Nenhum outro nome pode retratar melhor a nossa história a não ser o que eu pensei a todo o momento que eu estava com você... Stay With Me.

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CRÉDITOS:

Aqui estão alguns autores, cantores, e etc... Que me inspiraram tendo pedaços espalhados de suas obras pela fic.

Fabrício Carpinejar.

Clarissa Corrêa.

Orquestrando.

Sean Wilhelm.

Michael Jackson.

Britney Spears.

Sam Smith.

Jéss Braga.

Caio Fernando Abreu.

Nicholas Sparks.

Hélder Mariano.

Clarice Lispector.

Tati Bernardi.

Caio Augusto Leite.

Romantizar.

Incógnita.

Cibele Sena.

O diário de Giulia Scarlett.

Querido John.

October, 1808.

João Pedro Bueno.

Amorteamo.

Cambaleei.

Charles Bukowski.

Poesografa.

Luis Fernando Veríssimo.

Carlos Drummond de Andrade.

Recontador.

A Garota Lennon

House.

Rashid.

Fazendo meu filme 4.

K. Shibahara.

Um Homem de Sorte.

Peter Pan.

Coldplay.

Crime of Words.

Para Sempre Katharine.

Mario Quintana.

Allax Garcia.

Fabrício Carpinejar.

Históricas.

Irrefutáveis.

Elizabeth, a menina dos olhos vendados.

Quem é você, Alasca?

Camila Costa.

Rafaela Rocha.

Juliana Aquino.

André Ferreira.

Robin and Stubb.

Cidades de Papel.

O Pequeno Bob.

Memoriarei.

A Menina Que Colecionava Borboletas.

Débora Cordeiro.

50 Tons de Cinza.

Los Hermanos.

Love, Rosie.

Demografar.

Elisa Bartlett.

A última Carta de Amor.

Come back Esteban .

Recontador.

A Garota Lennon.

Fernanda Gomes.

Selena Gomez.

Sarah Mendes.

Michele Valentim.

Luana Emi.

Kiera Cass - A Elite.

Meu primeiro amor, Aluiu.

August 1st, 1991.

A Solidão de James.

William Shakespeare.

Maria Carolina.

Cambaleei.

João Pedro Bueno.

Cartas dos Derrotados.

Gean Carlos.

Lucas Gomes.

Titanic.

Mateus Yoshitani.

Passenger.

Cinzas de Anjo.

Junior Lima.

A Teoria do Caos.

Machado de Assis.

Motivando.

Diário de uma Paixão.

Together In The Distance.

Meu Pé de Laranja Lima.

Wilian Plantz.

O diário de Giulia Scarlett.

Deprimente.

Escritora de Luar.

O Teorema Katherine.

The Vampire Diaries.

Sutilize.

Taylor Momsen.

Jéss Braga.

Alicia Keys.


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Notas finais do capítulo

Eu espero que tenham gostado do final dessa grande trama que ficamos acompanhando por pouco mais de 1 ano.
De coração, eu quero agradecer principalmente a todos que comentaram em todos os capítulos, que me apoiaram, que enviaram MP, recomendaram, divulgaram no twitter, em páginas do Facebook, vocês são incríveis! Não tem como agradecer por tudo que vocês fizeram.
Bom, acredito que em 2017 por ai eu faça uma continuação de 'Stay With Me', seguindo a vida do protagonista até os dias atuais. Vamos aguardar!
Para ficarem atentos as novidades, basta entrar nesse site http://felipemoficialsite.wix.com/fan1

Obrigado por tudo, e até a próxima!



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