Stay With Me escrita por Fenix


Capítulo 32
E Se...




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Deito na cama com os olhos vermelhos e inchados de tanto chorar, meu nariz entupido e minha mente a mil por hora. Não consegui ler a carta inteira, foi demais para que eu pudesse aguentar. Eu sinto muito, Zac, eu falhei com você de novo!

Ainda não estou preparado para esse ponto final em nossa história. Esquecer você seria perder a minha identidade, minha personalidade, apagar a melhor parte da minha vida. Tudo isso porque te amei e sempre vou te amar! Lágrimas rolam no rosto, quando você perde algo que não pode substituir. Esta coisa terrível de não ter ninguém pra ouvir o meu grito, no entanto qual o objetivo de gritar se ninguém está nem aí?

“Saudade"Palavra tão pequena para um sentimento tão grande, que não tem como descrever o quanto estou sentindo sua falta. Arrumo minha cama enquanto suas palavras não saiam de minha cabeça. Ainda é cedo, apenas nove e meia da noite, mas tudo que quero agora é que esse dia termine o quanto antes. E quando peguei a prancha de pelúcia que tinha caído no chão, senti que nada mais será como antes, muito menos eu. Você é o único de quem eu lembrarei todas as noites e isso me mata todas às vezes.

Deito-me na cama, me esquento debaixo dos edredons e fecho os olhos que se encheram de lágrimas. E dói, porque você sabe que não vai ter quem substitua toda essa dor. E você sente falta. E a vontade de chorar vem. E você só pode respirar fundo e segurar as lágrimas, para não perceberem o quanto você é fraco.

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Após tanto relutar, consigo dormir depois de conferir o horário no celular. Duas horas da madrugada, esse foi o horário que enfim cheguei ao que dizem esgotamento emocional. Não conseguia mais chorar, pensar, ou agir... Era como se meu corpo estivesse ali, mas meu cérebro se desligou para se recarregar. Talvez nem ele aguente mais tanta coisa aqui dentro!

Acordo meio sonolento e não tenho forças para levantar da cama. Meu corpo está quase que pressionado contra o colchão, sinto minhas emoções sendo destruídas aos poucos pela tristeza que vem me consumindo gradativamente.

Depois de alguns minutos na decisão de levantar ou não, arrumo-me no banheiro e volto para o meu quarto.

– Pipo! - Aline me chama antes que eu bate a porta do quarto.

– Que? - Pergunto.

– Vem cá!

Bufo jogando minha roupa na cama e desço a escada devagar.

– O que é? - Lhe questiono novamente.

– Quer me ajudar a lavar o carro?

– Sério? - Lavar carro é a coisa mais chata do mundo, eu particularmente detesto.

– Por favor, custa nada.

– Ta bem! - Reviro meus olhos e aceito. Posso não querer fazer nada hoje, e lavar carro é o que eu menos quero, pode ter certeza, mas não a deixaria fazer isso sozinha - Quando for lavar me avisa.

– Aham.

Meu celular toca enquanto volto para o quarto. Michele me ligava pela primeira após nem querer ao menos saber como eu estava após Zac ter ido para São Paulo. Ela sabe o que aconteceu com ele, acredito que esteja me ligando para saber como eu estou. E então, eu me surpreendo ainda mais com ela. Durante toda a conversa ela nem se quer me perguntou se eu estava bem ou se precisava de alguma ajuda. Só interessava o maldito trabalho que a professora havia passado na sala de aula e ela tinha feito dupla comigo.

– Eu não quero reprovar nessa matéria, você tem que fazer a peça que a professora pediu! - Eu nunca pensei que ela fosse agir assim algum dia. Essa é realmente a Michele que eu conheci e que chamava de amiga?

Eu disse que estava passando por alguns problemas agora e que iria fazer no final de semana. Sem se queixar muito, ela aceitou e finalizou a ligação. Não, ela nem se quer perguntou nada... Simplesmente não se importou. Estou um pouco abismado, talvez bastante surpreso com a forma que ela agiu, porque isso? Eu só me sinto tão mal agora. O problema da decepção é que ela sempre vem de quem não esperamos.

Queria não esperar tanto das pessoas, principalmente aquelas que são tão próximas a mim. Cada vez mais sinto como se eu estivesse sobrando aqui. Como se não fosse nada, além de uma pessoa ocupando um lugar no espaço, que se eu sumisse ninguém sentiria falta, nem ao menos iriam perceber.

Deito em minha cama, o único local onde eu ainda pertenço e sinto-me em casa. Meu quarto sempre foi meu mundo, nele posso compartilhar qualquer tipo de emoção, até mesmo a dor mais sofrida que eu sinto agora. É tão difícil continuar sem ter algo que te motive a isso. Eu perdi tudo, perdi a pessoa mais importante que já conheci, estou perdendo amigos que achei nunca perder. Eu não sei, às vezes parece que eu carrego o peso do mundo dentro de mim, e isso vem me sufocando.

Ao menos aprendi que quando você esta pra cima, seus amigos sabem quem você é. Quando você esta pra baixo, você sabe quem são seus amigos.

Só desejo agora aquele seu abraço quente, que acalmava até os oceanos mais turbulentos, que fazia-me sentir protegido. Zac, não poderia nem tentar dizer o quanto sinto sua falta, porque por mais que eu tentasse ainda não seria o suficiente. Algumas pessoas podem até achar que é uma coisa insignificante, uma dor desnecessária. Mas você não sabe como uma coisa insignificante pode acabar com o mundo de alguém.

Passo algumas horas olhando para o teto do meu quarto, sem chorar, sem pensar, apenas deixando minha mente vagar por algum canto desconhecido da Terra. Tenho medo de pensar, isso vem acabando comigo ultimamente.

– Pipo... - Minha irmã me chama com aquela voz doce e calma ao abrir a porta do meu quarto - Vamos?

Acentuo levantando da cama indo até a mesa do computador para pegar meu boné e vou ajudar minha irmã a lavar o carro. Descemos a escada e vou até a área de serviço para pegar o balde e as outras coisas.

– Ele vai te ajudar mesmo? - Minha Mãe pergunta surpresa.

– Sim! - Aline responde com um sorriso.

– É bom, não faz nada pra ninguém mesmo - Minha Mãe diz alto para que pudesse escutar.

Respiro fundo e saio dali. Vou com Aline até o lado de fora da casa, onde seu carro estava estacionado na calçada.

– Você prefere o que, enxaguar ou ensaboar? - Ela me pergunta.

– Tem a opção de voltar pro meu quarto e ficar na cama? - Pergunto.

– Não! - Ela diz, largando algumas coisas no chão.

– Ta bem, eu enxaguo - Digo bufando e pegando o balde.

Caminho até a torneira ao lado da casa e espero o balde encher enquanto observa as pessoas na rua, não tinham muitas pessoas, apenas algumas que passavam por ali sempre mais atentas ao celular. Fico observando seus jeitos, e pensando que talvez essas mesmas pessoas que passam pela gente na rua, também podem estar lidando com problemas sérios. Às vezes esbarramos em alguém e nem se quer pedimos desculpas, mas não chegamos a pensar que a outra pessoa também pode estar num dia ruim. Comigo, as pessoas não querem saber o porquê eu estou triste, calado, e cada vez mais distante, isso pra elas é algo passageiro. A questão é que sempre julgamos as cicatrizes, mas nunca nos perguntamos o motivo delas.

Eu só queria alguém para conversar agora. Alguém para dividir o que eu sinto, de bom e triste. Quando olho em minha volta, não vejo ninguém, estou sozinho. Narayani estaria volta ao Rio de Janeiro neste final de semana, isso me conforta um pouco, tê-la por perto vai ser bom pra mim. Preciso disso, preciso de alguém de cofiança e que me entenda, que saiba de toda a história e esteja disposta a ajudar.

Volto para o carro após encher todo o balde e derramo tudo no capô do carro. Repito isso inúmeras vezes, tantas que cheguei parar de contar.

– E então, como está a faculdade? - Aline puxa assunto enquanto ensaboava a porta do carro e eu enchia o balde.

– Está indo bem... Esse período está bem puxado! - Respondo.

– É só ficar focado nos estudos.

– É! - Digo, respirando fundo.

– E as meninas na sala, alguma que chame sua atenção? - Ela pergunta como quem não quer nada. Mas o engraçado é que não vejo nenhum preconceito se quer vindo dela, seu tom foi tão natural quanto um piscar de olhos. Ela não perguntou para me pressionar ou algo do tipo, simplesmente perguntou como uma boa irmã querendo saber mais sobre mim.

– Hm... Não! - Minha resposta soa rápido da minha boca - A maioria tem namorado.

– Que merda hein - Ela diz com uma leve risada.

– Pois é - Volto até ela e enxaguo a porta.

– Mas e você, Pipo, nada ainda?

– O que? - Digo dando um sorriso tímido.

– Ah, você sabe, nunca fez nada? - Ela ri, provavelmente por que eu fiquei vermelho com essa pergunta.

– Não, as coisas estão complicadas pra mim, Kinha - Respondo chamando-a pelo apelido carinhoso que apenas eu a chamava. Lembro-me de uma vez que meu cunhado foi chamá-la assim e ela disse que o único que podia achá-la com esse apelido, era eu.

– Ai Pipo, você precisa ser mais ágil, sair mais... - Ela diz - Fica muito dentro de casa... Mas acho que o maior problema é que você é muito tímido.

Dou uma risada abafada apenas para dizer que ainda estou ouvindo-a durante meu traje até a torneira.

– Você tem que experimentar as coisas, nossa... Não sei como você consegue... - Sua risada me tira um leve sorriso, aquele que eu costumava dar antes.

Volto com o balde extramente pesado, parece que tinha pedras ali dentro.

– Mas sério, nunca beijou ninguém? - Ela pergunta - Pode falar, eu não falo pra ninguém. Isso é um assunto nosso.

– Aline! - Falo por entre um sorriso tímido.

Ela fica quieta enquanto terminava de lavar a traseira do carro. Não, eu não me importo com ela fazendo essas perguntas, não vejo maldade nela. De todas as pessoas que moram comigo, Aline é sempre aquela que tenta resolver os problemas, que entende o lado dos outros e não julga ninguém. Às vezes ela pode até ficar do lado de um ou do outro, mas jamais para condenar a pessoa.

– Você vai no casamento da Fernanda? - Pergunto.

– Vou!

– Eu não sei se vou, estou meio sem vontade.

– Ah, Pipo, vai ser legal.

– Vou pensar!

– Minha Tia também vai, ai a gente pode falar sobre a velharia na festa - Ela diz antes de uma risada - Quem vai comentar comigo? Ai, não quero ficar comentando só com a minha Tia não!

– Tadinha da Tia Rita - Digo aos risos - Ta, eu acho que eu vou.

– E também, quem vai dançar comigo? O Thales não fica dançando muito.

– Olha, isso é pressão psicológica.

– Aham! - Ela afirma com a expressão mais convencida do mundo.

Dou uma risada e volto a ajudá-la a lavar o carro.

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Estou deitado no meu quarto, observando o word aberto na tela do meu laptop e não conseguia se quer escrever uma palavra. A noite está chegando e não fiz nem um parágrafo, as ideias parecem ter fugido da minha mente, não sentia mais prazer em escrever. Sempre achei que fosse poder levar isso como profissão, era o que eu mais gostava de fazer, escrever é tudo que sou... E agora noto que realmente não sou mais nada.

Não vou mais pedir para ele voltar, já aceitei o fato de que isso não irá acontecer. Mas rezo todos os dias para que ele esteja bem, aonde quer que esteja, que se realmente houver um paraíso, ele esteja lá.

Fecho a tela do laptop, aquela sensação estranha volta novamente, eu realmente não quero ter que me arrumar para o casamento. O que eu menos quero agora é ir a um casamento, mas pelo visto eu não tenho muita escolha. Levanto-me devagar e caminho até meu guarda-roupa. Confesso que ando muito cansado, sabe? Mas um cansaço diferente… Um cansaço de não querer mais reclamar, de não querer pedir, de não fazer nada, de deixar as coisas acontecerem.

Termino de me arrumar em frente ao espelho central da sala, respiro fundo me encarando, meus olhos estão como um galpão vazio e frio. Quando parei para me olhar, nunca tive tava vontade de chorar antes, eu só queria voltar e ficar sozinho, me esqueçam e vão para o casamento. Eu não sei mais quanto tempo eu preciso ficar sozinho, eu não sei se algum dia eu vou sair disso.

– Nossa, vou falar com a sua Mãe para marcar a sua limpeza de pele - Meu Pai comenta ao parar ao meu lado.

– Mas eu tenho que fazer uma sessão direto, não só uma vez e pronto - Respondo me encarando no espelho.

– Não importa, você ta muito feio, por isso nenhuma mulher olha pra você!

– Ta feio nada, nem da pra notar as espinhas... - Diz Aline - E ele ainda é novo gente, fala sério!

– Ele pode usar maquiagem - Bruna comenta enquanto confere algo na bolsa que vai levar para o casamento.

– Ta maluca? Filho meu não usa maquiagem - Meu Pai responde rapidamente - Ele precisa é usar alguma coisa pra esse rosto.

– Eu uso aquele sabonete. Todos os dias.

– Eu não sei, só sei que precisa dar um jeito nisso, e esse corpo também, o Felipe não tem corpo nenhum, esse garoto não chama atenção alguma por onde passa.

– Iiiihh, mas você ta de implicância com o garoto hoje - Minha Mãe se pronuncia.

– É pra vê se ele acorda pra vida! - Meu Pai responde.

Saio da sala para à cozinha, pego um copo e observo enche-lo com água. Eu sei que eu não estou em melhores condições, não sou a pessoa mais linda do mundo, não tenho o melhor corpo e muito menos o melhor rosto. Me sinto péssimo toda vez que acordo e tenho que lhe dar com uma nova acne na minha maldita cara. Tiveram vezes que eu não conseguia se quer me olhar no espelho, uma vez eu arranhei meu rosto por me achar tão feio. É uma droga ter que ir ao casamento que você não quer e ainda por cima falarem que você está feio, não quero nem mais tirar fotos.

Saio de casa quieto, fico esperando na ponta da calçada enquanto minha Mãe, irmãs e cunhados ficam na porta de casa. Ponho minhas mãos no bolso e respiro fundo olhando para o céu, observando as estrelas e imaginando se você está lá! Queria saber se pode me ver agora?! Nunca achei que eu fosse uma pessoa tão fraca, tão imbecil... Só queria ter feito tudo ter valido apena com você. Eu te amei da forma mais simples e pura. Te amei com vontade de gritar ao mundo. Amei gostando, querendo, vivendo. Te amei em cada detalhe. E hoje em dia já nem sei mais o que é amar.

Vivo com esse medo besta de não ser o suficiente para mais ninguém. Você mostrou-me quem realmente sou. Gostou de mim mesmo com meu jeito complicado, medroso e acanhado de ser. Ás vezes me perguntou se você foi a minha única chance de ser feliz?

– Felipe! - Aline me chama indo em direção ao carro que saia da garagem.

Viro-me e caminho devagar até o carro. Essas próximas horas serão eternamente longas para mim. Aline senta entre mim e Elisa. Sinto ela me olhar algumas vezes enquanto descanso a cabeça no vidro da janela e observo o céu sem piscar direito. Aline pode está preocupada comigo, mas não entende que ninguém nunca vai saber o que se passa dentro da minha cabeça. Tornou-se um lugar tão escuro, um lugar onde pensamentos ser perdem e almas vagam sem parar, tão frio e tão quieto, até eu tenho medo às vezes. No momento não tenho mesmo nada. Só coisas escuras. Prefiro guardar comigo.

Chegamos à igreja depois de alguns minutos. Minha Tia Rita é a primeira pessoa que vem me abraçar.

– Oi meu Flor - Ela diz abraçando-me contente - Estava com saudades de você.

– Eu também estava com saudade de você, Tia - Digo com um sorriso entristecido no rosto.

– Você ta lindo hoje, mas também, quando você não é lindo? - Ela fala para tentar tirar um sorriso decente de mim.

Não deu muito certo, mas minha Tia não é uma pessoa que desiste fácil. A noite está apenas começando. Após cumprimentar todos da família, fomos para os bancos da igreja, minha Tia faz questão de sentar ao meu lado.

– Não conta pra meninas, mas comprei um biscoito pra você, depois te entrego - Ela murmura em meu ouvido.

– Tia, não precisa - Dou uma leve risada baixinha.

– E eu me canso de agradar você? Eu sou sua Tia coruja, esqueceu? - Ela me abraça em seguida.

– Felipe, vê se sorrir um pouco porra, assim vai ficar difícil - Meu Pai sussurra do outro lado do banco, mas alto o suficiente para que eu e todos do banco pudéssemos ouvir.

– Ih, me deixa! - Digo irritado.

– Ai Hélio, deixa o menino - Diz minha Tia.

– Ih garota, se mete não! - Ele responde.

– Me meto sim, é meu sobrinho, eu o defendo a hora que eu quiser! - Ela o cala e da uma risada abafada com um leve empurro em meu ombro.

Quando o casamento começa, observo o noivo no altar e respiro fundo. Uma sensação estranha se apodera de mim. Passa pela minha cabeça se algum dia eu vou poder me casar assim, e se eu teria alguém da minha família para me apoiar. Observo todos tão felizes pelo casal, e eu sempre pensei que eu fosse ter algo assim... Eu tenho uma alma que é feita de sonhos e um dos meus grandes sonhos era poder me casar na igreja, assim como qualquer um.

Abaixo minha cabeça fechando os olhos, eu nem se quer posso pensar mais nisso. Me sinto cada vez mais sozinho, e estranhamente, estava deprimido demais para derramar lágrimas. Olho todos a minha volta, minhas irmãs e meus cunhados, eu talvez nunca possa fazer algo assim, trazer meu namorado para uma festa de família. Meu Pai de fato não deixaria.

– Ai meu Deus, eu fico pensando no dia que for você ali em cima, eu vou ser a pessoa mais chorona da igreja - Minha Tia comenta.

– Ham... - Resmungo com um sorriso forçado de canto.

– O que?! Eu vou parar o casamento, não vou deixar ninguém levar meu filho - Minha Mãe diz.

– Eu vou estar lá velhinha, usando meus óculos, com os filhos da Bruna e da Aline me ajudando a tirar as fotos - Minha Tia fala.

Observo os dois no altar agora. A única pessoa que eu pensei em casar alguma vez, não está mais comigo. Às vezes sinto falta de ter Zac aqui comigo. Era bom ter alguém para ligar, para ouvir palavras fofas, para ter para quem escrever textos clichês e meigos. Para ser a última voz que ouço antes de dormir e a primeira depois de acordar. Sinto falta de ter um dono para os meus sorrisos, um alguém para compartilhar uma piada mesmo que eu não saiba a contar. Sinto falta de ter você para cuidar e cuidar de mim. E eu sei que se um dia eu tiver outra pessoa, o que mais tenho a oferecer a ele? Algumas feridas não cicatrizadas e muitas paranoias. Não tenho nada que agrade, nada que faça a pessoa ficar.

Vejo o Padre dizer algumas palavras e uma frase se resaltou para mim, ele disse: "E a lógica que uni esse amor é a mesma que mantém os dois juntos. Porque sem a lógica não existe o amor!" Mas me diga, e desde quando o amor precisa ter algum tipo de lógica? Ele apenas acontece, não é algo premeditado, é uma magia que não tem explicação e nem tente explicar o amor, você não irá conseguir. Tudo que posso dizer é que é algo extraordinário e que mexe com você por inteiro.

Logo em seguida o mesmo homem diz algo que ficou gravado para mim "Ou você se alia com Deus e vence esse mal, ou você vai continuar sofrendo. Só Deus tem a direção certa para sua vida." Não sei se Deus irá me querer ainda, enquanto todos rezavam, eu não tinha coragem pois não me sentia mais parte disso. Parece que Deus não me olha mais!

Depois de toda a cerimônia, fomos para o local da festa que por sinal não era tão ruim. Um belo salão de dois andares com mesa de vidro e cadeiras brancas com detalhes dourados. Falamos com alguns familiares que não encontramos na entrada da igreja e fomos para a mesa reservada no segundo andar e perto da sacada onde era possível observar a pista de dança. Aline e minha Tia Rita sentam ao meu lado.

– Tu viu o vestido da Fernanda que brega? - Aline comenta.

– Ela nunca se vestiu bem - Minha Tia retruca - Na hora que eu a vi eu já pensei no que você ia falar - Ela da uma risada no final.

– Ai, ela poderia se vestir melhor, com a grana que ela tem, meu Deus - Aline diz.

– O que será a comida aqui? - Minha Tia pergunta.

– Podia ser macarrão ao molho quatro queijos - Suponho.

– O outro só pensa em macarrão, vai virar um macarrão daqui apouco - Ela diz.

– Ai Pipo, para de mexer no celular, conversa um pouco - Aline reclama - Vem, vamos tirar uma foto!

Tento tirar aquela expressão entediante do meu rosto e coloco o sorriso mais falso que já consegui. Nem todas as cicatrizes podem ser vistas. Mas elas existem. Passo o resto da festa com o mesmo sorriso e tentando não pensar em Zac ou em como me sinto, precisei me desligar por dentro para poder viver o momento aqui fora. Aline me leva para dançar na pista de dança, por um momento conseguir me divertir, dancei um pouco ao som de músicas pop/eletro e parecia que estava tendo um pouco de paz em mim. Até meu Pai se aproximar de mim.

– Está vendo aquela menina ali? - Ele aponta levemente - Ela não para de olhar para você.

– E dai?

– E dai que você pode ir lá falar com ela - Meu Pai responde - Não é possível que você vai vir aqui e não vai ficar com nenhuma garota.

– Eu vim pela festa, não pra ficar pegando ninguém.

– Pelo amor de Deus, a garota ta gamadinha em você - Ele diz.

Fico um pouco sério encarando-a do outro lado da pista de dança. Minha mente está tão confusa, não consigo pensar direito, o que mais desejo agora é poder sair correndo daqui, sumir e nunca mais aparecer. Mas tem certas coisas na vida que você tem que enfrentar. Eu não quero conversar com ela, nem ao menos ir até lá, no entanto não tenho muita escolha. Olho ao meu redor e meu Pai, meus cunhados e minha Mãe estão encarando-me esperançosos. Só queria acabar logo com isso, não quero desapontá-los ainda mais. Talvez agora eu possa ser quem eles querem que eu seja, eu não tenho mais nada. Amar é viver. E quando o amor se acaba, parece que a vida também.

– Ela é bonita - Aline comenta - Se eu fosse você, ia logo até lá!

Deus, eu nunca me arrependi tanto de dar alguns passos em direção a essa garota que eu nem sabia o nome. Olho para trás e observo todos encarando-me, a pressão acelera meu coração quase o fazendo sair pela boca. Eu preciso me acostumar a isso, eu... Só não tenho mais nada, me sinto como se precisasse mudar de vida, ser uma nova pessoa.

– Oi! - Ela diz sorridente.

– Oi! - Respondo quase que sem expressão no rosto - Me chamo Felipe!

– Elaine! - Ela fala.

– Beija logo! - O Pai dela que é da minha família fala ao passar pela gente.

Ela da uma risada e fecha os olhos inclinando-se um pouco para frente. Eu não quero fazer isso, eu realmente não quero. Mas Nada nesse mundo tem significado se eu não tenho Zac aqui comigo. Talvez eu não ache outro cara como ele, talvez esse seja o meu destino... Viver para sempre sendo alguém que realmente não sou,viver sendo infeliz até o dia que não aguentar mais. Quando nossos lábios se tocaram, foi como se eu estivesse beijando uma parede, sem qualquer emoção, vontade, desejo, prazer. Absolutamente nada. Minhas mãos estacionaram em sua cintura e as dela na minha, esses foram os vinte segundos mais longos da minha vida.

Porque simplesmente não poderia ser um beijo? Porque eu não posso ao menos fingir que gostei e deixá-los felizes? Droga, mais uma vez eu fiz tudo errado, parece que é só o que eu sei fazer. Não importa o quanto eu tente fazer dar certo, ou fazer com que funcione, sempre vai ter alguma coisa para dar errada no final.

Viro-me totalmente sem jeito e observo todos comemorando felizes. E quantas vezes, com olhos cheios de lágrimas você sorriu assim como eu? Volto para a mesa onde estávamos sentados e fico quieto, sozinho, olhando para o chão e sem acreditar no que eu tinha feito. Zac, me desculpe por isso, eu só... Só queria evitar que o dia ficasse pior, mas eu mesmo o tornei pior. Meu Deus, eu não faço nada certo.

Seco as lágrimas que escorrem pelo meu rosto imaginando que ele deve estar me odiando agora. A única pessoa com quem eu queria falar, não posso mais. Às vezes me pergunto se existe algo de errado comigo. Será que conseguirei, alguma vez, assumir o controle da minha vida?

Sinto-me o que restou de uma história incompleta, um rascunho em vão, um livro com suas páginas rasgadas. Queria poder viver outra vida, ser outra pessoa, uma pessoa mais certa. Não posso pensar em você agora. Queria poder esquecer isso só por um momento, para que eu pudesse seguir em frente, mas quando me distraio, me pego pensando sem querer. Você está morando na minha mente e é difícil tirar sua imagem daqui. É difícil, pois já está gravada com tintas eternas no meu coração.

Despedimos-nos de todos no final da festa e fomos andando até o carro do meu Pai estava estacionado na calçada. Minha Tia Rita ia embora com outros parentes e se despediu de todos.

– Você fez aquilo só por causa deles, né? - Minha Tia fala para mim - Não faça algo que você não quer, nunca mais. Ninguém sabe o que é melhor para você do que você mesmo!

Dou um sorriso de canto tentando disfarçar o medo dela saber alguma coisa. Tento tranquilizar-me devagar sem que ela percebesse.

– Aqui o biscoito - Ela diz entregando-o a mim - Vou vê se no próximo final de semana eu vou lá pra casa dos seus Pais.

– Ta bem! - Respondo com um sorriso ainda um pouco abatido e a abraço.

Quantas vezes eu não adiei o choro? Porque a sala de estar, a sala de aula, a rua não era o melhor lugar pra se chorar? Quantas vezes a lágrima quis escorrer e eu pensei baixinho: “agora não”? Eu esperava chegar em casa, me trancar em meu quarto e aí seria eu, meu travesseiro e as lágrimas. Mas eu chorava por dentro a partir do momento em que eu sentia vontade de chorar, eu chorava enquanto reprimia as lágrimas e sorria pra ninguém perceber. Sempre deu certo, ninguém nunca pareceu suspeitar.

Revirei as minhas gavetas, achei aquela sua camisa cinza de gola V misturada por entre as minhas roupas. Ela se perdeu quando voltamos da viagem e podia jurar que o tinha entregado de volta. A pego devagar, ela ainda tem seu cheiro, se fecho os olhos, é você que eu vejo. Ela ainda cabe perfeitamente em mim, e me ajuda a amenizar a falta que você faz.

Faria qualquer coisa para tê-lo aqui perto de mim nesse momento tão confuso pra mim. Meu Pai dizendo o quanto está feliz de ter me visto beijar uma garota, só me deixa ainda mais acabado por dentro. Dizem que sofrer é opcional. Mas cá entre nós, quem escolheria sofrer? Sentir essa dor que vai lhe destruindo aos poucos, vai acabando com seus sentimentos, e o que é um ser humano sem sentimentos? Não existe coisa pior.

Espero que todos estejam dormindo para que eu possa sair do meu quarto, caminhar ate a cozinha e observa algumas coisas sobre a bancada. Aproximo-me devagar, meu coração tão acelerado que podia sentir meu pulso pulsar mais forte. Eu quis ligar pra alguém. Contar o que tinha acontecido, e que doía. Mas não havia ninguém ali. Ninguém com que eu pudesse contar. Ninguém disposto a abrir mão do sono para ouvir minhas queixas. Ninguém que se importasse. Então a dor veio. Rápida. Forte. Devastadora. Senti minha alma se rasgando ao lembrar aquele momento. E dói. Ainda dói.

Observo o faqueiro com as facadas fincadas ali, uma vontade tentadora me fez retirar uma do lugar. Seguro-a de modo firme que não deixa tremer.

Já perdi tudo que eu tinha, não posso voltar a viver uma mentira, não quero isso. Sem ter Zac por perto eu perdi meu rumo, perdi uma parte de mim, perdi a luz que costumava a me guiar pelos caminhos escuros. E quando ele se foi, falei a mim mesmo que suportaria... E eu menti, eu menti quando disse que iria suportar pra sempre.

E se não houver o amanhã, você foi feliz hoje? E se eu morrer? Imagina como seria, você me mandar sms sabendo que jamais seriam respondidos, me ligar sempre sabendo que ia cair na caixa postal, iria me procurar nas redes sociais, sabendo que nunca mais estaria online, iria levantar pra ir atrás de mim com lágrimas nos olhos sabendo que jamais vou estar ali, imagine o mundo sem mim, e me diga faria alguma diferença pra você?


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Notas finais do capítulo

Oi pessoal, bom, os caps serão mais demorados dessa vez. É que não to tendo mais tempo para ficar escrevendo toda hora, ai complica um pouco.
Mas não vou abandonar a fic haha Só vou demorar um pouco mais para postar novos capítulos.

Espero que tenham gostado desse =D



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