Stay With Me escrita por Fenix


Capítulo 29
Um Infinito Entre Nós




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Meu celular recebe uma chama em vídeo. Caminho em direção à mesa do computador e aceito a ligação.

Faz pouco tempo que cheguei aqui. Já desarrumei minha mala - Meu coração de certa forma se tranquiliza ao ver Zac na ligação.

– Que bom que chegou bem - Digo sentando na cama.

Sim, o voo foi bem tranquilo.

– Eu já estou com saudades - Observo a sua imagem na tela do meu celular. Como eu queria tê-lo comigo agora.

Acredita que eu fiquei olhando sua foto enquanto eu viajava?

– Minha foto? Por quê?

Porque eu não tenho medo quando estou com você.

– Não faça isso...

O que?

– Dizer essas coisas enquanto está longe... Eu não posso te abraçar agora!

Nós vamos dar um jeito. Sempre damos!

– Eu espero que sim - Respondo - Tenho que ir para a faculdade agora.

Me liga quando voltar?

– Sim! - Dou um sorriso ao saber que ainda não é o fim. Ele ainda está ali, pode estar longe, mas nenhuma distancia é maior do que o que sentimos um pelo o outro. Não será isso que irá nos afastar.

Estou disposto a ficar os próximos anos da minha vida esperando uma chance para nos encontrarmos novamente e então ficarmos juntos pra sempre, mas apenas se ele estiver também. Algo me diz que talvez ele esteja.

– Até mais. - Ele diz com aquele sorriso que eu já estava ficando em abstinência.

– Até mais! - E então finalizo a ligação. Paro um tempo olhando para o meu quarto, respirando fundo e deixando que as coisas em minha mente se movam para seus devidos lugares. Ele sempre faz uma bagunça comigo, seu sorriso sempre me desestabiliza de uma forma tão boa que eu jamais vou reclamar.

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Ouço Michele falar sobre sua conversa com o ex-namorado enquanto copio o dever que a professora passou no quadro. Se eu queria parar tudo e falar o caco que estou por dentro? Sim, claro! Mas do que adiantaria? Ela precisa disso mais que eu. Sempre aguentei tudo sozinho e calado, não tem o porquê desta vez ser diferente. Nunca me importei em ajudar ninguém com seus problemas, sempre fui bom ouvinte, nunca liguei de emprestar meu ombro para choros, nunca recusei ajuda a ninguém.

Por mais que eu queira falar tudo que sinto, por mais que eu queira chorar, sair dessa sala de aula e ir para qualquer lugar onde eu possa deixar toda essa tristeza sair e aliviar minha alma. Eu preciso ficar, porque precisam de mim aqui e agora. Respiro fundo e deixo que ela continue sua história.

As horas se passam e eu até então não disse nada além de 'aham' ou 'pois é'. A professora libera para o intervalo, pego as minhas coisas na mesa e praticamente as jogo dentro da mochila.

– Fê, eu não vou descer não - Michele fala sentada na cadeira.

– Vamos sair um pouco, eu preciso pensar em outra coisa além dessa matéria.

– É só não falarmos da matéria - Ela insiste.

Não gosto de passar o intervalo sozinho. É deprimente e o que eu menos preciso agora é ficar sozinho ou deprimido. Como eu queria sair dali, falar sobre outras coisas. Sinto-me como se estivesse numa caixa fechada e o ar estivesse acabando, uma pressão tão forte em mim que eu não sei como fazer parar.

Sento novamente e continuo a ouvir sobre sua conversa. Meu olhar se perde pelo chão, meus ouvidos não escutam mais nada, e um filme se passa em minha mente... Eu e Zac, na praia, de mãos dadas e observando o mar. Bem como aquelas cenas de fim de filme. É impressionante, pois sempre que eu me lembro dele, esse peso que tanto sinto sobre mim, alivia um pouco. Ele me acalma de uma forma inexplicável.

O caminho de volta pra casa foi silencioso. Ela já não tinha mais o que dizer e eu não sentia vontade de falar. Cada palavra dita é exaustiva pra mim, tira toda a minha força. Fico com a cabeça encostada no vidro do carro, observando tudo passar rápido diante de mim. A única coisa que eu quero agora, é chegar em casa, ligar para Zac e conversar com ele. Ter alguém para ouvir o meu chato coração dolorido de tanto resistir.

Quando chego em casa, nem se quer cumprimento direito meus familiares na sala. Dirijo-me rapidamente até meu quarto e fecho a porta. Jogo minha mochila no chão, perto da cama, e deito com o celular em mãos e já chamando Zac pelo vídeo chat. Depois de algumas chamadas angustiantes, ele atende com um leve machucado no rosto.

– Nossa, o que é isso na sua bochecha? - Pergunto, ao olhar o arranhado avermelhado.

– Nada, eu me atrapalhei com algumas coisas da mudança - Ele responde meio travado.

– Já passou algo?

– Sim! - Ele olha pra mim. Talvez notou que não tenho dormido direito desde que partiu, os meus olhos fazem questão de testemunhar isso - Você está bem?

– Estou!

– Lipe, pode me contar tudo, você sabe.

– É que... - Respiro fundo desviando o olhar para o chão. Eu poderia contar tudo o que está acontecendo, tudo o que tenho passado em casa desde que descobriram sobre a gente e também a forma que meus Pais estão me tratando. Sim, eu poderia fazer isso tudo, mas não seria justo com ele. Estamos hipotentes, não podemos ajudar um ao outro como queremos. Ao longo de todos esses últimos meses, eu entendi que devemos cuidar bem daqueles que demonstram se importar com você. - Eu não tenho dormido direito, estou com insônia!

– Você precisa dormir.

– Eu sei, mas eu acho que meu cérebro não entende isso - Digo com uma pequena risada para aliviar o clima.

– Eu sinto sua falta - Ele diz repentinamente, de forma que não sei direito como reagir.

Meus olhos se encheram de lágrimas com rapidez. Respondo um breve "Eu também sinto a sua falta". Ninguém sabe a força que precisei ter para que não deixasse uma lágrima escorrer por meu rosto agora.

É tão difícil você ter que ver a pessoa que você ama por uma tela de celular. A pessoa que você se acostumou a ter ao seu lado, a beijar, a tocar... E de repente você está preso em um aparelho e tentando convencer seu coração de que isso é temporário e que vão se encontrar logo, mesmo sabendo que tudo não passa de palavras tolas para fazer com que pareça menos pior do que é.

– Vamos nos encontrar logo, eu só preciso de um tempo - Ele diz como se soubesse cada pensamento meu - Eu vou ai, vamos nos ver novamente...

Não resisti e deixei que uma lágrima escorresse pelo meu rosto.

– Não chore. Nós vamos dar um jeito, eu sei que vamos, não caia agora... Lipe - Ele me chama para que eu levantasse meu olhar - Vamos nos encontrar de novo, eu prometo!

– Não faça promessas que não pode cumprir - Digo com as palavras arranhando minha garganta. Minha voz por muito pouco não falha no final.

Ouvir dizê-lo essas coisas apenas criava esperanças onde não pode haver. Eu não quero dormir pensando que ele pode aparecer na minha casa no próximo final de semana, ou no outro, ou no final do mês... Eu não quero me enganar e me deixar iludido por algo que talvez não aconteça. Prefiro seguir a dura realidade, pois a vida não é um filme de Hollywood.

– Mesmo que eu esteja longe e mesmo que não me veja, eu estarei te protegendo e cuidando de você - Zac fala enquanto chora a me ver chorar pela câmera. Seus olhos avermelhados ressaltavam o verde vivo que refletia com a luz do quarto.

– Eu te amo! - Digo tocando na tela vendo-o chorar.

– Eu te amo! - Ele responde, levantando a mão devagar e pondo o dedo indicador exatamente onde está o meu.

Esse momento foi dilacerando cada parte de mim. Não poder senti-lo, simplesmente tocar numa tela fria de um celular, e ver o quanto estamos distantes agora. Isso acaba comigo, aos poucos eu sinto que vou me perdendo, meus sentimentos vão ficando confusos e intensos. O que antes eu sabia exatamente o que era, agora passo o dia tentando entender o que está havendo comigo!?

Droga, você também não me ajuda. Queria tanto ficar bem sem você, sem falar, sem contato, mas ao mesmo tempo quase morro quando você não me conta como foi seu dia. Esse conflito em nossos corações teimosos por quererem ficar juntos apenas nos maltrata cada vez mais.

Nossa conversa durou por mais alguns minutos, no entanto a maior parte aproveitamos para nos observar. Mas não era uma simples observação, era como se precisávamos gravar cada detalhe um do outro em nossas mentes, cada fio da sobrancelha, cada piscada e cada gesto ao respirar. Algo que apenas nossos olhos podiam transmitir, da forma que só eles entravam em sintonia, e então, de uma forma mágica, eu me acalmava por dentro.

Deito a minha cabeça no travesseiro pensando nele. Criando momentos que talvez nunca fossem acontecer, ao menos não mais. Mas tudo bem, pois os meus maiores sonhos já foram realizados com ele, os momentos que eu sempre quis que acontecesse, aconteceram graças a Zac. Nunca vou me esquecer que alguém foi capaz de recriar um dos momentos mais únicos da minha vida, o momento em que eu tive certeza que eu conheci o amor da minha vida.

Você não acha engraçada essa ironia do destino? Ele lhe dá tudo que você quer, faz com que você esqueça os problemas, nem que seja por um curto prazo de tempo. Você se sente feliz, se sente amado e se sente como realmente você é. Sem ter que fingir ou se controlar. Mas então de uma forma tão rígida e abrupta, ele tira tudo de você. Lhe deixa sem direção, sem chão. Seus sentidos não te guiam mais e você está perdido num mundo tão injusto que a palavra 'felicidade' virou sinônimo de 'nada'. Transformou-se em algo raro, que quando alguém sorrir, já diz que está feliz, mas na verdade nunca experimentou o que é felicidade de verdade.

Os dias se passavam mais devagar que o normal. Na faculdade, enquanto Michele conversava com outras pessoas da turma, eu me sentava com Myrlei e Thatiana, uma das poucas pessoas com que eu me identificava. Elas nunca tiveram problemas com homossexuais, são amigas até de um garoto homossexual da sala, mas não é bem o tipo de amigo que eu procuro no momento. Então me sento com elas, e apesar de querer conversar sobre tudo que está acontecendo comigo, apenas para ouvir a voz de outra pessoa me aconselhando e apoiando. Acho que eu fiquei muito necessitado disso desde que Zac foi para São Paulo. Com meus Pais ainda me tratando friamente, sinto que não tenho muito a perder, por isso queria poder parar de fingir ser quem não sou.

Eu ainda tenho medo da reação das pessoas, e o que eu quero agora é evitar qualquer tipo de confusão. Faço o trabalho com as duas enquanto Michele fazia com mais dois garotos, que por sinal eram exatamente os que não gostam de mim. Eu não me importo, pois também não gosto deles!

Myrlei e Thatiana conseguiram me fazer sorrir em alguns momentos enquanto fazíamos o trabalho na sala de aula. Elas pensaram que eu fosse Argentino e ficamos comentando sobre isso, uma conversa tão leve e boa, a qual eu não tinha fazia um tempo. Por hora foi o suficiente para me fazer relaxar um pouco. Mesmo sem saber que estavam me ajudando, essas duas que não se desgrudavam, foram se tornando minhas melhores amigas. Toda a minha infância eu fui rotulado, eu sempre era o mais baixo da turma ou o mais esquisito, e então no ensino fundamental e médio, eu me tornei o 'gay' que ninguém queria ser amigo. Exceto alguns que se tornaram meus amigos antes que me rotulassem na nova escola, e com isso me tornando amigo da Ana. Mas com a Thatiana e a Myrlei foi diferente, era exatamente isso que eu queria para mim. Queria que as pessoas confiassem em mim, apesar de qualquer coisa que tivessem ouvido. E, mais do que isso, queria que me conhecessem. Não aquilo que pensavam saber a meu respeito. Mas eu de verdade. É por isso que me apeguei facilmente a elas.

No fim do dia, volto pra casa com a Michele. Ela falava sobre sua dor de cabeça e nem se quer reparou que estou quieto. Se eu ficar em silêncio, é porque algo está me machucando. Por mais que eu quisesse agir como antes, ser animado e fazer brincadeiras bobas ao meio de uma conversa com meus amigos, parece que algo me puxa para baixo. Como se um manto negro estivesse me cobrindo aos poucos, e devagar eu ia me excluindo do mundo.

Chego em casa e sou recebido apenas por um "Como foi a aula?" vindo da minha Mãe, um pouco frio, mas já é uma frase sobre meu dia-a-dia, o que eu não ouvia dela fazia um pouco mais de uma semana.

– Foi boa - Respondo de modo cansado. Não estou cansado, apenas este está se tornando meu jeito de falar agora.

– Vai querer comer? - Ela pergunta.

– Não, estou sem fome.

– Comeu na faculdade?

– Sim! - Óbvio que não. Pra falar a verdade eu não lembro a última vez que eu comi direito. Sabe, aqueles pratos com arroz, farofa, frango e batata frita. Agora se como uma colher de arroz, já estou totalmente satisfeito.

Vou para o meu quarto, onde posso ficar no meu mundo. Não falo com Zac há dois dias, essa distância me deixa angustiado. Queria poder ligar para ele a cada segundo, poder ouvir o som da sua voz, poder perguntar como foi seu dia? Mas sei que ele tem suas tarefas. Não sei o que tem de errado comigo, desde que ele se mudou, eu tenho medo de perdê-lo. Isso é irritante, porque você sabe que não tem o que temer, no entanto você cisma em algo só para lhe tirar o sossego da noite.

Sou soterrado por mensagens da Narayani perguntando sobre meu estado emocional. Raramente peço conselhos. Acho que consigo me entender melhor sozinho. Ninguém sente o que sinto, ninguém mora dentro de mim. E entenda: aqui dentro é uma confusão. Só eu consigo entender coisas que são minhas, que estão guardadas a sete chaves, que estão perdidas no porão, que estão cheias de mofo e pó. Ninguém tem esse poder, apenas eu e minhas confusões. Então não adianta eu pedir ajuda a ela ou a qualquer um, pois como sempre, isso depende apenas de mim.

Você sabe que eu estou aqui para qualquer coisa, né?– Ela escreve.

– Sim! Obrigado por tudo - Respondo antes de deitar na cama e dormir.

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Na noite de sábado, após falar um pouco com Zac no dia anterior. Consigo ficar sozinho em casa, toda minha família foi para uma festa de uma amiga da minha irmã Aline e como de costume, preferi ficar em casa.

Foi bom, pois Zac me ligou e conseguimos conversar por horas a fio. Loucos como somos, inventamos de criar um jantar via skype. Ele se arrumou e ajeitou a mesa da sala onde estava, quanto a mim, fiz macarrão com linguiça, afinal foi uma comida rápida e prática. Coloco o iPad posicionado na minha mesa de jantar e então começamos o nosso jantar via skype. Confesso que foi a coisa mais idiota que já fiz até agora, mas é de longe um dos momentos que vou gravar para sempre em minha memória.

Ele fez o mesmo macarrão para dar ideia de um verdadeiro jantar. Dou uma risada do quanto parecíamos loucos. Existem pessoas que de uma certa forma mágica, permanece em nosso coração apesar da distância e também das circunstâncias. Mas sempre encontramos uma forma de sermos nós mesmos, de sermos únicos, de fazer algo valer a pena e forçar a dar certo, mesmo com tudo contra a seu favor.

Nossa, eu aposto que seu macarrão está melhor que o meu!– Zac comenta após a primeira garfada.

– Pois é, deve ser problema com o chefe - Brinco.

Quem fez meu macarrão está mais para estagiário.

Damos uma risada suave, daquela que suspiramos no fim. Seus olhos estão brilhando novamente, fazia tempo que eu não o via tão à vontade assim. O arranhão no rosto quase não é mais visível.

Pois eu, eu só penso nele. Já não sei mais por que. Com ele, eu consigo encontrar um caminho, um motivo, um lugar, pra eu poder repousar meu amor. E quando diz àquelas coisas que só ele sabe dizer, fico me sentindo bem de novo.

– Você está sempre dizendo como se soubesse tudo o que eu quero.Você acha que sabe, não acha? Só que, no momento, aposto que nem se deu conta, tudo que eu quero é você. Eu quero você. Do jeito que for. Com seus defeitos, imperfeições e tudo mais. Com a bagagem cheia, ou vazia, sei lá, só sei que te quero.

Uma vez você me perguntou por que eu escolhi você...

– Sim.

Mas eu te pergunto... O que fez você me escolher? Porque eu?

– Bom... - Dou um sorriso sem jeito e respiro fundo - Quando eu esbarrei em você naquela tarde no festival de cinema, eu caí e você me ajudou com um sorriso meio desengonçado e olhou diretamente nos meus olhos. Desde aquele momento eu sabia, que era com esse olhar que eu gostaria de acordar todos os dias.

Ele chorou. Eu não pude fazer nada. Estávamos a quilômetros. E foi a coisa mais triste que já me aconteceu. O vejo secar as lágrimas, isso parte meu coração. Queria poder te abraçar agora, ao invés de ficar aqui, apenas lhe vendo chorar por uma tela de iPad. Você sabe o quanto é importante pra mim, eu só queria que surgisse um jeito de nos encontrarmos novamente. Já não estou aguentando mais essa distância entre nós. Isso é maldade, e meu Deus... Como eu estou com raiva disso. Este carma de ter que batalhar sempre para ter minutos de felicidade, é exaustivo, porque simplesmente coisas boas não podem acontecer na mesma frequência que as coisas ruins? Deveria existir um equilíbrio entre elas.

Você será sempre meu. Não esqueça disso! - Ele diz se controlando ao meio do choro - Agradeço sempre a Deus por ter você na minha vida, qualquer pessoa seria sortuda só de ter você na vida dela.

– Quero que saiba que quando precisar, estarei aqui, pra cuidar você! - Digo sem resistir mais ao choro - Podem falar o que for, eu vou sempre fazer loucuras para falar com você, para estar com você. Porque quando amamos, somos capazes de tudo!

Eu durmo todos os dias pensando em você, como eu queria que estivesse aqui agora.

Não sei se Deus está me ouvindo agora, ou se algum dia me ouviu, mas eu continuo pedindo para que ele me ajude a fazer algo para mudar essa situação. Como ele pode deixar que isso aconteça? Não se pode separar duas pessoas que se amam, e acredito que talvez ele nem sabia disso, talvez, não deixaria duas pessoas sofrendo por não poderem ficar juntas.

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Recebo uma ligação animada de Narayani no dia seguinte. Ela contava que fará uma viagem pela faculdade e ficaria dois meses no Acre. Fico feliz por ela, lhe desejo tudo de bom e uma viagem tranquila. É difícil saber que as duas pessoas mais importantes na sua vida estão indo para bem longe de você. Mas eu a mataria se não aceitasse ir a essa viagem! Será incrível, e tudo bem, eu me aguento sozinho por dois meses.

Marcamos de sair esta noite para comemorar, vamos aquela pizzaria aqui perto de casa. Enquanto o dia passava, eu tento ligar para Zac, mas não completava a chamada. Tento me manter forte, e não transparecer toda essa dor que tenho acumulado em meu peito.

Apesar de querer ficar em casa, deitado na minha cama e olhando o céu pela janela. Me arrumo para ir ao encontro com a Narayani. Seus amigos já estavam na mesa quando cheguei, alguns nunca tinha visto na minha vida, e no fim estavam nossos amigos em comum, como Carol e Joe.

– Quanto tempo - Diz Carol - Nossa, você emagreceu!

– É, estou fazendo dieta - Brinco.

– Devíamos marcar de a praia novamente - Comenta Joe.

– Sim, seria legal - Carol responde.

– Felipe, venha aqui, vou lhe apresentar meus amigos da faculdade - Narayani me puxa devagar do fim da mesa.

Dou um sorriso tímido acenando para todos enquanto ela os apresentava pelos nomes. O que foi mais legal, é que ela me apresentou como seu melhor amigo. Dou uma risada quando o diz e volto para o fim da mesa. Passo todo esse tempo conversando com Carol e Joe, até que Narayani senta perto da gente.

– E então, animada para a viagem? - Pergunta Carol.

– Com certeza! - Ela responde - Minha Mãe vai me emprestar a mala dela. Eu ia comprar uma, mas ela tem uma grande novinha lá em casa ainda.

– Quando você vai? - Pergunto tomando o copo com refrigerante.

– Nesta Sexta-feira.

– Precisamos ir ao aeroporto nos despedirmos - Joe fala.

– Não, não precisa, meu voo vai sair tarde, então deixa para que me busquem.

Sinto-a olhar para mim como se tivesse sentido algo estranho em meu olhar. Ela da um sorriso para disfarçar, mas sei que notou algo errado. Depois que todos foram embora e voltamos caminhando para minha casa, logo faz a pergunta que queria fazer antes.

– Ainda está assim por causa do Zac?

– Assim como?

– Ah... Um pouco pra baixo... Você está diferente!

– Eu só estou cansado.

– Sim, parece que não dorme há dias. E como você está com seus Pais?

– Minha Mãe tem tentado falar comigo, mas ainda sinto que estão diferentes.

– Dê tempo a eles, uma hora eles vão ter que aceitar.

– E se não aceitarem?

– Ai você pode vir morar comigo - Ela da uma risada.

– Eu sinto falta dele, sabe.

– Eu não estou preocupada com isso.

– Como não?

– Não sei... Eu passei um final de semana inteiro com vocês, e vi o quanto aquele garoto é apaixonado por você. O mundo pode estar totalmente contra vocês, mas sei que o que vocês têm é mais forte do que qualquer coisa.

Paramos em frente a minha casa. Ela para ao meu lado tocando em meu ombro.

– Eu não posso perdê-lo.

– Olha, apenas tenha fé. Tudo vai se resolver!

– Eu espero que sim!

– Pare de duvidar de você, acredite mais em si. Sabe que vai poder me ligar sempre que quiser. Não importa o horário, se eu puder atender, eu vou atender.

– Obrigado! - Nos abraçamos e então tomamos nossos rumos.

Passo os dias me excluindo cada vez da sociedade. Não é a minha intenção, só não quero mais falar com as pessoas. Ter uma conversa exigia tanto de mim agora, que prefiro ficar no meu mundo, quieto, sozinho, onde ninguém pudesse me perturbar. Às vezes é bom não ter nada, porque ai nada é tirado de você. Minhas conversas com Zac têm ficado cada vez menos frequente. Da última vez que conversamos, ele estava distante de mim, estranho pensar que ele tem ficado mudado. Talvez o ambiente em que esteja o obrigue a mudar, mas nunca o vi de forma tão desanimadora, nem parecia mais o Zac que sempre esbanjava felicidade e confiança.

Os assuntos que antes fluíam por naturalidade, agora estão escassos, e ficamos apenas nos olhando. Mas ele não entende que se eu calar, me encha de palavras, me faça querer dizer outra e outra vez sobre você, sobre nós, e todo esse amor. Poderia passar o resto do dia apenas falando sobre isso. Cada vez que ele se afastava, eu me perdia do meu caminho, ficava cada vez mais sem direção.

E era com isso que eu estava preocupado, eu o estou perdendo. Será culpa minha por deixar isso acontecer? Alguns dizem que precisamos enfrentar nossos medos ou fugir deles, mas como fugir dos meus medos se eles moram dentro de mim?

Os dias foram se passando. Meus Pais já estão voltando a me tratar normalmente, minha Mãe já conversa comigo como se nada tivesse acontecido, pra ela, aquele momento com os pais de Zac, nunca aconteceu. Talvez seja essa a sua autodefesa. Narayani foi para o Acre, conversamos de vez em quando, ela tem adorado o local e aprendendo muito por lá. Não vejo a hora de ter alguém para conversar novamente.

Não tenho mais ninguém por perto, sinto vontade de chorar, de ir embora, para que sintam minha falta. Vontade de viajar para bem longe, romper todos os laços, sem deixar endereço. Apensar seguir com a vida onde eu possa ser feliz com quem eu amo.

E sem perceber, estamos nos aproximando no final do ano. Estamos em Outubro, quase não vi o tempo passar. Zac tem me ligado e criado planos para finalmente poder voltar ao Rio de Janeiro. Ele queria pode voltar no mês passado, mas seus Pais não deixaram colocando-o em um curso de informática. Eu ainda acreditava em nossos planos, não acredito que todos possam dar errado, uma hora algum vai acontecer.

Meu pensamento mudou durante esse tempo, não importa o que as pessoas digam, e quem quer que seja contra… Eu acredito em você, eu acredito em nós, só eu e você sabemos o que a gente tem. E quem tem opinião diferente que engula, como você gosta de dizer, não vamos pensar nos outros, e sim na nossa felicidade, porque nós somos unidos, temos um ao outro e isso basta. Mas Acho que a vida gosta de fazer isso com a gente de vez em quando, te joga num mergulho em alto-mar e, quando parece que você não vai suportar, ela te traz pra terra firme de novo.

Três de Outubro. Eu e Zac combinamos que no final do mês ele viria ao Rio de Janeiro, nada poderia nos impedir agora. Seus Pais não sabiam da viagem e Carla o ajudou a pagar a passagem. Finalmente poderei vê-lo novamente, após três meses nessa angustia sem fim. Tudo estava perfeitamente planejado, calculamos qualquer tipo de erro e estávamos preparados para tudo. Quero dizer, para quase tudo... Na Sexta-feira fui ao aeroporto para dar entrada ao passaporte. Estou parado na fila gigantesca que está o lugar.

Eu estou amando aqui, mas quero voltar logo para o Rio - Diz Narayani ao celular comigo.

– Imagino, quero logo saber de tudo - Digo animado.

Menino, eu fui a uma boate GLS, lembrei de você quando começou a tocar Britney Spears.

– Jura? Eu quero ir para uma boate GLS, agora sabendo que tocam Britney, eu necessito ir em uma! - Dou uma risada e olho para o moço ao lado me encarando torto. Olho para frente segurando o riso - Nara, minha vez está chegando, depois nos falamos!

Tudo bem.

Depois de finalizarmos a ligação, consegui me concentrar nos papeis que a senhora de pouco mais de sessenta anos pedia.

– Você vai viajar sozinho? - Ela pergunta sendo uma das senhoras mais simpáticas do lugar.

– Não, vou com a minha Mãe e irmã!

– Ah sim, você é muito jovem para viajar sozinho para outro país - A senhora dizia enquanto olhava os papeis - Você lembra meu neto, sabia?

– É?

– Sim! - Logo me devolve os papeis depois de todo o processo - Você é calmo e fala como ele.

– Obrigado! - Digo com um sorriso.

– Você é muito bonzinho - Ela diz - Espero que faça uma boa viagem!

– Obrigado! - Eu não sabia o que dizer, apenas agradecia.

Saio dali e vou diretamente ao ponto de ônibus. Tento ligar para Zac pela quinta vez e seu celular ainda está fora de área. Sento-me no banco e aguardo o ônibus chegar, observo as pessoas enquanto isso, e vejo algumas de mãos dadas e outras com o estilo tão largado que pareciam usar pijamas. Vi todo o tipo de gente, cada um com seu estilo, e felizes por serem eles mesmos. Meus olhos avistam um casal encostado na parede, duas meninas conversando com suas mãos na cintura uma da outra. Dou um sorriso ao vê-las. Espero poder fazer isso com Zac algum dia.

Meu celular tocar de repente dando-me um susto, o retiro do bolso da calça jeans e atendo aquele número desconhecido.

Felipe?

– Carla? - Não conseguia ouvir direito, ela parece chorar enquanto falava ao celular.

Aconteceu uma coisa.

– O que foi? Você está bem? O que houve? - Digo ficando agitado.

Ela tentava dizer ao meio do choro, depois de respirar fundo, ela diz. Suas palavras batem em mim como um tiro. Então você respira fundo, porque sabe que se uma lágrima cair, não vai mais conseguir para de chorar.


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Notas finais do capítulo

O próximo capítulo dia 28 de Junho.
Estou tendo que dar esse curto hiatus devido as minhas provas finais na faculdade! =/

Não esqueçam de comentar, isso sempre ajuda! =)



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