Stay With Me escrita por Fenix


Capítulo 28
Até Mais!




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Meu mundo caiu, estou sem reação, não consigo nem se quer falar direito, como se minha garganta tivesse dado um nó. Apenas o abraço e deixo que ele continue chorando em meu ombro, deixo que se tranquilize enquanto me mantenho forte por nós dois.

Eu costumava acreditar no conforto que é visto nos filmes, mas você vê que a vida real é muito diferente disso. Não tem aquele final que todos ficam ansiosos para acontecer, não tem aquele momento em que compramos uma casa e vamos morar juntos, ao menos se tivesse, não iríamos ter mais.

O que mais me entristece e irrita, é que não posso fazer nada para impedi-lo. Eu tenho que assistir ele indo embora, devagar, diante de mim. Cada vez que ele puxava o ar ao meio de tanto choro, meu coração se estremecia, minhas mãos agarravam rigidamente sua blusa, chegando a marcá-la.

Fico com raiva do universo por ter me dado uma chance de ser feliz e ter tirado da mesma forma, tão abrupta que me deixa impotente. Tenho raiva dos pais dele por estarem fazendo isso, mesmo sabendo que eles não têm escolha. Porque isso tinha que acontecer? Deus, eu não mereço estar ao lado de alguém? Eu apenas quero uma resposta plausível para isso, e o Senhor apenas escuta e não faz nada.

Alguns dizem que Deus escreve certo por linhas tortas, acredito que acabaram as folhas do meu caderno da vida. Não sei mais o que pensar. Não importa o que aconteça daqui pra frente, não importa que caminho ele escolha seguir, eu sempre vou amá-lo. Mesmo estando longe, ele sempre vai estar no meu coração.

Nós afastamos e seco a lágrima que escorria por seu rosto. Ele fecha os olhos tentando se conter.

– Calma... - Digo - Por favor, não quero que chore - As palavras saíam arranhando pela minha garganta. Meus olhos devem estar bem vermelhos, posso senti-los arder - Eu vou estar sempre aqui... Isso não quer dizer que acabou... Podemos dar um jeito!

– Vai ficar difícil - Ele diz com a voz tão estremecida que mal da para entender - Eu não quero ficar tão longe de você.

– Você pode vir pra cá, passar o final de semana...

– Não é tão simples - Ele segura minha mão - Eu não posso pagar uma passagem para vir todo final de semana.

– Podemos tentar.

– Você pode encontrar alguém...

– Agora você não se garante mais? - Brinco aliviando um pouco a tensão e tirando um sorriso de canto dele - Eu não vou procurar ninguém, porque eu já tenho tudo que preciso.

– Eu te amo! - Ele diz ao me abraçar abruptamente.

Conheci muitas pessoas ao longo dos anos e nenhuma me tocou, nenhuma me fez sentir o que ele faz, nenhuma me fez ser quem eu sou quando estou com ele. Conheci mil pessoas e nenhuma me fez amar como eu o amo.

"Eu te amo" pensei que nunca ouviria isso de alguém, principalmente de um garoto. Fecho meus olhos e o afasto devagar, olho para ele e lhe beijo. Apesar de tudo, ainda temos o que muitos esqueceram, o amor, que pelo fato das pessoas não saberem mais amar, elas não se interessam mais por algo assim. Elas não reagem mais da mesma forma quando ouvem falar sobre "amor", porque para elas isso é uma bobagem agora.

Me dói pensar que você era a solução dos meus problemas e eu era a causa dos seus. Eu sei que essa era a verdade, e talvez eu não quisesse a verdade... Porque se não fosse eu agora, ele não estaria chorando.

– Confie em mim... Só porque não podemos ficar juntos, não quer dizer que eu não te ame - Ele diz, com sua testa apoiada na minha e suas mãos em minha nuca - Você é a pessoa mais especial que eu já tive o prazer de ter na minha vida.

– Zac... - O choro vem sem aviso, sem que eu pudesse me preparar. Apenas senti as lágrimas já escorrerem pelo meu rosto.

– Você é tudo pra mim e você sabe disso.

Afastamos e nos encaramos por um tempo. Eu não queria que fosse assim, não queria ter que vê-lo ir embora. Você de certa forma se acostuma de ter aquela pessoa sempre ao seu lado, cuidando de você e você cuidando dela. Zac fez coisas que nenhum garoto faria, ele realmente se importa comigo, com o que eu sinto.

Passamos o resto do dia juntos, sentados na areia, em silêncio e apenas aproveitando o tempo que ainda temos. Ficar olhando o mar nunca foi tão triste. Vimos o pôr do sol, veio-me em um pensamento, quantos pôr do sol eu ainda teria ao lado dele? Ou esse será o último?

– Quando você... - Eu não queria saber, mas tinha que perguntar. As palavras me engasgam um pouco - Quando você... Vai embora? - Pergunto de olhos fechados.

– Nesse final de semana - Ele responde depois de um suspiro profundo.

Ouvir isso foi uma das coisas mais dolorosas que já ouvi. Não sei se serei capaz de esquecer sua voz quando me respondeu, ou o tom sofrido que escapava por entre os dentes. Aperto sua mão sem querer deixá-lo ir. Recebo então um abraço acolhedor, daquele tipo que acalma sua alma, desacelera o coração.

Eu só desejo voltar no tempo, voltar para a viagem que fizemos juntos. Quero aquilo novamente, quero poder dormir novamente com você, sentir que está ali. Às vezes, você nunca sabe o verdadeiro valor de um momento até que se torne uma lembrança, que você gostaria de experimentar novamente.

Voltamos caminhando pra minha casa, com os passos curtos e devagar. Ele segura a minha mão para atravessarmos a rua, e olho para ele sem dizer qualquer palavra. Depois de minha garganta sangrar com tantas palavras, não conseguia dizer mais nada.

Ao chegarmos à calçada, não solto minha mão, continuamos de mãos dadas por um tempo. Pela primeira vez, eu não observo as pessoas em minha volta, não me interessa se estão olhando pra gente e julgando. A única coisa que me interessa agora é estar com ele, aproveitar cada segundo que eu tenho do meu dia, para ficar com ele e ser feliz... Mesmo que seja por pouco tempo, pois eu sei que logo a tempestade virá... Quero lembrar-me dos bons momentos que tivemos juntos.

Paramos na esquina da minha casa, ele solta a minha mão e entra em minha frente.

– Você vai ficar bem? - Ele pergunta.

Assenti com a cabeça. Zac toca em meu rosto e me abraça novamente.

– Eu não quero que fique assim - Diz ele - Eu não posso te ver assim.

– Eu vou ficar bem - Minha voz se estremece no final.

– Nos falamos mais tarde.

– Ta bem! - Recebo um beijo na testa e o vejo se afastar cabisbaixo.

Em casa, eu dirijo-me rapidamente para meu quarto e fecho a porta devagar. Apoiado nela, abaixo a cabeça chorando, os soluços são involuntários e não demoraram muito para aparecerem. Apago a luz e deito em minha cama, olho o céu pela janela, deixando que a dor pudesse me consumir por inteiro e talvez não doesse mais. As lágrimas ainda escorrem por meu rosto sem expressão, hipnotizado por algo que nem eu sei o que é. Momentos mais tarde, já não sentia mais tanta dor, não sentia mais meu corpo... É como se minha alma tivesse saído e deixado meu corpo para trás, até porque ele não é um bom lugar para se estar agora.

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Acordo com meus olhos inchados e minha mãe arrumando meu quarto enquanto reclamava de algo. Meu olhar se perde pelo cômodo assim que abro meus olhos, em meio aos meus braços, a prancha de pelúcia é pressionada contra meu peito.

– Ei, eu estou falando com você, pode me responder? - Diz minha Mãe.

– Oi... - Olho para ela.

– O que foi? Ta resfriado?

– É, acho que a alergia ta atacando de novo - Respondo.

Levanto e caminho para o banheiro. Meus olhos estão vermelhos, parece que não durmo há dias. Lavo meu rosto para amenizar os estragos. Minha aparência está tão ruim que mal podia me olhar no espelho.

Depois que almoço e ouço minha mãe reclamar que não comi quase nada do que estava no prato, ligo para Narayani, conto a ela tudo que aconteceu. Não sabia mais para quem ligar, eu estava perdido, só precisava conversar com alguém de confiança.

A conversa não durou muito tempo, ela estava na faculdade e não podia falar muito tempo. Mas disse que viria para minha casa e poderíamos conversar melhor. Pego meu laptop e sento em frente a ele, abro o Word e as ideias parecem ter sumido da minha cabeça. Fico observando a página em branco e essa angustia me irrita a ponto de fechar a tela do aparelho e levantar-me com uma bufada enfurecida.

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Narayani abre a porta do meu quarto devagar, sinto sua presença e giro meu olhar a ela sem ter que levantar da cama. Vejo-a dizer algo, mas não lhe ouço por causa dos fones de ouvido, a música "Not About Angels" tocava ao máximo no celular. Era o único jeito que eu consegui me excluir do mundo, dos problemas, e enfim relaxar.

Retiro os fones quando ela senta na beirada da cama e olha pra mim dando um sorriso de canto, daquele que não se sabe como começar e tenta fazer a outra pessoa se sentir a vontade pra isso.

– Ele vai embora... - Digo, sentando na cama, ainda debaixo da coberta - Nesse final de semana! - Minha voz nunca foi tão baixa e sem vida.

– É definitivo?

– Sim! - Observo meus dedos enrolando o fio do fone. Preciso me concentrar em alguma coisa antes que o choro retorne. Não quero chorar de novo - É por causa dos Pais dele ou sei lá...

– Mas vocês podem se ver ainda... Ele vai poder vir pra cá e você ir pra casa dele - Suas palavras doces tentam me tranquilizar, mas não é nada diferente do que eu já tinha dito a mim mesmo.

– Eu sei, mas vai ficar difícil - Meus dedos se enrolam nos fios e tento soltá-los depressa - Eu não vou poder ir pra lá, os Pais dele me odeia.

– Vocês vão dar um jeito, sempre dão.

– Não dá... Não dessa vez, eu não... Eu não consigo... - Puxo o fio com força e sinto uma lágrima escorrer por meu rosto. Droga, eu não quero chorar, é uma pressão que cresce dentro de mim e não dá para suportá-la. Fone estúpido que não conseguia me soltar.

– Ei, calma - Ela segura em minhas mãos e ajuda-me a desenrolar meus dedos - Fica calmo, Felipe - Narayani se aproxima e abraça-me enquanto choro sem parar.

Choro sem medo, sem ter vergonha, apenas deixo que essa sensação saia completamente de mim e não sei como, mas Narayani me ajudou com isso. Quando me abraçou, parecia que eu poderia cair e ela iria me segurar. Não lembro da última vez que algum amigo me abraçou assim, que me deu exatamente o apoio que eu precisava. Tudo que eu queria era ter alguém do meu lado, não para me ouvir, mas que eu pudesse chorar... Não dá pra chorar com as paredes de novo, elas não te entendem, e no final você acaba se tornando como elas... Algo sem coração... Sem alma! Uma pessoa tão fria que não consegue mais se comunicar com os outros. Eu não quero ser assim, por favor, eu não quero ser assim!

Às vezes penso que a vida é cruel demais com quem não merece. Eu achei que dessa vez, pra variar, algo de bom fosse acontecer. Pensei que Deus estivesse me recompensando de alguma forma por tudo que eu ouvi e fiquei quieto, por tudo que tive que fazer sem vontade apenas para agradar aqueles que hoje me julgam sem saber. Mas não, mais uma vez eu me enganei... Mais uma vez eu caí na falsa sensação de que tudo iria melhorar. Eu só não entendo o motivo disso. Dizem que Deus não nos dá obstáculos maiores do que podemos atravessar, mas agora acredito que ele nos testa para saber até onde vamos aguentar.

Eu só queria que alguém entendesse que existe muito dele aqui dentro de mim. Não é um simples amor, é algo que mexe com tudo em você, ele me trouxe para o mundo quando eu não podia estar mais escondido. Zac foi a única pessoa para quem eu realmente me deixei arriscar. Quem me tirou da zona de conforto e mostrou a mim que não tem nada de errado em ser homossexual, e isso era coisa da minha cabeça que foi influenciada por tudo que ouvi desde criança. De que forma eu deveria reagir ao saber que alguém que fez tudo isso por mim, simplesmente vai embora?

– Você não precisa deixá-lo ir... Tente ao menos ver se vai dar certo - Narayani fala ainda me abraçando e alisando minhas costas que se contraíam com alguns soluços de choro.

Ela pode estar certa, mas parece que quanto mais a gente tenta, mais difícil vai ficando. Fazemos planos, que por sinal parecem perfeitos e infalíveis, examinamos cada detalhe, tentamos fazer tudo da forma mais perfeita possível, pra no final acabar dando tudo errado.

– Ta legal, me escuta... - Narayani me afasta devagar - Para de chorar, ele ainda esta aqui, aproveite esse momento que vocês ainda têm juntos e deixa pra chorar quando ele for embora.

Seco minhas lágrimas fungando. Ela está certa, eu nunca imaginei que fosse tão difícil ver alguém partir assim. Mas preciso ser forte para poder aproveitar todos os momentos que tenho. Eu pensei em fazer isso, mas a dor foi mais forte que qualquer coisa que eu poderia imaginar.

– Toma aqui, ligue pra ele - Ela diz pegando meu celular ao lado do travesseiro - Vamos sair!

– Agora?

– Por que não? Tem algo melhor pra fazer? - Ela pergunta.

– É que já são sete horas da noite - Digo.

– Felipe, ele vai sair contigo nem que seja duas horas da madrugada - Narayani da uma risada no final - Vocês são perfeitos um para o outro, não vou ver você aqui chorando e desperdiçando esse tempo. Eu sei que é difícil, sei que vai sofrer cada vez que olhá-lo, porque isso só vai aumentar a saudade que vai sentir... Mas é melhor sentir saudade, do que se arrepender do tempo perdido.

Respiro fundo e levanto da cama. Ela da um sorriso tentando me animar e vai até meu guarda roupa para escolher algo enquanto eu olhava para o nome de Zac na minha lista de contatos.

– O que você acha dessa blusa vermelha? - Ela diz pegando do cabide e virando-se para mim. Então lhe ouço parar de falar e ficar alguns milésimos de segundos esperando minha reação - Quer que eu ligue?

– Eu não quero ligar pra ele com voz de choro - Falo levantando meu olhar.

– Tudo bem, vai escolhendo uma roupa que eu vou ligando pra ele - Ela vem a mim e troca o cabide pelo celular em minha mão.

Olho para minhas roupas e pela primeira vez eu não sabia direito o que vestir.

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Fomos para uma pizzaria perto da minha casa. Quando chego com Narayani, Zac e Carla já estavam sentados à mesa. O garçom nos acompanha até nossas cadeiras, puxo a cadeira em frente a ele, que da um sorriso a me ver.

– Chegaram rápido - Narayani comenta no instante em que chegamos à mesa.

– Jura? Eu pensei que vocês já fossem estar aqui - Carla responde.

– Oi! - Digo olhando pra ele.

Zac levanta-se da cadeira e dá-me um abraço apertado, daqueles que você não via a pessoa há muito tempo. Sinto o seu perfume e fecho os olhos deixando que o aroma se gravasse em minha memória.

Sentamos e conversamos sobre muitas coisas. O tempo voa quando se está com seus amigos. Por um curto momento, eu meio que esqueci que ele iria embora. A conversa sobre a viagem que fizemos estava tão boa, que não podia lembrar de mais nada a não ser aqueles incríveis momentos que sou grato por ter passado com ele.

Comemos mais algumas fatias e nos despedimos na porta da pizzaria. Zac me leva até seu carro e fomos andar pela cidade. Não fazia ideia de onde estávamos indo, por um instante eu pensei que fossemos fugir juntos, mas então lembrei que essas coisas não acontecem na vida real. Ele estacionou em frente a uma praia, desceu do carro e abriu minha porta.

– O que estamos fazendo aqui? - Pergunto, estranho o local.

– Não se lembra? - Ele pergunta, fechando a porta.

– Deveria?

– Vai lembrar.Vem comigo - Ele estica sua mão para mim. Levo a minha mão à dele e caminhamos mais para frente.

Observo o local na tentativa de lembrar-me de algo, mas esquecido como sou, isso será bem difícil. Ele me leva para areia e então avisto uma fogueira um pouco distante da gente.

– Ta lembrando agora? - Zac olha pra mim enquanto caminhávamos.

Sim, eu lembrava agora. Foi exatamente aqui onde as coisas começaram, onde eu definitivamente comecei a me apaixonar por ele, foi aqui que conversamos pela primeira vez. Zac recriou a fogueira do aniversário de Narayani, onde ficamos sentados e conversando por horas. Um frio na barriga faz-me arrepiar, contenho-me para não chorar e respiro fundo.

– Foi aqui basicamente onde tudo começou - Ele diz - Eu sei que foi lá no festival, mas foi aqui onde realmente nos conhecemos.

– Eu não acredito que você...

– Não foi nada... A Narayani me ajudou um pouco.

Vejo as cangas esticadas ao lado da fogueira, as mesmas usadas no aniversário de Narayani. Meu Deus, está tudo idêntico, parece que nem tiraram do lugar. Sentamos em frente à fogueira, ele diz que o fogo refletia no meu olhar, isso seria por causa dos meus olhos estarem cheios de lágrimas e eu não queria transformar esse momento em algo triste. Dou um sorriso e olho para ele, que me abraça e me aquece com seu corpo.

– Queria fazer algo legal pra você - Zac fala quando damos as mãos e as deixamos repousas em cima dos nossos joelhos.

– Você já fez coisas que ninguém nunca faria pra mim antes - Respondo, olhando para nossas mãos perfeitamente alinhadas.

– Eu amo você. Eu sou quem eu sou por sua causa. Você é toda a razão, toda a esperança e todos os sonhos que eu já tive na vida, e aconteça o que acontecer no futuro, cada dia que estamos juntos é o melhor dia da minha vida. Serei sempre seu. E você,será sempre meu - Zac me aperta contra seu peito e uma lagrima cisma em descer por meu rosto. Fecho os olhos para tentar parar, apesar de ser bem difícil.

Eu não sei explicar, mas de alguma forma, quando eu o conheci, eu sabia que seria ele. Podia sentir na minha alma que eu tinha encontrado alguém especial, porque essa sensação talvez eu nunca mais tivesse de novo.

– Eu quero você... Aqui... - Digo um pouco fanho - Não pode me culpar por querer isso.

– Eu não te culpo, eu não queria ir - Ele seca minha lágrima - Acredite, eu nunca fiz essas coisas antes, nunca fui tão louco por alguém... O amor mexe com a gente e acabamos fazendo coisas loucas por quem amamos.

– Eu posso ir ao aeroporto me despedir? - Pergunto, olhando para ele, com a luz da fogueira iluminando seu rosto, e seus olhos verdes que jamais vou conseguir esquecer.

– Ficaria triste se não fosse - Ele responde.

O silêncio prevalece por alguns momentos. Deito em seu colo e o deixo acariciar minha cabeça. Admiramos as labaredas da fogueira que pairam no ar. Ás vezes levando nossos olhares ao céu estrelado.

– Você disse que ia pra Disney - Zac puxa assunto. Eu também já estava exausto de falar sobre o final de semana.

– Sim!

– Vai conhecer o Mickey, tente não pedi-lo em casamento, me falaram que ele é muito atraente - Zac brinca.

– Pode deixar, eu vou tentar me conter - Digo dando uma leve risada, aquela que no final você até suspira um pouco aliviado.

– Vai ser muito legal essa viagem, e você finalmente vai ir para os Estados Unidos, você sempre sonhou com isso.

– Eu ainda não acredito que vou para lá - Continuo deitado em seu colo, apenas viro para poder olhá-lo - Eu vou poder falar Inglês e ninguém vai ficar me olhando esquisito.

– Só se falar errado.

– Eu sou quase um americano.

– Só que não, né? - Ele brinca e me faz sorrir novamente.

O que eu mais amo nele, é que eu posso estar o mais triste possível, ele sempre consegue tirar o sorriso mais bonito e mais puro que eu posso dar. Do jeito que limpa a alma e acalma meu coração. Era engraçado porque, toda vez que ele me fazia sorrir ou rir, eu sentia uma vontade incontrolável de explicar pra ele o quanto eu o amava. Talvez esse rapaz de cabelo castanho claro e olhos verdes, seja a única pessoa no mundo que me entenda por completo. Ninguém nunca me viu tão transparente como ele, ninguém nunca soube do meu medo de amar demais, de se perder um pouco de tanto amar, de não ser bom o suficiente.

– Posso te perguntar uma coisa? - Falo segurando sua mão e fazendo guerra de polegares com ele.

– Qualquer coisa - Ele responde.

– Porque eu?

– Oi? - Zac olha pra mim um pouco confuso.

– Tinha tanta gente naquele festival... Apenas nos esbarramos e isso foi o pequeno motivo por eu me apaixonar incondicionalmente por alguém tão perfeito - Falo devagar, apesar de o meu coração estar tão acelerado que posso sentir minha pulsação.

– Eu não sei... - Ele diz - É algum tipo de efeito que você causa em mim que eu não sei explicar.

Dou uma risada e o encaro. Levanto-me um pouco, mas o bastante para podermos nos beijar. Confesso que com Zac encontrei meu motivo pra sorrir. Encontrei alguém que eu queira dividir a minha cama, meu amor e minha vida. Encontrei alguém que aguentasse meu coração enjoativamente doce, e que suportasse meu humor incrivelmente esquisito.

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O dia amanheceu de uma forma diferente hoje. Não sei o que exatamente, não sei se é algo triste ou feliz, mas sinto que está diferente. Sabe aqueles dias que você acorda e parece que ainda está vivendo o dia anterior? Bom, isso está acontecendo comigo agora.

Essa nostalgia de ontem, me traz lembranças maravilhosas dos momentos que passei com Zac em frente à fogueira. Preparo-me psicologicamente para o amanhã, o dia que eu poderia dar minha vida para que não chegasse.

Passei horas deitado na minha cama, assistindo televisão e tentando distrair-me para que não ficasse pensando demais. Sou uma pessoa muito ansiosa, já sei que terei problemas para dormir hoje.

Ao entardecer, ouço a campainha da minha casa soar por toda a residência. Não esperávamos visitas, ao menos não que eu saiba. Levanto-me curioso, com meu coração acelerando por algum motivo desconhecido. Meu Pai dirija-se à porta após o comando de minha Mãe que está sentada no sofá vendo televisão. Paro no topo da escada e espero que ele abra a porta, respiro fundo ao vê-lo segurar a maçaneta. Minhas mãos estão realmente suadas, dou um passo para frente e seguro no corrimão, mas porque eles estão aqui? O que os Pais de Zac estão fazendo em frente a minha casa?

– Somos os Pais do Zac, amigo do seu filho - Diz a Mãe dele.

Continuo paralisado na escada, meu olhos ficam vidrados na porta sem qualquer reação.

– Podemos conversar com o Senhor e a sua Esposa? - Pergunta o Pai dele.

O medo entala minha garganta, a saliva desce como navalha. Meu coração a qualquer momento pode estourar meu peito, minhas mãos não paravam de tremer. No fundo eu já sabia o que estavam fazendo aqui, mas não podia acreditar. Não, isso não pode estar acontecendo, meu Deus, não.

Sinto como a morte batendo em minha própria porta, o que pode significar isso nos próximos minutos. Meu Pai não entende muito bem e chama minha Mãe da porta, ele levanta o olhar para a escada e me avista no topo, com meus olhos fixos para ali. Ele volta seu olhar para os Pais de Zac.

– Vamos conversar lá fora! - Meu Pai sugere.

Vejo-os saírem de casa e fechar a porta. Então percebo que tudo definitivamente acabou, se vieram falar sobre mim e Zac, o que acho ser o motivo da visita deles, eu não tenho mais chance alguma de continuar.

Volto para meu quarto e fecho a porta, fecho os olhos e rezo para que eu esteja enganado. Deus, se está me ouvindo agora, por favor, não faça isso... Eu imploro, não faça isso comigo, eu não posso aguentar isso agora, por favor.

Posso ouvir a porta da sala se fechar depois de um tempo. Levanto meu rosto que se escondia ao meio de meus braços. Sentado no chão, no canto do quarto, com meus olhos avermelhados e nariz ardendo de tanto fungar, posso ouvir os passos de alguém subindo a escada. Minha Mãe abre a porta com a expressão mais séria que podia ter, com um olhar que dilacerou toda minha alma, se é que ainda a tenho.

– Desce, eu e seu Pai queremos conversar com você! - Ela diz friamente e sai do quarto deixando a porta aberta.

Levanto-me para uma das maiores guerras que um ser humano pode enfrentar. Eu venho me preparando para esse momento desde que me aceitei como homossexual, mas nunca pensei que seria de forma tão repentina e sem controle. O mundo pode se virar contra você em questão de segundos, você nunca está preparado para o que pode vir na próxima esquina, acredite, por mais que você saiba o que estar por vir, você nunca está devidamente preparado. Não me assustei pelo fato das coisas terem se virado contra mim de forma tão abrupta, me assustei por não saber como reagir agora. Se fosse você no meu lugar, se fossem seus pais lá embaixo, você estaria preparado?

Desço a escada devagar, meu olhar analisa o ambiente intenso que se forma na sala, meu Pai sentado na poltrona, inclinado para frente, com as mãos sob a boca como se estivesse pensando em algo, e seus olhos estão focados no chão, sem piscar se quer uma vez. Enquanto minha Mãe caminhava de uma ponta a outra da sala, com a mão apoiada atrás na cintura e os olhos cheios de lágrimas. Eu queria voltar para o meu quarto, pegar as minhas coisas e fugir. Fugir para bem longe, onde ninguém pudesse me encontrar, onde eu pudesse ser outra pessoa. Não me importo na verdade para onde eu iria, só sei que qualquer lugar é melhor do que estar aqui agora.

– O que você tem com o Zac? - Minha Mãe pergunta assim que termino de descer a escada.

– Como assim?

– O que o Zac é pra você? - Ela continuava a perguntar. Observo meu Pai ainda paralisado na poltrona.

– Ele é meu amigo! - Respondo.

– Amigo... - Ela da uma risada debochada. Nunca tinha visto minha Mãe tão irritada, o jeito que ela fala chega a me dar um pouco de medo. Eu não posso imaginar que eu estou causando tanta dor assim - Você mentiu pra gente!

– Não menti.

– MENTIU SIM! - Ela grita chorando - Você viajou com aquele garoto e mentiu pra gente, falando que foi com os amigos da Narayani.

– São amigos dela.

– Pelo amor de Deus, Felipe - Minha Mãe passa a mão na cabeça respirando fundo - Você não entende? E-eu nem te reconheço mais...

Não tinha o que falar, as palavras fugiram da minha boca e me deixaram sozinho com o silêncio para aguentar com força as coisas que ainda serão ditas. Agarro o fim do meu short para tentar desviar um pouco a tensão, para tentar fazer com que meu coração se desacelerasse pelo menos um pouco... Ele está batendo tão forte que sinto dores no peito!

– Você tem ficado estranho com todo mundo... É influência dele, para de andar com ele - Ela dizia tão fortemente que posso dizer que parecia como uma forma de suplico.

Engulo a saliva a seco, respiro fundo e mantenho-me calado, ficando em pé ao meio da tempestade. Aguentando firme bem no olho do furacão. Não sei por quanto tempo serei capaz de me manter de pé, está ficando realmente difícil. Queria sumir, sabe? Fugir para algum lugar, lugar onde não tenha ninguém me lembrando o quanto só trago o mal para as pessoas que eu só quero o bem. E o pior é que não faço isso de propósito, não é porque quero, mas ninguém entende, só sabem falar e julgar. Não está sendo fácil. Estou quase me esgotando. Quero ir embora, porque quando eu estiver totalmente esgotado, não quero ferir mais ainda quem eu amo.

– Meu filho, você não é gay - Ela então finalmente diz. Quando a palavra 'gay' sai de sua boca, parecia que levou consigo a maior dor que uma Mãe pode sentir - Você foi influenciado por ele, você não é assim.

– Você dormiu com ele? - Meu Pai pergunta olhando para o chão. Eu não era digno do seu olhar, não mais.

– Hélio - Minha Mãe diz.

– Você fez sexo com aquele garoto? - Ele pergunta sem raiva, sem ódio... Apenas a dor soava pela sua fala.

– Eu não quero saber disso - Minha Mãe caminha para a janela.

– RESPONDE! - Ele grita, fazendo-me sair do estado de choque. Por um milésimo momento de fraqueza, uma lágrima escorre por meu rosto.

– Não! - Digo.

– Que 'não' o que? Vocês viajaram juntos, vai me dizer que não dormiram juntos? - Minha Mãe fala se afastando da janela.

– Mãe, dormimos em quartos separados - Eles não iriam acreditar se eu dissesse que dormimos juntos, mas nunca transamos.

– Ta bom, me engana que eu gosto - Minha Mãe senta na poltrona desolada, já ficando fraca de tanto que chorava - Em toda minha vida, eu nunca pensei que ia ter que passar por algo assim. Imagina se os outros ficam sabendo? Imagina se o Joe fica sabendo... Ninguém pode saber disso, ninguém!

Eu mantenho minha mente com Zac, deixo que agora que ele cuide dela, não posso ouvir mais nada, não aguentaria mais. Penso nele a todo o momento. Eu lutei tanto para que isso não acontecesse, mas ele se tornou a minha força. Apesar de tudo estar acontecendo por causa dele, eu não o culpo, porque ele pode não fazer ideia de que seus Pais vieram aqui.

– Pode subir - Meu Pai diz, de olhos fechados e pondo a mão no rosto.

Afasto-me devagar. Entro no meu quarto e tento controlar o choro que vem à tona. Meu peito ferve e minhas mãos tão tremulas que não tinha firmeza nem para segurar meu celular. Ajoelho-me ao lado da cama, meu chão está desmoronando. Vejo as paredes se fechando contra mim, já percorri por todo o labirinto e receio que já não tenho mais para onde correr.

Porque tudo precisa ser tão difícil? Não tive tempo de me reerguer e já me vejo na pior guerra que eu poderia enfrentar.

Observo pela janela do meu quarto o anoitecer chegar, a lua aparecer graciosamente no céu. Sinto-me mais calmo, de modo que depois de tanta adrenalina, meu corpo está relaxado por completo, atirado na cama da mesma forma há duas horas. Meu celular tocando foi a única coisa que me fez agir, eu já estava quase deixando o meu formato no colchão.

– Felipe, Felipe me desculpa, eu não fazia ideia do que eles iam fazer - Zac falava aflito ao celular - E-eu já discuti com eles, eles não tinham o direito de fazer isso... Meu Deus, meu Deus, como você está?

– Calma. Eu posso responder se você parar pra respirar um segundo - Digo, tentando soar o mais normal possível.

– Eu não consigo imaginar como você está agora.

– Está tudo bem! - Eu respondo - Quero dizer, eu vou ficar bem!

– Você sabe que eu não queria que nada disso acontecesse, por favor...

– Eu sei, calma. Você não tem culpa de nada, relaxa.

– Você é muito importante pra mim, você sabe disso, eu queria estar com você agora... Droga, eu posso ir pra ai se você quiser, se bem que não seria uma boa ideia... Podemos sair para qualquer lugar.

Fiquei triste o dia inteiro, aí você me procura, inevitável, acabei sorrindo ao ver você falando comigo. Você se apaixona por uma pessoa pelos detalhes. Pela sua gentileza. Seus olhos. O sorriso. O fato dele conseguir arrancar o mais sincero sorriso quando você mais precisa, sem nenhum esforço.

– Eu realmente não estou com disposição pra sair hoje - Respondo, apesar de estar louco por estar com ele agora, estar em seus braços, o único lugar em todo o mundo que consegue fazer-me sentir seguro.

– Como foi? - Ouço-o perguntar com tanta preocupação, que sentia vontade de dizer cada detalhe, cada fala e cada gesto da conversa. Mas do que adiantaria? Eu só o deixaria mais nervoso. Sempre que tento fazer o certo, seguir meus sentimentos, eu não acabo bem no final, então, por hora, eu vou evitá-lo de todos os detalhes mais intensos e contar basicamente o que aconteceu.

Enquanto ele dizia suas palavras que mais pareciam poesias tiradas de algum romantismo, eu tentava segurar o fato de que não vou mais poder vê-lo, tocá-lo, beijá-lo... Que agora meus Pais estão com uma imagem tão ruim de mim, que podem estar desejando que eu não seja filho deles. Eu nunca me senti tão diferente de mim mesmo quanto agora, nem mesmo quando eu escondida minha sexualidade. Posso olhar-me no espelho, mas não sou eu que estou refletido ali!

Deixo-o falar sem parar, é tão bom ouvir a voz de alguém que você ama. Ouvir que alguém se importa com você, que está ali do seu lado para todos os momentos e apesar das circunstâncias, quer fazer de tudo para te ver bem. É simples assim, porque para o nosso amor, um banco de praça já basta. Ou ficar na praia observando o mar. Ou uma xícara de café. Amor mesmo é um filme de baixo orçamento.

– Zac... - Digo.

– Oi.

– Eu não quero chegue amanhã - Meus olhos voltam a lagrimejar.

– Lipe, eu não estou preocupado com isso - Ele diz de forma doce e natural.

– Como não?

– Porque não importa a distância que eu esteja de você, podem me levar pra Marte se quiserem, eu vou continuar te amando como sempre amei.

Fecho os olhos com a mão sob a boca para abafar os suspiros que antecedem o choro.

– Eu nunca me apaixonei por ninguém assim antes - Posso ouvir sua respiração ficar mais ofegante - Porque no meio dos meus erros, o meu acerto foi você.

E foi com esse final, que nos despedimos, finalizamos a nossa ligação. Sua voz ainda soava pela minha cabeça, ecoava por todo meu corpo, tranquilizava meu velho coração que tem batido demais ultimamente.

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Sábado de manhã, faltam poucas horas para o voo de Zac sair do aeroporto perto da minha casa. Estou tomando café no meu quarto, sentado na cama e olhando para a prancha de pelúcia devidamente ajeitava em cima do meu travesseiro. Sempre que olho pra ela, lembro-me do dia que a peguei naquele parque, e da forma que ele me devolveu depois. O pão descia lentamente pela minha garganta, não estou com fome, e nem se quer toquei direito no copo com nescau.

Hoje não é um bom dia, eu queria poder ir me despedir no aeroporto, mas não saio de casa sem dar satisfações aos meus Pais, que no momento estão evitando de falarem comigo. Quando fui fazer meu café, me senti um estranho ao meio de uma família. A única que ainda trocou algumas palavras comigo, foi Aline. Minha Mãe agiu como se eu nem estivesse ali.

Deixo metade do pão em cima da mesa do computador, ao lado do copo cheio de nescau, e deito na cama, minha cabeça fica sob a prancha de pelúcia e fico olhando para a parede. Espero o tempo passar, a cada minuto que se vai, é como se um dos fios que me ligasse a Zac fosse cortado. Aquela sensação da batida do ponteiro que faz seu coração bater uma das vezes mais forte do que das outras.

– Oi - Narayani bate na porta do meu quarto e entra de mancinho após fechá-la.

– Oi! - Digo, tristonho.

– Desculpa ter vindo sem avisar, é que eu queria saber, como você está? - Ela diz um pouco preocupada.

– Estou bem - Respondo. Essa já virou uma resposta automática do meu cérebro para evitar que eu fique pior do que realmente estou. Quem sabe se eu continuar falando isso, realmente não me convença?!

– Achei que a Michele fosse vir - Ela comenta.

– Não, ela não pode vir, precisou ir conversar com o namorado - Sento-me na cama.

– Mas ela sabia que ele estaria indo embora hoje?

– Sabia, eu conversei com ela.

– E o que ela falou?

– Bom, eu... Eu tentei conversar com ela, mas acho que foi meio que ao contrário... Contei a ela que ele iria embora hoje, mas ela estava tão confusa sobre o que iria fazer com o namorado, que ficamos falando mais sobre isso. Quando fui falar sobre o que houve... Ela precisou desligar!

– Não fica triste. Ela podia estar com problemas - É engraçado, pois nem a Narayani acreditou no que tinha acabado de dizer.

Eu não fiquei triste com isso. Chateado, talvez, mas amizade é quando você não faz questão de você e se empresta pros outros. Ela nunca tem alguém para conversar, então precisava falar comigo, o problema é que eu também precisava falar com alguém.

– Bom... E o que você está fazendo aqui ainda? O voo dele não sai daqui a duas horas? - Narayani pergunta.

– Sim - Respondo após respirar bem fundo, com a prancha abraçada contra meu peito.

– Felipe... Acorda pra vida, porque não estamos a caminho do aeroporto?

– Nara, eu não estou bem com meus Pais.

– Olha, eu entendo, entendo tudo que está passando... Sei o quanto é difícil ver quem você ama partir, e você acha que ficar aqui, olhando pra parede, vai te poupar do sofrimento. Mas confia em mim, não vai... Isso só vai aumentar a sua dor, porque você vai se culpar de não ter ido vê-lo no aeroporto.

Respiro fundo e levanto devagar da cama, olho pra Narayani que está sentada na ponta. Assenti com a cabeça, fazendo-a dar um grande sorriso e ajudou-me a arrumar rapidamente. Depois de estar totalmente pronto e faltar uma hora e meia para o voo dele, corro até meu guarda roupa e pego a minha mochila.

– Vamos logo - Narayani me apressa na porta.

– Calma, já estou indo - Fecho a mochila em cima da cama e saímos de pressa do quarto.

Descemos correndo a escada e grito avisando minha Mãe que iria sair e a Narayani estava comigo. Aline responde apenas um 'Ok' para dizer que ouviu e saio de casa apressado.

– Vamos chegar rápido, você vai conseguir - Ela diz enquanto caminhávamos tão rápido que eu não sei como não tropecei nos meus próprios pés.

Chegamos ao aeroporto alguns minutos depois de sairmos de casa. Assim que desci do ônibus, procuro rapidamente a linha aérea pela qual ele irá viajar. Narayani me segue correndo. Sinto-me feito um louco correndo pelo aeroporto, apesar da vergonha imensa que bate contra mim nesse momento, eu não me perdoaria se eu não falasse com ele antes de ele ir embora.

As pessoas não evitavam não olhar pra gente que desviávamos rapidamente de todos que estavam em nossa frente. Eu cheguei a dar algumas gargalhadas, pois confesso que foi realmente engraçado. Quando finalmente chegamos a linha aérea, não o encontro na fila do check-in , meu olhar o procura pela multidão.

– Ele não está aqui... Narayani, não o encontro - Digo, virando-me e procurando aflitamente por todos os lugares.

– Eu estou bem atrás de você!

– É claro que está! - Dou um sorriso e viro-me para ele.

Zac me abraça tão forte que consegue tirar toda aquela dor que meu corpo sentia no momento. Mesmo eu sabendo que eu não deveria estar aqui, que as consequências de tudo isso possam ser severas. Amor é quando você tem todos os motivos para desistir de alguém, e não desiste. Eu realmente só quero estar com ele mais uma vez, poder abraçá-lo, sentir seu perfume, porque depois eu não sei quando vou ter a chance de poder fazer isso de novo.

– Eu achei que não fosse vir - Ele diz ainda me abraçando.

– Eu precisei de um pequeno empurrão - Digo olhando para Narayani, que sorrir ao ver nos dois juntos.

Afastamos-nos, vejo-o com os olhos lacrimejando, arrancando de mim um sorriso bobo e apaixonado.

– Meu Deus... - Ele diz, secando as lágrimas.

– O que?

– Jamais deixem tirar esse teu sorriso, isso deveria ser crime - Zac diz fazendo-me rir um pouco mais e assim chorar, deixo-me levar pela emoção por mais um pouco.

– Eu nunca tive a chance de dizer... - Falo olhando para ele.

– Dizer o que?

– Eu não tive reação a isso, eu não sabia o que era isso, mas agora eu sei.

Porque só tinha aparecido gente louca. Tinha medo de um “eu te amo” sair da minha boca. Até que uma hora ele saiu, eu gelei, te olhei, você disse: eu também, e sorriu. Meu coração latejou rápido, e o nó da garganta se desatou. Minhas mãos ficaram trêmulas e as pernas estavam bambas. Todas as sombras do meu caos desapareceram, porque avistei algo em seu olhar, algo que completa minha alma. Porque tudo de mim ama tudo em você.

Ele leva-me para um lugar menos movimentado. Um corredor com as paredes de vidro, ali podíamos olhar os aviões que se preparavam para decolar. Ele segura minha cintura e puxa-me para perto, recebo um dos melhores beijos que poderia receber. Hoje cheguei à conclusão que quando o amor é mais forte que a opinião dos outros, ele dura. Eu dava muita importância para o que iam pensar de mim, e certamente me importo com meus Pais, mas eles são as únicas pessoas que eu ligo para a opinião agora. O que sinto por Zac é tão forte que nem a opinião deles consegue abalar. Eu poderia enfrentar aquela conversa todos os dias, se no final de cada dia eu tivesse a certa que iria vê-lo e tê-lo por perto.

– Promete para mim que você se lembrará de mim quando o mundo se esquecer? - Ele pede.

– Eu nunca vou me esquecer de você - Aliso graciosamente seu rosto em um toque que podia sentir a sua barba um pouco áspera - Vamos nos encontrar de novo, eu sei, nem que eu tenha que fazer isso acontecer. Vamos ficar longe, mas não será pra sempre!

– Como você pode ser tão esperançoso?

– Porque eu tenho você pra me ajudar - Respondo.

– Você vai ficar bem, é um garoto forte - De verdade, eu odeio despedidas, e ouvir ele dizer essas coisas, foi bem difícil pra mim - Eu sei que você está tentando se manter forte agora, não precisa... Eu não estou podendo ser forte agora, porque não da pra ser forte quando tem que ficar longe de você.

Ainda não conheci alguém que me conhecesse tão bem. Soubesse cada emoção que estou tendo apenas olhando em meus olhos. Dizem que os olhos são as janelas da alma, e de fato ele conseguiu ver minha alma dali. Foi então que desabei em seu braço. Meu choro incontrolável, minhas mãos que apertam a manga de seu casaco com tanta força, que podia sentir dó do pano. Você já abraçou alguém tão apertado a ponto de não ter intenções nenhuma de deixa-lo ir, porque você quer que ele saiba o quanto ele significa pra você e o quanto você quer pegar todas as coisas ruins da vida dele e substituir tudo apenas por coisas boas?

Caminhamos de volta com as mãos dadas. Paramos um pouco distante da sala de embarque, enquanto ele abraçava Narayani, observo seus amigos perto de seus Pais. A única que veio até a mim, foi Carla, que me abraçou chorando.

– Se Deus é justo, vocês vão ficar juntos de novo! - Ela sussurra em meu ouvido - Torço muito por vocês dois.

– Obrigado! - Dou uma risada com ela secando as minhas lágrimas com uma mão e as dela com a outra.

Ela se afasta um pouco com a Narayani e nos deixa sozinhos. Ele da um sorriso ao meio de tanto choro, e tento fazer o mesmo, mas não ficou nem perto do quanto foi perfeito o sorriso dele.

– Eu vou estar sempre do seu lado, cuidando de você, e tudo bem, eu sei que também vai cuidar de mim - Ele diz - Você me ama?

– Sim... Sim... Sim... - Respondo feito um disco arranhado. Ele da um sorriso. Toca em meu rosto e beija-me novamente. Você é a minha escolha. E eu nunca acertei tanto como quando eu disse “sim”. E eu nunca quis tanto continuar dizendo “sim” todos os dias, para a mesma pessoa, o resto da minha vida.

– Eu nunca vou cansar de te amar - Ele diz baixinho, somente pra que eu possa ouvi-lo.

Abraço-o chorando sem parar. A dor ia rasgando meu coração pela metade, uma parte de mim está indo embora... A boa parte de mim! Eu o amei demais. Amei cada detalhe, cada gesto. O amei quando tudo fazia para que eu o odiasse. Eu o amei, mesmo com todos dizendo que era errado. Eu o amei tanto, que quando o via não sentia mais borboletas, e sim elefantes no estômago. Eu simplesmente o amei de forma tão pura e incondicional, que nem eu mesmo sabia que era possível ter um sentimento tão grande.

Tudo que eu queria dizer já disse a ele, não tinha como expressar tudo que estou sentindo. Uma verdadeira tempestade de emoções que vai dominando a mim. Amor e Dor se colidem até o fim.

Fecho meus olhos e sinto seus lábios tocarem aos meus devagar, de um jeito tão delicado que eu poderia sentir isso pelo resto da minha vida. Você deve saber como é beijar alguém que realmente ama, sentir esse desejo de não querer parar mais. Levo minha mão a sua nuca e já não quero mais soltá-lo, tudo em mim está conectado a ele.

– Zac! - A Mãe dele o chama.

Ele repousa sua testa na minha enquanto se preparava mentalmente para se despedir. Eu nunca pensei que fosse ser tão difícil, talvez não exista dor pior que essa... Se existir, eu não quero senti-la, pois não sei o que seria de mim se tivesse que passar por algo pior que isso.

– Eu te amo! - Ele diz chorando.

– Espera... - Digo retirando minha mochila.

– O que foi?

– Toma - Retiro a prancha de pelúcia da mochila - Você vai querer ficar com ela.

– Não - Ele diz - Eu quero que fique com você. Esse é o único presente que liga a gente, quero deixar ele com você, porque sei que será bem cuidado - Zac toca em minhas mãos que seguravam a prancha - Eu sei que com você isso vai estar a salvo, pois eu confiei em você para cuidar do meu coração e olha... Fez um belo trabalho!

– Até mais - Digo chorando, o motivo todos já sabe, mas a dor de dizer essas pequenas duas palavras, é devastadora - Não vou dizer a Adeus, não vai me ver me despedindo de você, porque vamos nos encontrar de novo.

– Então... Até mais? - Ele diz chorando de uma forma que eu nunca o vi antes. Suas palavras me fazia chorar cada vez mais.

– Até mais! - Afasto-me com passos para trás, se o abraçasse novamente, não conseguiria mais soltá-lo.

Eu juro que nunca senti uma dor tão grande na minha vida, do que a dor de ver quem você ama partir. Ele afasta-se a caminho de onde estão seus Pais.

Não olhe para trás, não faça isso comigo, não faça isso com você mesmo. Apenas continue andando e tente não olhar para trás, pois será difícil deixá-lo partir com a imagem de você chorando em minha mente. Se eu tivesse que aconselhar alguém sobre o amor, eu diria para você procurar por alguém que, com milhares de opções, escolha você. Essa é uma das formas que você pode identificar o amor verdadeiro.

Na fila para ir a outra sala, ele olha para mim. Estou parado, imóvel, sem qualquer tipo de reação além de chorar. Sinto a mão de Narayani tocar meu ombro, mas meus olhos continuam fixos a ele.

Você saiu para a sala de embarque e eu pensei: Será que um dia você vai voltar?

Viro-me abraçando Narayani e chorando em seu ombro. Estou sem chão, sem minha alma, estou sem mim. Não aguento mais pensar em tudo isso, pensar que você realmente foi embora e não tem mais volta, tudo o que penso agora é: Por favor, volte e seja o amor da minha vida.

Assim que ele saiu, fechei os olhos e recapitulei tudo o que acontecera naquele espaço de tempo: o modo como ele olhava para mim, os sorrisos contentes, os beijos doces. Repassava tudo, uma e outra vez, enquanto me preparava para dormir.


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Notas finais do capítulo

O próximo capítulo será postado no Domingo, 14.
Espero que tenham gostado deste capítulo, por favor, não esqueçam de comentar, isso ajuda muito para me animar a continuar escrevendo!
Obrigado a todos e até dia 14 =D



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