Stay With Me escrita por Fenix


Capítulo 27
Mudanças - Parte 2




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Olho para ele, vejo aquela pessoa que faz com que eu me sinta bem, feliz comigo mesmo. Continuamos a viagem de volta para nossas casas, que particularmente eu queria poder ficar no transito por mais algumas horas. É um saco, eu sei, mas é bem melhor quando você está com pessoas que você ama.

Eu me importava muito com isso, mas hoje eu penso que amor é amor de qualquer jeito, você não deve se culpar por amar um homem. Isso é normal, tão natural quanto um casal de héteros, a única diferença é que eles são mais aceitos que nós. E por causa disso passamos a estranhar um comportamento que não seja igual ao deles.

A noite cai e ainda estamos na estrada. Minha mãe já me ligou algumas vezes e lhe atualizei a distância que ainda estamos de casa. Não demorou muito e nossos estômagos já começaram a gritar por comida. Paramos em um fast food na beira da estrada, o que me fez lembrar da primeira vez que eu saí com Zac, e ficamos comendo o sanduíche dentro do carro.

Carla e Narayani ficam conversando na porta do veículo enquanto comiam o hambúrguer. Eu e Zac estamos deitados no capô, eu terminando de tomar meu refrigerante e ele ainda comendo o final do lanche. Fico observando o céu estrelado, apesar do barulho dos carros, posso sentir a serenidade do local que não é cercado por uma cidade. Vejo a lua por entre alguns galhos das árvores em nossa frente. A brisa fresca que pairava pelo ar, em alguns momentos até chegava a embalançar nossos fios de cabelo.

– Às vezes eu fico pensando... Ta vendo aquelas marcas mais escuras na lua? - Zac comenta.

– Sim!

– Dizem que são meteoros que colidem com a Lua e formam aquelas crateras, elas são tão fundas que podemos avistá-las da Terra - Ele diz - Mas eu acho que isso só mostra o quanto ela é forte, mesmo com tantas cicatrizes, ela continua de pé, firme e preparada para outro meteoro.

Meu olhar descansa enquanto o admiro de perto e ouço cada palavra que dizia. Ainda surpreende cada vez mais.

– Sabe... - Ele olha pra mim - Eu acho que a Lua é algo mais que magnífico nesse universo.

– Astrologia agora? - Brinco.

– Idiota - Ele da um leve empurrão em meu ombro, fazendo-me dar uma pequena risada - Sério, a Lua está ali toda noite, mostrando quando o dia termina e acaba, ela também consegue sumir completamente do céu por alguns minutos e voltar ainda mais bonita. Ela tem tantas fases e nunca deixou de ser ela mesma.

– Eu ainda não tinha parado para pensar assim - Digo.

– Você está ocupado demais caindo por ai - Ele retruca.

Dou uma risada e inclino minha cabeça em seu ombro ao mesmo momento em que ficamos observando as estrelas.

– Alguma história tocante sobre as estrelas? - Brinco.

– Não te conto mais nada - Ele fala rindo.

– Estou brincando... Eu poderia ficar ouvindo você falar sobre todo o sistema solar e nunca iria me cansar - Falo segurando sua mão e entrelaçando nossos dedos - É que eu nunca vivi isso... Essas coisas... São novas pra mim! Eu vivi dentro de um casulo a minha vida inteira e agora que estou saindo para vê o mundo... Antes eu simplesmente existia, hoje eu estou começando a viver!

– Eu entendo.

– Eu queria poder saber como reagir a cada gesto que faz, e-eu tento, mas eu não sei como...?!

– Você se cobra muito - Zac passa a acariciar minha mão com seu polegar.

– Eu espero poder retribuir tudo isso algum dia.

– Isso o que?

– Tudo... Tudo que você faz pra mim, cada coisa... Você pode achar que são simples e bobas, mas são bem significantes pra mim. Eu só queria não ser tão...

– Você já retribui sendo você mesmo.

Confesso que meus olhos estão aguentando firme para que não se enchem de lágrimas agora. Minha mão começa a suar e estou levemente nervoso diante desse momento.

– Eu não faço isso querendo nada em troca. Eu só quero algum dia poder sair com você sem ter que ficarmos com medo de tudo.

– Eu sei... - Respiro fundo. É, eu também entendo que o fato de ainda não ter "saído do armário" é um pouco frustrante. No entanto será por pouco tempo, sei que algum dia eu terei que fazer isso e só terei forças com Zac ao meu lado.

– Meninos, vamos? - Narayani diz abrindo a porta do carro.

– Sim! - Zac ergue-se e sai do capô. Atraso-me alguns instantes, essa ideia toma conta da minha mente. Sou uma pessoa impulsiva, quando eu cismo com alguma coisa, não descanso até fazê-la.

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Zac me deixa na porta de casa e ajuda-me a tirar a bagagem do carro. A rua está deserta, não passa nem um carro se quer. As casas com as luzes apagadas, o silêncio ensurdecedor que domina a região agora. Ele fecha a mala, nossos olhares se cruzam e se fixam.

– Quando chegar em casa me avisa - Digo.

– Ta bem - Ele responde.

– Obrigado pelo final de semana maravilhoso - Falo sem nem me importar com o peso da bagagem nos meus ombros.

– Não precisa agradecer - Responde Zac - Eu fico feliz que tenha gostado.

– Descanse quando chegar. Dirigiu o dia todo, deve estar exausto.

– Sim, estou.

– Boa noite, se cuida - Abraço-o de forma abrupta.

Zac me aperta contra seu peito e beija-me no rosto.

– Se cuida, meu anjo.

Viro-me para minha casa e caminho em direção a porta. Seguro a chave e meu coração volta a bater mais forte a cada centímetro que a chave entrava na fechadura. Bem-vindo de volta ao mundo real, as férias terminaram!

Assim que bato a porta, minha Mãe olha para trás sentada no sofá. Ao me vê colocando a bagagem perto da porta e chave na mesa, ela levanta-se e caminha até a mim.

– Ué, cadê a Nara?

– A deixamos em casa - Respondo.

– Então, como foi à viagem?

– Foi legal - Respondo um pouco cansado e com sono - Tinha uma piscina enorme na casa.

– Então aproveitaram bem.

– Sim! - Retiro meu tênis e o pego com a mão.

– Estava acordada te esperando chegar - Ela tenta puxar assunto de qualquer jeito.

– Não precisava ficar acordada, eu tava com a chave.

– Ah meu filho, você sabe que eu não conseguiria dormir sabendo que você tava na rua ainda - Ela diz.

– Hm... Bom, vou dormir, estou caindo de sono.

– Ta bem, agora que você chegou, eu também vou - Recebo um beijo na cabeça e então ela sobe a escada para o quarto.

É, foi melhor do que eu pensei que fosse. Porém, passa pela minha cabeça que ela poderia ter visto Zac pela janela, mas se o tivesse visto, teria comentado. Eu não sei, será se teria? Ou ela quer guardar tudo para conversar comigo amanhã?

Deito na minha cama como se meu corpo gritasse por repousar. Fecho meus olhos e não demorou nem cinco minutos e já durmo tranquilamente.

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Acordo após meio dia e levanto como se não tivesse dormido nem duas horas. Arrasto-me até a o banheiro e escovo meus dentes. Encaro-me no espelho, estou melhor do que qualquer dia que já tive. Precisava realmente desse descanso, eu estava chegando ao meu limite e agora estou bem melhor.

– E ai, como foi a viagem? - Sou perguntado por meu Pai ao chegar na sala.

– Foi boa - Digo indo sentar no sofá.

– E ai, pegou alguma garota lá? - Ele obviamente deveria perguntar isso.

– Pai, só tinha a Nara e mais uma amiga dela - Respondo.

– Quando que você e a Nara vão ficar juntos? - Bruna pergunta, deitada no sofá com a cabeça no colo de Vinícius.

– Quando você parar de se meter na minha vida - Digo.

– Ih, ignorante - Ela diz - Acordou atacado.

– Vem cá, vocês não deviam estar trabalhando?

– Hoje é feriado, meu filho - Se não fosse minha Mãe dizer isso, eu não lembraria.

– Acho que já ta na hora de você pegar alguma garota - Meu Pai insiste - Eu pensei que você fosse voltar e contar como foi a sua primeira vez.

Levanto-me irritado e volto para meu quarto. Bato a porta e deito novamente na cama. Tem dias que você simplesmente só quer voltar para cama e acordar de novo na esperança de que algo fique bem.

Droga, não poderia ser recebido por um simples "Bom Dia!", qual a dificuldade disso? Eu fico um pouco desanimado com certas atitudes dentro de casa, eles não se importam com nada até que eu prove que não sou homossexual. Eles vão continuar nisso e eu também, porque não serei quem não sou.

Permaneço no meu quarto por um tempo, deitado, olhando para o teto e sentindo tudo que senti no final de semana... As lembranças que lhe trazem de volta no tempo e você pode jurar que está vivendo aquele momento novamente.

O dia não demorou a passar, foi até mais rápido do que eu esperava. No almoço, eu comi no meu quarto enquanto assistia televisão, sozinho e naquela imensa paz que me acalmava meu coração exausto de batimentos fortes.

Meu dia não foi muito diferente, o passei inteiramente no quarto e não conversei com minha família. O que já não poderia dizer de Zac. Conversamos até à madrugada, sem parar, sem ter que esperar o outro responder horas mais tarde. Nunca estive em tanta sintonia com ninguém assim antes, e eu aproveito cada segundo que posso.

Meus pais estão agindo estranho, acho que tem algo errado! – Ele digita pra mim após darmos nosso terceiro "tchau".

– O que poderia ter de errado? - Digito.

Eu não sei, mas eles estão diferentes.

– Isso começou agora ou já vem faz um tempo?

Eles ficaram estranhos quando disse que iríamos viajar.

– Eles devem estar confusos com tudo isso, não esquenta, logo, logo vai passar.

Eu espero que sim! E você, como está com sua família?

– Na mesma... Não vejo a hora de contar para eles!

– Eu estou aqui para o que você precisar.

– Eu sei!

Você está bem? Sinto que está um pouco distante.

– Não... Eu só estou ficando com sono.

Eu te ligo amanhã.

– Tudo bem! Boa noite, se cuida!

Se cuida, meu anjo!

Desligo o celular e deito minha cabeça agitada no travesseiro. Por mais que eu queria, meus olhos não pregavam um segundo. Viro-me sem parar pela cama, me descubro e cubro-me tantas vezes que perdi a conta. Algo me perturba e nem eu sei o que seria isso direito. Levanto-me irritado da cama e dirijo-me para a cozinha, aquela sensação estranha toma conta de meu peito por alguns instantes. Tomo alguns goles de água e ponho o copo na pia, fixo meu olhar nele por alguns instantes, esperando que alguma razão aparecesse para tudo isso, para toda essa agitação.

Nada... O silêncio era a única resposta que eu tinha até então. Volto para meu quarto e deito-me novamente na esperança falha de conseguir dormir, as horas se passam e eu continuava a rolar inquieto pelo colchão. Posso vê os raios de sol começando a iluminar meu quarto pelas brechas da cortina, e noto que o dia já amanheceu e eu ainda não consegui nem cochilar.

Na tarde desse dia, eu recebi uma ligação, Zac parecia um pouco abatido ao falar comigo no celular e dizia que precisava me encontrar ainda hoje, era um assunto urgente e não poderia ser falado pelo celular. Mil coisas se passaram pela minha cabeça, meu coração já parecia saber que tinha algo errado e não acelerou tanto quanto eu imaginava.

Aquela adrenalina incontrolável me domina, não me deixou se quer ficar em frente ao notebook. Eu levanto e fico andando pelo meu quarto quieto, parecendo que as paredes iriam se fechando contra mim, que a cada passo, aquele local ficava mais estreito.

Vou para o banheiro e entro debaixo do chuveiro frio, o impacto da água gelada em meu corpo quente, me acorda por alguns instantes em um choque térmico. Eu não sabia o que estava por vir, posso estar louco, mas eu poderia jurar que Zac estava chorando quando me ligou, ou já tinha chorado. Não sei, talvez seja coisa da minha cabeça querendo pregar alguma peça estúpida em mim.

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Estou na praia, sentado no banco em frente ao mar, observando as ondas e esperando que ele aparecesse. Essa aflição parece não sair mais de mim, ela deve ter tirado alguns dias de folga enquanto eu viajava e retornou para mostrar que na verdade ela nunca foi embora, só estava acobertada pela sensação de felicidade que por sua vez estava apenas de passagem.

Zac me surpreende um pouco ao sentar ao meu lado no sentido contrário do banco. Olho para ele e o vejo com os olhos levemente inchados como se tivesse chorado por um tempo.

– O que aconteceu? - É a primeira coisa que vem em minha mente.

– Não quer andar primeiro? - Ele pergunta, sem nem conseguir olhar direito para mim.

– Zac, por favor - Seguro sua mão. Noto que ele não me encara nos olhos, algo não o deixava fazer isso, foi então que o desespero começou a tomar conta de mim.

Ele não conseguia me responder, seu olhar vaga por algum lugar na rua. Eu posso sentir em meu coração que algo realmente ruim aconteceu, posso sentir em cada parte do meu corpo, e essa necessidade de querer ajudá-lo, de tentar fazer algo por ele e mesmo sem saber o que era, me deixa fora de mim.

– Tudo bem, vamos andar então - Digo preocupado.

Levantamos devagar e caminhamos pelo calçadão. Ele com as mãos no bolso do casaco e cabisbaixo, arrisco-me a dizer que ele está planejando me contar alguma coisa que o perturba bastante. Eu conheço esse olhar, essa angustia, já tive isso antes.

– Então... Eu estava pensando em viajar... Meu Pai recebeu aumento e acho que vamos poder ir para Orlando - Comento para tentar aliviar aquela tensão que tinha em Zac - Imagina, eu na Disneyland, eu indo para os Estados Unidos.

– Eu fico feliz - Ele diz por entre os dentes que mal deixavam o som da sua voz sair.

– Vou tirar meu passaporte e tudo mais... - Finjo um sorriso no rosto que não convenceria nem a mim.

O silêncio predomina por mais um tempo, ficar esperando e vê-lo nesse conflito dentro de si, está acabando comigo.

– Ta legal, Zac, me conta logo, pelo amor de Deus - Digo, segurando seu braço e fazendo-o parar.

– Eu não queria ter que te contar isso - Ele segura a minha mão e me leva até a areia, bem perto do mar, onde a água pudesse molhar nossos pés.

Ajeito meus sapatos ao meu lado, deixo que ele tome seu tempo para me contar, olho para as ondas e respiro fundo.

– Eu sei o motivo dos meus pais estarem agindo estranho - Ele diz olhando fixo para frente.

Seus olhos começam a se encherem de lágrimas, essa é a primeira vez que eu o vejo chorar. Não podia acreditar que ele estava realmente assim, só de vê-lo nesse estado, tão fragilizado, os meus olhos já começam a arder.

– O que ta acontecendo?

– Eu não sei como te dizer isso... - Ele finalmente conseguiu me olhar nos olhos, quando uma lágrima escorre pelo seu rosto - Eu não vou poder continuar aqui no Rio... Eu vou me mudar...

Isso não pode ser possível, isso não pode ser real. Deve ser apenas um pesadelo idiota e sei que vou acordar em poucas horas e vai estar tudo bem. Ele não vai se mudar... Ele não pode ir embora!

– Meus Pais vão para São Paulo - Ele diz chorando - E eu não vou mais poder te ver!

Fecho os olhos, deixando que as lágrimas pudessem escorrer pelo meu rosto, levando com elas todo o sentimento ruim, toda essa adrenalina e aflição. O abraço, deixando-o chorar em meu ombro enquanto eu tentava ser forte no dele. Não podia fazer isso, não podia deixá-lo pior do que estava. Foi devastador ouvir isso... Já parou para pensar o que é você não poder mais ver aquela pessoa que você quer passar cada segundo do seu dia?

Eu não sei como as coisas vão ficar agora, eu realmente não sei. Não vamos poder nos encontrar nem nos finais de semana. Eu me apaixono por uma pessoa e ela é tirada de mim, sem eu poder fazer nada, simplesmente tenho que ver isso acontecer e apenas tentar aguentar.

Foi então que me toquei que não estava em um pesadelo, que isso era real, que tudo isso estava acontecendo, e sabe como eu sei? Porque nem nos meus piores pesadelos, eu senti uma dor tão grande assim.


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Notas finais do capítulo

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