Stay With Me escrita por Fenix


Capítulo 22
Me desculpa?




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Acordo com minha Mãe abrindo a porta do quarto e rapidamente separando as cortinas e abrindo a janela. Aperto os olhos e afundo meu rosto no travesseiro, não gosto de acordar de modo agitado.

– Acorda, são meio-dia e você ainda está dormindo - Minha Mãe fala enquanto pega meu tênis no chão e o guarda no guarda-roupa.

– Ta... - Digo com o rosto enfiado no travesseiro.

– Eu vou fazer macarrão que é mais rápido, tenho que ir ao médico agora de tarde - Não preciso olhar para ela pra saber o quanto estava aflita e agitada. Minha Mãe sempre fica agitada antes de ir a qualquer médico. Eu não posso culpá-la, também sou assim, eu tenho medo dos resultados dos exames não serem o que espero. - Não precisa lavar a louça, quando eu chegar eu lavo, você não pode ficar andando. A Aline pode chegar antes de mim, deixa que ela lava... A Narayani ligou, perguntou como você estava.

Rendi-me e retirei meu rosto do travesseiro. Eu sei que não me deixaria dormir de novo e ficaria falando no meu quarto é que eu levante e vá escovar os dentes.

– Falou que eu estava dormindo? - Pergunto, sentando na cama e coçando os olhos enquanto bocejo.

– Sim! Ela disse que ligaria mais tarde - Respondeu caminhando para a porta do quarto - Você vai à festa do seu primo esse final de semana?

– Com esse pé assim? - Pergunto. Não me importo de ficar em casa, eu não gosto muito de ir em festas de família e quanto menos eu ir, melhor, assim evito aquelas tias que não te viam há anos e querem o resumo inteiro da sua vida até agora. Isso quando não fazem a famosa pergunta "E como estão as namoradas?". Da última vez, eu ouvi meu Pai dizer para um dos amigos da família, que eu estava namorando uma garota há dois meses e que ela não pode ir para a festa. Quando o ouvir dizer aquilo foi constrangedor, como se ele tivesse vergonha de mim. Senti-me totalmente horrível e fiquei sentado e quieto o resto da festa.

– O que tem? Você fica sentado com o pé pro alto.

– Prefiro ficar em casa, obrigado!

– Sai de casa um pouco, garoto.

– E eu não saio? Eu fiz o que na segunda?

– Eu quero dizer sair para festa - Ela sai da porta irritada.

Bufo olhando para cima. Se meu dia já começou desse jeito, como posso ter esperança dele melhorar?

Minha Mãe trouxe o prato com o almoço até minha cama. Eu como enquanto assisto a série da Warner Bros sobre um arqueiro que luta contra o crime usando um traje verde. Eu sempre vi passando essa série no canal e não tinha parado para assistir desde então. Nunca gostei de almoçar no silêncio, na verdade eu não gosto de comer qualquer coisa no silêncio, o clima fica tão pesado que me faz perder o apetite.

Termino meu almoço e ouço minha Mãe se despedir aos berros do primeiro andar, um pouco antes de ouvir a porta da sala bater. É definitivo, agora estou sozinho em casa! É a melhor parte do dia, eu amo ficar sozinho, é como se eu fosse o dono da casa, podendo fazer qualquer. É tão mais tranquilo sem o falatório de casa cheia como são todos os dias. Posso ouvir meu estilo musical no último volume sem que ninguém me mande baixar, posso assistir televisão e escrever história ao mesmo tempo, sem que ninguém fique colocando no canal 4 para ficar assistindo aquela programação que na minha opinião fica cada vez pior.

Tenho TV a cabo e não entendo o porquê dos meus Pais assistirem ao canal aberto. Tem tantos outros canais com uma programação melhor, tal como Warner Bros, HBO, Telecine... Tantos outros e mesmo assim ficam assistindo aos canais aberto.

Levanto-me da cama com um pouco de dificuldade. Apenas com um pé no chão, pego meu prato e copo, dirijo-me para o corredor e encaro a escada. Como vou descer agora? Ponho o copo em cima do prato que estou segurando com a mão direita e seguro o corrimão com a outra. Devagar e apoiando apenas o calcanhar nos degraus, eu vou descendo a escada.

– Minha Mãe volta do médico e eu ainda estou descendo a escada - Falo.

É, eu costumo falar sozinho. Não é porque eu falo sozinho que eu sou maluco, é apenas porque eu não tenho muitas pessoas para conversar e gosto de falar comigo mesmo, aprendi a ser o meu melhor amigo. Mas confesso que às vezes eu também fico um pouco assustado, principalmente quando eu faço uma pergunta e acabo respondendo.

No último degrau, segundos antes de terminar a grande descida, a campainha toca, fazendo com que me assuste e deixe o prato cair. Os cacos de vidro se espalham pelo chão rapidamente que não consigo nem saber qual área tem mais cacos.

– Merda! - Digo.

Vou mancando até a porta, abro-a deparando-me com Zac em pé com um sorriso bobo no rosto e a prancha de pelúcia nas mãos.

– Ah, oi Zac - Digo, apoiando-me na porta. O silêncio predomina por alguns instantes. Deixo-me perder novamente em seus olhos e o quanto eu senti falta de admirá-los.

– Posso entrar? - Ele pergunta.

– Claro, desculpa... - Digo, desajeitado - Entre!

Ele adentra na casa com um sorriso de canto e avista alguns cacos no chão perto da escada.

– Esse barulho foi... - Ele começa a dizer.

– É, eu deixei o meu prato cair... Droga, minha Mãe vai me matar - Fecho a porta me encostando.

– O que você faz em pé? Era para estar deitado - Ele vai a mim e envolve meu braço em seus ombros.

– Obrigado... - Agradeço por ter me ajudado a me apoiar - Eu precisava trazer o prato e o copo pra cozinha.

– Cadê a sua Mãe? - Zac me ajuda a ir para o sofá.

– Saiu, ela tem médico hoje e não conseguiu remarcar - Respondo-o enquanto caminhávamos.

Apoio minha mão no braço do sofá e sento com calma. Zac agacha para segurar minha perna e dou uma risada.

– Tudo bem, eu consigo levantar a perna sozinho - Falo com uma leve risada.

– Desculpa, só quero ajudar - Zac fala um pouco acanhado. Eu nunca o tinha visto assim antes, nem mesmo quando nos conhecemos. Ele está tímido e com medo de fazer algo errado, o jeito que se preocupa comigo é tão amável.

– Eu preciso catar os cacos - Falo.

– Não, deixa que eu faço isso. Você não pode ficar com esse pé pra baixo - Ele diz, deixando a prancha no braço do sofá e indo em direção à cozinha.

Olho para a prancha e penso que ele veio para se afastar definitivamente de mim. Não queria isso, eu fiquei chateado com tudo que aconteceu, eu não queria ter que passar por isso. Ele se tornou uma das pessoas mais importantes da minha vida, alguém que eu nunca deixaria partir. Então, quando olho a prancha ali, vejo que talvez as coisas mudem... E isso não significa que melhoram.

– Sabe que não devia ficar sozinho, certo? - Zac pergunta enquanto varria os cacos de vidro no chão.

– É, bom... Eu não tenho muita escolha! - Apesar de ouvi-lo e responder, não consigo tirar os olhos da prancha.

– Pode me ligar quando precisar de alguma coisa... Ou ligar para a Ana e suas outras amigas.

– Eu não acho que seja necessário, eu me viro bem sozinho - Respondo.

Ele termina de limpar tudo no chão e leva os cacos até a lixeira. Em seguida se aproxima do sofá e senta ao meu lado.

– Você trouxe a prancha - Digo, olhando para ele sem conseguir piscar por um segundo.

– É... - Ele se estica sob mim para pegar a prancha no braço do sofá. Volta para seu lugar e levanta o olhar pra mim - Você disse que ia me ajudar a superar tudo e que sempre íamos estar juntos.

Respiro fundo, posso sentir meu coração acelerado.

– Bom, você precisa dela mais do que eu agora - Ele diz - Quero que melhore logo!

Ele me entrega a prancha e dou uma risada no canto olhando para a pelúcia e gradativamente levanto meu olhar para ele.

– Então não vai embora?

– Embora?- Ele da uma risada surpreso - Não vai se livrar de mim tão rápido.

Zac bagunça meu cabelo com a mão enquanto dou uma risada envergonhado.

– Olha, eu preciso te contar uma coisa.

Posso sentir que ele ficou um pouco tenso e viro-me ficando em frente a ele.

– Eu realmente estava com medo do que ia acontecer - Zac conta - Depois do que você viu lá em casa, meus pais conversaram comigo e... Não foi uma conversa muito boa... Eles queriam me afastar de você, mas eu não vou - Ele termina rápido, antes que eu pudesse pensar em qualquer coisa - Eu só não quero ser um problema pra você!

– Você não é um problema mim... Eu que... Zac, eu sei que eu não sou suficiente para você. Eu não tenho músculos, não pratico esportes, não saio toda hora para ir a boates, não sou popular, não tenho nada de mais. Por isso tenho tanto medo de te perder, porque eu sei que não sou suficiente.

– E quem disse que eu quero alguém com músculos ou que pratique esportes...? E sobre as boates é até um alívio ouvir você dizer isso - Ele ri no final - Eu não me importo com nada disso, então para de pensar assim. Eu gosto de você do jeito que você é! Para de tentar ser como as outras pessoas e se preocupa mais em ser você mesmo.

– Ta bem... Desculpa! - Dou um sorriso de canto para tentar disfarçar o quanto estou envergonhado agora. Não posso discutir com o que ele disse, ele está certo. Tenho visto os garotos hoje em dia com o abdômen definido e se exibindo pela internet, mas tudo bem, porque eles são assim. Eu não seria eu mesmo se tentasse estar como eles.

Exercícios são bons e eu sei que deveria praticá-los, porém eu não consigo passar muitos dias longe das minhas histórias, é uma guerra de conflitos sem fim. Tem dias que eu estou bem com meu corpo e dias que eu gostaria de ter uma barriga definida.

– Isso sempre me pareceu tão ridículo, que as pessoas pudessem querer ficar com alguém só por causa de beleza. É como escolher o cereal de manhã pela cor, e não pelo sabor - Diz Zac.

Dou uma risada e olho para o lado, nesse instante posso senti-lo tocar minha mão que está repousa no joelho. Volto meu olhar para Zac.

– Você é uma pessoa maravilhosa... Eu admiro tudo que você faz, sou um dos seus maiores fãs.

Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, Aline abre a porta da sala, fazendo com que eu puxe a minha mão de forma abrupta e dê um pulo me afastando de Zac. Ele a observa entrar e se assusta um pouco com a minha reação.

– Oi - Ela nos cumprimenta enquanto coloca a bolsa na mesa perto da janela.

– Oi - Respondo - Aline esse é o meu amigo, Zac. Zac, essa é a minha irmã, Aline - Digo um pouco apreensivo.

– Oi Aline, prazer - Ele diz com um leve aceno.

– Oi... - Aline retribui com um sorriso - O que faz aqui em baixo?

– Eu ia levar o prato do almoço pra cozinha, mas acabei deixando cair tudo no chão.

– E catou tudo? - Ela pergunta durante a retirada dos sapatos e do blazer.

– Hm, sim... Zac catou pra mim.

– Tudo bem, eu vou lá em cima pra ligar para o Thales.

– Okay! - Digo voltando a sentar normalmente no sofá.

Ouço-a subir as escadas, meu olhar cabisbaixo se mantém vidrado por um tempo. Zac se aproxima de mim com um toque em minhas costas, alisando-a levemente. Eu não deveria ter reagido desta forma, é que eu tenho medo de que afaste ele de mim. Como meu Pai disse no hospital. Eu quero estar com ele, mas isso tem se tornado um problema pra mim.

Sei que ele deve estar me achando um idiota agora. Um garoto que não sabe o que quer ou sei lá.

– Você vai ficar bem? - Ele pergunta, perto do meu rosto.

Assenti respirando fundo com os olhos fechados. Zac beija-me no rosto, sinto seus lábios quentes tocarem minha bochecha, algo tão bom, que poderia beijá-lo novamente. Ele levanta do sofá e caminha até a porta da sala, enquanto eu fico parado... Sem qualquer reação, apenas abraçado com a prancha de surfe de pelúcia. E esperando que todo esse pesadelo acabe logo, para que eu possa seguir em frente e poder viver do meu jeito, com as minhas regras e ser feliz com quem eu quiser, não com quem meus Pais acham que eu deveria ser.


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