Stay With Me escrita por Fenix


Capítulo 20
Zac, esses são meus Pais




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Acordo dando um salto da cama. Procuro meu celular desesperado debaixo do travesseiro. Irrito-me e jogo o travesseiro para o outro lado quarto e pego meu celular que está visível agora.

Sim, estou atrasado para a competição de surfe. Corro até meu guarda roupa e visto qualquer coisa que minha mão conseguiu segurar no curto tempo que abrir e fechei a porta. Nunca fiz as coisas tão rápidas antes. Arrumei-me em menos de quarenta minutos e saio apressado de casa.

Chego à praia minutos depois da competição ter começado. Procuro alguém conhecido pela multidão que está na areia. Algumas pessoas estão deitadas nas cangas, de óculos escuros e roupas leves, enquanto eu me esqueci de levar até o meu boné. Na verdade eu estou completamente perdido e espero que esta seja a competição certa. Caminho em direção ao mar e desviando das pessoas. Levo um breve susto quando todos gritam e comemoram, não consigo me conter e olho meio assustado para os lados. Posso imaginar minha reação e rio de mim nessa hora.

Sinto tocarem meu ombro e viro-me abrupto, deparando-me com Gabriel, amigo de Zac.

– Você veio - Ele diz, me abraçando.

– Pois é - Digo aliviado por estar no local certo.

– Vem, estamos sentados mais pra lá... - Gabriel fala apontando para trás, perto da cabine de som na areia - Ele vai adorar te ver aqui!

Sorrio e o sigo até o local onde todos estão sentados nas cangas estendidas e com uma bela visão da água.

– Felipe! - Carla levanta a me ver e me abraça um pouco animada.

Toda essa calorosa recepção me deixou tímido. Eles são tão acolhedores e animados, me sinto bem perto deles e espero poder sair com todos juntos um dia. Meus amigos e os dele.

Carla me puxa para sentar perto dela.

– Oi pessoal... - Digo para todos com um aceno. - Então, ele já ta na água?

– Sim, ele precisa ficar alguns minutos na onda para ganhar a competição - Carla responde.

– Wow... Tipo, ganhar... Tipo, ficar em primeiro?

– Bom, é isso que quer dizer "ganhar a competição" - Ela responde com uma risada.

Calo-me com um sorriso de canto e olho para frente. Carla da uma risada e me empurra levemente com o ombro.

– Eu estava brincando... Relaxa!

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A competição continua, Zac está no tubo de sua última chance. Levanto-me angustiado, já nem tenho mais unhas para roer, eu quero muito que ele ganhe isso. Sei o quanto essa competição é importante, eu me sentiria horrível se ele não subisse naquele pódio e não ganhasse uma medalha ou um troféu.

Carla abre o sorriso no rosto e toca em meu ombro tentando conter a animação que está prestes a explodir. No instante em que ela iria gritar, Zac cai da prancha e a faz fica séria por um instante. Olho para os lados e vejo todos um pouco sérios.

– O que houve? - Pergunto. De fato não sei nada sobre essas competições.

Zac submerge sendo aplaudido por todos. Carla e seus amigos levantam os braços gritando, não entendi muito, mas fiz o mesmo e nunca me senti tão louco na minha vida.

Corremos para a beira do mar e deixo que seus amigos falem com ele enquanto espero um pouco afastado e com meus chinelos nas mãos. Gabriel e Carla não se importam de molharem as calças e abraçam Zac ainda na água para depois o acompanhar até a areia. Eu fico rindo com todos o parabenizando. Zac abraça Vanessa e me avista um pouco distante.

Ele finca a prancha na areia e vai até a mim tirando a água do cabelo com a mão.

– Que isso... Parabéns! - Digo com palmas.

– Você não faz ideia em que lugar estou, não é? - Zac da um sorriso e continua a se aproximar.

– Isso é verdade, mas foi um bom resultado, certo?

– Foi sim, fiquei em terceiro lugar - Ele diz.

– Isso! - Eu o abraço quando chega mais perto - Sabia que ia conseguir.

– Bom, não é o primeiro lugar, mas...

– Hey - Seguro seu rosto e o encaro nos olhos - Você é o meu número 1, isso não é o bastante?

Zac da uma risada de canto e desvia o olhar. Estranho sua reação, dou um passo para trás e espero ele me dizer o que está acontecendo. Zac põe a mão na nuca e olha para mim cabisbaixo.

– Zac, o que foi?

– É que... - Ele respira fundo.

– Ta acontecendo alguma coisa e eu não to sabendo?

Ele me leva para um pouco mais longe de seus amigos e vamos para trás da tenda de som da competição. No momento estão desligados e podíamos conversar sem problemas.

– Ta bem, agora diz, o que foi? - Pergunto.

– Eu não posso mais fazer isso...

Entro em choque por alguns instantes. Talvez eu esteja tão nervoso que não consegui entender direito o que ele quis dizer com isso. Meu coração se acelera rapidamente, posso sentir meu peito estremecer com seus batimentos.

– Isso... Isso o que?

– Isso... Nós... Eu não posso.

Meus olhos ardem como se estivesse cortando uma cebola por horas. Sem demora minha visão começa a se turvar com as lágrimas.

– Não... - Digo, com minha voz falhando um pouco.

– Não sei o que faço com tudo isso que eu sinto... Eu sinto muito, Lipe - Seus olhos começam a lagrimejar.

– Zac... E-eu não acredito... E-eu confiei em você! - Falo com raiva.

Não pude me conter mais, essas malditas lágrimas teimam em escorrer pelo meu rosto, me mostrando fragilizado em sua frente. Droga, eu me odeio por isso.

– Lipe, eu... - Ele se aproxima.

– Não! - Me afasto chorando - Você foi a única pessoa pra quem eu contei tudo... Tudo!... Eu me arrisquei para estar com você, porque eu achei que valia apena... E-eu só não esperava que fosse assim. Deus, eu sou tão idiota!

– Não, por favor, eu posso explicar, é que...

– Não, Zac... Tudo bem, você já disse - Respondo, minha voz está tão tremula que no fim da frase já não consegui mais falar.

Ele abaixa a cabeça chorando. Eu só queria poder abraçá-lo e fazê-lo parar de chorar, isso acabou comigo... Mas não tanto quanto o que acabou de acontecer. Meu coração talvez tenha parado de bater, não consigo mais senti-lo em meu peito.

– Lipe, espera.

Caminho irritado descalço pela areia. Fecho meus olhos o máximo que conseguia, não podia nem ao menos pensar em tudo isso. A areia quente me fazia andar mais rápido, meu pé afunda com precisão na areia.

– Lipe... - Zac caminha em minha direção.

Levanto a cabeça de olhos fechados, resistindo a tentação de voltar e ficar com ele, de deixá-lo explicar. Então sinto uma forte fisgada no meu pé e no passo seguinte caio no chão sem conseguir pisar novamente.

– FELIPE! - Ouço Zac gritar e corre rapidamente em minha direção.

Não entendi ainda o que aconteceu, olho para ele ficando mais perto e então se ajoelhar em minha frente totalmente assustado.

– Calma, calma... - Ele diz agitado.

Então a ardência que vinha do meu pé fica cada vez mais intensa, e quando o encarei o vi coberto de sangue. Arregalo meus olhos e podia agora sentir uma dor absurda.

– Vai ficar tudo bem, vai ficar tudo - Zac fala enquanto posiciona seus braços para me levantar em seu colo.

Grito quando ele me levanta. A dor é tão forte que eu chego a arranhá-lo nas costas. Zac corre comigo até seu carro. Seus amigos se aproximam logo em seguida. Posso sentir uma pressão impulsiva no meu pé, como se alguém o puxasse com toda a sua força, eu choro desesperadamente.

– Meu Deus, o que aconteceu? - Carla pergunta abrindo a porta do carro.

– Ele cortou o pé numa garrafa quebrada que estava enterrada na areia - Zac responde.

– Droga - Ouço ela dizer enquanto entra no banco de trás do carro.

Zac me coloca sentado no banco de trás e Carla me ajuda a me ajeitar no banco. Ele bate a porta e da a volta abruptamente. Entra no carro e bate a porta.

– Tem um hospital aqui perto, podemos levar ele - Diz Carla.

– Eu acho que sei qual é - Ouço-o dizer.

O carro da à ré com rapidez e o vejo avançar pela rua como se não houvesse amanhã.

– Droga, ta doendo muito - Digo.

– Calma, vai ficar tudo bem - Carla fala tocando em meu rosto.

Estou suando frio e tremulo. Percebo minhas mãos ficarem frias, tão geladas que não conseguia sentir a ponta dos dedos. O carro balançava um pouco, mas podia vê-lo por entre meus olhos semicerrados o quanto estava preocupado.

Ao chegarmos no hospital, fomos para a ala de emergências e logo alguns enfermeiros vieram nos ajudar.

– Ele cortou o pé numa garrafa de vidro que estava na areia - Zac avisa para o enfermeiro.

– Você é da família? - Pergunta o enfermeiro.

– Não, mas...

– Não pode entrar, eu sinto muito.

Assim que ouvi aquilo me ergui na maca rapidamente, uma forte fisgada me faz voltar novamente, sinto como se meu músculo estivesse sendo repuxado até que arrebente.

– Não... Deixe ele entrar... - Digo ao meio dos dentes trincados de dor.

Sinto espetarem meu braço com algo. Nego com a cabeça chorando.

– O deixe entrar... - Continuo dizer.

Colocam uma máscara de oxigênio em meu rosto, segundos depois já os vejo embaçados e então uma tela preta domina minha visão.

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Acordo devagar e me encontro no quarto particular do hospital. Posso vê a lua cheia iluminar o armário embaixo da janela. Aos poucos vou voltando ao normal e um pouco angustiado por estar sozinho ali. Levanto um pouco e sinto uma forte pressão na cabeça, encosto minhas costas na parede ainda sentado na cama. Olho para os tubos do soro que está em pé ao lado da cama.

Procuro meu celular pela cama e o avisto em cima do armário perto da janela, junto com minha carteira e chave de casa. Estico o braço para pegá-los, mas estão longe.

– Ei... - Ouço Zac dizer ao entrar no quarto.

Volto para cama e fico sério encarando-o. Ele se aproxima com uma lata de refrigerante na mão e uma empada na outra.

– Está querendo cair dai? - Ele diz.

Continuo sério olhando-o. Ele pode ter me ajudado muito, mas ainda estou com raiva. Sim, sou uma pessoa orgulhosa, apesar de todas as minhas forças quisessem agradecê-lo por ter me ajudado e querer perdoa-lo. Mantive-me forte e não deixei me levar pela ocasião.

– A enfermeira disse que você ia demorar a acordar e eu fui comer alguma coisa - Zac senta na cadeira que está ao lado da cama. Tão próxima que era óbvio que ele tinha tirado do lugar de onde ela realmente estava.

– Hm... - Respondo.

– Quer alguma coisa?

– Meu celular! - Digo sem qualquer tipo de emoção nas palavras.

Ele assente, estica o braço para trás pegando-o e me entrega.

– Obrigado - Agradeço, ainda frio.

– Se for ligar para seus pais, a Ana já fez isso!

– Como assim?

– Eu tenho o celular dela desde aquele dia no festival. Eu liguei pra ela e ela já ligou para seus pais.

Ponho o celular no colchão e fico olhando para a parede em minha frente. Zac não desvia o olhar de mim por um segundo. A minha vida inteira eu vivi buscando garantias. Querendo que dê certo, querendo fazer dar certo, lutando para colocar tudo nos trilhos, nos eixos. Mas a vida segue seu ritmo. Os sentimentos têm seus próprios passos. Nem sempre dura. Nem sempre é eterno. Nem sempre é como um sonho bom. E precisamos lidar com isso. Nem que seja na marra. A pior coisa que eu poderia fazer é ser assim com ele... Principalmente agora! Mas não posso deixar passar, ainda preciso ser forte e aguentar firme.

– Olha, eu sinto muito, eu...

– Não precisamos conversar sobre isso aqui, não acha? - Falo.

– Eu preciso dizer...

– Zac, eu já ouvi e já entendi tudo que você tinha para falar. Eu agradeço tudo que fez hoje - Meus olhos voltam a lagrimejar - Não precisa mais ficar aqui! - Olho para o lado com a mão sob a boca e tentando não piscar para que não escorra nenhuma lágrima.

Carla bate na porta e me olha na cama, ela da um sorriso e entra acanhada com as mãos nas costas.

– Fico feliz que acordou bem - Ela diz.

– Obrigado - Respondo.

– O que fizeram? - Ela pergunta.

– Eu não sei, mas estou com medo de olhar - Respondo e seco minhas lágrimas.

– Zac, sua mãe ligou, quer falar com você!

Ele levanta e sai do quarto, antes de passar pela porta me olha pela última vez e a fecha. Carla se aproxima e senta na cadeira.

– Isso é dele? - Ela aponta para a empada no armário.

– Sim!

Ela pega e da uma mordida, eu dou uma risada com o seu jeito de encarar as coisas. Ela é engraçada, não é como aquelas pessoas que forçam para tentar ser cômicas, ela simplesmente é!

– Vocês estão há muito tempo aqui? - Pergunto.

– Não, só umas cinco horas... - Ela da uma risada no final.

– Desculpa!

– Não, tudo bem... Ficamos realmente preocupados - Ela diz - Tinha muito sangue. Ele não voltou para pegar o troféu, ficou aqui o tempo todo.

Dou um sorriso de canto e fico sério logo em seguida.

– Ficamos esperando na recepção por alguma notícia. Não queriam o deixar entrar, mas fizemos amizade com uma das enfermeiras e ele pode vir - Carla me conta - Ele ficou aqui o tempo todo enquanto você dormia. Eu falei que eu podia ficar aqui, para ele sair um pouco, mas ele não quis.

Não sei bem como reagir, ela me contando isso apenas me deixa mais confuso.

– Eu o vi segurar sua mão enquanto dormia...

– Ta bem - A interrompo.

– Bom... É... Ouh– Ela levanta olhando para a porta.

Minha Mãe se aproxima da cama rapidamente e me abraça.

– Meu Deus, você está bem? O que houve? - Ela pergunta.

– Estou bem, eu cortei o pé, eu acho.

– Meu Deus, ainda bem que a Ana nos ligou - Minha Mãe diz - Eu e seu Pai viemos correndo pra cá.

– Mãe essa é Carla, Carla minha Mãe e meu Pai.

– Oi Mãe e Pai - Ela diz brincando.

– Desculpa, eles são Viviane e Helio.

– Agora sim, prazer - Carla diz, apertando a mão deles.

Meu Pai na mesma hora abre um grande sorriso no rosto.

– Porque não me ligou? - Pergunta Viviane.

– Desculpa, mãe.

Um enfermeiro entra no quarto para verificar o soro. Um rapaz magro, de olhos azuis e cabelo loiro, realmente chamava a atenção. No instante em que entrou, pude notar que até Carla ficou impressionada com seus olhos, eu ri um pouco com as feições que ela fez. Ele se aproximou e perguntou como eu estava?! Disse que tinha vindo mais cedo e eu ainda estava dormindo e com meu amigo no quarto.

– Amigo? - Meu Pai pergunta.

– É... Ele ficou aqui com seu filho até ele acordar - Diz o enfermeiro, que nesse momento eu só queria fazê-lo calar a boca.

Fecho os olhos já esperando alguma explosão. O silêncio permaneceu por alguns minutos até minha Mãe perguntar sobre os pontos no pé.

– Ele terá que ficar em observação por hoje, e amanhã já será liberado. Deu sorte, não acertou nenhum tendão... Tivemos que dar anestesia geral, pois ele estava muito agitado.

– Então ele vai ficar bem? - Minha Mãe pergunta preocupada.

– Sim! Ele é um garoto forte, vai aguentar isso! - Ele diz ao olhar pra mim e sorrir.

Respondo com um sorriso de canto e desvio o olhar para baixo.

– Bom, o médico já vem falar com vocês - Em seguida aquele rapaz sai dali.

– Eu vou ligar pras meninas, elas estavam preocupadas com você - Minha Mãe fala enquanto pega o celular na bolsa.

Meus Pais saem do quarto e me deixam sozinho com Carla.

– Que enfermeiro era aquele? Eu até viro hétero se ele quiser - Ela brinca.

– Para garota - Digo rindo.

– Seus pais parecem ser simpáticos.

– É, eles são bons pais! - Engulo a saliva que desce molhando a minha garganta seca. Deito a cabeça no travesseiro e respiro fundo olhando para o teto.

– Oi! - Zac entra no quarto devagar.

– Falou com ela? - Carla pergunta.

– Sim! - Ele responde - Como você está? - Pergunta, parando ao lado da cama.

– Estou bem, obrigado!

– Precisa de alguma coisa?

– Não, já disse que estou bem.

Ele estica sua mão para tocar a minha e recuo-a para dentro da coberta. Zac disfarça um pouco e olha para Carla, que está sentada na cadeira e já mastigando o último pedaço da empada.

– Estava boa? - Ele pergunta.

– Deliciosa!

– Eu não sei, eu não tive a chance de comer - Ele diz, brincando.

Ela da uma risada abafada levantando da cadeira e batendo as mãos na calça para limpar os farelos.

– Bom, já está tarde, tenho que te levar pra casa - Diz Zac - Mas eu volto pra ver como você está.

– Não precisa se preocupar comigo - Respondo, dirijo finalmente meu olhar para ele - Pode ir!

Zac se aproxima e me beija na testa, fecho os olhos respirando fundo. Esse é o beijo mais protetor e carinhoso que alguém pode dar, é algo tão mais puro e verdadeiro, um gesto de carinho que não foi extinto pela arrogância do ser humano. Abro os olhos e meus pais estão entrando no quarto. Não sei se conseguiram vê o que aconteceu, na verdade eu espero que não, mas minha cabeça já começa a criar todo o tipo de briga que poderia surgir agora.

– Olá - Meu Pai cumprimenta Zac com um aperto de mão.

– Zac, esses são meus pais, Viviane e Hélio - Digo, com minha voz um pouco abafada e tremula.

– Zac... - Minha Mãe o cumprimenta normalmente com dois beijos no rosto - Obrigada por trazê-lo aqui.

– De nada! - Ele responde sendo o mais simpático que podia. Com um sorriso tão idiota no rosto que me fazia querer rir, ele está de fato bem nervoso.

– Imagino que deve estar com fome - Meu Pai comenta.

– Não, tudo bem, eu já comi, obrigado, Senhor - Zac responde.

– Pode me chamar de Hélio, "senhor" me faz me sentir muito velho - Hélio brinca.

– Tudo bem, hm... Eu tenho que ir agora, foi um prazer conhecer vocês!

– Foi um prazer, Zac - Minha Mãe diz, com um sorriso um pouco tristonho no rosto.

Ela não sabe de nada, mas talvez já tenha presumido alguma coisa. Não imagino que seja fácil para os pais saberem que o filho é homossexual, e não os posso culpar por isso. Quando me assumi, foi realmente difícil pra me acostumar com a ideia de que gosto de homens, como poderia ser diferente para eles? Nasceram em uma época em que homossexualismo era praticamente crime, e julgavam qualquer coisa que saia dos padrões. Eu só queria que eles pudessem entender ou ao menos respeitar a decisão dos outros. Algumas pessoas confundem "Respeitar" com "Apoiar", são coisas bem diferentes... Se você não é a favor, tudo bem, não vou lhe obrigar a gostar do jeito que sou. Apenas quero que respeitem as minhas decisões, o meu espaço e minha vida.

Isso virou questão de sair nas ruas com medo de ser agredido a qualquer momento. Eu só quero ter uma vida normal, um namoro normal, uma família no qual eu não tenha que ter medo cada vez que sair para assistir um filme com a pessoa que amo e os filhos que quero ter.

Espero eles saírem do quarto e fecharem a porta para poder me preparar para as bombas de perguntas que viriam em seguida. Minha Mãe da à volta na cama e senta na cadeira ali perto.

– Ela é bem bonita e simpática, se fosse eu já teria pegado o número do celular - Meu Pai comenta.

– Ela é lésbica, Pai - Respondo acabando com suas expectativas.

– Esse rapaz, parece ser legal - Minha Mãe diz, tentando me deixar mais confortável. Era visível meu estado um pouco fechado e recluso.

– É! - Respondo brevemente.

– Mas ele tem um jeito estranho, melhor não andar muito com ele - Fala meu Pai enquanto olha pela janela.

– Jeito estranho? - Pergunto.

– Ele parece ser bicha, não quero você andando com essa gente - Ele olha pra mim - Você sabe, se começa a andar com viados, vão achar que você é um!

Bufo revirando os olhos e cruzando os braços.

– E não faça isso, fica parecendo uma bicha - Ele diz.

– Já chega! - Minha Mãe se impõe - Coisa chata... Você quer alguma coisa, querido?... Água, comida... - Fala debruçada na cama acariciando minha cabeça.

– Só quero ficar sozinho - Respondo irritado.

– Eu vou ficar aqui com você - Ela diz - Eles deixaram ficar um acompanhante.

– Se quiser eu posso ficar e...

– Não, obrigado - O interrompo.

Ele fica quieto e senta na cadeira em frente a cama, retira o celular do bolso para jogar seu joguinho que o deixou viciado. Minha Mãe liga a televisão e fica assistindo ao meu lado, já eu nem sei o que está passando ali, meus olhos estão fixos na porta do quarto. Minha mente está vagando pelo corredor que eu conseguia observar dali, posso ver as pessoas passarem... Mas é como se eu estivesse desligado. Não sei como chamar isso, mas gosto de chamar de "modo-automático", eu estou ali, acordado, mas internamente eu me desligo do mundo.

Depois de algumas horas, que não sinto passar. Meu Pai vai embora, se despede de mim, minha Mãe o leva até a entrada do hospital, me deixando um pouco sozinho. Ela fecha a porta e fico olhando para a sombra na parede. É engraçado pensar assim, mas eu sinto como se estivesse no meu quarto... Pode não ser o mesmo ambiente, mas é o mesmo canto, a mesma cor de parede branca, a mesma sombra. Sinto-me estranho, como se minha alma precisasse de algo para mantê-la viva, como se ela estivesse enfraquecendo gradativamente sem que ninguém pudesse notar.

Alguns podem dizer que isso é besteira, no entanto muitas pessoas as julgam sem ao menos saber o que realmente se passa dentro delas. Nem sempre é besteira, nem sempre é querer chamar atenção ou fazer cena, às vezes você fica triste de verdade por coisas pequenas.

Penso nele sem parar, eu não consigo nem por um milésimo de segundo tirar o som da voz da minha mente, ou o seu sorriso, o seu cheiro... Não dá, eu estou tão conectado a ele que se tornou uma parte de mim. A parte boa de mim! Então procuro em Zac todos os defeitos do mundo para parar de gostar dele. Mas daí eu me lembro de que sou apaixonado por todos eles também.


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