Stay With Me escrita por Fenix


Capítulo 18
O Dia de Chuva - Part 2




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Horas mais tarde, estou no meu quarto quando recebo a ligação de Leornado, um amigo da Ana que eu conheci faz alguns anos. Ele é um grande amigo, mas ás vezes fico na dúvida no que ele realmente quer pra si. Já ficou com caras que no final queriam o mesmo que ele, apenas uma boa noite de amor.

Ele tem sentimentos como qualquer um, mas não acho que algumas de suas atitudes ajudam ele a encontrar uma pessoa especial, como ele diz procurar. Às vezes sua falta de respeito e brincadeiras fora de hora, pode ser seu ponto fraco.

Vamos à festa do meu amigo, vai ter bebida de graça e gente gostosa.

– Não sei, Leo... Eu não to muito a fim de sair - Digo deitado na minha cama e olhando para o teto.

Ah vamos Felipe, você não sai de casa nunca.

– Sério, eu prefiro ficar em casa mesmo... Não ligo pra bebida!

Você vai e pronto. Por mim, faz tempo que não nos falamos.

– Leo, eu...

Por mim, cara, eu to te implorando... Por favor! Eu vou ficar sozinho lá, só conheço o aniversariante. Eu faço qualquer coisa que você quiser depois... Por favor, Lipe!

Respiro fundo negando com a cabeça, fecho os olhos e o respondo.

– Tudo bem... Eu vou!

Obrigado! Eu te pego às oito!

– Okay. - Desligo a ligação. Uma sensação estranha toma conta de mim.

Isso é apenas besteira da minha cabeça, eu não posso deixar que isso me prenda em casa. Assim que me levanto da cama, meu celular toca novamente. Olho para trás e Zac estava me ligando.

– Oi! - Atendo-o.

Oi... Tudo bem?

– Hm, tudo e você?

Bem... É, hm... Ta fazendo alguma coisa?

– Vou me arrumar, vou sair com um amigo.

Um amigo?

– Bobo... - Dou uma risada de leve e sento-me na beirada da cama - Eu não to muito a fim de sair, mas ele é legal.

Bom... Se mudar de ideia, podemos sair também.

– Foi mal, é que eu...

Tudo bem... Eu entendo... Marcou com ele primeiro! Eu não vou ficar chateado, mas vai ficar me devendo essa.

– Com certeza. Bem, eu agora tenho...

Tem que se arrumar... Desculpa!

– Não, tudo bem... Adoro conversar com você.

Eu também amo conversar com você. É a minha parte favorita do dia.

– Bom, eu...

Até mais, se cuida! Qualquer coisa pode me ligar.

– Ta bem! Beijo.

Beijo!

Desligamos a ligação e respiro fundo. Um peso se acumula nas minhas costas e esse pressentimento ruim só aumenta cada vez mais. Por vezes penso que sinais são enviados pra que te impeçam de fazer uma besteira, e claro, as pessoas nunca entendem antes de fazerem algo.

Eu senti que era pra ter ficado em casa. Essa sensação nunca falhou antes, e desta vez não foi diferente. Fui a festa com Leonardo. A casa é enorme, três andares e talvez pegue um quarteirão inteiro... Não sou muito bom em ter ideia de espaço. Muitas pessoas estão curtindo ao som alto de música americana, algumas pessoas no portão da casa, mas a maioria aglomerada nos cômodos. Bebida liberada, servida por garçons que se espremiam para passarem ao meio da multidão que não paravam de conversam ou dançar. Seria divertido, mas assim que entramos na festa, Leonardo conhecia praticamente todos dali.

Fiquei um pouco espantado com a reação dele. Depois de ser apresentado a alguns de seus amigos, fomos para a varanda do segundo andar onde havia outras pessoas em volta. A varanda com a vista para a rua, na qual fiquei olhando para a lua e não conseguia tirar Zac da minha cabeça.

– Volto já, vai querer alguma coisa pra beber? - Ele pergunta.

– Não, obrigado, eu to bem - Respondo-o.

Leonardo assente e afasta-se dali. Ele que não queria ficar sozinho, me deixou sozinho em uma festa na qual eu não tinha noção de quem são essas pessoas...? Um rapaz se aproximou ficando ao meu lado. Eu tento ignorá-lo e continuo olhando para a lua.

– Você que é o namorado do Leo?

– Oi? - Pergunto surpreso.

– Ele ta dizendo pra todo mundo que são namorados.

– Ah, ele está? - Dou uma risada abafada e me afasto irritado da varanda. Posso ouvir o garoto gargalhar. Fecho meus olhos e continuo a andar enfurecido.

Desço a escada tão rápido que mal posso sentir meus pés tocarem nos degraus. Caminho para a porta, ao passar por ela seguram meu braço de forma tão abrupta que cheguei a dar um passo para trás.

– Onde você vai? - Pergunta Leonardo.

– Me solta seu idiota - Digo puxando meu braço com toda a minha força.

– O que houve? Porque está indo embora?

– Olha... - Eu dou uma risada sem acreditar no quanto ele era um completo babaca. As pessoas em volta da porta ficam prestando atenção - Eu vim aqui por você, porque achei que éramos amigos, mas...

– Amigo é o caralho, acha que eu quero ser sua friendzone? - Ele diz com seu tom ríspido e grosso.

– Cala a boca... - Me viro e ando para a rua.

Ele me segue e me faz parar na calçada em frente a casa.

– Felipe, eu sabia sobre você antes mesmo de você se descobrir - Ele diz - Desde que te conheci, eu tento ficar com você, e você finalmente se aceita e não quer ficar comigo?

Eu realmente fiquei sem reação nesse instante. Não podia acreditar no quanto ele era repugnante. Quero dizer, as coisas sempre podem piorar, não é? Ele se aproxima para me beijar, segurando-me pela nuca.

– PARA! - Eu grito e o empurro no peito com força - Ficou louco? Eu não gosto de você desse jeito.

– Eu não quero namorar com você, Felipe - Ele diz dando passos para frente. Me afasto mantendo distância - Não quero casar com você... Quero apenas ficar com você... Beijo... Lábios... Apenas isso!

Como alguém pode reagir após ouvir tantas coisas absurdas vindo da mesma pessoa sem escrúpulos? Senti-me da pior forma que alguém pode se sentir. A adrenalina se espalha pelo meu corpo tão rapidamente que faz minhas mãos tremerem sem parar. Para mim, as coisas começam a acontecer de forma tão abrupta que não consigo lembrar direito. Não consigo parar pra pensar.

– Garoto, você é nojento... Eu não sou esse tipo de cara, okay? Você está me confundido com esses idiotas que você pega... Eu não quero alguém pra beijar uma noite, pra satisfazer uma curiosidade retardada... Quero alguém do meu lado, pra ficar comigo, pra crescer comigo e estar ali quando eu precisar - Digo, tentando conter a raiva que crescia com intensidade dentro de mim.

– Você está viajando, não existe isso... Você acha o que? Vai aparecer o príncipe encantado com seu cavalo branco, na porta da sua casa?... Desculpa estragar seu sonho infantil, mas isso não vai acontecer!

– Vai se ferrar... Eu não preciso de você pra nada!

– Você acha mesmo que alguém vai querer algo com você, olha pra si... Eu tenho pena de você... Qualquer pessoa que te querer, vai ser por pena... É um verdadeiro perdedor!

Consigo conter o choro de ódio que tenho agora. Olho para o lado com uma risada debochada que o irrita um pouco.

– Vai pro inferno! - Digo com um sorriso forçado no rosto.

– Escuta aqui, se alguém souber... Se ao menos comentar algo com alguém... Eu conto tudo pros seus pais... Cada detalhe!

– Do que você ta falando? Que detalhes?

– Em quem você acha que eles vão acreditar...? Fica na sua e eu fico na minha... Seu babaca! - Ele me empurra do modo que dou alguns passos para trás, e volta para a festa.

Essa noite pode ser dita como uma das piores noites que eu já tive na minha vida. Caminho pela rua deserta, com meus braços cruzados na tentativa de esquentá-los, o vento frio que batia contra meu rosto, chega a doer à ponta do meu nariz. As lágrimas são inevitáveis. Claro, penso que se continuar a caminhar sozinho na rua, posso ser assaltado a qualquer momento.

Não sabia para quem ligar, não podia voltar para casa nesse estado. Então peguei meu celular no bolso da calça.

– Alô... Zac... - Digo com minha voz de choro - Pode me encontrar...?

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O espero sentado no chão, atento a qualquer pessoa que passava pela rua. Meus olhos encaravam todos que se aproximava de mim, o medo me domina por instantes. Até que vejo o carro de Zac estacionando do outro lado da rua. Ele sai do carro e corre até a mim.

– Meu Deus, o que houve? - Ele pergunta, ao depara-se comigo naquele estado.

Meus lábios trêmulos e levemente roxos, meu rosto tão gelado que podia doer os ossos. Levanto meu olhar semicerrado para ele, não podia abrir mais que aquilo, estão inchados e avermelhados de tanto chorar.

– Me tira daqui, por favor! - Lhe peço ao conseguir tomar um pouco de fôlego e forçar um pouco para que minha voz saia alta. Apesar de falhar no final.

– Vem... - Ele me ajuda a levantar e me leva até o carro com seu braço envolvendo minha cintura.

Abre a porta do lado do carona e entro devagar. O interior do carro está tão quente e confortável, consigo respirar melhor agora. O observo dar volta correndo pela frente do carro.

– Vai ficar tudo bem - Diz Zac ao entrar no carro e fechar a porta. Ele inclina-se para trás e pega o casaco no banco e o põe esticado em meus ombros - Está melhor?

– Obrigado! - Agradeço. Nesse momento eu realmente só preciso disso, precisava estar com ele. Não tem outra pessoa no mundo que eu queria estar agora.

– Você vai pra sua casa? - Ele diz dando a partida no carro.

– Não, não posso chegar lá assim - Respondo.

– Bom... Quer ir pra minha casa?

Fico quieto um pouco pensativo. Seria incrível ir pra casa dele agora, mas ele mora com os pais e os pais dele sabem de tudo. Não sei se eu ficaria confortável lá. No entanto eu não queria estar em qualquer outro lugar a não ser ao lado dele.

– Se você não quiser... Tudo bem, posso te levar para casa da Nara ou...

– Não, tudo bem... Sua casa parece ótimo! - Digo, depois forço um sorriso de canto, que quase não o senti com a dormência de meu rosto.

– Sério? - Ele se surpreende. Foi até meio engraçado o jeito que ele reagiu. Ficou tão contente que me fez bem vê aquele sorriso perfeito novamente.

Encosto minha cabeça no vidro, deixando minha mente vagar pelo céu escuro e nebuloso. As nuvens são tampando a lua com rapidez. Alguns trovões soam pelo céu. Meus olhos se perdem em alguns raios que clareiam o céu.

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– Chegamos - Zac diz ao estacionar em frente a uma bela casa com dois andares e um enorme muro bege a cercando.

Ele sai do carro e abre a porta do carona para mim enquanto eu tirava o cinto. Caminho com ele até a porta branca com um interfone do lado. Zac a abre e me deixa entrar primeiro. O lugar é realmente demais, um jardim bem aparado na frente da casa, um caminho de pedras nos leva até a porta principal da casa. Observo uma linda varanda com cercado de vidro no segundo andar.

– Fique a vontade - Zac abre a porta e me vejo em uma enorme sala de estar.

Indo para a cozinha, tinha um degrau superior que dividia a sala de jantar da sala de estar e um muro baixo com plantas do mesmo tipo em cima, cobertas por pedras pretas. Os móveis com cores claras, a maioria branca.

– Sua casa é linda - Elogio.

– Obrigado - Ele da uma risada e me leva para o segundo andar com sua mão em minhas costas.

A escada é feito de acrílico preto e colada na parede. Todo o local é absurdamente lindo. Ao chegarmos no segundo andar, entramos em um corredor, a porta no final é do quarto de seus pais. Está fechada, suponho que estejam dormindo. Ele me guia até seu quarto.

– Por favor, sinta-se em casa - Ele me diz fechando a porta com cautela.

– Obrigado Zac, obrigado mesmo...

– Felipe, o que houve? - Ele senta na cama ao meu lado.

– Eu... - O choro volta outra vez. As lágrimas escorrem pelo meu rosto e não conseguia mais continuar a falar. Ele me abraça forte, o mais forte e reconfortante que conseguia.

Minhas mãos se fecham nas suas costas com tanta força a amassar sua blusa. Choro em seu ombro de modo que nunca chorei antes. Acho que todas às vezes que chorei sozinho, não foi o suficiente até eu ter um ombro amigo, que me abrace e veja que realmente estou mal. Nada funciona melhor do que ter alguém que você ama te abraçando.

– Eu estou aqui, calma... Calma... - Ouço ele dizer com sua voz tranquila e preocupada.

Fechei os olhos, apertando-os tanto que doía. Tentando empurrar para longe tudo o que eu via dentro da minha cabeça.

– Zac... - Digo ao meio de tanto choro.

Ele me abraça como se nunca mais fosse me soltar. Aquele aperto que aquece seu coração, que o tranquiliza após bater tão forte. Posso sentir seu coração bater no mesmo ritmo que o meu.

Afasto-me ainda soluçando. Ele toca meu rosto com as duas mãos.

– Eu estou aqui, não precisa mais ficar assim... Calma - Ele diz, olhando no fundo dos meus olhos.

Encaro-o sem pisca um segundo. Não sei o que aconteceu, mas suas palavras causaram um efeito anestésico em todo meu sistema nervoso. Ainda estou soluçando um pouco, as lágrimas teimam em escorrer por meu rosto, mesmo eu tentando contê-las.

– Não sei o que aconteceu... Mas você está aqui agora, está aqui... Não precisa ficar assustado! - Ele me abraça novamente.

Fecho os meus olhos. Nunca fui tão acolhido assim antes, de forma que a pessoa está realmente preocupada com você, está querendo seu bem e te protegendo do mundo em seus abraços eternos.

– É tão difícil... - Falo com a minha voz ainda falha - Eu sou tão idiota!

– Não, não... - Ele afasta-se e olha para mim - Não diga isso, você... Você não é um idiota!

– Sim, eu sou... Eu não acredito que estou chorando por causa daquilo - Abaixo minha cabeça devagar.

– Ei - Ele levanta meu queixo - Você é a pessoa mais incrível que eu já conheci. Não sei o que aconteceu, mas seja o que for, terá volta!

– Não, Zac, eu não quero que arranje confusão por minha causa.

– Não se preocupa.

– Para... As coisas são assim... Eu cuido de você e você cuida de mim - Digo.

– Entenda, sou eu quem vai ouvir você quando o mundo não puder te entender - Zac diz calmamente limpando meu rosto com sua mão macia que vai passando pela minha pele de forma delicada.

Então, eu não pude resistir. Avancei para frente em uma velocidade de tempo normal, inclinando a cabeça levemente para o lado e tocando meus lábios em seus lábios um pouco rosado. Afasto-me devagar e de olhos ainda fechados.

– Wow... - Zac diz um pouco surpreso.

Então percebo o que acabei de fazer, não consigo nem se quer piscar. Como se já não bastasse meu corpo inteiro já estar tremendo por tudo que aconteceu esta noite, agora acabo literalmente de beijar um garoto.

– Desculpa, eu... - Digo ainda um pouco desnorteado e enxugando as lágrimas rapidamente.

Zac então inclina-se para minha frente e me beija da forma certa. Fazendo-me entregar a boa sensação que é estar beijando-o. Ele leva sua mão das minhas costas até a nuca de forma lenta e graciosa. Coloco minhas mãos em sua cintura, no momento eu não consigo pensar em muita coisa, nem ao menos sei como reagir a isso direito. Muitas pessoas falam que o primeiro beijo a gente nunca esquece, e eu realmente não quero esquecer este.

Sinto-me como uma criança que acaba de ganhar seu primeiro doce. É uma sensação tão boa beijar alguém que você ama. O momento é eternizado na história, você por um instante se sente tão desejado quanto nunca, esse se torna seu verdadeiro momento. Zac foi incrível, teve paciência com o iniciante nessa coisa toda, e mesmo depois de pararmos de nos beijar, ele ainda me elogiou. Eu sei que não deve ter sido lá o melhor beijo que ele já teve, mas só dele ao menos não ter dito nada para me deixar pra baixo, foi incrível!

Sinto uma pequena dor na região do estômago, não como nada há 8horas, estou faminto. Zac me empresta uma blusa e um short para que eu pudesse tomar um banho, deixando-as dobradas na cama ao meu lado. Ele desce para cozinha com intuito de fazer um sanduiche pra mim, enquanto eu fico no quarto dele ligando para o telefone de minha casa. Torcendo principalmente que não fosse a minha mãe que atendesse.

Alô!

– Bruna?

Oi Felipe!

– Bruna, é só pra avisar a minha mãe que eu vou dormir aqui na Ana hoje.

Ah, ta bem... Eu falo com ela!

– Ta bem, até amanhã!

Tchau!

Desligo o telefone dando um leve suspiro. Fiquei feliz por Bruna ter atendido, ela não é muito de conversar no telefone, então não faria perguntas. Olho para as roupas dobradas na cama e fico um pouco pensativo. A ideia de namorar um garoto ainda mexe um pouco comigo, afinal isso ainda é tudo novo pra mim. Estou entrando em um universo que eu anteriormente não queria entrar, e hoje já aceito que esta seja a minha realidade.

Não posso dizer que estou totalmente confortável com isso, estaria mentido novamente pra mim mesmo. Penso um pouco sobre como seria a vida de um casal homossexual, sendo que um deles ainda está "dentro do armário" para a família e boa parte dos amigos. Não vou poder sair com ele de mãos dadas, nos encontros teríamos que agir como dois amigos, até nas horas que ele for incrivelmente fofo comigo e eu não puder nem ao menos lhe dar um beijo na bochecha. Quando fossemos sair para jantar, não conseguiria aproveitar o momento, teria medo de que a qualquer momento alguém da minha família poderia aparecer. É ridículo, eu sei... Mas essa é a mais pura verdade de quando você não se assume para sua família. O medo te consome até você não aguentar mais e finalmente tem que contar a eles.

Uma vez me perguntaram, qual o meu maior medo? Na época eu respondi que era meu medo de altura. Hoje eu vejo que meu maior medo é perder a pessoa que eu realmente amo... Eu quero muito que dê certo, eu vou me assumir para os meus pais, só... Só preciso de alguém ali comigo, que me dê forças e esteja comigo na hora que a tempestade chegar. Não vai ser algo fácil de contar, mas vou parar de viver na sombra do mundo, com medo de tudo e de todos. Eu tenho medo de ter medo pelo resto da vida, e não posso deixar isso acontecer.

Vou ter a desaprovação severa da minha família. Isso irá de fato me destruir! Eu passei por uma fase de aceitação muito difícil e eu estava completamente sozinho, sem qualquer pessoa para me ajudar ou conversar. Não sei se aguentaria passar por isso de novo!

Essas ideias infinitas ecoam sem parar na minha cabeça, tornando tudo um verdadeiro borrão, um futuro tão incerto que a qualquer momento ele pode se virar contra mim.

Pego a roupa na cama e me dirijo ao banheiro que era dentro do quarto de Zac. Fecho a porta e retiro a minha roupa com calma. Entro debaixo do chuveiro e deixo a água morna molhar meu rosto e ombros. Tento deixar toda essa tensão sair de mim, preciso relaxar e ficar calmo. Esquecer aquele babaca de vez. A propósito, eu o agradeço. Por ter me mostrado que nem todos a sua volta são seus verdadeiros amigos e ter me ensinado a ser mais forte. E menos idiota!

Vejo que a chuva começou a cair ao ouvir as gotas batendo contra o basculante do banheiro. O clima tem uma pequena queda de temperatura.

– Lipe... - Ouço Zac me chamando na porta do banheiro.

– Oi! - Respondo-o.

– Só pra dizer que já pronto às coisas aqui... Mas sem pressa - Ele diz.

– Tudo bem, eu já vou sair - Respondo olhando sua silhueta na porta de vidro reforçado do banheiro.

Respiro fundo e aguardo mais alguns instantes.

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– Obrigado pela blusa, serviu direiti... - Falo enquanto saio do banheiro dobrando minha roupa e olho para frente, onde tem um prato de porcelana dourado e branco em cima da cama dele com um sanduíche partido ao meio. Um copo de refrigerante ao lado, e ele terminando de arrumar uma cama no chão. Presumo que seja a minha, claro!

– Ah, ficou boa em você! - Ele elogia ao me olhar com sua camisa preta com o escudo do Capitão América. Óbvio que tinha um pouco de pano sobrando, afinal, ele é um rapaz corpulento e eu sou magro. A blusa está bem folgada, mas eu gostei de como ficou.

– Obrigado... Mas... Nossa, você não precisava arrumar a minha cama no chão, eu podia fazer isso - Sento na cama dele com minha roupa no colo.

– Sua cama?... Não mesmo, eu vou dormir aqui!

– Oi?!

– Isso, eu vou dormir no chão e você na minha cama.

– Não... Não, Zac, de verdade, e-eu não me importo, juro... Está ótima essa cama, eu realmente curti, não precisa fazer isso - Ele me pegou de surpresa agora. Não vou dormir na cama dele, seria errado, eu sou o convidado... Não me sentiria bem!

– Parou...

– Não, parou você! Sério, eu durmo no chão... Não esquento com isso - Falo dando um sorriso.

– Olha, você sorriu... Isso é um bom sinal - Ele se aproxima e pega a roupa do meu colo - Deixe-a aqui e amanhã você pega.

– Ta bem - Viro-me e pego o prato com o sanduiche e o copo de refrigerante.

Zac senta no chão bem na minha frente. Dou a primeira mordida no sanduiche, tempo suficiente até que ele me faça a grande pergunta.

– O que aconteceu?

– Não é nada demais.

– Olha, eu sei quando não é nada demais, e isso parece ser muita coisa.

– Sério, não se preocupa.

– Felipe, você pode confiar em mim - Ele se aproxima de mim e levanta as sobrancelhas esperando minha resposta. A verdade é que ele ficou tão fofo agora, que eu até me perdi um pouco.

Então eu contei como tudo aconteceu, cada detalhe, cada palavra... E ele se surpreendia a cada segundo. Passei vários minutos contando como foi a minha noite. Zac se demonstrava preocupado algumas vezes, então ficamos conversando sem parar. Até quando ele levou o prato para a cozinha, ficamos conversando sobre isso e depois sobre sua belíssima casa.

Assim que voltamos para o quarto, o assunto já tinha tomado outro rumo. Deito na cama feita no chão. Está macia e bem aconchegante, preparada de modo tão cuidadosa que nem parecia que estava feita no chão. O ar condicionado refrescava um pouco o ambiente e nos força a ficar dentro da coberta. A cama está feita de frente para a janela, onde a cortina está aberta e a pouca luz da lua que conseguia ultrapassar as nuvens carregadas do céu, está clareando o quarto exatamente onde estamos. Observamos juntos a chuva batendo contra a janela e alguns relâmpagos que beiram pelo céu negro.

Zac envolve seu braço em meu ombro, deixando minha cabeça apoiada em seu bíceps.

– Você gosta mesmo disso, não é? - Comenta Zac, usando um tom tranquilo e um pouco baixo.

– Sim - Respondo encarando uma parte da Lua ao meio de tanta chuva - Acho que eu passei tanto tempo sozinho, que eu me acostumei a olhar para o nada e me encontrar lá.

– Você não está mais sozinho - Ele diz olhando pra mim - Eu sei como é estar perdido... Sem saber para onde ir.

– Ah, você sabe?

– Sei... Bom, eu no colégio era um garoto um pouco acima do peso... Os mais velhos ficavam implicando comigo.

– É, eu sei como é isso - Falo olhando para ele.

– Uma vez, eu fiquei tão furioso que eu tentei revidar deles... Acabei com meu nariz quebrado!

– Meu Deus.

– É... Foi ai que eu entrei pra academia, surfe... Fiz novas amizades... Eu me reinventei!

Me jeito em seu braço e volto a encarar a lua.

– Eu queria poder me reinventar... Ir para qualquer lugar no qual ninguém me conhece... E começar do zero, sabe... Sem mentiras, sem esconder nada... Porque todos vão me conhecer pelo o que eu sou, não pelo o que eu fui - Disse.

Zac desce um pouco ficando na mesma direção que meu rosto, ele me beija na bochecha.

– Eu realmente admiro isso em você... Não sei, acho que esse seu jeito puro de ser...

– É infantil... - Eu não queria dizer isso, mas apesar de tudo, o que Leonardo disse para mim será bem difícil de esquecer.

– Não - Ele toca levemente em meu queixo e vira meu rosto para ele - É único! Você realmente é um dos poucos garotos no mundo que pensa assim. Você pensa em seguir em frente, pensa no futuro... É tão forte e tão decidido em ajudar as pessoas, tem um bom coração... Você é uma daquelas chances boas que a vida não me daria duas vezes.

Isso de fato arrancou um suspiro rápido, antes que meus olhos já se enchessem de lágrimas. Toco em seu rosto e o beijo novamente. Um beijo a luz do luar, no quarto de um garoto e no meio de uma tempestade... Tem certos momentos na vida que não podemos, ou se quer tentamos planejar. Eles acontecem de forma natural e simples. Mas tão verdadeiro e tão perfeito quanto qualquer outro.


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Notas finais do capítulo

Mais um capítulo antes que a fic entre em Hiatus =/
Pois é, com o Carnaval vindo por ai, eu não terei tempo pra escrever! Preciso descansar um pouco, fora que a minha faculdade já voltar as aulas... Porém, tem uma boa notícia, retorno do Hiatus mês que vem, dia 07!
Conto com vocês. =)

E curtem o feriado o/



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