Stay With Me escrita por Fenix


Capítulo 17
O Dia de Chuva - Part 1




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/541218/chapter/17

Dormimos apoiados um no outro por um curto tempo. Acordo com ele levantando cautelosamente a cabeça.

– Desculpa, não queria te acordar! - Ele diz.

– Tudo bem - Respondo coçando os olhos.

– Que horas são?

– Não sei - Pego meu celular no bolso da calça - São nove e meia. Eu preciso ir!

– Okay, vamos - Ele levanta devagar e me ajuda a levantar.

Estou ainda com um pouco de sono e pego a canga no chão. Seguimos pela areia em direção ao carro. Observo-o um pouco mais a frente, com os chinelos na mão e a canga na outra. Dou uma risada abafada negando com a cabeça, aceitando a ideia que eu estou realmente apaixonado pelo homem mais perfeito desse mundo.

Jogo a garrafa de refrigerante na lixeira e caminho em direção a escada de acesso a calçada. Ele põe o chinelo no chão e tira a areia dos pés com a canga, assim que me aproximo ele estica o braço para me ajudar com o degrau realmente alto. Posso avistar um hematoma roxo perto do seu ombro que ficou a mostra quando a manga da blusa recuou.

– O que foi isso? - Pergunto assim que fico ao lado dele e levanto com cuidado a manga da blusa.

– O que?

Está roxo e esverdeado nas bordas, somente uma batida muito forte causaria tamanho ferimento.

– Zac, isso aqui ta bem feio... Como conseguiu fazer isso? - Pergunto analisando com calma.

– Eu não sei - Ele diz dando de ombro.

– Passa alguma coisa... Está doendo?

– Não, ta tudo bem!

Ele da uma risada de canto e volta a caminhar em direção ao carro. Posso achar loucura, mas ele não me convenceu, eu queria ajudar, me preocupo demais com ele. Zac abriu a porta do carro e olho para mim, esperando que eu começasse a me aproximar. Volto a mim e corro até ele, onde entro no carro e fecho a porta.

– Obrigado por hoje - Agradeço após segundos de silêncio dentro do carro - Acho que eu precisava disso.

– Não quer me contar o que ta acontecendo? - Ele pergunta, olhando pra mim. Me perco um tempo em seus olhos verdes que estão com as cores mais vibrantes a luz da lua.

– Não ta acontecendo nada! - Falo expirando ao mesmo tempo.

– Sabe que pode contar comigo, não sabe? - Ele toca em meu ombro - Eu estou aqui com você... Sempre!

Dou um sorriso tímido olhando-o.

– Ao menos até você cansar-se de mim - Zac diz dando um sorriso.

– Isso não vai ser possível, eu sinto muito - Inclino minha cabeça leve para o canto, onde posso sentir o calor reconfortante de sua mão. Ele a vira e toca levemente a minha bochecha, seu toque tão delicado como se estivesse alisando uma pétala de rosa.

– Você é único, lembre-se disso.

Me sinto um idiota que apenas consegue sorrir, sem ao menos dizer um "Obrigado". Afinal, há dois meses eu estava praticamente entrando em depressão por não conseguir aceitar a minha homossexualidade e agora estou aqui. Apaixonado cada vez mais por um dos caras mais incríveis que já conheci. Eu gosto do sorriso dele, gosto de estar perto dele, de sentir o seu cheiro que não tem como esquecer... Se isso não é amor, eu não sei o que é o amor!

–-------------------------------------------------------

Ao amanhecer, estou deitado no sofá assistindo televisão com Bruna e meu cunhado, Vinícius Sousa. Eles juntos de um lado do sofá e eu sozinho do outro.

– Felipe, não tem nenhum filme na internet pra a gente assistir, não? - Bruna pergunta.

– Tem um de comédia com a Cameron Diaz e o Jason Segel - Respondo encarando a TV.

– Ah, pode ser, hoje o dia ta muito chato - Ela afirma.

– Vai ter pipoca? - Vinícius pergunta.

– Não sei... - Respondo.

– Aaaahhh, pipoca vai...

Ele fica de joelhos ao meu lado em cima do sofá.

– Vai fazer pipoca não?

– Não! - Respondo empinando a cabeça.

– Ah é?

Ele começa a me fazer cócegas. Não conseguia parar de rir e gritar por ajuda, enquanto Bruna segurava minha mãe para não me proteger. Apesar de estar quase sendo sufocado com ele me fazendo cócegas, era um dos poucos momentos felizes que eu tinha com a minha família depois dos meus quinze anos.

Vinícius é de longe o melhor cunhado que alguém poderia ter. Além de super atencioso com a minha irmã, ele é uma ótima pessoa, não é tão preconceituoso e seu irmão mais novo é homossexual. Claro, ele às vezes brinca ao vê algo na televisão, mas você consegue notar a diferença no tom de voz de quando ele fala e quando meu Pai fala. Meu Pai é mais com o tom de raiva e repulsa, como se o mundo devesse temer os gays e condená-los como abominação.

Acredito que talvez o Vinícius saiba que eu seja homossexual, mas ele não diz nada porque não quer me contrariar. Muitos rapazes têm jeitos mais calmos e meigos e não são gays. No entanto, às vezes posso notar que ele mesmo também tem algumas atitudes homofóbicas, mas nada comparado a outras pessoas ignorantes pelo mundo. Seus argumentos são direcionados especialmente ao irmão, que também não é uma pessoa tão calma.

Ele se chama Victor, quando o conheci no aniversário de Vinícius, achei que fosse ser a pessoa na qual eu poderia me espelhar, contar como está sendo tudo isso pra mim e ter de onde tirar forças para me manter erguido. Precisava de alguém para me motivar e confiar em mim. E não foi bem isso que aconteceu!

Seu irmão é um homem corpulento, de olhos claros e aparelho nos dentes, sua voz um tanto grossa, mas afinava algumas vezes. Os gestos com as mãos enquanto falava, me deixava um pouco irritado, pois era a cada palavra um gesto diferente. Sem contar suas caras e bocas enojadas de certos acontecimentos durante a noite. Então percebi que ele definitivamente não era a pessoa certa para isso!

O melhor de tudo, foi meu Pai conversando com o Vinícius enquanto saíamos do bar onde comemoramos seu aniversário.

– Seu irmão é legal, eu o adorei! Muito gente boa, simpático.... - Ele diz.

Segurei-me para não gargalhar em sua frente. Sério? Eu não podia acreditar do quanto ele era capaz de ser cara de pau. Só faltou dizer que apoiava ele ser gay, porque ai sim eu iria achar que abduziram meu Pai e aquele na minha frente era um clone menos homofóbico.

Resaltando que Victor e meu Pai conversaram praticamente e noite inteira, o mesmo com a minha Mãe. Contudo, minha Mãe não parecia ter problemas com as outras pessoas serem homossexuais. Já teve um amigo gay uma vez, o mesmo frequentava a minha casa quando eu era bem pequeno. Acho que pra ela tudo bem você ser Gay, contanto que não seja da sua família.

Acredito que seja por isso que me identifiquei muito com Vinícius, talvez ele consiga me ajudar um pouco. Ele é o único que eu teria coragem de contar.

Consegui fugir das cócegas me jogando no chão e rindo sem parar.

– Tem certeza que não quer fazer a pipoca?

– Tudo bem, tudo bem, eu faço - Eu digo, ofegante.

– PIPOCA! PIPOCA! PIPOCA! - Ele comemora com Bruna.

Eu dou uma risada do quanto ele pode ser bobo e engraçado ao mesmo tempo.

– Quando vamos vê o filme? - Bruna pergunta.

– Não sei, a Aline acho que também queria assistir - Digo.

– Ah, a Aline ta na casa do chato do namorado, vamos assistir só a gente - Bruna retruca.

Ninguém gosta do Thales, o namorado abusado da Aline. Ele praticamente é o dono da razão e coitada da pessoa que descordar dele. Quando ele viu o primeiro beijo gay na Televisão, foi o primeiro a gritar minha mãe, como se fosse algo realmente inaceitável.

– Então ta, vamos assistir de tarde!

– Ah é, porque ai não tem nada de bom na televisão mesmo - Comenta Viviane.

– Com pipoca, certo? - Vinícius insiste.

– Se falar "pipoca" mais uma vez e eu não faço mais nada - Digo a ele.

– Ai, tudo bem, não pergunto mais... Vai ser de doce?

Olho pra ele levantando uma sobrancelha.

– Que foi? Não falei "pipoca".

Dou uma risada revirando os olhos.

–-------------------------------------------------------

Minha Mãe grita todos para que fossem comer. Saio do meu quarto após ficar horas conversando com Michele e Zac pelo whatsapp. Dirijo-me para cozinha, tento me aglomerar ao meio de todos que estão pegando a comida. A sorte é que a cozinha é larga, então não criava uma confusão maior.

– Eu vou votar naquela mulher que é contra o casamento gay - Bruna comenta. Provavelmente dando continuidade ao assunto que estavam discutindo na sala.

Mantenho-me quieto pegando a comida, apenas ouvindo seus argumentos.

– Oh garota, não faça isso - Minha Mãe fala - Deixa os gays viverem em paz.

– Por mim tanto faz, quer ser gay? Então seja, mas na minha família não... - Bruna continua.

Respiro fundo pondo o prato na mesa e preciso ficar ao lado dela para pegar o refrigerante. Tento não ouvir o assunto que estavam discutindo.

– Ta querendo dizer o que? - Vinícius se manifesta sentando na mesa para almoçar.

– Vida, eu não ia gostar de sair com meu irmão e sabendo que ele é gay - Bruna responde.

Dou uma risada abafada e pego o refrigerante, sentando ao lado de Vinícius na mesa.

– Eu saio com o Victor - Diz Vinícius.

– Mas ai é seu irmão - Bruna diz.

Eu estava esperando algum comentário do meu Pai, que por incrível que pareça, não se pronunciou por um bom tempo. Estranho, já que o assunto é tão instigante pra ele.

– Eu vou votar nela mesmo, eu gostei das propostas dessa candidata - Diz Bruna.

– Só porque ela é contra o casamento gay? - Minha Mãe pergunta.

– Não só por isso!

– Pensa no irmão dele - Meu Pai finalmente se pronuncia na mesa.

– Mas o meu irmão não quer casar não, ele já casou uma vez, agora ta vivendo ai pelo mundo - Responde Vinícius.

– Ta vendo?... Se bem que seu irmão também não para quieto - Diz Bruna - Caraca, o irmão dele cada hora ta um garoto diferente.

– Isso é normal dos viados. Não ficam com uma pessoa só, eles não conseguem ter um relacionamento duradouro - Fala meu Pai.

Fico o tempo inteiro quieto, enquanto comia a comida maravilhosa da minha mãe. O cheiro está tão bom que não tem como não ficar com fome, apesar do clima que se formou do assunto totalmente dispensável para a hora do almoço.

– Eu ainda não sei em quem vou votar - Diz minha Mãe.

– Nem o Felipe! - Meu Pai tenta me forçar a entrar na conversar.

Dou um sorriso de canto e continuo quieto. Ouvir em silêncio era meu modo de conviver em sociedade. Se você der ouvido a tudo e a todos, você só se tornará mais um molde das pessoas que querem que você seja o que elas querem. Porque eles têm medo do diferente, do que não se encaixa nos padrões que eles mesmos colocaram nas pessoas. Então, ser você nos dias de hoje é algo que eles não podem compreender, e isso os assusta.

O resto do tempo que ficamos ali na mesa, enquanto eu fingia estar bem e feliz com todos em minha vontade, na verdade eu estava gritando dentro de mim. Ninguém deveria passar por isso, é uma dor tão forte... Quase insuportável! Desde que eu me aceitei melhor, posso sentir que estou me distanciando da minha família. As conversas não são mais as mesmas, o tempo em que passo com eles, é sempre assim, calado e no meu canto. Torcendo para que não me vejam ou se virem, não puxem qualquer tipo de assunto, porque é sempre o mesmo roteiro... Começa um assunto inocente até que termina em "Quando eu vou arranjar uma namorada?" ou "Quando vou conseguir meu próximo emprego?".

É tão previsível, eu quero só que as coisas mudassem um pouco. Queria que tudo pudesse voltar a ser como quando eu tinha quatorze anos, que meus pais olhavam pra mim e viam o que eu era e se importavam comigo. Não que eles não se importem agora, mas que nesse momento eu estou mais para status de "Filho que precisa de uma namorada para que seu Pai possa se gabar para os amigos". É uma pressão tão forte para aguentar tudo sozinho.

Todavia, a quem eu iria recorrer? A Michele? Ela já tem seus problemas em casa. Narayani, que nem sabe que eu sou gay. Ana, que não mora perto, é difícil de conversar pela internet e raramente vem a minha casa. Zac, que obviamente tem algo errado com ele desde que se assumiu para os pais. Não tenho opção a não ser aguentar sozinho! As coisas são assim, eu não reclamo... Tenho que aceitar e tentar seguir em frente. Você nem sempre está preparado para tudo, mas consegue vê que é mais forte do que pensava.

Levanto-me após terminar a comida e coloco o prato na pia. Todos terminam em seguida e começam a levantar e pegar as coisas na mesa.

– Pipoca? - Vinícius pergunta.

– Já? Você acabou de comer - Respondo sem acreditar.

– E dai? - Ele brinca.

– Depois eu faço, quando formos assistir ao filme.

– Vai fazer mesmo?

– Já disse que sim - Finjo me impor. E saio da cozinha dando uma leve risada.

–------------------------------------------------

Deitado no meu quarto, observo o download do filme ser concluído. Meu celular apita por receber uma mensagem.

"Oi!" Dizia a mensagem de Zac estampada na tela de bloqueio.

Dou um sorriso ao vê-la e começamos a conversar. Ele conta que está indo surfar com os amigos na praia do Rio e que seria seu último treino antes da competição que se inscreveu meses antes.

"Vai dar tudo certo! Você é bom nisso" Escrevo.

"Eu sei que sou bom" Zac responde brincando.

"Seu bobo"

"Olha o que está comigo" Ele escreve e envia uma foto em seguida. Quanto termina de carregar, deparo-me com a prancha de pelúcia no banco do carona e com o cinto de segurança. Dou uma risada ao vê-la.

"É pra dá sorte?".

"Meu grande amuleto".

"Você é um fofo".

"Está fazendo o que?".

"Vou me preparar para assistir um filme com minha irmã".

"Vai ter pipoca?".

"E meu cunhado me deixa esquecer?" Escrevo.

"Um dia quero comer pipoca também".

"Pode deixar".

"Tenho que ir, depois no falamos".

"Boa sorte! Treine bastante".

Ele está realmente com a prancha que eu dei a ele. Isso é tão meigo de sua parte. É como você se apaixonar pela primeira vez, todos os dias pela mesma pessoa.

– Então, vamos assistir ao filme? - Vinícius pergunta ao abrir a porta do meu quarto de repente, me fazendo da um leve pulo com o susto.

– Droga... Vamos, já baixou - Respondo pegando o notebook e seguindo com ele para sala.

Bruna sai da sala para pegar as cobertas. Minha Mãe arruma o sofá esticando-o para deitarmos e eu conecto o notebook na televisão. Ao terminar, me deito no sofá e espero todos se arrumarem. Bruna volta para a sala com edredons e travesseiros.

– Toma! - Ela lança um travesseiro para mim.

Me ajeito e fico no celular esperando por mais um tempo. Meu Pai sentou no chão, perto do sofá e ao lado das minhas pernas, que estão esticadas e cruzadas. Bruna deita ao meu lado e mexe ao celular.

– Ué, não vai ter pipoca não? - Pergunta Vinícius.

– Aiiii... - Reclamo já quase me levantando quando minha Mãe se oferece para fazer.

Dando um sorriso e agradecendo, deixo-a ir para cozinha e deito novamente com as pernas cruzadas e esticadas. Vinícius deita ao lado de Bruna para conversarem. Na tela da televisão, a imagem pausada do início do filme. Meu Pai olha para minhas pernas, segura minha canela abrupto e a descruza com rijo. Batendo-a no sofá que me fez erguer levemente.

– Ei! - Digo assustado.

– Descruza essa perna porra, parece um viadinho! - Ele diz, enfurecido.

– Eu estou com a perna cruzada normal, como qualquer pessoa.

Cruzo-a novamente, fazendo-o repetir o ato.

– Que saco, toma conta da sua vida e esquece a minha - Falo um pouco irritado e constrangido por Bruna e Vinícius estarem ali.

– Não vou. Para de cruzar essa perna.

– Eu cruzo a minha perna o quanto eu quiser e você não tem que se meter nisso! - Respondo de modo ignorante e irritado.

– Ei, Felipe, respeita o meu Pai - Bruna se intromete.

É impressionante o modo que as coisas acontecem. Eu podia jurar que podíamos assistir ao filme sem qualquer tipo de problema, sem que eu me sinta mal, constrangido ou aquela sensação ruim que você sente arder no peito, mas não sabe como explicar. Uma hora você acredita que pode ser aceito pela sua família, na outra você sente o peso da consequência por ser como você é.

Fico quieto olhando para a televisão. Minha vontade agora era de sair dali e ir para o meu quarto, mas ele notaria que teria me atingido e não vou deixar isso transparecer. Permaneci no mesmo local e continuei mexendo no celular, apesar de não conseguir me concentrar numa palavra se quer.

Não cruzei minhas pernas novamente. Não quero que ele a segure novamente como da última vez. Deixando leves marcas vermelhas dos seus dedos na minha canela.

Minha Mãe chegou à sala após alguns segundos com a pipoca pronta. Levanto para pegar os copos e o refrigerante. Não demorou muito e começamos a assistir ao filme.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Esse capítulo era pra ser apenas, só que acabou ficando muito grande e resolvi dividir em duas partes. A parte 2 vou postar até Domingo.

Obrigado por estarem lendo e acompanhando =)



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Stay With Me" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.