Stay With Me escrita por Fenix


Capítulo 16
Boas Amizades




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Zac me acompanha até o ponto de encontro que marquei para meu cunhado me buscar. Ao chegar, viro-me para ele.

– É aqui!

– Tudo bem... Quer que eu te espere? - Zac pergunta, preocupado com o estacionamento deserto.

– Não, eu vou ficar bem, sei me cuidar - Respondo gentilmente - Você vai chegar muito tarde em casa.

– Está bem... Seu cunhado já está a caminho?

– Sim!

– Qualquer coisa me avisa, me liga, ou grita... Eu volto correndo.

– Pode ir - Eu digo por entre as risadas - Eu to dizendo, sei me cuidar!

– É, eu acho que sim - Ele diz com um sorriso.

Ele se aproxima, põe a mão bem devagar na minha nuca e beija minha testa. Dou um sorriso de canto e abro os olhos encarando-o.

– Se cuida! - Ele diz.

– Me avisa quando chegar em casa?

– Claro! - Ele afasta-se com as mãos no bolso da calça e olhando para os lados.

Encosto-me na pilastra e dou uma risada do quanto ele se importava comigo. É tão difícil de acreditar de ainda existe alguém assim... Eu posso afirmar que toda vez que eu o vejo, é como se eu me apaixonasse novamente todos os dias.

Avisto o carro de meu Pai se aproximar e me desencosto da pilastra. Vinícius está dirigindo o carro e meu Pai o acompanhando no banco do carona. Ao vê-lo, respiro fundo e fico sério de repente. Entro em silêncio no carro e bato a porta.

– Como foi o passeio? - Meu pai pergunta.

– Bom! - Respondo brevemente.

– Ai, o Vinícius tava comentando comigo e é verdade, aqui tem muita menina bonita - Meu Pai comenta.

É tão típico de ele puxar esse tipo de assunto. Pego meu celular e não o respondo de nenhuma forma. Percebendo que eu não estou muito a fim de conversar, ele desiste e se mantém calado durante a volta para a casa.

Deito no banco de trás do carro e fico observando os postes de luz passarem rápido pelo carro. A noite está tão estrelada e serena, que eu podia passar o resto do tempo deitado na areia da praia em frente ao mar, apenas ouvindo o barulho das outras e sentindo a brisa fresca que vem da água. A lua está tão vibrante que me tira um sorriso.

Essa noite foi tão boa pra mim, me senti tão bem ao estar com ele de novo. Talvez eu possa dizer que estava um pouco perdido sem conseguir falar com ele, e agora ao vê-lo bem do meu lado, eu me encontrei novamente. Alguns chamariam isso de clichê, mas me diga qual amor não é clichê? Você não precisa ir para outro mundo procurar um amor diferente do que os outros têm, apenas encontre um que te deixe feliz. Não importa se os outros achem sua história clichê ou não... Porque nada mais importa quando você está com aquele que ama.

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Chego em casa e entro no quarto já pegando o celular no bolso da calça. Sento-me na cama e retiro meus tênis enquanto envio uma mensagem para Zac dizendo que cheguei em casa e que estava bem.

Ponho o celular na mesa do computador e pego minha roupa para tomar banho. Antes que pudesse sair do quarto, meu celular recebe uma mensagem, fazendo jogar-me na cama para pegar o celular. Zac acaba de responder, dizendo que estava a caminho de casa e que me ligaria quando chegasse.

Está tarde e não gosto de pensar que ele ainda está na rua. O mundo não é um lugar seguro para andar pelas ruas sozinho tarde da noite.

Coloco o celular novamente na mesa do computador e saio do quarto. Quando volto,ele me manda uma mensagem dizendo que chegou bem em casa e iria dormir, pois estava exausto. Isso me tirou um grande peso das costas, posso me tranquilizar agora.

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Estou em frente ao notebook conversando com a Ana pelo chat. Assistimos a um vídeo do projeto que as empresas mundiais estão fazendo sobre suicídios na comunidade LGBT. Algumas muito famosas como Disney, NASA, Facebook... Até alguns programas de Televisão como um show de vampiros da HBO. O projeto se chama 'The Trevor Project', no entanto pode ser encontrado facilmente no YouTube com o tema 'It Gets Better'.

Os vídeos que assistimos foram tão emocionantes que cheguei a chorar levemente. Meus olhos ficaram parcialmente vermelhos, mas conseguia me controlar sem problemas. Ao assistir os vídeos, pude notar que por mais que pareça que as coisas não vão melhorar, que por mais que você tenha perdido a fé naquilo que te mantinha em pé todos os dias, você não está sozinho. Tem pessoas que apesar de não te conhecerem, te apoiam e querem seu bem. Suas vidas podem servir de inspiração para que continue a lutar por seus direitos, e saber que alguns passaram pela mesma coisa que você ou até pior, e estão felizes agora!

Pra falar a verdade eu não acreditava muito nisso. Como uma pessoa que não me conhece, não sabe nada sobre a minha vida e sobre o que eu passo em casa, vai se importar comigo? Vai querer que eu me mate ou não?

No entanto, eu senti isso quando o Bobby se suicidou no filme, ou quando soube do caso de Tom Bridegroom. Foi estranho, senti tanto pela perda dos dois como se eu os conhecesse há anos. Nossas histórias são parecidas, acredito que toda vez que eu digo isso as minhas amigas não gostam porque pensam que eu posso vir fazer o mesmo que eles.

Então reparei que as pessoas podem sim se importar com você sem te conhecer, sem nem ao menos saber que você existe, mas sabe que você está ai em algum lugar, e você é importante pra elas.

"Olha, depois do que eu ouvi meu pai dizer pra mim no dia que a Nara e a Michele vieram aqui, se eu não achasse que as coisas poderiam realmente melhorar..." Deixo escapar durante a conversa pelo chat.

"O que ele disse?" Ela pergunta.

Respiro fundo e conto toda a história, que por mais que quisesse contar até os mínimos detalhes, era um constrangimento enorme pra mim. Então conto apenas o que mais me chocou naquela noite.

"Caramba Felipe" Ela diz depois de uma pequena pausa para saber como iria reagir após tudo aquilo.

"Tudo bem agora" Eu tento muito disfarçar o caco que estou até hoje. Penso que se nos mostrarmos forte, um dia realmente vamos ser.

"Porque você não me contou?".

"Não é fácil contar isso pra alguém".

Pela primeira vez, posso sentir que ela ficou realmente preocupada com alguma coisa. A Ana tem seu jeito durona de ser e ás vezes não se deixa levar pelas emoções, eu só a vi chorando uma vez... Lembro que ela se abriu comigo, me contou tudo e confiou cegamente em mim. Eu a abracei tão forte e queria ficar ao seu lado para apoiá-la durante o dia. Estávamos saindo do colégio e não podia chegar tarde em casa. Quando fui embora, não parava de pensar nela chorando no ponto de ônibus.

Eu me senti tão bem quando ela se preocupou assim. De muitas pessoas, ela é a única que eu não esperava uma reação tão acolhedora assim.

"Eu vou bater em você" Ela quebra o momento sentimental com seu toque brincalhão.

"Eu sei, foi mal... Eu só não queria que pensassem que eu tava voltando pra pior sabe".

"Essa não é uma conversa pra ser ter assim, mas a gente vai sair e eu vou matar você".

Posso estar errado, mas acho que o significado de "vou matar você" no vocabulário de Ana Beatriz, significa "Eu te amo e pode contar comigo", ao menos prefiro acreditar nisso.

Mudamos de assunto logo em seguida e torço para que ela esqueça esse assunto. Eu posso até conversar pelo chat, mas não acho que conseguiria contar tudo cara a cara. É besteira, eu sei, mas é como um constrangimento que eu tenho que contar, como algo ruim que eu fiz. Não quero que odeiem meu próprio Pai, eu não consigo apesar dos motivos, então não quero que façam isso.

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A noite mais uma vez se mostra solitária. Deitado na cama com três edredons me aquecendo do ar condicionado que deixa meu quarto literalmente gelado. Penso em como vou contar tudo isso, toda essa história para a Narayani? Quero dizer, eu sei que ela não vai reagir de modo ruim, confio totalmente nela, mas... Talvez eu ainda não estou pronto para contar!

Isso permanece em meus pensamentos até não poder mais. Cada dia que passa, eu sinto como se tivesse traindo sua confiança em mim, sendo uma das piores torturas que eu poderia fazer comigo mesmo.

Sento na cama, respiro fundo pondo as mãos na nuca cruzando os dedos. Preciso contar pra ela. Espero que ela entenda o motivo de não ter contado até então. Lembro de uma vez que ela se mostrou ser mais que uma amiga pra mim, mais que uma irmã... Ela me acolheu quando eu mais precisei de um ombro amigo.

Eu estava deitado na cama enquanto conversava com uma amiga, Paula, que hoje nem nos falamos mais. Meu quarto estava escuro e eu ouvia musica e deixava apenas a luz da tela do celular iluminar meu rosto. Posso ouvir o telefone tocar tarde da madrugada.

– Porque ligariam pra minha casa tão tarde? - Penso.

Enquanto continuo a conversar, mantenho a minha atenção na porta do quarto. Meu coração acelera por alguns instantes, algo deu errado. Podia sentir isso, eu juro que eu podia sentir nos meus ossos que alguma coisa ruim aconteceu.

A luz do corredor se acende, me fazendo retirar os fones de ouvido e continuar quieto, deitado nas cobertas. Minha mãe abre a porta do meu quarto devagar, olho para seu rosto inchado enquanto chora. Ergo na cama perguntando o que havia acontecido? Acontece que minha avó estava internada no hospital há algumas semanas, ela tinha Alzheimer, essa maldita doença que tirou uma das pessoas que eu amava. Minha avó tinha falecido nesta noite, e ao receber essa notícia eu entrei em choque. Não pude chorar, pois não acreditava que isso estava realmente acontecendo.

Deixaram-me sozinho no quarto, eu não tinha ideia de como era perder alguém tão especial. Apenas deitei novamente, fechei meus olhos e dormi, rezando para que tudo tenha sido apenas um pesadelo.

No dia seguinte, despertei-me cedo, o sonho simplesmente acabou e por um instante eu não podia mais sentir nada. Quando vejo meu pai chorando, minha fixa realmente caiu. Me arrumo devagar. Minha expressão serena mantinha meu olhar fixo no vazio a minha frente, mas é claro que há uma tempestade acontecendo dentro de mim.

– Vamos! - Minha mãe chama meu Pai, sentado na cama olhando pela janela.

Eu nunca o vi tão abatido antes. Foi tirado dele algo de mais precioso que alguém pode ter na vida, a sua própria mãe. Ele levanta e caminha em silêncio para a porta da frente. Eu o sigo pelo olhar e respiro fundo. O acompanho e entramos juntos no carro.

– Se quiser conversar... - Digo.

– Não quero! - Ele me corta.

Confirmo com a cabeça descendo meu olhar para o lado.

Ao voltarmos do velório, no qual eu não consegui derramar uma lágrima. Meu coração estava despedaçado e minha consciência que por mais que tenha visto o corpo dela sendo retirado da sala, ainda não podia me deixar acreditar que isso era verdade. Passei o dia inteiro no meu quarto, sem assistir televisão ou ouvir música, nem mesmo conversar com alguém.

Apenas deitei na cama e esperei que esse dia terminasse. Na madrugada, quando podia me sentir melhor, chamei Narayani para conversar. Contei sobre o que tinha acontecido e ela abriu o video chat. Meus olhos estão quase transbordando de lágrimas.

Não lembro direto os seus conselhos, mas foram tão reconfortantes, que foi a primeira e única pessoa até hoje, que me viu chorar. Eu não conseguia parar. Tudo que eu não chorei durante o dia, eu chorei com a Narayani naquela hora. Foi bom vê que mesmo sem dizer uma palavra, apenas estando ali, ela não me ignorou, não fez pouco caso e não falou um simples "Eu sinto muito" e depois deu as costas. Ela ficou comigo até o final, me viu chorar, me viu rir enquanto contava para ela às vezes que eu e minha avó dançávamos Michael Jackson em cima da cama da minha irmã.

Eu sentia que eu podia ser eu mesmo perto da minha avó. Ela não se importava se eu era homossexual ou hétero, porque amor não tem distinção, você apenas o sente. Brincávamos de fazer o meu dever de casa... Confesso que depois eu refazia os deveres, mas deixava-a pensar que estavam certos. Eu amava quando ela ia para minha casa, uma vez ficamos cantando Britney Spears na sala, e foi tão legal. Nenhuns dos dois sabiam cantar inglês, mas mesmo assim a gente tentava, não era pela música e sim pelo momento.

Então, eu chorava cada vez mais, e a Narayani ali, me vendo chorar e ás vezes me fazia sorrir. Ela apenas se torna cada vez mais a pessoa mais importante na minha vida.

Preciso começar a praticar em como iria contar. Treinei algumas falas, mas tenho certeza que irei esquecê-las na hora. Contar pra Narayani que sou homossexual... Isso é algo que eu podia jurar que nunca iria precisar fazer!

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A noite seguinte está calorosa e estrelada. Uma brisa leve deixa o clima satisfatório para aproveitá-lo ao ar livre. Levo Zac a praia que costumo ir com meus amigos. O local estava pouco movimentado, praticamente dá pra contar todas as pessoas com os dedos das mãos. Estico a canga na areia para sentarmos e observarmos o mar.

Ele levou alguns sanduiches e refrigerante para tomarmos. A ideia era apenas aproveitar a noite, mas claro que com Zac as coisas sempre acabam virando uma cena de um filme romântico. Se eu dissesse que não gostei, estaria mentido!

Sempre imaginei um relacionamento assim, com alguém tão atencioso com você a ponto de saber como lhe surpreender.

– Aqui deve ser ótimo para surfar - Comenta Zac, observando as grandes ondas que se formam no mar.

– Sim! - Respondo - Já quase me afoguei nessa água.

– Ainda bem que não - Ele brinca.

– Eu estava com meus amigos aqui. Tínhamos acabado de encontrar essa praia e eu fui tentar seguir o Joe até o fundo... - Começo a contar após uma rápida risada simpática - Ele conseguiu voltar pra areia, mas as ondas estavam bem fortes... Eu não consegui acompanhá-lo...

– Mas ta tudo bem com você, certo?

– Bem, eu to vivo - Brinco, tirando-lhe um sorriso - Eu fui salvo por um banhista que estava perto...

– Chegou a ficar inconsciente?

– Não!

– Eu poderia te salvar.

Eu rio abaixo a cabeça. Seu charme sem igual sempre me deixa sem palavras.

– Estava com a Narayane?

– Narayani!

– Isso!

– Não... Ela não estava com a gente no dia.

– Hm... Você ainda não me contou sobre sua faculdade... Está se preparando para o próximo período?- Zac me pergunta.

– Sim... A Myrlei não vai estar na turma, mas a Michele vai continuar.

– Myrlei é a garota que você disse que gostava?

– É - Rio em seguida - Acho que nunca mais vamos esquecer isso... Ela primeiro achou que eu fosse Argentino...

– Argentino?

– Pois é - Eu nego a cabeça rindo - Depois eu comecei a... - Engulo a saliva. Falar sobre isso com alguém ainda me deixa um pouco inseguro - Depois que tudo começou a mudar, eu senti que eu precisa tentar ser... Ser o que os outros dizem normal... Eu me forcei a gostar de garotas desde meus quinze anos... Então, eu tentei gostar dela e soube que ela também ficaria comigo, mas... Eu realmente só a via como amiga!

– Vocês chegaram a ficar?

– Não.

Fico quieto olhando para o mar. Essa história me volta a cabeça me entristecendo um pouco. Me sinto mal, na minha cabeça eu enganei Myrlei por um curto tempo, tentei fazer com ela me torna-se hétero para que eu fosse o tão esperado orgulho da família. No entanto, apesar de todos esses anos, tentando, tentando e tentando com mais força, eu não conseguia. Realmente não conseguia gostar de garotas como qualquer outro garoto. No começo foi assustador, tinha que tentar mudar isso, mas agora vejo que não tem problema em gostar de um homem, porque o amor não tem medidas... Ele não têm formas e nem cores, apenas existe em uma determinada pessoa.

– Ela sabe sobre você? - Diz Zac.

– Sim... - Respondo-o - Ainda brinco com ela sobre isso.

Uma brisa fria bate contra a gente, fazendo-me colocar as mãos nos braços para me esquentar. Belo dia para esquecer o casaco em casa. Zac nota meu movimento e retira a jaqueta, me dando um leve susto ao colocá-la nas minhas costas.

– Não precisa, e você? - Digo para ele que está com blusa de manga curta.

– Não se preocupe comigo.

– Vem cá! - Eu me aproximo dele e o abraço, fazendo-o encostar a cabeça em meu ombro.

Deus, esse foi um dos momentos mais amoroso e marcantes que eu tive na minha vida. Uma memória que acaba de se eternizar em minha mente. Não queria sair dali, pra mim, poderíamos viver nessa praia para o resto de nossas vidas. Onde ninguém nos julgaria, onde a única lei é ser feliz do seu jeito, poder ficar com quem você quiser.

Horas mais tarde, ele adormece em meu ombro. Posso notar em seu rosto que ele está realmente a vontade, se sente seguro comigo. Só agradeço todos os dias por ter Zac ao meu lado sempre que preciso. Ele é tudo , ele me completa , ele me faz bem , ele me faz esquecer todos os problemas do mundo . Por ele sou capaz de tudo.


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Notas finais do capítulo

Próximo capítulo no Domingo =D
Espero que todos estejam gostando!



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