A Coisa escrita por Liz03


Capítulo 5
Chuveiro




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Lilo acordou feliz, que bom era aquilo que ela havia aprendido ontem. Sentir se perto de Marco desse jeito era a melhor coisa que ela já experimentado, um beijo singelo mas intenso. A criatura vestia um pijama da irmã de Marco, olhou em volta, não havia ninguém no quarto, se levantou da cama e desceu as escadas. Dona Josi, Mia e Marco já tomavam café da manhã.


 


- Ah! Acordou a margarida – Mia disse rindo


- Margarida não, Lilo – A “coisa” respondeu sem entender a brincadeira


 


 Mia e Dona Josi riram.


 


- Ela ta brincando com você  – Marco explicou e fez sinal para que a criatura viesse se sentar ao seu lado.


- Brincando? – Lilo sentou e encarou o agente confusa.


- É, ela está sendo engraçadinha com você, mas ela sabe que seu nome é Lilo – O agente retribuiu o olhar, ele estava diferente, mais distante.


- Hum – Lilo já não se interessava pela explicação da brincadeira, agora ela queria saber por quê Marco estava assim, triste.


 


A criatura se serviu com as próprias mãos, não houve tempo para analisar e descobrir o por quê da tristeza do agente, mal acabou de tomar café  o rapaz anunciou que eles iriam sair.


 


- Mia, pegue umas roupas para ela, nós vamos até o velho curral – Marco explicou a irmã já subindo as escadas.


- Tudo bem mas o que vocês vão fazer lá, não passa uma alma sequer por ali – A moça perguntou.


- Vou ensinar umas coisas para ela – Marco explicou – Para que seja mais fácil de passar despercebida...


 


O agente entrou no quarto.


 


- Vamos – Mia segurou o braço de Lilo com leveza e a conduziu até o quarto – Pode tomar banho no meu banheiro.


 


Mia explicou melhor, e entendendo Lilo tirou o pijama e ficou debaixo do chuveiro que já jorrava água. Como uma criança a “coisa” ficou quieta enquanto a água escorria por seu corpo, era uma sensação boa. Mia secou Lilo enquanto ela se divertia balançando o cabelo molhado, As duas riram. Então, Lilo desceu as escadas usando uma calça jeans, nem apertada nem folgada, uma blusa azul  no mesmo tom de seus olhos, o que causava um lindo efeito, e um tênis all star. Mia era muito jeitosa , desse modo escovou os cabelos lisos  da criatura, com dificuldade por sinal, afinal era a primeira vez que os fios ruivos viam uma escova.


 


Marco já estava pronto, com o conjunto tradicional, calça jeans, blusa branca e tênis surrado, além de uma mochila nas costas. O rapaz estava sério. Sem muitas palavras, os dois seguiram até o velho curral, a pé, já que o jipe chamaria muita atenção numa cidade de interior. Durante todo o percurso o jovem agente se manteve calado, Lilo que acordara radiante se deixou contaminar pela frieza do rapaz e já estava triste também, a diferença é que ela queria estar feliz.


O curral era afastado da cidade, em uma colina. Para chegar até lá tiveram que adentrar pelo matagal, o que não foi problema para nenhum dos dois. Marco chutou a porta com violência para abri-la, toda a iluminação do ambiente era feita por uma fenda no telhado. Quando já estavam dentro, Marco trancou a porta com um pedaço de madeira. O chão era todo coberto por palha, do lado direito estavam cancelas, estava tudo ali, do que um dia foi um curral. O agente se sentou do lado esquerdo em meio a palha, Lilo não precisou de ordem alguma para entender que deveria se sentar ao lado. Assim o fez. O rapaz abriu a mochila e tirou um livro. “Aprendendo a ler”, um livro para crianças que estão sendo alfabetizadas. E começou a aula, Marco explicou que Lilo deveria se “enturmar” ao humanos com facilidade, como um disfarce, tirou da mochila um caderno e uma caneta. E como um adulto faz com uma criança começou a dizer as vogais lentamente para que a criatura aprendesse.


 


- Essas são as vogais – Ele apontou para o livro – A- E-I-O-U – Ele falou e logo após repetiu – Agora quero que você fale e depois escreva aqui –Apontou para o caderno – A-E-I-O-U.


 


Marco olhou para Lilo, que por sua vez olhava para a fenda de luz no teto.


 


- Lilo! – Marco chamou lhe a atenção – Se não fizer direito não vai aprender! – Disse o professor rigoroso.


 


Lilo encarou o rapaz emburrada.


 


-Vamos repita – Ele pediu, mas ela nada falou e continuou a encará-lo.- Lilo, eu vou te explicar pra vê se você entende, se você não parecer humana vão notar que você é diferente, aquele caras...- Marco estava nervoso, a seriedade estava irritada – Os caras que fizeram tudo aquilo com você, sabe não é?!


 


A “coisa” estava paralisada, assim, não respondeu.


 


- Pois se você não prestar atenção na droga desse livro, eles vão pegar você, entendeu?- O agente se levantara – Droga Lilo! – Um soco na parede.


 


Agora Lilo estava nervosa, ela não podia compreender tudo o que ele estava dizendo, mas sabia que não era bom. Ele estava bravo. O pior, bravo com ela, ele estava chateado e a culpa era toda dela. Ela não queria que fosse assim,qualquer lembrança daquele laboratório e de tudo que ocorrera lá não eram bem vindas. Mas não adiantava pensar nisso agora, Marco estava irritado e alguma coisa deveria ser feita. Lilo sabia o que era bom, sabia como havia se sentido bem quando ele agiu por ela, então decidiu fazer o mesmo.  Se aproximou do agente que estava com um olhar distante, pôs a mão em seu rosto e lhe tocou a boca com seus lábios, depois se afastou para ver se ele já estava melhor. Marco estava de olhos fechados, e quando os abriu não parecia estar melhor que antes, pelo contrário. Olhou para a criatura, como se estivesse com nojo.


 


Rejeição.


 


Para Lilo era tudo muito simples, para os humanos não.


 


- Não faça isso de novo, está bem?! – Marco estava mais que sério, estava frio.


- Marco..- Lilo não sabia explicar. – Lilo...


- Não! – Marco pegou o livro e a caneta e devolveu à mochila – Não fale nada, vamos pra casa e você vai aprender a ler e a escrever, entendeu?!


 


Lilo não respondeu, o agente abriu a porta e eles seguiram de volta para casa. A “coisa” estava triste, uma dor se instalava em seu coração tão rápido quanto seus batimentos.  Chegando lá, Marco seguiu para a cozinha, Lilo subiu as escadas e entrou no quarto que lhe fora designado.


 


- Oi – Mia colocava roupas dentro do guarda-roupa – Comprei umas roupinhas pra você, espero que goste, olha essa que linda – Mia pegou uma blusa e mostrou para a criatura.


 


Não houve mais nenhum comentário sobre a peça de roupa, uma gota salgada escorreu do olho de Lilo.


 


- Ei...O que foi? – Mia se aproximou.


 


A criatura mais uma vez não respondeu, apenas seguiu para o banheiro, largando as roupas que usava no caminho, ligou o chuveiro e esperou que a água corresse por seu corpo. A sensação que lhe parecera tão boa pela manhã, agora já não surtia o mesmo efeito. Lágrimas se misturavam com a água.


 


- O que aconteceu? – Mia saiu do quarto em direção à sala onde Marco estava- O que aconteceu com ela?


- Com ela quem? – O agente falou


- Com a Lilo, ela chegou no quarto toda triste – Mia gesticulava – Saiu tão feliz e chegou...O que aconteceu?


- Eu só falei com ela ,só isso – Marco exibia sua justificativa.


- Não foi só isso, o que você fez?– Mia sabia que o irmão havia feito mais do que dizia.


- Eu só falei com ela – Marco se aproximou da irmã – E você não devia se importar assim, ela é muito forte, não deve nem ter entendido mesmo...


- Ela entendeu- Mia interrompeu – Seja lá o que foi que você disse, e não deve ter sido boa coisa, ela entendeu. Não acredito que fez isso, ela está chorando sabia? – A moça já se apegara a nova criatura.


- Chorando? – O agente nunca havia visto a “coisa” chorar, nem mesmo quando levou vários tiros ou quando foi torturada como cobaia.


- É ela está chorando – Mia estava aborrecida com o irmão.


- Eu não sabia que ela estava chorando ...eu...


- Mas está. E a culpa é sua – Mia interrompeu o irmão mais uma vez – Você mesmo disse que ela era diferente, que era especial, por que fez isso?


 


Foi a vez de Marco deixar uma pergunta sem resposta. Nem ele sabia o por que, talvez ele tenha absorvido o papel de agente e não de amigo de Lilo, talvez estivesse com medo de perdê-la por um deslize qualquer, talvez até se culpasse por gostar tanto do beijo da noite anterior quando deveria estar zelando pela segurança da criatura. Nada disso importava mais, estava feito, ele a havia magoado. A “coisa” chorava.


 


 


 


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Notas finais do capítulo

*** Tava sem nome pro cap mas queria postar logo dai ficou esse msm hihi. Posto mais qnd chegarem alguns comentarios OK? Bjao e me digam como ta...