A Coisa escrita por Liz03


Capítulo 2
A caçada




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/54087/chapter/2

Os agentes, com exceção do que havia fraturado quase todas as costelas, adentraram a floresta com uma certeza, trariam a “coisa”, a parte do “vivo de preferência” era garantia dos cientistas e não deles. Seria fácil explicar aos estudiosos que tudo não passara de  legítima defesa. E dessa vez estavam preparados, se os armamentos já eram exímios, agora eram praticamente perfeitos. Os quatro agentes mais preparados, com armas da melhor tecnologia que já se viu, tudo isso para caçar um só ser. Um ser feito pelo homem. Mas não controlado pelo mesmo.

 

A floresta estava quieta, poucos eram os sons, animais que corriam sorrateiros pela mata, aves com um canto tímido, insetos com leves ganidos. Tudo era muito normal até ali.

 

- Pegadas aqui, Grael- Disse o agente de feições européias, pele branca, quase rosa, e cabelo loiro.

-É humana? – A pergunta de Grael, o agente negro , alto e forte, o chefe, fez com que os companheiros se entreolhassem. Humana?

 

Sem resposta o comandante se aproximou para checar, parecia mesmo uma pegada “humana”.

 

- Tem um rastro- O agente mais jovem, Marco, achou marcas leves sobre a terra.- Não dá pra ver direito, essa  coisa deve estar rápida.

- Vamos segui-lo mesmo assim, vamos ver onde ele nos leva – Com a ordem de Grael, os agentes seguiram o leve rastro.

 

O rastro, difícil de seguir, levou os para o interior da floresta, uma espécie de campina, lá era mais quieto ainda, e tudo permanecia normal, até um vulto passar rapidamente entre as árvores. Inquietação seguida de um estado de alerta, os agentes estavam prontos para atacar assim que a criatura fizesse a mais rápida aparição.Outro vulto passou entre as árvores , dessa vez do outro lado da campina.

 

Silêncio.

 

E de repente, na velocidade que acontecem as coisas mais determinantes da vida. A criatura se mostrou. Andando um pouco curvada, mas não mais como um animal, ela se aproximou. Não rosnava, não mostrava suas presas, apenas olhava. O olhar também mudara a raiva e o receio, deram lugar a dúvida e algo semelhante ao desespero, ou à necessidade.

 

A “coisa”, deu alguns passos e parou a 10 metros aproximadamente. Nem longe, para passar despercebida, se é que isso era possível, nem perto. Ela inclinou a  cabeça para baixo, desviando o olhar dos agentes para o chão, e logo voltou a posição normal.

 

- Oi? – Grael tentou comunicação pela segunda vez.

 

A criatura permaneceu quieta, então o comandante tentou se aproximar, e a “coisa” recuou. Ela estava insegura. Olhou de forma triste para o comandante, como a de alguém que sente dor, tentou se comunicar, mas só o que se ouviu foram puxadas de ar e suspiros, como se estivesse tendo uma ligeira crise de asma. Desistiu da comunicação e decidiu se aproximar. Grael assentiu com a cabeça, apoiando a, mais segura lá foi ela. Um passo, dois.O agente que mais parecia europeu fulminava a cena com o olhar, para ele a ameaça devia ser detida sem chance de comunicação. E no terceiro passo da “coisa”, ele disparou, um tiro estúpido, covarde e certeiro. A criatura foi pega desprevenida. O som ecoou pela floresta. Os companheiros se entreolharam, e encararam o colega recriminando o.

 

- O que você fez? – Grael gritou com o companheiro

- Eu resolvi,  Grael! Como deve ser feito -  o agente se justificava. 

- Eu não lhe dei a ordem – O comandante se impunha

- Não poderia ter feito isso! – Acrescentou o outro companheiro.

 

Um forte gemido interrompeu a conversa, mesmo com o tiro a criatura ainda estava de pé.

 

- Aquilo azul é...sangue? – Marco observara um líquido azulado que escorria da barriga da “coisa”

 

Ela passou a mão sobre a barriga, e viu o líquido azul, abaixou a cabeça, uma feição de dor se instalou no rosto da criatura. Ela se agachou e olhou mais uma vez para a mão com o líquido azul. Outro semblante se instalou em suas faces nesse momento, ela olhou para os agentes já se levantando, e agora o que se via era raiva.

 

Rosnado, presas.

 

A “coisa” deu um passo à frente, mas balançou a cabeça confusa. Um passo para trás. Ela correu, em direção às árvores que beiravam a campina, ela queria sair dali. O que não fez graças a outro disparo, aliás uma seqüência, feita ainda pelo agente europeu. O companheiro tentou detê-lo, mas ouve tempo ainda para que ele disparasse uma rede. A “coisa” estava presa, e agora com um tiro na  perna e outro no braço.Assustada ela urrava. Grael ajudou a conter o atirador.

 

- Marco vá vê-la – Determinou o comandante.

 

Obediente o agente assim fez, correu até a criatura que já rasgava a rede com as próprias mãos, mas devido ao material resistente,  estava se machucando.

 

- Calma, eu te ajudo – Marco abaixou se, a criatura assustada respondeu com gritos e rosnados. O agente ignorou e com uma ferramenta específica, começou a cortar a rede. A “coisa” recuou, como se fosse dar o bote, mas não o fez. Colocou a mão sobre a barriga, para proteger o ferimento.

 

Após livrar se da rede, Marco, como bom agente, tratou de cuidar do ferimento e pôs sua mão sobre a da criatura, que não entendeu bem e com força agarrou a mão do rapaz.

 

- Ai! Não, não, eu só quero ajudar – Marco insistiu e com a outra mão pegou itens de primeiros socorros na mochila, e tentou estancar o sangue azul. A coisa apertou com mais força – Arr.. – O agente não parou – Não vou parar, então desista – O som dos ossos dos dedos da mão do rapaz se quebrando ecoaram. Marco continuou, o sangue já não escorria tão depressa. A “coisa” olhou para  a barriga e percebendo a mudança, largou a mão quebrada do agente. A criatura encarava o rapaz com uma mistura de desconfiança e gratidão.

 

Marco fez o melhor curativo que pôde com uma mão só. A “paciente” olhou curiosa para as ataduras que estacavam o sangue na barriga, na perna e também no braço. Olhou e encarou aquilo sobre sua pele, tocou desconfiada e apertou. Dor. O ferimento ainda estava ali.

 

- Não, não – Marco tirou a mão dela vagarosamente da barriga. E recebeu uma olhar duvidoso – Eu ajudo você a se levantar, venha – É claro que a “coisa” não havia entendido, permaneceu quieta.Marco então passou  o braço dela sobre seu pescoço e foi se levantando, ela então ficou de pé, e tirou seu braço do pescoço do agente. Os dois ficaram se olhando, duas espécies estavam enfim se conhecendo. A criatura abaixou a cabeça e voltou a olhar para o rapaz. Instintivamente Marco fez o mesmo gesto, semelhante a uma reverência.

 

A “coisa” olhou mais uma vez para o curativo da barriga, tocando, mas agora de leve. Da atadura ela olhou para frente, e rosnou.

 

- Não vamos deixar que ele faça isso de novo com você, está bem – Marco percebeu que ela associara o machucado ao agente europeu.

- Traga ela aqui Marco – Grael falou ao companheiro.

 

Marco olhou para onde os outros agentes estavam e assentiu com a cabeça.

 

- Vamos indo...-Ele disse mais para ele mesmo do que para a “coisa”

 

E com a mão que estava boa ele segurou a mão da criatura. Ela nada fez. Ele tinha um voto de confiança por ajudá-la com o ferimento. Marco olhou para ela, queria que a “coisa” caminhasse, ela retribuiu o olhar. O rapaz então nada fez, nem poderia. A dimensão daqueles olhos azuis era muito maior do que ele pensara. Então ele entendeu, que ela não era uma máquina de destruição com sede de sangue, um animal selvagem e incontrolável, ela era apenas alguém com medo, alguém de existência forçada que temia, só isso.

 

Marco passou novamente o braço dela pelo seu pescoço. Até que a mão da criatura tocou em seu peito. Espantada ela retirou a mão dali rapidamente, e olhou para o agente assustada.

 

- O que foi? – Ele não entendia.


Depois de algum segundos encarando o rapaz, ela levantou sua mão lentamente, e inclinou a cabeça, como se pedisse permissão para algo.

 

- O que? – Ele continuava perdido.

 

Ela entendeu então que a fala dele lhe dava a permissão. E aproximou sua mão cuidadosamente até o peito do agente, até encostá-la. Feito isso, ela ficou olhando surpresa para sua mão sobre o peito dele, depois olhou para o próprio agente ainda surpresa.

 

Ele não falou, também continuava sem entender. Ela então pegou a mão dele que ela não havia quebrado e pôs sobre seu peito. Olhou para o rapaz satisfeita.

 

- Ah! – Marcou sorriu, finalmente entendera – O seu coração também bate não é ?! – Ele prestou atenção nos batimentos. – Só que o seu é muito mais rápido – Realmente era, um ser humano que tivesse o coração batendo naquele ritmo poderia morrer , ou já ter morrido, vítima de uma arritmia.Ela sorriu, ele também. A criatura estava contente pela primeira vez. Mas logo ficou triste de novo, olhou para a outra mão de Marco que estava junto ao corpo.  A “coisa” rosnou baixo, ela sabia que tinha feito aquilo.

 

-Isso? -  O rapaz  mostrou a mão machucada – Tudo bem – Disse ele em um tom gentil.

 

A criatura olhou a própria mão e depois olhou para o que tinha feito na mão do agente. Colocou as mãos sobre  a mão machucada do rapaz, olhou para ele com um misto de vergonha e tristeza.

 

- Marco! – O comandante chamava o agente

- Já vamos!- O rapaz respondeu.

 

Os agentes, em suma, haviam conseguido. A “coisa” seguiu com eles pacificamente. Ela se manteve ao lado de Marco durante todo o percurso de volta.

 

- E aí, tudo bem? – Grael ainda insistia numa comunicação, balançou a cabeça.

 

A criatura olhou curiosa para o comandante e balançou a cabeça, repetindo o gesto dele. Estava mais confiante. Os agentes a levaram em direção ao laboratório. Tiveram êxito. Estava encerrada a caçada, a presa fora capturada.

 

 

 

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

***Peço desculpas mais uma vez, pelo incidente com a história, Enfim, como está? Se quiserem mais me fale ok? Bjao