Retorno a Konoha

Escrita por BastetAzazis

DISCLAIMER: Os personagens, lugares e muitos dos fatos desta história pertencem a Masashi Kishimoto.

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Capítulo 8: Alvorecer

Sasuke não dormiu aquela noite. Seu coração estava divido; não sabia mais se amava Sakura ou se a odiava. E ainda havia os fantasmas de Itachi e Orochimaru, aqueles que ele acreditava mortos e vingados, e que só faziam com que ele odiasse Sakura ainda mais. Ele podia lidar com o fato dela estar na Akatsuki, imaginara mil e uma desculpas que ele pudesse aceitar para que ela tivesse abandonado Konoha. Mas traí-lo, e com o Itachi, era imperdoável.

As gotas de chuva em sua barraca ora esvaeciam, ora voltavam com toda força; pequenas marteladas em sua cabeça, lembrando-lhe do beijo entre ela e Itachi. Logo depois que ele achava tê-la recuperado, logo quando ele achava que poderia ser feliz... Logo ela, que um dia lhe garantira que o faria a pessoa mais feliz se ficasse ao lado dela...

Os roncos do companheiro ao lado não ajudavam em nada. Decidiu que precisava de ar fresco, caminhar, refletir, não importava o tempo lá fora. O dia já estava amanhecendo e as nuvens se dissipavam, finalmente levando a chuva embora. Ele seguiu a esmo, parando apenas quando chegou próximo a um lago, as águas avermelhadas com os primeiros raios do sol que acabava de nascer. A visão era linda, mas como um shinobi experiente, subiu até o alto de uma árvore para poder apreciá-la sem que sua presença fosse notada facilmente.

Precisava esquecer Sakura. Com Orochimaru e Itachi vivos, ele tinha coisas mais importantes para preencher sua mente e não podia deixar que uma traidora interferisse seus planos. Analisando sua situação friamente, se a Akatsuki tinha pistas sobre o paradeiro de seu antigo mestre, talvez ele devesse segui-los de perto, escondido, até ter a oportunidade de terminar o que julgava ter feito anos atrás. Depois, sobraria Itachi... e ela. Sabia que seu desejo de vingança não lhe traria paz, nem felicidade, mas agora ele tinha a certeza que não poderia viver no mesmo mundo que seu irmão, e se ela se colocasse entre os dois, sofreria as conseqüências.

Um ruído o fez acordar de seus devaneios, e ele observou com olhos estreitos uma figura se aproximar e parar bem a beira do lago. Era Sakura. Um sorriso escapou dos seus lábios quando uma brisa suave agitou os longos cabelos rosados e levou o perfume dela até ele. Odiou-se internamente por isso; a simples idéia de que era Itachi, o homem que tirou tudo o que ele tinha, quem tocava aquele rosto e beijava aqueles lábios fazia seu desejo de vingança voltar com uma força descomunal em seu peito.

Como ela podia fazer isso com ele? Como ela podia deixar que o homem que ela jurara matar agora a tivesse daquele jeito? Será que ele podia acreditar em alguma coisa entre todas que ela alguma vez lhe dissera? O manto preto de nuvens vermelhas que esvoaçava com o vento lhe dizia que não, que ela era uma traidora da sua vila. Como um capitão AMBU, ele deveria prendê-la e levá-la de volta a Konoha para julgamento, era o que a Hokage esperava dele. Mas aquela mulher à beira do lago, com aparência pura e inocente, era a chave para encontrar Orochimaru e Itachi. Era isso que sua mente dizia para explicar por que ele não aproveitava a distração dela para atacar. Entretanto, ele não conseguiu achar nenhuma explicação racional para ter saído de seu esconderijo e se aproximado dela.

Sakura estava parada à beira do lago, observando as nuvens vermelhas no horizonte. Aquilo a fazia lembrar do seu primeiro beijo em Itachi. Muita coisa acontecera desde então, e era apenas a ele que ela podia agradecer por ter se mantido sã todos aqueles anos. Mas agora, parecia que o fantasma de Sasuke a perseguia. Um boato sobre Konoha e ela já se punha a acreditar que ele pudesse estar vivo, vendo-o em florestas escuras, imaginando coisas que não poderiam ser reais. Mas era real. Nenhum genjutso seria tão forte a ponto de confundi-la daquele jeito, de fazê-la perder o sono e fugir da companhia de Itachi.

Ela fechou os olhos e se viu lembrando do beijo daquela noite pelo que deveria ser a milésima vez. Era tão diferente dos beijos de Itachi... Era quente e excitante, ao mesmo tempo que conseguia ser tão doce e terno. Ela não podia negar a semelhança que sentiu quando estava nos braços de Sasuke anos atrás, quando se entregou a ele pela primeira, e única, vez. Como ela ansiara por aquele toque, nem que fosse por apenas mais uma vez, mas sempre o julgara morto. Quantas vezes ela acordara no meio da noite, sonhando que ele a tocava e a beijava, ouvindo-o repetir inúmeras vezes que a amava... apenas para constatar que jamais o veria ou o tocaria novamente. Aqueles sonhos, ou pesadelos, só se foram depois que Itachi ocupara um lugar mais importante em sua vida. Ela jamais se enganara a ponto de dizer que o amava como um dia tinha amado o outro Uchiha, mas ela o respeitava. Eles formavam um casal, uma dupla, tinham um objetivo em comum... Não podia deixar que um fantasma do seu passado a deixasse se confundir, se desviar do caminho que escolhera para si.

Novamente, aquela sensação de que não estava sozinha.

- Sasuke?

Ele estancou assim que ouviu a voz de Sakura. Estava a poucos passos de distância, mas ela não se virou. Continuava encarando a alvorada.

- Por favor, não. Ele está morto há tanto tempo – ela continuou, a voz denunciando o choro embargado. – Estou cansada de ilusões, estou cansada de fantasmas me perseguindo...

Ele podia sentir as lágrimas escorrendo pelo rosto dela, apenas ouvindo as falhas na voz rouca.

- Por favor, deixe-me viver... – A emoção tomou conta da sua voz, e ela não conseguiu mais segurar o choro. Deixou as lágrimas escorrerem livremente, sem se importar em parecer tão fragilizada. – Deixe-me ao menos me concentrar na tarefa de matar aquele que causou toda essa desgraça.

Esquecendo-se de todos os pensamentos rudes que acabara de ter sobre Sakura, aquelas palavras o atingiram como uma kunai em seu coração. Ele estava tão próximo, bastava esticar os braços para acalentá-la, para fazê-la parar de chorar. Apesar de tudo que presenciara naquela noite, ele ainda não conseguia vê-la sofrer; seu coração doía como doera no dia que ele a abandonara em Konoha.

- Sakura – ele falou -, eu não sou um fantasma.

Ela não se virou, mas ele percebeu que sua voz a fizera reagir.

- Eu não estou morto – ele continuou, falando devagar.

- Não pode ser – ela respondeu, sem coragem de se virar. – Eu vi a kyuubi... Eu vi quando ela... – Não conseguiu continuar.

- E eu vi Itachi caindo de um abismo e puxando você com ele – Sasuke retorquiu. – No entanto, parece que vocês dois estão vivos.

Sakura finalmente se virou, vagarosamente, como se recolhendo forças para conseguir encarar aquele que ela tanto desejou poder encontrar novamente.

Os olhos verdes chorosos encontraram os olhos pretos que pareciam jamais deixar escapar suas emoções. Ela não se conteve com apenas um olhar, levantou o braço para tocá-lo no rosto, constatando que ele era mesmo de carne e osso.

Sasuke se rendeu ao toque, inclinando-se contra a mão dela, inspirando seu cheiro, beijando sua pele macia.

- Então é verdade? – ela perguntou num sussurro. – O Sexto Hokage... O Jinchuuriki que aqueles ninjas falaram...

Sasuke assentiu em silêncio.

- Todo esse tempo – ela continuou –, eu achei que vocês estavam mortos.

- Nós também achamos que você... – ele não conseguiu terminar a frase. – Como você...O que aconteceu?

- Muita coisa – ela respondeu, baixando a cabeça e retirando a mão do rosto dele.

Um silêncio constrangedor pesou sobre os dois. Sasuke queria respostas, queria obrigá-la a responder todas as dúvidas que assombravam sua mente desde que descobrira que ela estava viva, mas não conseguia formular uma pergunta. Sakura estava confusa, ainda tentando assimilar todas as implicações do que acabara de constatar.

- Por favor – ela finalmente quebrou o silêncio –, vá embora.

Sasuke arregalou os olhos, sem acreditar na reação dela.

- Eu não posso voltar a Konoha – ela continuou, ainda de cabeça baixa – e nem deixarei a Akatsuki. É o melhor para nós dois.

Ferido em seu orgulho, Sasuke deu meia volta e começou a caminhar de volta para seu acampamento, mas então parou e disse:

- Você disse que me amava.

Sakura levantou os olhos, mas encontrou apenas as costas dele.

- Eu não menti – respondeu.

Sasuke deu uma risada falsa e virou o rosto para ela.

- Por isso você se jogou nos braços do meu irmão?

Sakura abriu a boca para retorquir, mas não conseguiu formular uma resposta. Ele estava certo. No fundo, ela se culpava por ter se deixado levar pelas semelhanças entre os dois irmãos. Itachi fora a única mão amiga no período mais escuro de sua vida, e agora ela tinha certeza que o que sentia por ele nada mais era que gratidão. Mas não podia simplesmente abandoná-lo, e ainda havia seu compromisso com a Akatsuki.

- Eu achei que você estava morto – foi só o que conseguiu dizer.

- Hã... – ele respondeu com sua risada falsa e continuou a se afastar.

Machucada pelo desprezo, Sakura gritou para as costas dele:

- Tudo o que eu fiz esses anos foi por sua causa! A única coisa que eu busquei foi vingança contra aquele que causou tudo isso!

Sasuke parou mais uma vez. Virando a cabeça devagar e estreitando os olhos, disse num silvo:

- Você tem uma noção bem peculiar de vingança, Sakura. Itachi deve estar se deliciando com isso.

Ela não se conteve e, como costumava fazer com Naruto quando ainda eram genins, partiu para cima dele, pronta para socá-lo. Mas Sasuke ativou seu Sharingan rapidamente e conseguiu parar a mão dela a milímetros do seu rosto, segurando-a fortemente pelo punho.

- Eu não vou machucá-la – ele disse, encarando-a com olhos frios – se você me responder algumas perguntas.

Sakura estreitou os olhos e tentou se desvencilhar dele, mas era inútil, e ele aumentou ainda mais a força em seu braço.

- Eu ouvi vocês dizendo que estavam atrás do Orochimaru. Ele está morto – Sasuke falou.

Sakura o avaliou com os olhos antes de responder:

- Ele não está morto. Kabuto usou o próprio corpo para se fundir a ele. – Um olhar de dúvida cruzou seu rosto quando continuou: - Naruto o encontrou anos atrás, eu achava que a Hokage e todos em Konoha estavam cientes disso.

- Chikusho – ele praguejou baixinho, soltando Sakura com um empurrão.

Ela se afastou, tomando o pulso machucado na outra mão e avaliando Sasuke assustada.

- E qual o interesse da Akatsuki no Orochimaru? Como vocês sabem que o esconderijo dele é aqui?

- Orochimaru já foi um de nós – ela respondeu. – Agora ele deve morrer, este é o preço para quem abandona a Akatsuki. E eu fiz questão de estar nesta missão.

- Orochimaru? – Sasuke perguntou, incrédulo. – Você está na Akatsuki por causa do Orochimaru?

- Foi ele o responsável por esse selo maldito no seu pescoço, não foi? – ela argumentou. – E além disso, eu devo a minha vida a eles.

Sasuke apenas assentiu com a cabeça. Vendo que conquistara o entendimento dele, Sakura aproximou-se devagar e, quando estavam a um passo de distancia, ela prosseguiu:

- Nós conseguimos uma pista da localização dele com um informante. Não estamos certos se é confiável ou não. Esta é uma missão de reconhecimento apenas.

Sasuke levantou os olhos, encarando-a com uma expressão fria que a fez recuar um passo. Ela conhecia muito bem aquela expressão.

- Não tenha medo, Sakura. Eu não vou lutar com você.

Sakura não disse nada, um frio na barriga surgiu assim que cruzou com os olhos dele novamente.

- Eu também estou atrás do Orochimaru agora – ele continuou. – E quando terminar com ele, terei contas a acertar com o Itachi. É melhor você não ficar no meu caminho quando isso acontecer.

Sakura observou em silêncio o capitão AMBU, que tão terno fora na noite passada, agora afastar-se rudemente; seus antigos desejos de vingança novamente à tona. Antes de ela também voltar ao seu acampamento, entretanto, ainda gastou um tempo curando o pulso machucado. Não queria ter que explicar a Itachi o que causara aquilo.

Continua...