Retorno a Konoha

Escrita por BastetAzazis

DISCLAIMER: Os personagens, lugares e muitos dos fatos desta história pertencem a Masashi Kishimoto.

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Capítulo 3: Os Dois Uchiha

Sentada à beira da janela, Sakura observava o alvorecer. Ela se debatera na cama a noite inteira e mal conseguira dormir. Naquele dia fazia exatamente cinco anos que Sasuke tinha morrido. Além disso, os ninjas da Areia que se dirigiam a Konoha não saíam da sua cabeça. O Jinchuuriki... só pode ser o Naruto. Mas ela vira a Kyuubi se manifestar nele, na sua forma completa. Jamais vira tanto chakra acumulado, chegava a ser palpável... Itachi está certo, nenhum ser humano seria capaz de suportar aquilo...

Mas, de novo, a menção de um Jinchuuriki voltou à sua mente. Sakura virou-se para a cama, onde Itachi ainda dormia tranquilamente. Ele a salvara da Kyuubi, puxando-a para o abismo que se formara com a força de apenas uma das caudas batendo no chão. A última coisa que ela lembrava era de tentar se segurar em Sasuke, das mãos deles se separando enquanto ela gritava seu nome. Depois disso as imagens eram apenas borrões em sua mente. Enquanto ela caía, ainda conseguiu visualizar o que parecia ser Naruto tomado pela Kyuubi aproximando-se de Sasuke. Será que ela estava enganada todos aqueles anos? Haveria alguma chance de Naruto ter controlado o monstro que vivia dentro dele? Alguma chance de ele, e talvez o Sasuke, não terem morrido aquele dia?

Depois de ser puxada pelo Itachi, ela apenas se lembrava de ter fechado os olhos e, quando os abriu de novo, estava num quarto desconhecido. A partir daquele dia, sua vida estava totalmente mudada. Fora salva por aqueles que havia considerado seus inimigos, havia fugido de Konoha e não tinha mais nenhuma vontade de continuar vivendo, não depois de ter sido responsável pelas mortes do único homem que amara e de seu melhor amigo.

E então, Itachi a salvara mais uma vez. Sabendo que ela não poderia mais voltar para casa, ele se ofereceu para treiná-la. No início aquilo parecera um absurdo, treinar com o homem que ela mais odiava, com o responsável por tudo o que acontecera ao Sasuke e ao Naruto. Mas ela descobriu que não tinha muita escolha; estava na Vila da Chuva, dominada por Pain, o mais poderoso membro da Akatsuki, era mais sábio fingir que estava do lado deles.

Nos primeiros anos, Itachi mostrara ser um mestre ainda mais duro e rigoroso que a Tsunade-sama. Mas fora graças àqueles dias de treinamento exaustivo que ela conseguiu suportar a dor que carregava no peito cada vez que lembrava-se de Sasuke. Aos poucos, a convivência fez com que o ódio que sentia por Itachi se transformasse em alguma coisa mais branda, uma espécie de implicância, que se esvaecera completamente quando ela entendeu os reais motivos por ele ter matado todo seu clã.

O caminho que Itachi escolhera não fora fácil. Admitir que o clã mais respeitado de Konoha era na verdade uma farsa, que o poder do Sharingan fora obtido através de crimes inimagináveis e a decisão de expurgar todos os males que sua própria família causara à vila o fizeram apenas se transformar num renegado, num traidor do próprio país. Sasuke fora o único que ele poupara porque, segundo ele, era o único que ainda não tinha sido maculado pelo poder amaldiçoado dos Uchiha.

Mas Sasuke estava morto. Ou pelo menos eles acreditavam que estava. Observando Itachi ainda dormindo na cama, um sentimento de culpa se apossou de Sakura junto com a alegria que a minúscula esperança de que Sasuke podia ter sobrevivido lhe trazia. Ela estava com o Itachi agora; ela gostava do Itachi, não gostava? Ou era apenas compaixão por todo seu sofrimento aliado à semelhança com o irmão que ela via nele? Eles tinham os mesmos olhos negros que pareciam ter testemunhado mais horrores que qualquer um poderia suportar, o mesmo semblante sereno que ocultava emoções tão fortes. Ela mordeu os lábios, determinando que precisava averiguar de uma vez por todas aquela história, ou acabaria enlouquecendo.

Itachi se virou na cama e a claridade vinda da janela o acordou.

- Sakura? – ele disse assim que abriu os olhos. – Você já levantou? Ainda é cedo.

- Nós ainda temos um longo caminho a percorrer – ela respondeu.

Itachi deu um suspiro, reclamando mentalmente de ter que levantar tão cedo, e sentou-se na cama. Acenou com o braço para que ela se juntasse a ele. Quando ela o fez, passou um braço pelas costas dela, trazendo-a para perto de si, e perguntou:

- Você está diferente desde que chegamos aqui. Aconteceu alguma coisa?

- Não – ela respondeu sem encará-lo. – Eu só acho que essa parada foi uma perda de tempo. Nós já poderíamos ter chegado e teríamos mais tempo para descansar.

- Não é só isso – ele retorquiu. – Há muito tempo que você não falava mais no Jinchuuriki. Aconteceu alguma coisa para você, de repente, estar pensando...

- Não aconteceu nada! – ela gritou, virando-se bruscamente para ele. – Será que você já esqueceu que dia é hoje? – perguntou, uma lágrima escorrendo de seus olhos.

Itachi não disse nada. Ele sabia que dia era aquele, embora o dia da morte de Sasuke e Naruto tivesse um significado totalmente diferente para ele.

- Eu entenderia se fosse apenas o Naruto – Sakura continuou, agora chorando descontroladamente. – Mas ele... Ele era seu irmão!

- Eu não esqueci que dia é hoje – ele respondeu. - Foi por isso que sugeri que parássemos por um dia. Eu sabia que você ficaria abalada e isso poderia ser prejudicial à missão.

Sakura conseguiu controlar as lágrimas e se jogou nos braços dele.

- Desculpe – ela balbuciou com o rosto enterrado no peito dele. - Eu sei que deveria ser mais forte, mas...

- Está tudo bem – ele a interrompeu, acariciando suas costas com uma mão e puxando os longos cabelos rosa para trás, para longe do rosto dela.

Abraçada a Itachi, Sakura conseguiu se acalmar aos poucos. Ela era uma shinobi, precisava aprender a controlar suas emoções, da mesma forma que Itachi, da mesma forma que Sasuke...

- Quando nós terminarmos essa missão – ela disse, levantando o rosto para encarar Itachi -, eu preciso voltar a Konoha.

Ele estreitou os olhos.

- Está correndo um boato que Tsunade-sama vai nomear um Sexto Hokage – Sakura explicou -, e que o escolhido dela é um Jinchuuriki. Quantos Jinchuuriki você conhece em Konoha?

- Então é isso – ele respondeu. – Você quer voltar... Por causa de um boato...

- Eu preciso saber se ele está vivo, se é mesmo ele – ela retorquiu.

- Você está se desviando da missão – ele disse, ríspido. – Nós temos que localizar Orochimaru em seu novo corpo e aguardar futuras ordens.

- Nós temos que confirmar a localização do Orochimaru e retornar, ainda não conhecemos a força dele para planejar um ataque – ela o corrigiu.

- E então você quer parar em Konoha para uma visita aos amiguinhos no caminho – Itachi debochou, levantando-se da cama. – Ou você vai desistir? Diga, Sakura, se você descobrir que o Naruto conseguiu de alguma forma sobreviver, você vai desistir de se vingar do Orochimaru? Vai desistir do único motivo que a motivou treinar comigo todos esses anos?

- Não! – ela respondeu, levantando o rosto para poder encará-lo agora. – Eu não disse que pretendia desistir de nada. Foi para isso que eu entrei na Akatsuki, não foi?

- Exatamente – ele disse, sério. – E estar na Akatsuki significa que você traiu Konoha. O futuro Sexto Hokage não é mais problema seu.

- Mas...

Sakura estava sem palavras. Itachi estava certo, era um risco muito grande voltar a Konoha. Ela também se levantou da cama e parou em frente à janela, o olhar perdido na paisagem do dia que acabava de nascer.

- Eu preciso saber se ele está vivo, Itachi.

- Ele? – Itachi perguntou, caminhando na direção dela. – Você ainda está falando do Naruto, Sakura?

Ela não respondeu, continuou olhando para fora.

- Entendo – Itachi quebrou o silêncio depois de alguns minutos. – Eu sou o Uchiha errado.

Antes que Sakura pudesse se virar para responder, ele já havia desaparecido do quarto.

Continua...