A Sublimidade desses teus olhos oblíquos. escrita por AnjoMorgana


Capítulo 1
Único.


Notas iniciais do capítulo

Sinto em dizer que eu não revisei, e se achar quaisquer erros foi mera influência da preguiça sobre mim. Eu quero que acompanhem a leitura junto da música For My Fallen Angel (https://www.youtube.com/watch?v=eZFiTRIWaK0), ela me inspirou muito quando estava montando o texto.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/540244/chapter/1

A Sublimidade desses teus olhos oblíquos

Vida e morte em apenas um desejo.

“Lyanna tem olhos de cigana” dizia a velha Ama em seu estado de transe enquanto balançava a sua cadeira de balanço que produzia barulhos morosamente baixos. Costurava um retalho de modo diligente e prestímano. Por um momento parou a sua atividade e ergue suas mãos para os céus. “Que os Deuses queiram que sejam apenas na aparência.” Sussurrava para as quatros paredes que a circulava, sendo assim as únicas que eram as suas ouvintes.

Certa vez, esses olhos oblíquos e vulpinos encontraram-se com certo par de olhos violetas, e desde então as coisas tomaram um rumo imponderável. Nascia assim a fusão do fogo e o gelo. Alguns dizem que o mundo acabará em chamas, outrora dizem que acabará em neve, mas com toda certeza, este acabará com a árdua fusão de ambos. Então, a ascensão do poder e a luxúria se tornariam apenas resíduos. Apenas a neblina da renascença, afinal atrás de um final sempre haverá um começo novo, talvez até mesmo cheio de ambiguidade.

“Não devíamos” Lya protestava. Apesar dos contínuos protestos não deixava nunca de ir ao lugar onde se encontravam todas as manhãs. “É errado” Falava singela. Deu alguns passos para trás e sentiu o frescor que ainda se encontrava na grama, haviam caído ínfimas gotas de orvalho horas atrás. O dragão ardente encarava aquilo como sim, afinal ele a conhecia mais do que ninguém e essa relação era totalmente bilateral.

Dizia-se que os Deuses do norte não tinham força suficiente para cruzar lugares que não sejam o norte, assim também os sulistas e do centro-oeste seguem essa mesma política. Desse modo, Lya e Rhaegar, o príncipe dragão, criaram a sua própria religião. Eles eram a religião, propriamente dita. A perfeita consolidação dos deuses esquecidos e celebrados, novos e velhos.

“As pessoas foram feitas para se queimar, filho meu” Dizia seu pai com os olhos cheio de lume e as palavras tão calmas que jamais alguém tinha visto seu estado de espírito assim. “Nós somos os dragões que depositam o fogo nelas. Se não as queimarem, elas o queimarão”. De fato, sempre gostava de se lembrar disso.

Em algum tempo, na sua puberdade, um exercito de um império extinto se virou contra a sua família. Esse exército era deveras muito numeroso, e ele e as suas irmãs o enfrentou com alguns dragões. Naquele dia o céu chovia fogo e o solo se tornara um mar de chamas. Caindo a noite, apenas a chuva caía sobre os ossos queimados mostrando a extinção de um império. “As pessoas foram feitas para queimar...”.

Lyanna era membro de uma família rica, sendo o centro do poderio que havia no norte. Os fundadores se autointitulavam lobos, por conta da tão boa resistência contra o frio. Também diziam que suas veias portavam sangue frio como o gelo. Seu pai era Lorde Rickard, um senhor poderoso e o representante da sua casa. Não se lembrava da sua mãe, que os Deuses a tenha.

“Era uma mulher forte, a sua mãe” A Velha Ama dizia em meio dos seus devaneios enquanto Lya praguejava a doença que a tirou dela para todo o sempre. A Septã a repreendeu e mandou-a deixar sua mãe descansar em paz. Os mortos não gostavam de ser incomodados.

Lyanna ainda era uma garota lânguida e extremamente esquálida quando o conheceu em um dos torneios reais. “Passe o tempo que passar ainda nos separarão” Ela dizia com a voz trépida. Havia ouvido pelas paredes do castelo que seu pai arranjara um pretendente para cada um de seus filhos, assim consolidaria novas alianças com famílias fortes e com poder maciço em relação a exército e riquezas. Afinal, o casamento era apenas a ligação de uma família com a outra, em um ponto se tornavam apenas uma.

“Então nós mesmos vamos casar” Rhaegar dizia de súbito.

“Pai... Ferreiro... Guerreiro..., Mãe... Donzela... Velha..., Estranho... Eu sou dela e ela é minha... Deste dia em diante, até o fim dos meus dias.” Ele dizia com os olhos violetas fixo nela. Sabia, no seu mais intimo que isso não passa apenas de uma brincadeira, e isso o triturava por saber que apenas na fantasia ambos seriam um do outro.

Tornaram-se inseparáveis em segredo. Um era o reflexo do outro. Se Lyanna ficasse deprimida, Rhaegar tomava a sua dor. Se Ele ficasse doente, ela sentia os efeitos em si também. Como crianças amamentadas pelo mesmo peito, um era parte do outro.

Com o tempo, ambos foram crescendo e os dias para os seus respectivos casamentos iam chegando. Lya já havia desabrochado a sua beleza esmerada e primorosa, era a personificação da polidez e doçura da sua família. “Como uma bela dama” dizia a Septã para o seu pai. “Logo estará pronto para casar-se com o seu prometido”.

Então um dia, seu pai o trouxera. Era tão íntegro e tão vigoroso. Lya poderia ver aqueles olhos petardos e sentia um medo subindo a sua espinhela de súbito. De fato, Robert, como era denominado, representava bem o lema da sua família, “Nossa é a fúria...” dizia um dos seus servos apresentando a cerimônia de chegada até o castelo, o coração de Winterfell. Já o vira uma vez, quando ainda era uma flor a desabrochar e naquela vez o seu pai havia lhe dado a sua mão a ele.

Seria ele, a luz que iria expor a sombra que ela escondia? Não gostava de imaginar.

O que Lyanna não sabia, era que Robert a amou intensamente desde a vira pela primeira vez no salão do castelo e também na ultima, na sua cripta.

O tempo ia passando e ela aprendia a ser atriz. Tanta máscara teria de usar para não lhe descobrirem a sua sombra particular. O que Rhaegar questionava, Lyanna apenas aceitava. Esta era a sua peça e o resto eram míseros coadjuvantes.

Rhaegar era o reflexo da sensatez e expressava isso nas cordas da sua harpa especialmente desenhada para ele, três cabeças de diferentes de dragões polidas nela. “Força, Ambição e Poder” Dizia o seu pai. Rhaegar pensara que essa três coisas nunca dariam certo com a insanidade, seu pai era o exemplo disso.

Em certo dia, Elia chegara. Era tão frágil e tênue como um vidro. Misero pássaro com suas asas cortadas e aprisionado por ele. Seus cabelos rasos tocavam o seu delicado pescoço e os seus olhos com a seu lume apagado. Rhaegar podia sentir ela em suas mãos em pequenos pedaços. Queria a colar pedaço por pedaço e a remontar.

Daria filhos a ela, sim. Não deixaria esse mundo sem herdeiros legítimos, é claro.

“Já escondemos isso por tanto tempo...” Uma vez ele dizia à Lyanna. Realmente, ninguém poderia saber da sombra que ambos eram na vida do outro. Os dois impérios se enfrentariam, dado como traição.

Uma vez Lya tentara renunciar isso diante do altar dos seus Deuses. A Septã a colocou de joelhos depois de perguntar se o inferno não tinha fundamento, como todos diziam. As feições da Septã ficaram transparentes como um véu e ela fez uma cara feia como forma de repreensão. A sua sabedoria era tão áspera como um bárbaro. “Você não deveria pensar nisso! O inferno é muito pior do que você pensa”.

Sua tentativa nunca deu certo. Já havia mordido o fruto pecaminoso e a expulsão do seu paraíso particular já estava a caminho. Que os Deuses a perdoem, assim como todos da sua família.

Ninguém sabia, ninguém. Ainda.

Ela sabia que ia naufragar, e a sua âncora era os seus pecados não confessados. Será Rhaegar um pecado propriamente dito?

O casamento de Rhaegar fora antes do de Lya, a sua esposa era tão frágil como vidro e tão adornada como um vaso feito de argila. Corroia seu coração pensar que a magoaria se soubesse de tudo. Este era o seu destino. Se corroer diante dos seus pecados e se dirigir aos sete infernos. Deu filhos a ela, isso era de fato a única coisa que poderia conceber a ela.

Quando a alvorada caía, ele tinha Lyanna em seus braços para sempre. A sombra do dragão cruzava a grande e exuberante bola lunar que a Lua era. Lya sentia o herdeiro do fogo e do gelo mexer em sua barriga enquanto a brisa suave tocava seu rosto. E no seu profundo, sentia o desespero a tocar também. Isso provavelmente magoaria a sua Septã, decepcionaria seu pai e mataria o pobre coração de Robert.

Anos depois, em Dorne, dera o nome de “Jon” para a personificação do pandemônio e perdição. Então, a revolta dos setes reinos explodiu. Sabia que o fim estava próximo.

Sentada no trono de Dorne, Lya trazia a criança para perto de si como se quisesse a colocar dentro si novamente. Assim ninguém nunca a faria mal. Era dentro dela que ele estaria seguro. Rhaegar a olhava com pesar. Era tão culpado por tudo isso, pensou em Elia. Tão frágil em meio de uma guerra que só havia brutalidade e alguém que não fosse tão doloso poderia a quebrar.

Lya tinha nas mãos pálidas um frasco com um liquido malévolo e tóxico, o colocou entre os lábios e o liquido descia tão serenamente na sua garganta. Jon, com seus dois anos de idade, a olhava tanto inócuo. Mau sabia o que a mãe estava a fazer, e olhava para o pai com seus olhos castanhos simplórios. Rhaegar admirava seus cabelos negros como os da mãe. Tudo nele era uma parte de Lyanna em personificação masculina.

Tudo que Lya conseguia pensar até aquele momento era o demônio do tridente, Robert. Tinha medo do que faria com a sua singela criança. Isso a faz a apertar mais ainda contra si. Sua vista estava embaçando. Era o fim, então?

Sabia que o seu irmãos a perdoariam, isso era certo. Há pedido mais verdadeiro de perdão a não ser a morte? Esse era o sacrifício da misericórdia e da absolvição. “Bendito seja o perdão.” Ouvia a voz da Septã, a última coisa que ouviu foi a sua voz.

Quando tudo se acabara, e a dinastia do dragão teve o seu declínio, Ned encontra a sua tola irmã entre as ruínas e havia uma pequena criança entre seus magros braços. Este ainda era vivo. O pedido de remissão vivia.

Restava apenas o herdeiro do fogo e do gelo reinando no seu herdado trono de mentiras.

Ned o tomara como bastardo e o fizera parte da família, anos mais tarde podia ver a pequena parte de Lyanna correr pelos salões do coração de Winterfell junto das suas crianças, que o fizeram também o seu irmão. Bendito seja o perdão.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

"As I draw up my breath, And silver fills my eyes. I kiss her still, For she will never rise. On my weak body, Lays her dying hand. Through those meadows of Heaven, Where we ran. Like a thief in the night, The wind blows so light. It wars with my tears, That won't dry for many years. "Loves golden arrow At her should have fled, And not Deaths ebon dart To strike her dead"



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A Sublimidade desses teus olhos oblíquos." morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.