Impossibilidades Perina escrita por Lilith


Capítulo 72
Minha triste imperfeição


Notas iniciais do capítulo

Esse é o tal capítulo que eu escrevi há séculos. Espero que gostem!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/540157/chapter/72

Pedro estava contando o dinheiro que conseguiu juntar com o trabalho com a banda durante ao longo da semana. Receberam uma parte adiantada do show que fariam hoje em um aniversário de dezenove anos e ele estava contente com a soma. Até Tomtom entrar no quarto, chorando.

–Ei, pequena. O que aconteceu? – perguntou sentando na borda da cama dela.

–Pê a mamãe e o papai não se amam mais?

–Está me perguntando isso pelas brigas?

–Eles só brigam Pê. Não podem mais ficar no mesmo cômodo que a discussão já começa.

–É verdade. Eles estão passando por uma fase difícil Tomtom, é só isso.

–Promete que eles não vão se separar e deixar de nos amar?

–Prometo que eles não vão deixar de nos amar Tomtom. Mesmo que se separem. Embora eu não ache que isso vai acontecer. – falou mais para si mesmo essa última parte - Eles estão brigando agora?

Ela assentiu com a cabeça. -O papai disse que foi um erro confiar na mamãe para ser a mulher do resto da vida dele.

–Ele falou isso sem pensar. Quando estamos com raiva, acabamos falando coisas só para magoar a outra pessoa.

–Isso machuca. É maldade.

–Se você pensar que a outra pessoa está fazendo isso apenas para se defender...

–Pedro?

–Oi pequena?

–Eu não quero crescer e fazer essas coisas.

–Você não precisa se preocupar com isso agora. Eu estou indo tocar em uma festa, quer vir?

–Valeu, mas prefiro ficar aqui. Quero começar a ler Percy Jackson.

–Já estou indo. Qualquer coisa me manda mensagem ok? Não sou o Superman, mas venho voando!

–Você é o melhor.

Beijou a testa dela e pegou suas coisas, colocou a guitarra nas costas e desceu. Encontrou os pais brigando na cozinha e não conseguiu se segurar:

–Sério? Vocês precisam mesmo fazer isso o tempo todo? Ainda na frente da Tomtom? Vocês não se importam nem um pouco com ela?

–A minha preocupação do momento Pedro é ter dinheiro para pagar as contas e assim você e a sua irmã terão o que comer, o que vestir e onde morar! – o pai mudou o foco para ele.

–Claro porque gritando o dinheiro vai surgir magicamente!

–Olha esse tom mocinho! – Delma advertiu.

–Eu só queria que vocês conversassem como pessoas normais ao invés de ficar gritando um com o outro. Eu não quero ver minha irmã chorando por isso ou com medo de vocês não ficarem mais juntos e deixarem de amá-la!

–Ela estava chorando? – a mãe preocupou-se

–Satisfeitos?

–Pedro, filho, eu... – o pai tentou justificar-se, mas Pedro interrompeu entregando um envelope.

–Toma.

–O que é isso?

–É o que eu juntei trabalhando essa semana. Não é dinheiro que vocês precisam? Taí! Não é muito, mas acho que é o suficiente para vocês pararem de brigar só por essa noite.

–Eu já avisei Pedro, você tenha mais respeito ao falar conosco! – Delma advertiu.

–Nós não podemos aceitar! – Marcelo recusou-se a pegar o envelope.

–Podemos, podemos sim!

A briga recomeçou e Pedro largou o dinheiro sob o balcão e saiu de casa, batendo a porta. A raiva o consumia, como os pais podiam estar tão cegos por essa crise ao ponto de não se importar com como aquilo os afetava?

Por que os adultos complicam tanto? Eles poderiam ter montado um restaurante simples, mas não.

Vamos montar um espaço descolado, vamos captar mais dinheiro dando a casa como garantia, ele disse. E agora olha onde eles estavam.

–Droga, eu nem avisei a Esquentadinha! Por que eu tenho que precisar tanto de você hein Karina? – atravessou a rua, chegando na praça.

–Falando sozinho guitarrista?

–Caramba dona Dalva, a senhora surge do nada!

–Você que está com a cabeça no mundo da lua jovem. – ela riu. – A Karina ainda está na academia, não a vi indo embora.

–Quanta eficiência. Obrigado mesmo!

Pedro atravessou a praça, tudo o que ele queria naquele momento era um abraço da sua namorada lutadora.

Ao entrar na Fábrica ele parou abruptamente ao avistá-la, próxima demais do outro lutador, o Felipe. Ela estava deitada no chão de bruços e ele abaixado nas costas dela, puxando os braços para cima e para trás em um alongamento. Depois de alguns segundos, ela sentou-se e ele colocou uma mão no ombro da lutadora e com a outra forçou a cabeça para o lado oposto, alongando o pescoço. Aproveitando-se do momento, falou próximo ao ouvido dela:

–Eu falei que ia funcionar. Entendo muito de alongamento.

–Pode até ser, mas dói para caramba.

–Você vai ver que melhora. Agora relaxa. – comentou ao terminar de alongar o pescoço e passando a fazer uma massagem nos ombros dela, que permaneceu com os olhos fechados. O ombro ainda doía, mas ele estava conseguindo relaxar o músculo, o que ajudava.

No começo Pedro estava se controlando para não sentir ciúmes, afinal era só um alongamento. Mas ao ver a insinuação por parte do lutador, não conseguiu mais ficar ali e tão pouco queria interrompê-los, afinal ele queria mesmo era socar a cara do lutador. Saiu antes que ela pudesse notar sua presença.

–Eu acho que já está bom, valeu mesmo. Vou me trocar, você pode ir embora para o Wallace fechar a academia? – Karina saiu fora do colega.

–Claro, não quero empatar a noite de ninguém.

–Wallace pode ir ajeitando, eu só vou tomar uma ducha e já te ajudo.

–Fechou K.

*****

Karina estava secando o cabelo com a toalha no vestiário da academia, tinha acabado de tomar uma ducha após um treino exaustivo. Precisava recuperar o tempo perdido e estava dando duro no treinamento. Analisou seu reflexo no espelho, calça jeans, regata preta e moletom preto com capuz, afinal a noite estava fria. Seu celular vibrou sob o banco e ela verificou.

"K estamos tocando em um aniversário. Você deveria vir para cá. Só um toque."

"Pq Paula? Oq tá rolando?"

"Nada demais, as meninas ficam alvoroçadas com o Pedro, vc já sabe."

–Onde vcs estão?"

A baterista passou o endereço para amiga que titubeou um pouco antes de decidir ir. O namorado não a tinha convidado então não sabia se seria correto aparecer por lá. Não queria invadir o espaço dele. Mas Paula era muito tranquila e não teria falado aquilo à toa.

–Se ele pode demarcar território, então eu também posso.

Saiu apressada da academia, ainda pensando em como faria para chegar ao local. Duvidaria muito que seu pai concordasse em levá-la. Foi quando viu Felipe, prestes a partir de moto. Será que era uma boa ideia?

–Felipe!

Ele que estava colocando o capacete, pausou e acenou para a colega.

–Ei K. Tá tudo ok?

–Não, mas pode ficar se você me ajudar!

–Opa, o que eu posso fazer por você? – perguntou, o sorriso com um toque de malícia.

–Você pode me dar uma carona até Santa Teresa? O Pedro está tocando em uma festa e eu queria encontrá-los.

–Você tem o endereço?

–Tenho, é esse aqui oh.

–Você sabe mais ou menos como chega? É que ainda não conheço bem o Rio, sabe como é.

–Sei, só não sei exatamente onde é essa rua.

–Sem problemas, vou ver se o Tawik empresta um capacete pra você. – foi até o QG e voltou logo com o capacete em mãos.

–Valeu! – ela agradeceu ao pegar o capacete e colocar.

–Aqui. Já andou de moto?

–Hum...na verdade não.

–O mestre vai ficar legal com isso? Não quero problema...

–Ele não precisa saber.

Felipe abriu um sorriso malicioso e ficou encarando a amiga, que estranhou.

–O que foi?

–É só que você não me parece do tipo que burla as regras.

–Às vezes. Podemos ir?

–Claro, sobe. Você apoia o pé aí e pode segurar na traseira ou em mim. Eu realmente não me importo.

–Acho que eu prefiro segurar aqui.

–Imaginei. Não vou correr tá? Mas segura.

–Ok, estou pronta.

Assim que Felipe arrancou, a lutadora abandonou os planos de se segurar na traseira e passou a segurar nele com tanta força quanto podia, fazendo com que ele achasse graça. Quando chegaram em Santa Tereza, era só subida e com medo de escorregar da moto, ela o abraçou com mais força.

–Chegamos. – anunciou, mas a garota não se moveu.–Ahn...K, por mais que eu goste de você me abraçando, pode me soltar agora. Nós já paramos...

–Desculpa. Até que é gostoso né...o vento no rosto. - falou meio rápido, tentando disfarçar o nervosismo.

–Então achei algo do qual você tem medo.

–Não tenho! - ganhou um olhar descrente enquanto descia da moto. - Talvez...um pouco. Se você contar isso para alguém, eu te mato!

–Fica tranquila, seu segredo está salvo. Devo te esperar?

–Não, depois eu volto com o pessoal da banda.

–Está com o seu celular aí?

–Estou, por que? – perguntou tirando o celular do bolso do moletom e ele prontamente puxou o aparelho da mão dela.

–Pronto, agora você tem meu número. Qualquer coisa pode me ligar.

–Ah, valeu mesmo!

–Sempre que precisar. – Deu uma piscadinha e partiu.

Pedro estava encostado na varanda do sobrado, conversando com uma garota e viu quando sua namorada chegou de moto com outro cara. Estava duplamente surpreso, primeiro por ela estar ali e segundo por ela ter ido com aquele cara. Não pode evitar se incomodar com a cena.

–Pedro? Você nem está prestando atenção em mim.

–Desculpa Ingrid, sobre o que você estava falando?

–Sobre minha viagem ao Havaí. Então... – a garota continuou tagarelando sobre a viagem, mas ele não conseguiu mais prestar atenção, relembrando o gosto amargo que sentiu ao ver a namorado com o rival.

Lá embaixo, no jardim onde acontecia a festa, Karina procurava por ele. Avistou Sol, que indicou que ele estava na varanda. Conforme ela atravessava o jardim para chegar à casa, os convidados iam encarando-a.

Subiu as escadas e atravessou o salão, chegando a varanda. Pedro conversava com Ingrid que o tocava o tempo todo em meio a sorrisinhos ao qual ele estava compartilhando. A garota repousou a mão no peito dele e aproximou-se e ele não a afastou, o sangue de Karina ferveu e ela não pode aguentar mais nem um minuto.

–Pedro! - chamou baixo e entre dentes.

Ele fingiu assustar-se, derramando o copo que segurava e a garota a olhou de cima embaixo intolerante.

–Quem é o seu amigo? Você não pode voltar depois? Estamos meio ocupados.

–Amigo é o caramba! - falou indo para cima dela com raiva, mas Pedro a segurou.

–Calma K. – voltando-se para a menina. - Linda, você pode nos deixar conversar? De qualquer forma preciso voltar a tocar.

–Ok. Mas só porque eu odeio barraco. Depois nos falamos. – olhou Karina de cima abaixo e saiu desgostosa.

–Eu realmente espero que o nome dela seja Linda, porque se não...

–Karina, o que você faz aqui?

–Não foge do assunto moleque!

–O nome dela não é Linda. Eu estou trabalhando Karina, você não devia estar aqui.

–Claro, aí você teria mais privacidade para fazer o que quer com aquela garota não é?

–Ela é a aniversariante, nós só estávamos conversando.

–Ah e você sempre conversa assim com as aniversariantes? Bom saber!

–Não é nada disso!

–Eu sei muito bem o que eu vi Pedro!

–Esquentadinha sem crise! Estamos aqui a trabalho, não pega bem esse tipo de drama.

–Drama cara? E desde quando tocar com a banda virou trabalho para você?

–Você melhor do que ninguém deveria entender o que eu quero dizer. Precisamos de visibilidade, precisamos divulgar nosso espaço e conquistar público de todas as idades. Não conseguimos isso só tocando em bares e festa de escola. E você sabe que eu estou precisando desse dinheiro lá em casa.

–Ah claro, e paquerar as donas das festas vem junto no pacote? – perguntou irônica.

–Claro que não, mas elas conversam comigo e eu preciso ser cordial. Elas estão pagando poxa.

–Pois você está se vendendo barato demais!

–Chega! Se você veio com a intenção de me ofender, então parabéns, você conseguiu! Agora dá licença que eu tenho um show para fazer. – saiu em direção à porta, mas ela o chamou.

–Espera Pedro! Desculpa, é que...

–É que nada Karina! – alterado, ele voltou caminhando até ela enquanto esbravejava - Você acha que pode vir aqui, me falar esse monte de porcaria e aí pedir desculpas que fica tudo bem? Eu vim aqui tocar e não pegar mulher. Eu sempre respeitei o seu sonho, está na hora de você respeitar o meu!

–Pedro...

–Vai embora.

–Deixa eu ficar? Depois eu vou embora com vocês?

–Desculpa, mas você nem tá vestida para essa festa. É traje Esporte Fino e você está de jeans e moletom.

–Você nunca viu problema em abrir exceção para mim.

–Essa festa não é minha.

–Não custa tentar.

–Existem regras Karina! É você quem tem que se adaptar ao mundo e não o contrário! Acorda!

–Por que você está me tratando assim? Você nunca...

–Pensa um pouquinho que você encontra a resposta. Para mim já deu, vou tocar!

O guitarrista deu às costas, deixando-a sozinha com seus pensamentos.

–Pedro que demora! - Sol chamou alvoroçada.– Temos um pedido, você sabe tocar essa?

–Por incrível que pareça eu sei. Eu gosto dessa banda.

–Então manda ver Galera da Ribalta! - Luka animou.

Minha triste imperfeição

"Foi buscando acertar que às vezes eu errei
Mas quem pode acusar sem tentar compreender

Quando saio sem regar violetas que plantei
A sede que eu causei me afogará

Sem pressa, sei que posso alcançar
Digam o que quiserem só uma coisa importa

Verdadeiro é meu amor
O sentimento foi real
Quando eu te entreguei
Tudo aquilo que há em mim

Pode até não parecer
Se o mal que há em mim
Faz doer o teu coração
Minha triste imperfeição

Será que conseguirei a bondade que sonhei
Estou sempre a tentar remover as pedras
Se desvio o olhar da mão em minha direção
Fechos os olhos para mim e para você

Não canso, não desisto de lutar
Ainda se tropeço só uma coisa importa

Verdadeiro é meu amor
O sentimento foi real
Quando eu te entreguei
Tudo aquilo que há em mim

Pode até não parecer
Se o mal que há em mim
Faz doer o teu coração
Minha triste imperfeição"


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Esses dois pegaram pesado não é? Será que ainda rola viagem com eles brigados? Ou será que se acertam antes?
Comentem muito, por favor! Amanhã eu apareço com mais um capítulo para vocês.

Se quiserem falar comigo, já sabem onde me encontrar:

Twitter: @vittinspirar
Ask: http://ask.fm/ImpossibilidadesPerina