Impossibilidades Perina escrita por Lilith


Capítulo 4
Capítulo III


Notas iniciais do capítulo

Aqui está mais um capítulo para vocês!
Quem já leu o livro Sussurro da Becca Fitzpatrick, pode encontrar uma semelhança com uma cena desse capítulo. Não pude evitar.
Espero que gostem!



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Na manhã seguinte Karina tomou café antes de todos e foi abrir a academia. Lutar faria bem para extravasar a mágoa que ela sentia do casal perfeição. Repassou os acontecimentos do dia anterior e foi golpeando o saco cada vez mais forte. Até que o Cobra a interrompeu, outro aluno da academia. Mas Cobra era diferente, a amizade entre eles era outro nível. Eles se entendiam sem precisar conversar muito.

Cobra teve uma vida difícil e depois da morte de seu pai, revoltou-se. Deixou a família com a vida dura no campo e veio para essa cidade treinar para ser o melhor lutador que já existiu. Mas ele não lidava bem com a raiva e acabava sempre metendo os pés pelas mãos. Pela sua personalidade, as pessoas tendiam a ver somente seu lado ruim, mas não Karina. Ela conseguia ver que ele se esforçava para ser alguém melhor. E ele entende o jeito dela sem criticar.

–Que isso loirinha, brava assim tão cedo?

–Pra você ver.

–Está assim por causa do pela-saco? – referindo-se ao Duca

–Mais ou menos. Briguei com a Bianca.

–O que a princesinha fez dessa vez?

–Na boa, não to a fim de falar disso.

Cobra ri.

–Como quiser loirinha. Estou cansado desses dois mesmo.

–Você não vai treinar não?

–Vou. Me ajuda a alongar, bora.

Karina vai ajudar Cobra e o mestre Gael chega, dá bom dia para os dois, um beijo na filha e vai arrumar algumas coisas. Logo depois chega Bianca que a fica encarando, mas logo sobe para a Ribalta. Os alunos tanto da academia quanto da Ribalta começam a chegar e as aulas iniciam-se.

Depois da aula Karina foi almoçar na casa de Pri para irem juntas a escola.

–Nossa teu pai pegou pesado hoje com a gente.

–Por mim podia ser assim todo dia.

–Tá doida? Assim eu desistia em dois tempos - mostrou a língua para a amiga.

–Depois que recebi o Kruang, me deu outro gás para melhorar a cada dia!

–E o mestre já aceitou que você quer ser profissional? Ficou todo orgulhoso no exame de grau.

–Que nada, continua com o mesmo papo de que não quer me ver toda machucada. É um saco.

–Calma, vai conquistando os outros graus e quando chegar a hora você arruma uma forma de convencê-lo. Tu manda muito na luta K, nem ele pode negar.

A menina se perdeu em pensamentos sobre a carreira de lutadora.

*****

Na escola, teve geografia, mais uma aula sem Pedro. Mas no segundo tempo não teve muito como fugir, Pri e Karina avistaram Pedro sentado ao lado de João na aula de biologia.

O sinal tocou, mandando-as a seus lugares, que eram lado-a-lado na mesa compartilhada.

O professor iniciou a aula:

–Bom dia alunos, hoje vamos ter uma aula diferente! Alguém pode me dizer o que é ciência?

–Uma chatice. - João que estava sentado atrás de Karina, falou.

–A única matéria em que estou reprovando. - K. sussurrou para Pri.

O professor a flagrou:

–Karina? Pode repetir para todos nós o que acabou de falar?

–Sei lá, o estudo de alguma coisa? - respondeu.

O professor andou até ela e se apoiou em sua mesa.

–E o que mais?

Karina o fuzilou com os olhos, apesar de detestar a matéria precisava responder, se reprovasse em alguma matéria, Gael iria proibi-la de treinar.

–Conhecimento ganho através de experimentos e observações. -Adorável, soava como se estivesse lendo um dicionário.

–Com suas próprias palavras.

Karina estava odiando aquilo, detestava ter a atenção de toda a classe e se falasse uma besteira, todos iriam rir dela.

–Huumm, uma investigação?

–Ciência é uma investigação. - o professor disse esfregando suas mãos juntas. - Ela exige que nos transformemos em espiões.

Colocado desse jeito Karina até achara divertido, mas estava a tempo demais com esse professor para não alimentar esperanças.

–Uma boa investigação precisa de prática... - ele continuou.

–Assim como sexo. - um engraçadinho colocou do fundo da sala e todos riram enquanto o professor apontava para o transgressor.

–Isso não será parte da lição de casa de hoje a noite.

O professor voltou-se para Karina e especulou:

–Karina, você senta ao lado de Priscila desde o inicio do ano.

As duas assentiram.

–E são amigas fora da escola.

Novamente elas assentiram. Mas Karina pensou que isso não estava cheirando bem.

–Aposto que conhecem bastante uma sobre a outra. De fato, eu aposto que cada um de vocês conhece a pessoa sentada ao lado bem o bastante. Vocês escolheram os assentos que escolheram por uma razão, certo? Familiaridade. Que pena que os melhores detetives evitam familiaridade. Ela entorpece o instinto investigativo. E é por isso que, hoje, vamos criar um novo mapa de assentos.

Os alunos começaram a reclamar, mas ele os cortou:

–Sem protestos, Eu posso mudar os lugares até o último dia do semestre. E se vocês reprovarem na minha aula, estarão de volta aqui no ano que vem, onde eu estarei mudando os lugares novamente.

Karina fez uma carranca e o professor aparentemente imune a isso, continuou:

–Aqueles que estiverem sentados ao lado esquerdo da mesa, pulem para a cadeira da frente. O primeiro lugar vai para o fundo da sala. Agora!

Pri juntou suas coisas irritadamente e passou para o assento da frente. Sentou com uma garota desconhecida. Karina olho para trás.

–Ah não! - e Pedro abriu seu sorriso irritante.

–Que maravilha Esquentadinha, somos parceiros agora! - disse irônicamente

João estranhou:

–Ué Pedro, você já é amigo da Karina?

Foi Karina que respondeu:

–Preferia passar maquiagem a ser amiga desse moleque!

João riu da resposta da lutadora.

–Qual é, você aprecia a companhia do Pedrão aqui! - Pedro debochou

–Nos seus sonhos! - respondeu revirando os olhos.

Pedro deslizou na antiga cadeira de Pri e apoiou seu caderno na mesa.

Eles se encararam e Pedro sorriu, não era um sorriso divertido como de costume, mas um sorriso que prometia encrenca. Karina ficou mais irritada.

O professor continuou a aula, tirando o foco um do outro.

–Bom, voltando ao "Ciência é uma investigação". Pelo resto da aula, quero que desenvolvam essa técnica descobrindo o quanto puderem sobre o novo parceiro. Amanhã tragam por escrito suas descobertas e acreditem em mim, eu vou checar a autenticidade. Portanto nada de inventar suas respostas, quero interação real entre vocês.

–Professor vai valer nota? - uma aluna questionou.

–Ah vai ter um grande peso na média final, podem acreditar!

Karina apoiou seu queixo na mão e pensou em como conseguiria trocar algumas palavras com Pedro sem que o esganasse no processo. O garoto não sabia falar sério. Estava perdida. Suspirou.

Alguns minutos se passaram e Karina se recusava a olhar para Pedro, tentava pensar em uma saída, considerou enfrentar a ira de Gael quando descobrisse que ela bombou em Biologia. Então escutou um suave deslizar de caneta.

POV Karina

Como assim ele está escrevendo? Vinte minutos sentados juntos não o qualifica para fazer qualquer suposição sobre mim!

POV Narradora

Karina olha para Pedro e pergunta:

–O que você está escrevendo?

–E ela fala português. -respondeu enquanto rabiscava mais uma linha.

Karina se inclinou o mais perto dele que ela ousava, tentando ler o que mais ele tinha escrito, mas ele dobrou o papel ao meio, escondendo a lista.

–O que você escreveu? - Karina exigiu.

Quando não obteve resposta, Karina resolveu iniciar suas perguntas. Apostos com a caneta, perguntou:

–Além de me irritar, o que você faz nas horas vagas?

Ele esticou a mão para a mesa de Karina, pegando o papel dela, até o momento em branco. Amassou em uma bola e antes que ela pudesse protestar, atirou no cesto de lixo ao lado da mesa do professor. O arremesso caiu dentro.

–Como.você.ousa?! - Karina tentava se controlar para não ter problemas com o professor, mas para ela era muito difícil, estava soltando fogo pelas ventas.

Pedro deu de ombros. Karina aproveitou o vacilo, puxou a folha que ele tinha dobrado e leu baixinho:

"> O nome dela é Carina - com C ou com K?

>Distribui gratuitamente golpes de Muay Thai;

>É bem esquentadinha;

>Mas tem uma bundinha linda!"

Karina corou com essa última observação, mas logo a raiva se sobrepôs. A lutadora puxou o garoto para perto de si pela gola da camisa e deu seu olhar mais ameaçador. Pedro não segurou a língua:

–Nossa gatinha, você é rápida! Já tá querendo me beijar?

–Tu tá de curtição com a minha cara moleque? Isso tudo é uma brincadeira para você? Presta bastante atenção: eu preciso da nota desse trabalho porque se não eu tiro nota vermelha e meu pai suspende meus treinos. E se isso acontecer sou eu quem vou brincar...(pausa dramática)... de fazer você de saco de pancadas. Copiou?

Dito isso ela o soltou e ele engoliu em seco. Será que ela estava falando sério? Ele não queria prejudicá-la e pelo temperamento dela não duvidava que cumprisse sua promessa. Melhor não arriscar.

–Quando não estou estudando eu ando de skate, toco guitarra. Mas logo terei também que ajudar meus pais no novo restaurante.

Recebendo a resposta, a garota relaxou:

–Karina com K. Eu treino Muay Thai na academia de meu pai e nunca mais repita as outras duas observações.

Pedro prendeu os dedos debaixo da cadeira de Karina e a arrastou para perto. Karina fingiu tédio.

–A verdade te incomoda, Esquentadinha? - ele questionou baixinho.

–Minha paciência está se esgotando! Vou te mostrar o quanto esquentadinha eu sou!

Pedro levou a frase no duplo sentido, abriu um sorriso safado e comentou:

–Na minha casa ou na sua?

Karina ficou tão envergonhada que não teve reação. Ninguém jamais ousou ser tão descarado como ele. Normalmente ela bateria no cara e sairia de lá o mais rápido possível a qualquer sinal de gracinha da parte dele, mas nesse momento não conseguiu fazer isso. Não sabia o que esse garoto tinha que a deixava assim. Ao mesmo tempo que a repelia, queria ver até onde ele se atreveria a chegar.

–Você dorme pelada?

Nesse momento sua boca ameaçou cair, mas ela a segurou no lugar. Ele não ia vencer essa discussão.

–Você está longe de ser a pessoa a quem eu contaria!

–Já foi a um psiquiatra?

Que tipo de pergunta era essa? Karina respondeu:

–Não.

–Já fez algo ilegal?

–Não. Porque você não me pergunta algo normal, como o tipo de música que eu curto?

–Muito óbvio. - ele desdenhou.

–Não. é. óbvio.

–É sim. Rock, música boa e agressiva como você.

–Errado. - uma mentira

Karina não sabia o que pensar, quem era esse garoto? E por que ela respondia as perguntas dele? Estava ficando louca.

–Pais casados ou divorciados?

–Eu moro com meu pai.

–Onde está a mãe?

Karina hesitou.

–Morreu quando eu nasci. - largou a caneta e olhou para o outro lado. Novamente esse assunto. Essa culpa iria persegui-la pelo resto da vida. Seus olhos encheram de lágrimas.

Pedro ficou sem graça, não tinha idéia disso.

–Desculpe, eu não sabia. Deve ser difícil.

Nesse momento o sinal tocou e Pedro se levantou rapidamente.

–Espera! - a garota o chamou, mas ele já estava saindo pela porta. Ela foi atrás.

–Pedro! Eu não peguei quase nada sobre você...

Ele se virou e andou na direção da lutadora. Tomando sua mão, ele rabiscou algo nela antes de Karina a puxar.

Ela olhou para baixo para os nove números em tinta vermelha na palma e fechou a mão ao redor deles. Ela queria dizer a ele que de jeito nenhum seu telefone tocaria hoje a noite. Ela queria dizer que era culpa dele por tomar todo o tempo com gracinhas. Ela queria um monte de coisas, mas só ficou parada lá parecendo como se não soubesse abrir a boca.

Por fim ela disse:

–Estou ocupada hoje a noite.

–Assim como eu. - Sorriu.

E nesse momento João chegou ao lado dele. Pri trazia as coisas de Karina.

Karina ficou pregada no lugar, digerindo o que tinha acabado de acontecer. Ele tinha comido todo o tempo a questionando de propósito? Para que ela falhasse? Ele achava que um relampejo de sorriso o redimiria? Sim, ela pensou. Sim, ele achava.

–Eu não vou ligar! Nunca!

Pri chegou ao lado dela.

–Agora vocês são amigos, não são?

Karina ferveu de raiva e deixou Pri sozinha e sem resposta. Foi para o banheiro se acalmar. Acabou nem entrando na próxima aula.

–Quem esse idiota pensa que é? Como ele ousa?! AI que ÓDIO!

Karina voltou para casa e foi direto para academia. Após trocar de roupa e colocar o equipamento, foi logo desferindo vários chutes no saco.

Seu pai estranhou a cena

–Karina o que você está fazendo aqui?

–Me deixa pai.

A garota continuou sua sequência de golpes.

–Yo! O que você tem, o que aconteceu?

–Estou com raiva, muita raiva!

–KARINA, PARE!

A garota obedeceu o comando, sua respiração estava acelerada e o suor escorria por sua face.

–Vou perguntar só mais essa vez, o que aconteceu?

–Um idiota me irritou.

–Ele encostou algum dedo em você? Me diz quem é o cara que eu vou ensinar a não mexer com minha filha!

–Calma pai, não é pra tanto.

–Como não? Olha o seu estado.

–Nós só conversamos. Mas ele é um idiota. Sério, deixa isso pra lá, não quero falar sobre isso!

–Você nunca me conta nada filha. Eu me preocupo com você. Vamos conversar?

–Conversar? Nem você, nem eu somos bons nisso. Melhor extravasar na luta.

–É, tem razão. Mas quero que saiba que se precisar eu faço um esforço por você. Eu te amo filha, faço qualquer coisa por você.

–Obrigada pai, também amo você.

–Agora vamos para casa, me ajuda a fechar aqui. - disse passando o braço ao redor dos ombros da filha.

*****

Karina estava fazendo a lição de casa de matemática após o jantar e seu pai informou que sairia para dar uma volta com Dandara, a professora de sua irmã. Aparentemente seu pai estava interessado nela. Karina morria de ciúmes, mas no momento tinha outra preocupação em sua mente: a tarefa de biologia.

Ela tinha dito ao Pedro que não ligaria e à 4 horas e meia atrás ela tinha falado sério. Mas tudo o que ela pensava agora era que não podia vacilar nessa matéria, a luta era o seu sonho. Cada dia que ficasse sem treinar seria um atraso para sua carreira. E além disso, não podia deixar aquele moleque pensar que afetava ela. Embora ele afetasse, muito.

Pegou o telefone e checou o que sobrara dos nove dígitos rabiscados em sua mão. Ele atendeu no terceiro toque.

–E aí?

–Estou ligando para ver se podemos nos encontrar agora. Eu sei que você disse que estaria ocupado, mas...

–Esquentadinha! Achei que você não fosse ligar. NUNCA - e riu zombando da garota.

Ela odiava ter que comer as próprias palavras. Ela odiava Pedro por estar esfregando-as em sua cara. Ela odiava o professor de biologia por essa tarefa estúpida. Se recompôs:

–Podemos nos encontrar ou não?

–Acontecesse que eu não posso.

–Não pode ou não quer?

–Estou no meio de algo.

Karina analisou a resposta. Mas que algo era esse? Não parecia que ele estava em um lugar público, pois não ouvia barulho nenhum ao fundo. Ouviu uns acordes, como se fosse violão. Ela pensou que ele deveria estar em seu quarto, fazendo absolutamente nada. Ele definitivamente queria ferrá-la.

–Então vamos fazer por telefone. Eu tenho uma lista de perguntas bem...

Ele desligou o telefone antes que ela terminasse de falar.

–Agora esse moleque está morto!

Ligou para Pri.

–Pri você tem o telefone do João? Preciso perguntar algo urgente para ele.

–Ah! Apareceu a margarida! O que te deu hoje?

Karina relutou. Teria que dar explicações para a amiga.

–Agora não dá para explicar, mas me passa o tel dele e prometo explicar tudo amanhã.

–Ok. Mas quero todos os detalhes! Por acaso estou conversando com ele no in box do face. O que quer saber?

–O endereço do Pedro,

A amiga ficou em silêncio.

–Pri? Você tá aí?

–Estou...acho que não ouvi direito.

–È isso mesmo, pode perguntar logo?

–Ok, espera...Sabe a pracinha aí de frente?

–Sei.

–Ele disse para você atravessá-la, que tem um restaurante novo do outro lado, chama Perfeitão, algo assim. É a casa à direita.

–Valeu. - e desligou sem nem esperar resposta.

Bianca estava chegando com Duca, quando Karina passou pela porta.

–Bianca estou indo fazer um trabalho de biologia que é para amanhã. Se o pai chegar, diz pra ele que volto logo.

–Trabalho? Já são 21hrs da noite Karina!

–É pra amanhã e é em dupla!

–Com quem você vai fazer?

–Não importa. Avisa ou não?

–Ok, aviso. Mas só se você me desculpar por aquele lance de ontem.

–Pode ser. Fui.

Karina seguiu as recomendações de João e localizou a casa.

Respirou fundo e tocou a campainha.


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Notas finais do capítulo

E então, o que acharam? Amanhã tem mais!

Comentem!



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