Como conseguem ser tão lindos?

No sábado, Karina despertou às 7 horas, com o sol batendo em seu rosto. Levantou-se e foi até a janela observar a paisagem. Como um lugar podia ser tão bonito? Ela estava acostumada com as paisagens urbanas e praias do Rio, mas aqui em Gramado, tudo tinha um ar meio rústico, verde para todo lado e sem falar no friozinho gostoso que estava.

Resolveu tomar um banho. Nada de Pedro acordar, sua barriga já estava doendo de fome e resolveu descer assim mesmo para o café, sem esperá-lo. Ela vestia calça jeans, uma regata e blusa de manga comprida preta e branca e uma bota sem salto preta.

Tinham outros hóspedes no restaurante do hotel, mas nem sinal de Bianca ou Duca. Serviu-se de pão integral com uma fatia de queijo branco, suco de laranja natural, meio mamão papaia e banana com granola. Sentou sozinha em uma mesa e começou a comer calmamente. Depois de alguns minutos um jovem se aproximou dela.

–Bom dia, tudo bem?

–Bom dia. – ela respondeu séria, avaliando o garoto: cabelos arrepiados e olhos negros, alto e embora não fosse bombado, tão pouco parecia magrelo. Ela o achou bonito.

–Se importa de eu me sentar aqui? – o garoto perguntou.

–Tem várias outras mesas desocupadas.

–Eu sei, mas não gosto de comer sozinho.

–É...tudo bem. Pode sentar.

Ele se sentou e estendeu a mão.

–Sou o Felipe e você?

–Karina. –respondeu apertando a mão do garoto.

–Você parece ser nova, veio sozinha?

–Tenho 17. Vim com meu namorado, minha irmã e o namorado dela.

–Eles ainda estão dormindo?

–Estão.

–É, meus pais também. Tanta coisa para aproveitar e eles dormindo até tarde.

–E você tem quantos anos?

–Dezenove. Já conhece Gramado? É minha terceira vez aqui.

–Primeira vez que venho para cá. Chegamos ontem a noite.

–Aqui é ótimo, com certeza você vai querer voltar. Você é carioca né?

–Sou, como sabe?

–O sotaque. – ele respondeu com um sorriso. - Eu sou de São Paulo.

–Legal, eu já fui para São Paulo. Então, alguma dica que eu não posso perder aqui?

–Várias. Honestamente eu amo o Snowland, é surreal.

–Hum acho que estamos programados para ir lá hoje!

–Eu também estarei por lá, você vai curtir.

Eles continuaram conversando assuntos triviais enquanto comiam. Pedro acordou e procurou pela namorada, constatando que ela não estava mais por lá. Lavou o rosto, escovou os dentes e trocou-se para descer a fim de encontrá-la. Vestiu uma calça jeans, seus tênis de cano alto preto, uma blusa de manga comprida amarela e boné preto.

Quando chegou no restaurante logo localizou sua Esquentadinha, o que ele não gostou nada foi de ver que um garoto desconhecido a acompanhava. Se aproximou da mesa em que estavam e saudou:

–Bom dia!

–Bom dia! - responderam juntos.

–Pê, esse é o Felipe. Esse é o meu namorado, Pedro.

–E aí. - saudaram-se.

–Vocês se conhecem de onde? - perguntou Pedro desconfiado, encarando o garoto.

–Na verdade acabamos de nos conhecer. Ela permitiu que me sentasse aqui para não ficarmos sozinhos.–Felipe explicou.

–Saquei.

–Não vai pegar nada para comer Pê?

–Daqui a pouco. –respondeu sentando-se e ainda encarando o garoto.

–Bom, acho que vou indo. Tentar acordar meus velhos. A gente se esbarra por aí. – Felipe falou com um sorriso.

–A gente se vê.

–Gostei de te conhecer Karina, você tem olhos lindos.–falou olhando para a garota, o que fez o sangue de Pedro ferver de raiva.

–Obrigada. - respondeu tímida. O garoto é legal, pensou.

Pedro fechou a cara em uma carranca e seguiu o garoto com os olhos até ele sumir pelas portas duplas.

–Acordou mal-humorado, moleque?

–Não posso te deixar cinco minutos sozinha que já vem gavião em cima.

–Imagina Pedro, ele só queria fazer amizade. Deve ser chato viajar só com os pais, sem mais ninguém da sua idade.

–"Você tem olhos lindos" –desdenhou.

–Ele só queria ser gentil.

–Aham. Conheço o tipo.

–Tá com ciúmes?

–Tenho motivos para estar?

–É...não...deixa de ser bobo!– se atrapalhou um pouco com a resposta, afinal não podia negar que o garoto era bem interessante.

Pedro fez aquele movimento com os dedos que indica: "estou de olho" e foi buscar algo para comer. Diferente da garota, ele fez uma montanha com tudo o que tinha direito.

–Que isso hein, quanta disposição. –ela brincou.

–No frio eu tenho mais fome. - respondeu, fazendo a garota rir.

Logo chegaram Bianca e Duca e se juntaram ao casal. Quando todos terminaram, subiram aos quartos para pegar documentos, uma jaqueta mais quente, carteira, câmera fotográfica e se encontraram no hall.

Para começar foram andar pela vizinhança próxima ao hotel, aproveitando a paisagem e o clima, tiraram algumas fotos. Estavam encantados com a beleza do local. Depois voltaram ao hotel para buscar o carro e partiram para o Snowland, seguindo o roteiro que a agência de viagens planejou para eles nesse final de semana.

O local era um parque de neve indoor, e Karina e Bianca ficaram super empolgadas, nunca tinham visto neve. No local podia alugar roupas apropriadas, pois a temperatura no local era abaixo de 0°, além de fazerem locação de equipamentos para esquiar, patinação no gelo e snowboard - Pedro logo se animou com essa opção. Poderiam também fazer aulas para aprender a usar o equipamento. Bianca e Duca optaram por fazer aula para esquiar, já Pedro e Karina partiram para o snowboard. A garota não era muito de andar de skate e estava um pouco insegura, mas obviamente não ia fraquejar.

Dentro do parque tinha uma espécie de vilarejo alpino e eles observavam tudo admirados. Ao chegarem na montanha de neve, Pedro ajudou a Esquentadinha com o equipamento e depois de ajeitar o seu, deu um beijo na namorada e desafiou:

–Te vejo lá embaixo! - o garoto era bom no esporte e desceu com facilidade, arriscando até umas manobras.

Já Karina ficou super tensa na descida, mas só perdeu o equilíbrio nos últimos metros e acabou caindo e rolando pela neve.

–Esquentadinha, você está bem? – Pedro foi correndo, preocupado com ela, mas um garoto chegou antes.

–Tudo bem, Blue? -Felipe apareceu do nada.

–Blue? - Karina perguntou confusa.

–Por causa dos seus olhos. Tudo bem se eu te chamar assim?

Pedro chegou e meio que empurrou o garoto para o lado.

–Pode deixar comigo, campeão. Você se machucou? – perguntou preocupado para a namorada, que caiu na risada.

–Isso foi irado! Vamos de novo! - falou correndo para a área da acesso ao topo.–Vem com a gente Felipe!

–Só se for agora! – e o garoto os seguiu, para o incômodo de Pedro.

Desceram mais algumas vezes e se divertiram muito. Foram também numa espécie de esquibunda, que foi muito gostoso.

Encontraram Duca e Bianca e fizeram uma guerra de bolas de neve, só risos. Logo já era hora do almoço e foram para um restaurante muito legal, as cadeiras eram forradas com pele. Felipe foi apresentado para Duca e Bianca, que simpatizaram com ele. Depois do almoço ainda foram patinar no gelo.

Karina e Bianca mandavam bem na patinação, Pedro mesmo tendo bom equilíbrio, se atrapalhava e acabou caindo algumas vezes. Duca sabia patinar bem também.

Em determinado momento, Felipe escorregou e segurou-se em Karina para não cair, o que resultou com os dois de bumbum no gelo. Pedro ajudou a namorada a levantar.

–Desculpe, Blue. Você se machucou? –Felipe desculpou-se.

–Estou bem.

–Talvez você devesse fazer algumas aulas antes de vir patinar. – O namorado falou sério para Felipe.

–É talvez eu precise mesmo. Ou talvez a Blue possa me ajudar. – o garoto devolveu a encarada para o namorado dela.

–É uma pena, pois nós já precisamos ir embora. – Pedro concluiu, irônico.

–Uma pena mesmo.

Embora estavam se divertindo bastante, tiveram que partir, afinal só teriam aquele dia e parte do seguinte para conhecer a cidade e ainda tinham muitos pontos para ver.

Conheceram um espaço que tinha uma cidade em miniatura, muito legal e foram em alguns museus, entre eles um castelo Medieval, onde puderam vestir roupas e armaduras para tirar fotos. Era fascinante.

No final da tarde caminharam pela beira do lago Negro, local belíssimo.

Estavam muito cansados e voltaram ao hotel para tomar banho e depois sair para jantar.

Pedro jogou-se na cama e ligou a TV, enquanto Karina foi tomar banho.

Quando estava quase terminando o banho, é surpreendida pela voz de Pedro.

–Esquentadinha?

–Pedro! Seu tarado! Sai daqui!

–Calma, só queria ver se tá a fim de companhia. –ele brincou.

–Sai! Estou sem roupa!

–Mas essa é a melhor parte do banho!

–PEDRO!

–Ok, já estou de saída.

Karina terminou o banho, secou o cabelo com a toalha ainda dentro do box enquanto cantarolava uma música. Depois enrolou-se na toalha e ao sair do box quase escorrega ao se assustar. O namorado estava encostado no balcão da pia, olhando diretamente para ela com um meio sorriso.

–Que susto! Você não ia sair?

–E perder a chance de te ver assim, molhadinha? Não mesmo!–provocou.

–Você está implorando para levar um soco, moleque! - ela se irritou. -Saí! Agora!

–Não posso, se eu abrir a porta vai entrar uma corrente de ar frio e você pode ficar doente. Não vou arriscar.

–Cara de pau! E como você espera que eu me troque?

–Não se preocupe, eu vou entrar no banho. - falou tirando a blusa de frio. Abriu o botão e o zíper da calça, deixando-a cair no chão. Usava uma boxer vermelha e Karina não conseguia desviar o olhar.

Ao passar por ela, ele se atreveu a agarra-la, prensando-a na parede do banheiro.

–Pedro. - ela advertiu.

–Você quase não me beijou hoje. Só te solto depois que me beijar.

–Safado!

–Safado eu seria se acidentalmente derrubasse a sua toalha...

–Nem pense nisso!

–Quanto mais você demora para me beijar, mais me dá a chance de pensar em coisas como essa, minha linda.

Karina rendeu-se e o beijou rapidamente, logo o empurrando e indo escovar os dentes. Pedro fez seu caminho até o box e antes de entrar deslizou a cueca, ainda de costas para a garota que ao se deparar com a bunda do namorado nua, ficou boquiaberta. Ele sorriu para si e entrou no box, privando-se da vista da garota.

–Exibido! –resmungou, fazendo-o rir.

Ela aproveitou para secar-se e vestir-se, agora optando por uma roupa mais quente, pois a temperatura tinha caído.

–Pê, foi divertido hoje, não foi?

–Tirando a parte que encontramos aquele mala, eu gostei bastante.

–Deixa de implicância com o Felipe.

– Blue. Quem esse mané pensa que é?

–Você fica hilário com ciúmes! –ela riu.

–Não estou com ciúmes.

–Claro que não. Já terminou? Estou com fome!

–Estou saindo.

Pedro saiu do banho, secou-se e enrolou a toalha na cintura, indo em busca de sua roupa.

Quando estavam saindo do quarto, Karina provocou:

–Espera, eu vou ali chamar o Felipe.

Ele fechou a cara na hora e saiu andando, fazendo a garota correr atrás dele.

–Pê, calma. Estou só implicando contigo.

–Esse cara está realmente me incomodando.

–E por quê?

–Porque ele claramente está te querendo.

–Acha. Nada a ver.

–Não sou idiota Karina.

–Bom, mas de qualquer forma quem eu quero está bem aqui na minha frente. Mais ninguém.

–Promete? – ele perguntou olhando para ela, ainda sério.

–Prometo, moleque.

Deram as mãos e foram esperar o transporte do próprio restaurante (alguns restaurantes em Gramado oferecem o serviço de ida e volta do hotel para quem solicitar) que não demorou muito a chegar. Duca e Bianca preferiram jantar sozinhos, pois queriam tomar um bom vinho e os dois não podiam beber, além do mais seria bom para namorarem.

Chegaram ao restaurante, que tinha uma ambiente bem romântico e era muito bonito. Optaram por uma sequência de fondue (queijo, carne e por último chocolate) e suco natural. A comida era deliciosa e eles aproveitaram para namorar um pouco, trocar alguns carinhos e implicarem-se como de costume. A conta foi um pouco salgada, mas mesmo assim Pedro fez questão de pagar sozinho.

Voltaram para o hotel e assistiram à um filme deitados na cama.