Capítulo 3 — Trocados

Sakura estava sentada sobre a sua cama, novamente ela estudava sobre anatomia, e quanto mais páginas lia, percebia a obviedade das perguntas da prova que fizera no período da manhã, e notava o quanto fora burra.

— Você é uma mula Sakura! — Mordeu um dos tomates que estava no cesto em cima do seu criado-mudo. — Podia ter ido bem. Podia ter passado sem pegar exame, mas não, tem que ficar pensando em fórmula matemática na hora da prova. Quem diabos pensa em matemática?

Naquele momento a jovem Haruno travava uma batalha consigo mesma, tentando compreender o que dera em sua mente durante a prova. Logo concluiu que fora um apagão. Um apagão, que infelizmente durara cinquenta minutos e a mandara com honrarias para a semana de exames.

(…)

Sasuke corria de um lado para o outro, desviando os obstáculos jogados no chão da sala. Ele se sentia extremamente culpado pelo pedaço de torta que comera mais cedo, então decidiu que tinha que queimar aquelas calorias, antes que elas se acomodassem em seu corpo.

— Vamos lá Sasuke, faltam apenas cinquenta e sete minutos — voltou a correr, mas não muito, pois se deparou com o espelho que a sua querida mãe tinha pendurado no local. — Ora, ora, o que temos aqui — disse ao se ver. — Que beldade hem! Quem é o gatão? Isso mesmo, você é o gatão. Quem é o cara? Você é o cara! E os caras não tem gordura saturada, então bora queimar as calorias daquela torta deliciosa que novamente está me dando água na boca.

E assim ele foi correndo de um lado para o outro, pulando as tranqueiras jogadas no piso, e fazendo algumas pausas durante o percurso para levantar o próprio ego, que não era nenhum pouco baixo, diante o espelho.

(…)

Os pingos de chuva batiam na janela de forma agressiva. Os ventos corriam em fúria pela cidade, levando qualquer coisa que visse em seu caminho. Os céus foram pincelados de nuvens obscuras, que se tornavam cada vez mais negras e densas. Vez ou outra uma claridade cortava as alturas, sucedida por um estrondo ensurdecedor. A tempestade estava só começando.

O celular branco de Sakura começara a soar repetidamente, indicando que já havia amanhecido era a hora de levantar.

— Droga! — resmungou ela ao desligar o alarme e voltar a dormir.

Enquanto isso, no apartamento ao lado, Sasuke se revirava em sua cama, parecia não encontrar a posição certa para dormir.

— Merda. — Murmurou ao se sentar frustrado.

Durante alguns segundo pôs-se a fitar o quarto em que estava. Fechou os olhos, piscou algumas vezes, e o pânico já era evidente em sua face. Rapidamente ele se levantou e começou a vasculhar toda a casa, a cada cômodo que entrava, seu desespero aumentava.

— Céus por que eu estou na casa do Uchiha? — Perguntou-se. — Oh não, porque a minha voz está igual à dele? — Correu para a sala, tropeçou em alguns lixos que estavam no chão, caiu, machucou o joelho, sentiu uma dor insuportável, porém levantou-se e só parou diante do espelho. Foi inevitável não gritar diante do que viu.

(…)

Irritada e sonolenta Sakura marchava em direção à porta, matando mentalmente quem atrevera incomodar o seu sono. Com um pouco de dificuldade girou a chave e abriu passagem para o ser inconveniente.

— Seja breve! — Disse ela de mau humor.

— Sai desse corpo que não te pertence agora! — Sasuke adentrou no local gritando.

— O que? — Sakura olhou-o assustada. — Espera aí que merda é essa?

— Sou eu quem pergunto que merda é essa? — Esbravejou o rapaz. — Por que você está no meu corpo? Ele não te pertence, saí dele agora! — Ele caminhou até a moça e começou a chacoalhá-la. — Sai!

— Ei, vai com calma Sasuke, quer dizer eu. Não! Quer dizer, você! — A moça estava perdida.

— Quem é você e o que está fazendo no meu corpo? — Os olhos ônix brilhavam, emanando ira.

— Eu sou o Sasuke, eu acho — ela disse confusa. — Ao que tudo indica eu sou o Sasuke no corpo da Sakura.

— Então é você... — o rapaz suspirou ao se sentar no sofá branco. — Eu sou você, você é eu, e nós estamos trocados. O que vamos fazer Sasuke? — A voz rouca ecoou num tom choroso.

— Belos seios hem! — falou a moça ao puxar a gola da própria camisa.

— Para de olhar seu tarado! — Sasuke gritou irritado. — Se você fizer esse tipo de coisa mais uma vez, eu vou cortar esse pênis fora!

— Você não seria louca! — Os olhos esmeraldinos de Sakura estavam arregalados.

— Quer pagar para ver? — Sasuke esboçou um sorriso desafiador.

— Okay! — A moça ergueu as duas mãos em sinal de rendição. — Eu não fico tarando o seu corpo e você esquece essa de sair cortando a preciosidade dos outros — disse ela ao se sentar no sofá ao lado do moreno.

— Certo — ele concordou.

— Certo — falou a moça. — Agora Sakura, vá para o seu apartamento que eu quero dormir.

— Sasuke esse é o meu apartamento!

— Você entendeu o que eu quis dizer — ela revirou os olhos. — Agora vaza!

Porém antes que o rapaz se levantasse um estrondo ecoou do lado de fora enquanto os pingos de chuva ganhavam força, em poucos instantes a tempestade alcançaria seu ápice.

— Sakura anda logo, daqui a pouco as luzes vão se apagar — a moça murmurou irritada.

— Tem certeza disso? — Sasuke lhe lançou um olhar de cachorrinho abandonado implorando para não ser mandado embora.

— Absoluta, agora vai! — Ela tentou ser menos rude.

Assim que o moreno se levantou um clarão cortou os céus, seguido de uma trovoada ensurdecedora que resultou na queda de energia. Ao notar tal fato a moça suspirou irritada, enquanto o rapaz trêmulo agarrava-lhe os braços.

— Sasuke... Eu tenho medo de tempestades — ele sussurrou.

— Você está brincando? — Disse ela num tom de deboche, mas ao notar o medo estampado nos olhos ônix percebeu que nada ali tinha tom de brincadeira. — Céus! — Passou a mão pelos fios rosados. — Como fazia para dormir sozinha nos dias tempestuosos Sakura?

— Na maioria das vezes eu dormia a base de calmantes — ele sussurrou. — Por favor, me deixe ficar — o Uchiha suplicou. — Os calmantes que eu tenho não farão efeito nesse corpo.

— Qual é o problema com o meu corpo? Eu sou fitness — ralhou.

— O seu corpo precisa de uma dosagem maior de calmamente, e o que eu tenho não fará nem... — ele não terminou de falar, pois outro estrondo foi ouvido. — Por favor, Sasuke, me deixe ficar — o rapaz suplicou desesperadamente, seus olhos já marejavam enquanto suas mãos trêmulas suavam frio.

— É assustador olhar para mim mesmo e me ver agindo de forma tão ridícula — ela resmungou. — Tudo bem, pode ficar aqui Haruno.

Em seguida, os dois seguiram para o quarto da moça e dividiram a cama. Se aquilo tivesse acontecido antes de trocarem de corpos, Sakura teria deitado o mais longe possível do Uchiha, mas como as circunstâncias não eram essas, ela passou os braços fortes e másculos em volta do seu antigo corpo e deitou sua cabeça sobre os seios do companheiro. Logo a calmaria veio trazendo consigo o sono, então ela adormeceu.

(...)

A música preenchia todo o ambiente despertando o jovem que dormia serenamente. O rapaz esticou sua mão em direção ao criado-mudo e pegou o celular branco, em seguida deu toque leve na tela para atender a chamada.

— Sakura você está bem? Por que não veio à aula hoje? Ficamos todos preocupados! — Ino estava histérica do outro lado da linha.

—Você sabe tenho problema com tempestades e tudo mais... — assim que falou percebeu o erro que cometera, afinal podia ser a verdadeira Sakura, mas agora ela habitava o corpo do Uchiha. — Droga! — Esbravejou. — Sasuke acorda, acorda!

O rapaz começou sacudir o corpo da moça, que escondeu sua cabeça sob do travesseiro.

— Me deixa dormir mais mãe... — reclamou ela.

— Sasuke acorda, estamos encrencados — disse ele desesperado.

— Droga, me deixe dormir! — A moça esbravejou.

— Sasuke a Ino me ligou... — a Haruno, no corpo do moreno, estava entrando em pânico.

— E eu com isso? — O Uchiha, no corpo da rosada, deu de ombro.

— Sasuke eu atendi a ligação, eu atendi a ligação! Porém eu sou você, ou seja, ela ouviu a sua voz — ele estava desesperado. — Céus o que ela vai pensar? Ou pior, o que ela vai espalhar pela universidade?

— Ainda não entendi porque está tão desesperada — ela o fitava com uma sobrancelha arqueada.

— Sasuke eu não acredito que você dormiu com a Sakura! — Ouviram a voz da loira ecoar do aparelho celular. — Passa o telefone para a minha amiga agora mesmo, preciso dar um sermão naquela ingrata.

— Oh céus Sasuke, ela acha que a gente... — o rapaz sentou-se na cama pasmado.

— Droga Sakura! — a Haruno ralhou, para em seguida tomar o telefone das mãos do vizinho. — Ino querida, conversamos mais tarde, agora eu estou ocupada.

— Como assim ocupada? Sakura eu não acredito que você dormiu com o Sasuke! — A Yamanaka parecia não estar acreditando no acontecido.

— E eu não dormi bobinha, agora preciso desligar — em seguida ela clicou no botão vermelho sem esperar a resposta da loira.

Logo os olhos esverdeados encontraram-se com os ébanos, ambos esbanjavam alívio e preocupação. Alívio por terem se livrado, por ora, da loira. E preocupação pelo que estava por vir.

— Sakura, por favor, não atenda mais o seu celular — a voz feminina soou num tom repreendedor.

— Certo — ele suspirou. — Sasuke o que nós vamos fazer? Digo o que vamos fazer com relação a toda essa história de almas trocadas?

A moça olhou-o confusa, em seguida deixou que toda a confusão a dominasse, afinal o que fariam para resolver algo que não sabiam como havia começado.

— Eu não faço ideia... — ela sussurrou. — Por enquanto vamos ter que faltar a faculdade e evitar ao máximo o contato com os nossos amigos, caso contrário eles vão desconfiar de algo. — O Uchiha, que agora abrigava Sakura, assentiu. — E o mais difícil de tudo, vamos ter que trabalhar juntos.

Tal notícia pegou o rapaz de surpresa, pois como iria cooperar com alguém que não lhe agradava? Alguém pelo qual nutria uma intensa antipatia, e com muito custo suportava a presença? Aquilo parecia ser quase uma missão impossível. Ele suspirou pesadamente, precisaria se esforçar caso quisesse voltar para o seu antigo corpo.

— Tudo bem... — ele proferiu — vamos dar uma trégua.

— Uma trégua? — Ela arqueou uma sobrancelha. — É você quem vive brigando comigo, não o contrário.

— Se você não implicasse comigo toda vez que me visse, eu não teria que brigar com você — o rapaz se defendeu.

— Agora a culpa é minha? — a rosada estava incrédula.

— Exatamente! — Ele se levantou num pulo e rumou para o corredor. — Agora, por favor, retire-se da minha casa, não aguento respirar o mesmo ar que você por muito tempo — gritou ao alcançar a porta.

— Querida, caso você não se lembre, esse apartamento é da Sakura, que no momento sou eu, portanto quem deve se retirar é você — a moça abriu a porta e apontou o lado de fora com a cabeça, porém Sasuke estava ocupado demais para prestar atenção nela. — Ei, já pode sair.

— Então é verdade, vocês realmente transaram — Ino estava parada em frente à porta com os braços cruzados.

Sasuke e Sakura engoliram seco, eles estavam encrencados, muito encrencados, e teriam que ter um bom jogo de cintura se quisessem reverter essa situação.

“Às vezes o seu maior inimigo pode se tornar o seu melhor aliado”.